sábado, 24 de julho de 2010

Tópicos especiais em física das calamidades – Marisha Pessl

Editora: Nova Fronteira
ISBN: 978-85-209-2070-1
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 576
“Papai era um homem que, talvez devido à sua história de privações, jamais hesitava em executar os verbos botar e tomar. Ele estava sempre botando pra quebrar, a mão na massa, o pé na estrada, lenha na fogueira, alguém em seu devido lugar, ordem no galinheiro, os pingos nos is, alguém pra correr. Também estava sempre tomando a dianteira, tendência, o boi pelo chifre, de volta o que era seu, as dores de alguém. E quando se tratava de observar as coisas, o Papai era uma espécie de Microscópio Composto, daqueles que viam a vida por meio de uma lente ocular ajustável, esperando que todas as coisas estivessem bem focadas. Não tinha nenhuma tolerância com o Embaraçado, o Fosco, o Nebuloso e o Sujo.”


“– O maior feito americano não foi a bomba atômica, nem o fundamentalismo, nem os spas de emagrecimento, nem o Elvis, nem mesmo a observação bastante astuta de que os homens preferem as loiras, e sim o grande salto de qualidade que imprimimos ao sorvete.”


“Era um desses silêncios adultos. O silêncio dos casais que voltam para casa depois de um jantar, evitando falar do marido de alguém que ficou bêbado demais ou de como, secretamente, não queriam ir para casa um com o outro e sim com alguma pessoa nova, alguém cujas pintas não conhecessem.”


“Se Papai estivesse presente, sem dúvida teria comentado que a maior parte dos adultos presentes estava “perigosamente perto de abdicar de sua dignidade” e que aquilo era triste e perturbador, porque “todos estavam buscando algo que nunca reconheceriam, mesmo que o encontrassem”. O Papai era notoriamente severo ao comentar o comportamento alheio. Ainda assim, ao observar uma Mulher Maravilha de quarenta e poucos anos que tombou de costas na ordenada pilha de revistas Viagem de Hannah, eu me perguntei se a própria ideia de Crescer não seria uma farsa, um ônibus que esperamos tão ansiosos que nem sequer notamos sua chegada.”


“No entanto, não podemos deixar de notar que a violência, apesar de oficialmente abominada nas culturas Ocidental e Oriental (apenas oficialmente, pois nenhuma cultura, moderna ou antiga, jamais hesitou em utilizá-la para satisfazer seus próprios interesses), é inevitável nos momentos de mudança.”


“E quando falava de uma Entidade Superior, usava palavras como gratificanterestauradora transformadora. Era algo que nos “conduzia pelos momentos difíceis”, que “qualquer pessoa jovem poderia alcançar com um pouco de trabalho duro, confiança e tenacidade.”
Deus era uma viagem a Cancun.”
  

“Eva Brewster estava ao lado dela, e me lançou um sorriso reconfortante, mas depois o escondeu quase imediatamente, como se me emprestasse o seu lenço mas não quisesse vê-lo sujo.”

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