sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Eragon - Cristopher Paolini

Editora: Rocco
ISBN: 978-85-61384-74-6
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 480
Sinopse: O vento uiva pela noite trazendo consigo um aroma capaz de mudar o mundo.
Quando Eragon encontra na floresta uma pedra azul polida, acredita que poderá ser uma descoberta de sorte para um simples rapaz do campo: talvez sirva para comprar carne que alimentará a família durante o inverno. Mas, no momento em que um dragão nasce de dentro da pedra, Eragon percebe que está diante de um legado quase tão antigo quanto o do próprio Império. Da noite para o dia, de uma vida pacata, ele é lançado para um arriscado novo mundo movido pelas tramas do destino, da magia e do poder. Empunhando uma espada lendária e seguindo as sábias palavras de um velho contador de histórias, Eragon e o leal dragão terão de se aventurar por terras perigosas e enfrentar inimigos sombrios em um Império governado por um rei cuja maldade não conhece fronteiras. Ao jovem Eragon foi dada a responsabilidade de alcançar a glória dos lendários heróis da Ordem dos Cavaleiros de Dragão. Será que conseguirá vencer os obstáculos que o destino lhe reservou? Agora as suas escolhas poderão salvar – ou destruir – o mundo em que vive.
Primeiro volume do Ciclo A Herança, Eragon é uma história repleta de ação, vilões e locais fantásticos, com dragões e elfos, cavaleiros, luta de espada, inesperadas revelações e uma linda donzela. Inspirado em J.R.R. Tolkien, que criou idiomas para os diálogos de seus personagens, Paolini utiliza o norueguês medieval para a linguagem dos elfos e inventa expressões específicas para os anões e os urgals, de modo a dar veracidade ao lendário reino de Alagaësia, onde a guerra está prestes a começar.



“Respeite o passado, você nunca sabe como ele poderá afetá-lo.”


Nada é mais perigoso do que um inimigo que não tem nada a perder, pensou ele. E é isso que eu virei.”


“Amanhã, você montará em mim e não naquele animal digno de pena que você chama de cavalo. Caso contrário, vou carregá-lo em minhas garras. Você é ou não é um dos Cavaleiros de Dragões?


“As pessoas têm o irritante hábito de lembrar-se de coisas que não deviam.”


“Sempre haverá conflitos onde os ricos ganham em abundância.”


“A verdadeira coragem é viver e sofrer por aquilo em que você acredita.”

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Livro do Desasossego - Fernando Pessoa

Editora: Companhia de Bolso
ISBN: 978-85-3590-849-7
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 560
Sinopse: O narrador principal (mas não exclusivo) das centenas de fragmentos que compõem este livro é o “semi-heterônimo” Bernardo Soares. Ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, ele escreve sem encadeamento narrativo claro, sem fatos propriamente ditos e sem uma noção de tempo definida. Ainda assim, foi nesta obra que Fernando Pessoa mais se aproximou do gênero romance. Os temas não deixam de ser adequados a um diário íntimo: a elucidação de estados psíquicos, a descrição das coisas, através dos efeitos que elas exercem sobre a mente, reflexões e devaneios sobre a paixão, a moral, o conhecimento. “Dono do mundo em mim, como de terras que não posso trazer comigo”, escreve o narrador. Seu tom é sempre o de uma intimidade que não encontrará nunca o ponto de repouso.



“Deus é o existirmos e isto não ser tudo.”


“Haja ou não deuses, deles somos servos.”


“A beleza de um corpo nu só a sentem as raças vestidas. O pudor vale sobretudo para a sensualidade como o obstáculo para a energia.”


“Não se pode comer um bolo sem o perder.”


“Agir, eis a inteligência verdadeira.”


“Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente , a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso – em suma, é a nós mesmos – que amamos.”


“A renúncia é a libertação. Não querer é poder.”


“Para mim, escrever é desprezar-me; mas não posso deixar de escrever. Escrever é como a droga que repugno e tomo, o vício que desprezo e em que vivo. Há venenos necessários, e há-os subtilíssimos, compostos de ingredientes da alma, ervas colhidas nos recantos das ruínas dos sonhos, papoilas negras achadas ao pé das sepulturas dos propósitos, folhas longas de árvores obscenas que agitam os ramos nas margens ouvidas dos rios infernais da alma.”


“Os homens de acção são os escravos involuntários dos homens de entendimento. As coisas não valem senão na interpretação delas. Uns, pois, criam coisas para que os outros, transmutando-as em significação, as tornem vidas. Narrar é criar, pois viver é apenas ser vivido.”


“Só uma alma satânica poderia ter inventado a ideia de inferno.”


“O caçador de leões não tem aventura para além do terceiro leão.”


“A razão é a fé no que se pode compreender sem fé; mas é uma fé ainda, porque compreender envolve pressupor que há qualquer coisa compreensível.”


“Pensar é destruir. O próprio processo do pensamento o indica para o mesmo pensamento, porque pensar é decompor. Se os homens soubessem meditar no mistério da vida, se soubessem sentir as mil complexidades que espiam a alma em cada pormenor da acção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-iam de assustados, como os que se suicidam para não ser guilhotinados no dia seguinte.”


