quarta-feira, 29 de abril de 2009

Os Sete – André Vianco

Editora: Novo Século
ISBN: 978-85-8779-105-4
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 380
Sinopse: Uma caravela portuguesa de cinco séculos é resgatada de um naufrágio no litoral brasileiro. Dentro dela, uma misteriosa caixa de prata esconde um segredo; sete cadáveres aprisionados, acusados de bruxaria. Apesar das advertências grafadas no objeto de prata, a equipe do departamento de história da Universidade Soares de Porto alegre decide violar a caixa para estudar os corpos. Afinal, que perigo poderiam oferecer aqueles sete cadáveres? Nenhum. Mas depois que o primeiro deles acorda...



“Todo o time imaginava encontrar algo de bom dentro da caixa. Esperavam por todo tipo de tesouro. Escrito, material, religioso, revelador... mas ninguém esperava por algo tão umbrífero, tão funesto. Ninguém contava com uma piada do diabo.”


“Deveria ser proibido às crianças morrerem, era o que pensava quando chegou ao veículo.”


“– Manuel, meu amigo. Tu agora vais voltar para este mundo farto. Afinal, se tu não podes ser morto, nem eu, por que ficar assemelhado a um?”


“O morto vivo abandonou o caixão e arrastou-se para fora da sepultura. A tumba escura estava vazia, e ele não tinha ideia do que fazia ali. Não se lembrava de seu último dia lá fora. Estava ajoelhado no chão frio. Olhou para cima e viu a portinhola por onde deveria sair. Seu corpo estremeceu. Os músculos doíam a cada movimento, mesmo os menores. Sabia que estava no fundo de uma tumba. Havia acabado de escapar da sepultura. Ah, que coisa horrível! Por que o haviam colocado ali? Ele não estava morto. Levou a mão ao peito. Não sentia o coração batendo. Ah, meu Deus! Perguntou-se o que estaria fazendo ali. Ele não tinha uma resposta. Uma mão surgiu, entrando pela portinhola, acompanhada de uma voz rouca e paciente.
– Vem, meu filho. Vem e eu respondo a todas as perguntas.”

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Adultérios, de Woody Allen

Editora: L&PM

ISBN: 978-85-2541-696-4

Tradução: Cássia Zanon

Opinião: ★★★★☆

Páginas: 200

Sinopse: Adultérios traz três histórias de Woody Allen, engraçadíssimas, espirituosas e agradabilíssimas de ler, todas sobre infidelidade, todas passadas em Nova York e arredores. Os personagens, típicos nova-iorquinos, surgem em cena de forma insuspeita, mas as coisas mais inesperadas acontecem – ou são reveladas –; faz-se o caos e a delícia dos leitores.

Nestas peças, encenadas com sucesso nos Estados Unidos, encontramos na verdade várias temáticas que são preocupações recorrentes na obra do autor. É o caso das pessoas que tentam racionalizar as próprias ações, que se debatem com as possibilidades e as angústias da arte e, é claro, com a tentação dos casos extraconjugais. Temos aqui Allen – o frasista, o genial piadista – em plena forma cômica. Tudo no melhor estilo dos diálogos frenéticos e cheios de verve que são a marca do mestre.




“Coerência é o fantasma das mentes pequenas.”

 

 

“(Jim:) – Por que diabos estou tendo um caso? Seis horríveis meses de restaurantes escuros, bares tristes e quartos de hotel baratos. Isso sem falar nos telefonemas furtivos, na tensão e no desprezo por mim mesmo.

(Fred:) – O que o seu psiquiatra disse sobre isso?

– Ele me disse para parar.

– E você...

– Eu parei... de ir ao psiquiatra.

– Melhor assim, a maioria deles tem um gravador escondido.”

 

 

“(Fred:) – Você não pode contar à Lola que está tendo um caso há seis meses.

(Jim:) – Por que não? Se eu levar flores...

– Não há flores suficientes nem no Jardim Botânico.”

 

 

“(Jim:) – Fred, não vou matá-la.

– Não vai?

– É algo psicótico... você é psicótico.

– E você é só neurótico, de modo que tenho muito a ensinar. Sou hierarquicamente superior a você.”

 

 

“(Fred:) – Se você não ceder a todas as exigências, ela vai contar todos os detalhes a Lola. Lola ama você... e daí que ela teve certa obsessão pós-parto com os gêmeos? Tenho certeza de que vai passar, e vocês voltarão a transar todos os Dias de Ação de Graças.”

 

 

“(Jim:) – Não estou dizendo que não teria sorte se a Bárbara... Se ela...

(Fred:) – Pode dizer.

– Morresse. Mas ela é um ser humano.

– Você diz isso como se fosse uma coisa boa.

– E não é?

– Não sei. Você já foi a uma reunião de condomínio?”