“Assim, há dois tipos de artista: o que exprime o que não tem e o que exprime o que sobrou do que teve.”


“Não se subordinar a nada – nem a um homem, nem a um amor, nem a uma ideia, ter aquela independência longínqua que consiste em não crer na verdade, nem, se a houvesse, na utilidade do conhecimento dela – tal é o estado em que, parece-me, deve decorrer, para consigo mesma, a vida íntima intelectual dos que não vivem sem pensar. Pertencer – eis a banalidade. Credo, ideal, mulher ou profissão – tudo isso é a cela e as algemas. Ser é estar livre.”


“Possuir é ser possuído, e portanto perder-se (...) Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência.”


“Que seria do mundo se fôssemos humanos?”


“A acção é uma doença do pensamento, um cancro da imaginação. Agir é exilar-se. Toda a acção é incompleta e imperfeita. O poema que eu sonho não tem falhas senão quando tento realizá-lo. No mito de Jesus está escrito isto; Deus, ao tornar-se homem, não pode acabar senão pelo martírio. O supremo sonhador tem por filho o martírio supremo.”


“Não há felicidade senão com conhecimento. Mas o conhecimento da felicidade é infeliz; porque conhecer-se feliz é conhecer-se passando pela felicidade, e tendo, logo já, que deixá-la atrás. Saber é matar, na felicidade como em tudo. Não saber, porém, é não existir.”


“Viver do sonho e para o sonho, desmanchando o Universo e recompondo-o, distraidamente conforme mais apraza ao nosso momento de sonhar. Fazer isto consciente, muito conscientemente, da inutilidade e ____________ de o fazer. Ignorar a vida com todo o corpo, perder-se da realidade com todos os sentidos, abdicar do amor com toda a alma. Encher de areia vã os cântaros da nossa ida à fonte e despejá-los para os tornar a encher e despejar, futilissimamente.
Tecer grinaldas para, logo que acabadas, as desmanchar totalmente e minuciosamente. Pegar em tintas e misturá-las na paleta sem tela ante nós onde pintar. Mandar vir pedra para burilar sem ter buril nem ser escultor. Fazer de tudo um absurdo e requintar para fúteis todas as nossas estéreis horas. Jogar às escondidas com a nossa consciência de viver.
Ouvir as horas dizer-nos que existimos com um sorriso deliciado e incrédulo. Ver o Tempo pintar o mundo e achar o quadro não só falso mas vão.
Pensar em frases que se contradigam, falando alto em sons que não são sons e cores que não são cores. Dizer – e compreendê-lo, o que aliás é impossível – que temos consciência de não ter consciência, e que não somos o que somos. Explicar tudo isto por um sentido oculto e paradoxo que as coisas tenham no seu aspecto outro-lado e divino, e não acreditar demasiado na explicação para que não hajamos de a abandonar.
Esculpir em silêncio nulo todos os nossos sonhos de falar. Estagnar em torpor todos os nossos pensamentos de acção.
E sobre tudo isto, como um céu uno e azul, o horror de viver paira alheadamente.”


“A leitura dos jornais, sempre penosa do ponto de ver estético, é-o frequentemente também do moral, ainda para quem tenha poucas preocupações morais.”


“Os homens são fáceis de afastar: basta não nos aproximarmos.”


(Não foi inserido por questões de espaço, mas recomendo a “Marcha fúnebre para o rei Luís Segundo da Baviera”)


“A arte é um isolamento. Todo o artista deve buscar isolar os outros, levar-lhes às almas o desejo de estarem sós.”


“Para mim uma criatura não tem alma. A alma é só com ela mesma.”


“G. Junqueiro? Tenho uma grande indiferença pela obra dele. Já o vi... Nunca pude admirar um poeta que me foi possível ver.”

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

As Crônicas de Nárnia – O sobrinho do mago - C.S. Lewis

Editora: Martins Fontes
ISBN: 978-85-7827-069-8
Tradução: Paulo Mendes Campos
Opinião: ★★★☆☆
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Páginas: 81
Sinopse: Viagens ao fim do mundo, criaturas fantásticas e batalhas épicas entre o bem e o mal – o que mais um leitor poderia querer de um livro? O livro que tem tudo isso é O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, escrito em 1949 por Clive Staples Lewis. Mas Lewis não parou por aí. Seis outros livros vieram depois e, juntos, ficaram conhecidos como As crônicas de Nárnia.
Nos últimos cinquenta anos, As crônicas de Nárnia transcenderam o gênero da fantasia para se tornar parte do cânone da literatura clássica. Cada um dos sete livros é uma obra-prima, atraindo o leitor para um mundo em que a magia encontra a realidade, e o resultado é um mundo ficcional que tem fascinado gerações. Esta edição apresenta todas as sete crônicas integralmente, num único volume. Os livros são apresentados de acordo com a ordem de preferência de Lewis, cada capítulo com uma ilustração do artista original, Pauline Baynes.
Enganosamente simples e direta, As crônicas de Nárnia continuam cativando os leitores com aventuras, personagens e fatos que falam a pessoas de todas as idades.