 

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“(Sheila:) – Há quanto tempo vocês dois estão tendo um caso ardente?

(Norman:) – Não faz muito tempo.

(Jenny:) – Três anos.

(Norman:) – Seis meses.

(Jenny:) – Um ano.

(Norman:) – E meio.

(Jenny:) – Não faz muito tempo.

(Norman:) – Estivemos muito tempo separados.

(Sheila:) – Como você pôde fazer isto, você é minha irmã!

(Jenny:) – O que eu posso dizer? Nós nos apaixonamos.

(Norman:) – Não era amor, era só sexo.

(Jenny:) – Você disse que era amor.

(Norman:) – Eu nunca usei esta palavra. Eu dizia que eu “gostava” de você... que eu sentia “saudade” de você... que eu “precisava” de você... que eu “não conseguia viver sem você”... mas não amor.

(Sheila:) – Durante todo este tempo em que você dividiu a cama comigo, você vinha dormindo com a Jenny.

(Norman:) – O que eu posso fazer se ela me seduziu?

(Jenny:) – Eu seduzi você?”

 

 

“(Sandy:) – Além disso, você sempre jurou que ela não atraía você.

(Hal:) – É verdade, jurei isso... jurei sobre a bíblia. Eu sou agnóstico.”

 

 

“(Sheila:) – Quem sou eu para julgar os outros e jogar fora anos de proximidade e amor porque meu marido, o dentista, estava metendo a broca na minha irmã?”

 

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“(Carol:) – Qual foi o motivo que ele deu para pedir a separação?

(Phyllis:) – Que ele não me ama... não gosta de ficar perto de mim... que fica com falta de ar de se imaginar passando de novo pela triste coreografia de fazer sexo comigo. Esses são os vagos motivos que ele dá, mas acho que só está sendo educado. Na verdade, acho que ele não gosta da minha comida.

– Que estranho.

– Bom, para mim foi estranho, mas eu não sou muito perspicaz... sou só uma analista.

– Ele nunca disse nada... nem deu alguma pista?

– Nunca disse nada... mas isso foi provavelmente porque ele nunca falava.

– Bem, Phyllis...

– Quer dizer, nós conversávamos... não era só “passe o sal”, embora isso também surgisse de vez em quando.

– Vocês devem ter tido conversas em que ele tenha dado alguma indicação...

– Deixe-me colocar da seguinte maneira: nós dois falávamos, mas ao mesmo tempo. O que estou querendo dizer é que havia dois falantes, nenhum ouvinte.

– Falha na comunicação.

– Meu Deus, Carol, você vai direto ao cerne das coisas, hein?

– Bom, isso deveria ter lhe dito alguma coisa.

– E disse.

– E então, o que foi?

– Não sei, eu não estava ouvindo, estava falando.”

 

 

“(Phyllis): – Meu Deus, você não vai ficar bravo?

(Howard:) – Para quê? Isso não vai desfazer as coisas.

– Há um momento para ser racional, e um momento para perder as estribeiras... eu deixo as facas de carne na cozinha.”

 

 

“As pessoas nunca nos odeiam pelas nossas fraquezas... elas nos odeiam pelos nossos pontos fortes.”

 

 

“Lembre-se, Juliet... o casamento é a morte da esperança.”

sábado, 18 de abril de 2009

Memorial do Convento – José Saramago

Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 978-85-2860-022-3
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 350
Sinopse: (...) A pretexto de escrever um livro sobre a história da construção de um convento em Mafra no século XVIII, Saramago inventou uma história outra, na qual entram outras famílias inesquecíveis a dos Sete-Sóis e a da Sete-Luas, e mais padre Bartolomeu de Gusmão com sua passarola, e o compositor Scarlatti com seu órgão e sua música, e mais reis e rainhas e princesas, e mais uma pedra descomunal que precisa ser transportada a longa distância, e o que acontece durante o transporte. Que pretende – e que consegue – José Saramago com seus livros poderosos? Para mim, isto: fazer o que fez Homero antes dele, isto é, escrever histórias aparentemente reais mas inventadas com tanta competência que depois de lidas passam a ser reais e a fazer parte da longa e sofrida experiência humana. Minha sugestão é: descubram José Saramago e façam dele uma possessão ultramarina particular de cada um e aproveitem. (José J. Veiga)

“Em rei seria defeito a modéstia”.


“Esta é a cama que veio da Holanda quando a rainha veio da Áustria, mandada fazer de propósito pelo rei, a cama, a quem custou setenta e cinco mil cruzados, que em Portugal não há artífices de tanto primor, e se os houvesse, sem dúvida ganhariam menos.”


“Porém, a quaresma, como o sol, quando nasce, é para todos.”


“Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que estava comendo a luz e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer, Por que foi que perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu, Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o soubesse, Como sabes, se com ela não pudeste falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E agora, Se não tens onde viver melhor, fica aqui, Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã, Fica, enquanto não fores será sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque é preciso, Não é razão que me convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar, Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste, Não sabes do que estas a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo.
Deitaram-se. Blimunda era virgem. Que idade tens, perguntou Baltasar, e Blimunda respondeu, Dezanove anos, mas já então se tornara muito mais velha. Correu algum sangue sobre a esteira. Com as pontas dos dedos médio e indicador humedecidos nele, Blimunda persignou-se e fez uma cruz no peito de Baltasar, sobre o coração. Estavam ambos nus. Numa rua perto ouviram vozes de desafio, bater de espadas, correrias. Depois o silêncio. Não correu mais sangue.
Quando, de manhã, Baltasar acordou, viu Blimunda deitada ao seu lado, a comer pão, de olhos fechados. Só os abriu, cinzentos àquela hora, depois de ter acabado de comer, e disse, Nunca te olharei por dentro.”


“(...) e circulavam burros à nora, de olhos tapados para terem a ilusão de caminhar a direito, não sabendo, como não sabiam os donos, que andando realmente a direito também acabariam por vir parar ao mesmo lugar, porque o mundo é ele uma nora e são os homens que, andando em cima dele, o puxam e fazem andar. Mesmo já cá não estando Sebastiana Maria de Jesus, para ajudar com as suas revelações, é fácil ver que, faltando os homens, o mundo para.”


“Porque, enfim, podemos fugir de tudo, não de nós próprios.”


“Uma mulher grávida, rainha ou comum, tem um momento na vida em que se sente sábia de todo o saber, ainda que intraduzível em palavras, mas depois, com o inchar excessivo da barriga e outras misérias do corpo, só para o dia de parir tem pensamentos, nem todos alegres, quantas vezes aterradas por agoiros (...).”


“A pobre não emprestes, a rico não devas, a frade não prometas.”


“(...) e por falarmos de corsário francês vão os nossos olhos mais longe, lá no Rio de Janeiro, onde entrou uma armada daqueles inimigos, e não precisaram de dar um tiro, estavam os portugueses a dormir a sesta, tanto os de governo do mar como do governo da terra, e tendo os franceses fundeado a seu bel-prazer, desembarcaram, eles sim que parecia que estavam na sua terra, a prova foi que o governador deu logo ordem formal para que ninguém tirasse nada de casa, lá teria as suas boas razões, pelo menos as que o medo dá, tanto que os franceses deram eles saque a tudo o que encontraram, e com o que não fizeram recolher aos navios armaram uma venda no meio da praça, que não faltou quem ali fosse comprar o que roubado lhe fora uma hora antes, não pode haver maior desprezo, e deitaram fogo à casa do fisco, e foram aos matos, por denúncia de judeus, a desenterrar o ouro que certas pessoas principais tinham escondido, e isto sendo os franceses apenas dois ou três mil e os nossos dez mil, porém estava o governador feito com eles, não há mais que saber, que entre portugueses traidores houve muitas vezes, ainda que nem tudo seja o que parece, por exemplo, aqueles soldados dos regimentos da Beira, de quem dissemos que desertaram para o inimigo, não desertaram, antes foram para onde lhes dariam de comer e de vestir, enquanto estiverem vivos, e não andarem por aí descalços, sem trabalhos de marcha e disciplina, mais gostosos de pôr o próprio capitão na mira da espingarda do que de estropiar um castelhano do outro lado, e agora, se quisermos rir do que estes nossos olhos veem, que a terra dá para tudo, consideremos o caso das trinta naus de França que já se disse estarem à vista de Peniche, ainda que não falte quem diga tê-las avistado no Algarve, que é perto, e na dúvida se guarneceram as torres do Tejo, e toda marinha se pôs de olho alerta, até Santa Apolónia, como se as naus pudessem vir rio abaixo, de Santarém ou Tancos, que isto de franceses é gente capaz de tudo, e estando nós tão pobrezinho de barcos pedimos a uns navios ingleses e holandeses que aí estão e eles foram pôr-se na linha da barra, à espera do inimigo que há-de estar no espaço imaginário, já em tempos antes contados se deu aquele famoso caso da entrada dos bacalhaus, e agora veio-se a saber que eram vinhos comprados no Porto, e as naus francesas são afinal inglesas que andam no seu comércio, e de caminho vão-se rindo à nossa custa, bom prato somos para galhofas estrangeiras, que também as temos excelentes da nossa lavra, é bom que se diga, está tão claramente vista à luz do dia que não foram precisos os olhos de Blimunda, e foi o caso de certo clérigo, costumeiro em andar por casas de mulheres de bem fazer e ainda melhor deixar que lhes façam, satisfazendo os apetites do estômago e desenfadando os da carne, e sempre pontualmente dizendo sua missa, quando lá lhe parecia alçava levando os bens que lhe estavam à mão, e tantas fez que um dia a ofendida, a quem muito mais se tirara do que o tudo que dera, tirou ela ordem de prisão, e indo os oficiais e agarradores a cumpri-la por ordem do corregedor do bairro, a uma casa onde o clérigo já estava vivendo com outras inocentes mulheres, entraram, mas tão desatentos à obrigação que não deram com ele, que estava metido numa cama, e foram a outra onde lhes pareceu que estaria, assim dando vaza para que o padre saltasse, nu em pelo, e, disparando escada abaixo, a murro e pontapé limpou o caminho, ficaram gemendo os quadrilheiros pretos, mas conforme puderam, cainçando, correram atrás do padre pugilista e garanhão, que já lá ia pela Rua dos Espingardeiros, e eram isto oito horas da manhã, começava bem o dia, gargalhadas pelas portas e janelas, ver o clérigo a correr como lebre, com os pretos atrás, e ele de verga tesa, e bem apeirado, benza-o Deus, que um homem tão dotado o lugar dele não é a servir nos altares mas na cama de serviço às mulheres, e com este espectáculo padeceram grande abalo as senhoras moradoras, coitadas, assim desprevenidas, como desprevenidas e isentas estariam as que se achavam rezando na igreja da Conceição Velha e viram entrar o padre resfolegando, em figura de inocente Adão, mas tão carregado de culpas, sacudindo badalo e guizos, à uma apareceu, às duas se escondeu, às três nunca mais foi visto, que nesse passe de mágica deu a diligência dos padres que o recolheram e deram fuga pelos telhados, já vestido, nem isto é sucesso que cause estranheza, se em cestos içam os franciscanos de Xabregas mulheres para dentro das celas e com elas se gozam, por seu próprio pé subia este padre a casa das mulheres que lhe apeteciam o sacramento, e para não fugirmos ao costumado fica tudo entre o pecado e a penitência, que não é só na procissão da quaresma que saem à rua as disciplinas excitantes, quantos maus pensamentos hão-de ter de confessar as senhoras moradoras da baixa de Lisboa e as devotas da Conceição Velha por tão rico padre terem gozado com a vista, e os quadrilheiros atrás dele, agarra, agarra, quem pudera agarrá-lo para uma coisa que eu cá sei, dez padre-nossos, dez salve-rainhas, e dez réis de esmola ao nosso padre Santo António, e estar deitada uma hora inteira, com os braços em cruz, de barriga para baixo como à prosternação convém, de barriga para cima que é posição de mais celestial gozo, mas sempre levantando os pensamentos, não as saias, que isso ficará para o próximo pecado.”


“(...) e os homens avançaram para o terreno revolvido, com os carros de mão e pás, enchendo aqui, no monte, despejam além, na encosta para Mafra, ao passo que outros homens, de enxada ao ombro, desciam aos caboucos já fundos, neles desapareciam, enquanto mais homens lançavam cestos para dentro e depois os puxavam para cima, cheios de terra, e os iam despejar afastadamente, aonde outros homens iam por sua vez encher carros de mão, que lançavam no aterro, não há diferença nenhuma entre cem homens e cem formigas, leva-se isto daqui para ali porque as forças não dão para mais, e depois vem outro homem que transportará a carga até à próxima formiga, até que, como de costume, tudo termina num buraco, no caso das formigas lugar de vida, no caso dos homens lugar de morte, como se vê não há diferença nenhuma.
Com os calcanhares, o padre Bartolomeu Lourenço tocou para diante a mula, experiente animal que nem com a artilharia se assustara, é o que faz não ser de raça pura, estes já viram muito, a mestiçagem tornou-os pouco espantadiços, que é a maneira melhor de viverem neste mundo as bestas e os homens.”


“O padre Bartolomeu saiu a procurar os Sete-Sóis, contente por assim ter mentido à face de Deus e saber que Deus não se importava, um homem tem de saber, por si próprio, as mentiras que já nascem absolvidas.”


“Obra que em meio ficou não precisa envelhecer para ser ruína.”


“Nem sequer devia ser concebível uma santidade que não conhecesse a força dos homens e a fraqueza que às vezes nessa força há.”