“– Oh, pare com isso, distinto, pare com isso – disse o cocheiro. – É hora de ver e ouvir, não de falar.”


“Todos conquistam o que desejam, mas nem sempre se satisfazem com isto.”

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A Sombra do Vento – Carlos Ruiz Zafón

Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-6028-009-4
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 399
Sinopse: Numa madrugada de 1945, em Barcelona, Daniel Sempere é levado por seu pai a um misterioso lugar no coração do centro histórico: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Lá, o menino encontra A Sombra do Vento, livro maldito que mudará o rumo de sua vida e o arrastará para um labirinto de aventuras repleto de segredos e intrigas enterrados na alma obscura da cidade, A busca por pistas do desaparecido autor do livro que o fascina transformará Daniel em um homem ao iniciá-lo no mundo do amor, do sexo e da literatura.
Numa narrativa de ritmo eletrizante que mistura gêneros como o romance de aventuras de Alexandre Dumas, a novela gótica de Edgar Allan Poe e os folhetins amorosos de Victor Hugo, Carlos Ruiz Zafón mantém o leitor em estado de contínuo suspense. Ambientada na Espanha franquista da primeira metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra, A Sombra do Vento é uma obra sedutora, comovente e impossível de largar. Uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros.


“Há coisas que só se podem ver nas trevas.”


“Uma das armadilhas da infância é que não é preciso se entender uma coisa para sentir. Quando a razão é capaz de entender o ocorrido, as feridas do coração já são profundas demais.”


“Se tivesse parado para pensar, teria entendido que minha devoção por Clara não era mais do que uma fonte de sofrimento. Talvez por isso a adorasse ainda mais, por essa estupidez eterna de perseguir os que nos fazem mal.”


“No dia em que você entender que o negócio dos livros é miséria e companhia, e decidir aprender a roubar um banco, ou a construir um, o que vai dar no mesmo, venha me ver e eu lhe ensinarei alguma coisa sobre trancas.”


“Presentes são dados pelo prazer de quem presenteia, não pelo mérito de quem recebe.”


“– O homem, como bom símio, é um animal social e nele prevalecem as patotas, o nepotismo, as trapaças e os rumores como pauta intrínseca de conduta ética – argumentava. – É biologia pura.”


“– O serviço militar só serve para descobrir a porcentagem de homens violentos na população – opinava ele. – E isso se descobre nas duas primeiras semanas, não precisa de dois anos. Exército, casamento, igreja e banco: os quatro cavaleiros do Apocalipse. Sim, sim, pode rir.”


“– As pessoas são muito malvadas. (...)
– Malvadas não – observou Fermín. – Imbecis, o que não é a mesma coisa. O mal pressupõe uma determinação moral, intenção e certa inteligência. O imbecil ou selvagem não para para pensar ou raciocinar. Age por instinto, como besta de estábulo, convencido de que está fazendo o bem, de que sempre tem razão e orgulhoso de sair fodendo, desculpe, tudo aquilo que lhe parece diferente dele próprio, seja em relação à cor, credo, idioma, nacionalidade ou, como no caso de dom Federico, pelos hábitos que tem no momento de ócio. O que faz falta no mundo é mais gente ruim de verdade e menos espertalhões limítrofes.”


“Julián falava daquilo como se não se importasse, como se fizesse parte de um passado que deixou para trás, mas essas coisas nunca se esquecem. As palavras com que envenenamos o coração de um filho, por mesquinharia ou por ignorância, ficam guardadas na memória e mais cedo ou mais tarde lhe queimam a alma.”


“– Você agora não entende isso, porque é jovem. Mas com o tempo verá que muitas vezes o que conta não é o que se dá, mas o que se cede.”


“Há poucas razões para se dizer a verdade, mas para mentir o número é infinito.”


“O dinheiro é como qualquer vírus: uma vez que apodreceu a alma de quem o hospeda, parte em busca de carne fresca.”


“– Bem, às vezes essas instituições famosas oferecem uma ou duas bolsas para os filhos do jardineiro ou do engraxate e assim mostram a sua grandeza de espírito e sua generosidade cristã – sugeriu Fermín. – O modo mais eficaz de tornar os pobres inofensivos é ensiná-los a querer imitar os ricos. Esse é o veneno com que o capitalismo cega...”


“– Você está enganado a respeito dela... – objetei.
– A você basta mostrar uns peitos bonitos e você acha que viu Santa Teresinha de Jesus, o que na sua idade tem desculpa, mas não conserto.”


“As pessoas que não têm vida sempre se metem nas dos outros.”


“Não existem segundas oportunidades, exceto para o remorso.”


“Longe de se sentir envaidecido por sua ética de trabalho, fazia troça com sua compulsão produtiva e a descrevia como uma forma menor de covardia:
– Enquanto trabalhamos, não encaramos a vida de frente.”


“Nós só amamos de verdade uma vez na vida, Julián, embora não percebamos.”


“Quantas almas perdidas será preciso, Senhor, para saciar seu apetite?, perguntava o chapeleiro. Deus, em seu infinito silêncio, olhava-o sem piscar.”