“Senhor Scarlatti, disse o padre quando o improviso terminou e todos os ecos ficaram corrigidos, senhor Scarlatti, não me gabo dessa arte, mas estou que até um índio da minha terra, que dela sabe ainda menos que eu, haveria de sentir-se arrebatado por essas harmonias celestes, Porventura não, respondeu o músico, porque bem sabido é que há-de o ouvido ser educado se quer estimar os sons musicais, como os olhos têm de aprender a orientar-se no valor das letras e sua conjunção de leitura, e os próprios ouvidos no entendimento da fala, São palavras ponderadas, essas, que emendam as levianas minhas, é um defeito comum nos homens, mais facilmente dizerem o que julgam querer ser ouvido por outrem do que cingirem-se à verdade, Porém, para que os homens possam cingir-se à verdade, terão primeiramente de conhecer os erros, E praticá-los, Não saberei responder à pergunta com um simples sim ou um simples não, mas acredito na necessidade do erro. (...) Tendes razão, disse o padre, mas, desse modo, não está homem livre de julgar abraçar a verdade e achar-se cingido com o erro, Como livre também não está de supor abraçar o erro e encontrar-se cingido com a verdade, respondeu o músico, e logo disse o padre, Lembrai-vos de que quando Pilatos perguntou a Jesus o que era a verdade, nem ele esperou pela resposta, nem o Salvador lha deu, Talvez soubessem ambos que não exista resposta para tal pergunta, Caso em que, sobre esse ponto, estaria Pilatos sendo igual de Jesus, Derradeiramente, sim, Se a música pode ser tão excelente mestra de argumentação, quero já ser músico e não pregador, Fico obrigado pelo cumprimento, mas quisera eu, senhor padre Bartolomeu Gusmão, que a minha música fosse um dia capaz de expor, contrapor e concluir como fazem sermão e discurso, Ainda que, reparando bem no que se diz e como, senhor Scarlatti, se exponham e contraponham, as mais das vezes, fumo e nevoeiro, e se conclua coisa nenhuma. A isto não respondeu o músico, e o padre rematou, Todo o pregador honesto o sente quando baixa do púlpito. Disse o italiano, encolhendo os ombros, Fica o silêncio depois da música e depois do sermão, que importa que se louve o sermão e aplauda a música, talvez só o silêncio exista verdadeiramente.”


“A amargura é o olhar dos videntes.”


“(...) Tenho vinte e oito, e sem irmão ou irmã, e isto dizendo levantou Blimunda os olhos, quase brancos na meia penumbra da abegoaria, e Domenico Scarlatti ouviu ressoar dentro de si a corda mais grave duma harpa. Ostensivamente, Baltasar levantou o cesto quase vazio com o seu gancho e disse, Acabou a merenda, vamos trabalhar. (...) Senhor Escarlate, disse Baltasar, tomando bruscamente a palavra, venha quando quiser, se o senhor padre Bartolomeu Lourenço autoriza, mas, Mas, No lugar da minha mão esquerda tenho este gancho, ou um espigão em vez dele, sobre o coração uma cruz de sangue, Sangue meu, acrescentou Blimunda, Sou o irmão de todos, disse Scarlatti, se me aceitarem.”


“(...) Pilatos perguntou a Jesus o que era a verdade e Jesus não respondeu, disse o padre, Talvez ainda fosse muito cedo para o saber, respondeu Blimunda.”


“Um nada é quanto basta para desfazer as reputações, um quase nada as faz e refaz, a questão é encontrar o caminho certo para a credulidade ou para o interesse dos que vão ser eco inocente ou cúmplice.”


“O padre deixou de os ouvir em confissão, por duas vezes que Baltasar, a isso se sentindo obrigado, fez vaga menção a pecados que, por se acumularem, vão esquecendo, respondeu que Deus vê nos corações e não precisa de que alguém absolva em seu nome, e se os pecados forem tão graves que não devam passar sem castigo, este virá pelo caminho mais curto, querendo o mesmo Deus, ou serão julgados em lugar próprio, quando o fim dos tempos chegar, se, entretanto, as boas acções não compensarem por si mesmas as más, também podendo vir a acontecer que tudo acabe em geral perdão ou castigo universal, apenas está por saber quem há-de perdoar a Deus ou castigá-lo.”


“Afastaram-se os dois alguns passos, depois Blimunda parou, Está doente, padre Bartolomeu Lourenço, tem a cara branca, os olhos pisados, nem ficou contente por saber a notícia, Fiquei, Blimunda, fiquei, mas as notícias do destino são sempre meias notícias, o que vem amanhã é que conta, hoje é sempre nada, Deite-nos a sua benção, padre, Não posso, não sei em nome de que Deus a deitaria, abençoem-se antes um ao outro, é quanto basta, pudessem ser todas as bênçãos como essa.”


“E agora que farás tu, Anjo Custódio, nunca tão necessário foste desde que te nomearam para esse lugar, aqui tens estes três que não tarda se erguerão aos ares, lá aonde nunca foram os homens, e precisam de quem os proteja, eles por eles lá fizeram quanto podiam, reuniram os materiais e as vontades, conjugaram o sólido e o evanescente, juntaram tudo à sua própria ousadia, estão prontos, é só acabar de tirar este telhado, fechar as velas, deixar entrar o sol, e adeus, cá vamos, se tu, Anjo Custódio, não ajudares ao menos um poucochinho, não és anjo coisa nenhuma, claro está que não faltam santos invocáveis, mas nenhum é, como tu, aritmético, tu sim, que sabes as treze palavras, e de uma a treze, sem falha as enumeras, e sendo esta uma obra que requer todas as geometrias e matemáticas que se puderem reunir, podes começar já pela primeira palavra, que é a Casa de Jerusalém onde Jesus Cristo morreu por todos nós, é o que dizem, e agora as duas palavras, que são as duas Tábuas de Moisés onde Jesus Cristo pôs os pés, é o que dizem, e agora as três palavras, que são as três pessoas da Santíssima Trindade, é o que dizem, e agora as quatro palavras, que são os quatro evangelistas, João, Lucas, Marcos e Mateus, é o que dizem, e agora as cinco palavras, que são as cinco chagas de Cristo, é o que dizem, e agora as seis palavras, que são os seis círios bentos que Jesus cristo teve no seu nascimento, é o que dizem, e agora as sete palavras, que são os sete sacramentos, é o que dizem, e agora as oito palavras, que são as oito bem-aventuranças, é o que dizem, e agora as nove palavras, que são os nove meses que Nossa Senhora trouxe o seu bendito filho no seu puríssimo ventre, é o que dizem, e agora as dez palavras, que são os dez mandamentos da lei de Deus, é o que dizem, e agora as onze palavras, que são as onze mil virgens, é o que dizem, e agora as doze palavras, que são os doze apóstolos, é o que dizem, e agora as treze palavras, que são os treze raios que tem a lua, e isto sim, não é preciso que o digam, porque pelo menos esta Sete-Luas aqui, é aquela mulher que tem na mão um frasco de vidro, cuida dela, Anjo Custódio, se se parte o vidro, lá se vai a viagem e não poderá fugir aquele padre que pelos modos parece louco, cuida também do homem que está no telhado, falta-lhe a mão esquerda, foi culpa tua, estavas desatento lá na batalha, talvez ainda não soubesses bem a tua tabuada.”


“Este povo, que tanto espera do céu, olha pouco para o alto onde se diz que o céu é. Anda gente a trabalhar nos campos, as pessoas, nas aldeias, entram e saem das casas, vão ao quintal, à fonte, agacham-se atrás dum pinheiro, só uma mulher que está deitada num restolho com um homem em cima de si cuida ver qualquer coisa a passar no céu, mas julga serem visões próprias de quem está a gostar tanto. Só as aves, curiosas, voam, e perguntam, girando em redor da máquina ansiosamente, que é, que é, talvez seja o messias dos pássaros, em comparação, a águia não passa de um S. João Baptista qualquer.”


“Há aqui mais quem esteja dormindo, por essa razão não poderia falar, mas, se acordado estivesse, talvez lho não consentissem, porque só tem doze anos, pode a verdade estar na boca das crianças, mas para a dizerem têm de crescer primeiro, e então passam a mentir.”


“Eu não sou bruxo, ponham-se a dizer essas coisas, e leva-me o Santo Ofício, e também ninguém me ouviu dizer que voei, Mas declaraste que estiveste perto do sol, e ainda outra coisa, que começaste a ser igual a Deus depois de teres ficado sem a mão, se tal heresia chega aos ouvidos do Santo Ofício, então é que não te salvas mesmo, Salvávamo-nos todos se nos fizéssemos iguais a Deus, disse João Anes, Se nos fizéssemos iguais a Deus poderíamos julgá-lo por não ter logo recebido dele essa igualdade, disse Manuel Milho, e Baltasar explicou enfim, com grande alívio de já não se estar falando de voar, Deus não tem a mão esquerda porque é à sua direita que senta os seus eleitos, e uma vez que os condenados vão para o inferno, à esquerda de Deus não vem a ficar ninguém, ora, se não fica lá ninguém, para que quereria Deus a mão esquerda, se a mão esquerda não serve, quer dizer que não existe, a minha não serve porque não existe, é só a diferença, Talvez à esquerda de Deus esteja outro Deus, talvez Deus esteja sentado à direita doutro deus, talvez sejamos todos deuses sentados, donde é que essas coisas me vêm à cabeça, é que eu não sei, disse Manuel Milho, e Baltasar rematou, Então eu sou o último da fila, à minha esquerda é que não se pode contar ninguém, comigo acaba-se o mundo.”


“É assim o mundo, junta no mesmo lugar o grande gosto e a grande dor, o bom cheiro dos humores sadios e o podre fétido da ferida gangrenada, para inventar céu e inferno não seria preciso mais que conhecer o corpo humano.”


“Vossa majestade descansa este dia onze em Vendas Novas, no majestoso palácio que el-rei mandou construir, tem aqui todas as comodidades, distrai-se com a princesa e aproveita para lhe dar os últimos conselhos de mãe, Olha, minha filha, os homens são sempre uns brutos na primeira noite, nas outras também, mas esta é pior, eles bem nos dizem que vão ter muito cuidado, que não vai doer nada, mas depois, credo em cruz, não sei o que lhes passa pela cabeça, põem-se a rosnar, a rosnar, como uns dogues, salvo seja, e as pobrezinhas de nós não temos mais remédio que sofrer-lhes os assaltos até conseguirem os seus fins, ou então ficam em pouco, às vezes sucede, e nesse caso não devemos rir-nos deles, não há nada que mais os ofenda, o melhor é fingir que não demos por nada, porque se não for na primeira noite, é na segunda, ou na terceira, do sofrimento ninguém nos livra, e agora vou mandar chamar o senhor Scarlatti para nos distrair dos horrores desta vida, a música é uma grande consolação, minha filha, a oração também, acho que tudo é música, se não é oração tudo.”


“Senhora mãe e rainha minha, aqui estou eu indo para Espanha, donde não voltarei, e em Mafra sei que se constrói um convento por causa de voto em que fui parte, e nunca ninguém de cá me levou a vê-lo, há nisto muita coisa que não sei entender, Minha filha e futura rainha, não retires ao tempo que deve ser de oração o tempo de vãos pensamentos, tais são esses, a real vontade de teu pai e senhor nosso quis que se levantasse o convento, a mesma real vontade quer que vás para Espanha e o convento não vejas, só a vontade de el-rei prevalece, o resto é nada, Então é nada esta infanta que eu sou, nada os homens que vão além, nada este coche que nos leva, nada aquele oficial que ali vai à chuva e olha para mim, nada, Assim é, minha filha, e quanto mais se for prolongando a tua vida, melhor verás que o mundo é como uma grande sombra que vai passando para dentro do nosso coração, por isso o mundo se torna vazio e o coração não resiste, Oh, minha mãe, que é nascer, Nascer é morrer, Maria Bárbara.”


“(...) enquanto as reais pessoas iam passando, passando, graves, severas, majestosas, sem abrirem um sorriso, porque Deus também não sorri, ele lá saberá porquê, talvez tenha acabado por se envergonhar do mundo que criou.”


“Logo a seguir vêm as (estátuas das) damas, três graças piedosas, a mais bela de todas Santa Isabel Rainha da Hungria, que morreu na idade de vinte e quatro anos apenas, e depois Santa Clara e Santa Teresa, mulheres muito apaixonadas, que em fogo interior arderam, é o que se presume das suas acções e palavras, quanto mais presumiríamos se soubéssemos de que é feita a alma das santas. Quem bem chegado vem a Santa Clara é S. Francisco, não admira a preferência, conhecem-se desde Assis, encontraram-se agora neste caminho de Pintéus, de pouco valeria a amizade, ou lá o que foi que os uniu, se não continuassem a conversa na palavra que ficou em meio, como íamos dizendo. Se este é o lugar que realmente melhor conviria a S. Francisco, por ser, de todos os santos que vão nesta leva, o de mais feminis virtudes, de coração manso e alegre vontade, também em lugar certo vêm S. Domingos e Santo Inácio, ambos ibéricos e sombrios, logo demoníacos, se não é isto ofender o demónio, se não seria justo, afinal, dizer que só um santo seria capaz de inventar a inquisição e outro santo a modelação das almas. É evidente, para quem conheça estas polícias, que S. Francisco vai sob suspeita.”


“Meia légua andada, por obra de topada, daquelas que abrem a boca na cabeça do dedo grande, ou aresta assassina, ou contínua rapação das plantas na aspereza do solo, já os pés mais delicados sangravam, rasto de pias e vermelhas flores, seria um lindo quadro católico se não fosse o frio tanto, se não mostrassem os noviços os focinhos encieirados, os olhos lacrimejantes, muito custa a ganhar o céu. Iam rezando nos breviários, anestésico prescrito para todas as dores da alma, porém, estas são do corpo, um par de sandálias substituiria com proveito a mais eficaz das orações, meu Deus, se fazes muita questão nisso arreda as tentações de mim, mas primeiramente tira essa pedra do meu caminho, já que és o pai das pedras e dos frades, e não pai delas e padrasto meu.”


“Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas.”

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Qμ∑M SӨmσs пóζ!? - A descoberta das infinitas possibilidades de alterar a realidade diária - William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente

Editora: Prestígio
ISBN: 978-85-7724-805-6
Opinião★★☆☆☆
Páginas: 276

“Como se quisesse prevenir as eras futuras contra a filosofia materialista que dominaria o pensamento ocidental em nome da mecânica newtoniana, sir Isaac escreveu: “O ateísmo é tão insensato e tão odioso à humanidade que nunca teve muitos professores”.”


“Se ciência e espírito buscam a natureza da realidade ilimitada, então em algum momento seus caminhos se cruzam. As escrituras mais antigas que conhecemos, os Vedas, descrevem o mundo físico como ilusão, maya. A física quântica afirma que a realidade não é o que vemos; na melhor das hipóteses, ela é praticamente vazia, ondas de nada insubstancial. Os budistas tibetanos falam de tudo como “origem interdependente”. Na física existe a teoria do emaranhamento, segundo a qual todas as partículas estão conectadas e assim estiveram desde o big bang (onde elas emaranharam-se pela primeira vez). E, mais poético, temos no zen o famoso koan: “Qual é o som de uma das mãos batendo palmas?”. Ele ecoa a pergunta da física: “Como é possível uma partícula estar em dois lugares ao mesmo tempo?”. Profissionais mergulham em suas respectivas disciplinas, mas a história do progresso humano mostra que a evolução ocorre quando áreas progressivamente mais vastas vão sendo integradas.”


“Qual é o som de dois adversários se beijando?”


“Procuro homens que tenham infinita capacidade de não saber o que não pode ser feito.” (Henry Ford)


“O corpo sempre quer se curar.”


“Por trás disso tudo existe uma pergunta zen ‘Qual é o som de uma realidade entrando em colapso?’.”


“Pesquisadores colocaram gatinhos recém-nascidos em um ambiente experimental onde não havia linhas verticais; semanas depois, quando colocados no ambiente “normal”, os gatinhos não eram capazes de ver nenhum objeto com uma dimensão vertical (como as pernas de uma cadeira), e esbarravam nesses objetos.”


“Quando a sílaba “co” vem antes de alguma coisa, ela indica algum tipo de relacionamento. Cooperar significa operar em conjunto. Assim, coincidente significa que os elementos do incidente estão inter-relacionados. É estranho que agora a palavra tenha o significado oposto.”


“Gordie, o marido de Betsy, caminhou três vezes sobre as brasas sem nunca senti-las. Então ele perguntou a seu professor de fisiologia sobre isso. Foi dito a ele que aquilo não tinha realmente acontecido, e que os carvões em brasa não estavam quentes. Era o efeito “Leidenfrost”*. Na quarta caminhada, Gordie começou a se perguntar se era verdade o que o professor tinha afirmado e se as brasas estavam realmente quentes. Ele saiu do canteiro de brasas com queimaduras de terceiro grau.”
* O efeito Leidenfrost é um fenômeno que ocorre quando dois meios a temperaturas muito diferentes interagem. Forma-se entre eles uma camada de vapor que funciona como isolante.


“Hoje em dia parece que todo mundo mente. Os patrões mentem, os repórteres mentem, os políticos mentem, os amantes mentem, os líderes religiosos mentem. Parece aceitável mentir porque ninguém se incomoda muito com isso*. Porém, os verdadeiros magos conhecem as consequências. Um dos votos de um monge budista é nunca mentir. Diz-se que como Jesus nunca mentia, absolutamente jamais mentia, quando ele dizia alguma coisa, o universo era obrigado a apoiá-lo. Assim, quando ele disse: “Ergue-te, pega a tua cama e vai para casa”, isso foi uma lei do universo. “E ele se ergueu e foi para casa.”
* Por exemplo: os líderes dos EUA produziram uma série de mentiras para manipular o país e fazê-los aceitar uma guerra que matou dezenas de milhares de pessoas. No entanto, em geral, os americanos não deram a mínima.


“Calcula-se que o número de conexões possíveis em um cérebro humano ultrapasse o número de átomos do universo inteiro.”


“Bem, vivemos de acordo com as histórias que a ciência cria, e ela nos contou uma história muito sem graça durante os últimos quatrocentos anos. Contou que somos uma espécie de erro genético. Que nossos genes se limitam a nos utilizar basicamente para avançar à próxima geração, e que nossas mutações são aleatórias. Foi dito que estamos fora do universo; estamos sozinhos, somos um caso isolado. Somos essa espécie de erro solitário, em um planeta solitário, em um universo solitário. E isso é a base de nossa visão do mundo. Isso forma nossa visão de nós mesmos e agora estamos percebendo que ela, essa visão de separação, é extremamente destrutiva. É o que cria tudo; todos os problemas do mundo, as guerras, a ideia de que eu preciso mais do que você, a agressividade em tudo, dos negócios à sala de aula. E agora estamos percebendo que esse paradigma está errado, que não estamos sós. Estamos todos juntos. No elemento mais infinitesimal de nosso ser, todos somos um; estamos conectados. Assim, estamos tentando entender e absorver as implicações disso.”