Editora: Civilização
Brasileira
ISBN: 978-85-200-0866-9
Opinião: ★★★★☆
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Páginas: 798
Sinopse: Ver Parte
I
“A enfrentar a guerra
não declarada que a Operation Mongoose configurava, Castro não podia prescindir
da União Soviética, apesar de ter consciência de que ela não só apoiara como
impelira os velhos comunistas a tentar a conquista do poder, através de um
golpe branco e frio, visando ao controle do aparato político e administrativo
do Estado cubano, conforme Escalante e, decerto, os
demais militantes do PSP pretenderam. Por outro lado, Kruchev, não obstante a
preocupação com a tendência de Castro para reduzir os partidos comunistas a
dóceis instrumentos de sua política insurrecional para a América Latina, não
podia perder Cuba, que se convertera em valioso trunfo na Guerra Fria, devido à
sua importância estratégica. A enérgica reação de Castro à tentativa de
Escalante e dos velhos comunistas de apossarem-se do poder em Cuba assustou
assim os dirigentes soviéticos, que até então tiveram um comportamento dúplice,
e eles logo procuraram eximir-se da responsabilidade pela atuação de Escalante. Esse acontecimento, paradoxalmente, foi que
convenceu, inter alia, a maioria do Presidium do Comitê Central do PCUS
a tomar a decisão de reconhecer o caráter socialista da Revolução Cubana e
autorizar o Pravda a fazê-lo, pela primeira vez, no artigo publicado em
11 de abril, endossando a expulsão de Escalante,1 e a aprovar, no dia seguinte, o fornecimento
de 180 mísseis SA-2, solicitados havia muito tempo por Fidel
Castro, juntamente com uma bateria de mísseis para a defesa do litoral,
assessores militares e um regimento do Exército soviético.
A substituição de Kudryavtsev por Alekseev como embaixador constituiu
outra tentativa de descomprometer-se com a conspiração que estivera em curso. E
tais atitudes certamente não foram gratuitas. Fortes razões e interesses
estratégicos determinaram a busca de uma acomodação com o próprio Castro, pois,
à época em que o conflito com Escalante e os velhos comunistas aflorou, Kruchev provavelmente já excogitava a instalação em Cuba
de mísseis balísticos, com ogivas nucleares, e por esta razão tratou de
reconhecer o caráter socialista do regime lá implantado, para atender a Castro.
As duas iniciativas necessariamente se inter-relacionavam, inseridas no
contexto global do conflito Leste-Oeste, configurado, como seu front
mais sensível, na situação abnormal de Berlim, que Kruchev,
premido pelos dirigentes da República Democrática Alemã, queria resolver ainda
em 1962. Entretanto, segundo os indícios, a decisão definitiva de transferir
mísseis nucleares de alcance médio e intermédio para Cuba, o que lhe permitiria
eficazmente dar um ultimato para resolver a questão da Alemanha e expulsar as
potências ocidentais de Berlim,2 ele só tomou
em abril, depois que os Estados Unidos tornaram plenamente operacionais as
cinco bases para o lançamento de 15 Jupiter IRBM, instaladas na Turquia,
reiniciaram os testes atômicos no Pacífico, o que muito o irritou, e ampliaram
seu engajamento na Indochina. Esta iniciativa de Kennedy
concorreu para provocar a reação de Kruchev,3 e foi em torno do dia 27 daquele mês que
chegou a Alekseev a convocação para ir a Moscou, onde
ele recebeu a notícia de que seria nomeado embaixador da União Soviética em
Havana. E Kruchev, na ocasião, perguntou-lhe como
Castro reagiria a uma proposta para a instalação em Cuba de mísseis balísticos.4
Tal ideia aparentemente se cristalizara nos últimos dias de abril,
quando o marechal Rodion Malinovsky, ministro da Defesa, conversando com Kruchev, que gozava férias na Crimeia, apontou na direção
da Turquia, além do mar Negro, e comentou que ali os Estados Unidos haviam
instalado mísseis nucleares com capacidade de destruir todas as cidades ao sul
da União Soviética.5 “Eles nos cercaram por
todos os lados” — acrescentou —, “por que não temos nós a possibilidade e o
direito de fazer o mesmo?”6 Esta
possibilidade somente Cuba, naturalmente, lhe oferecia. E, se concretizada,
significaria para a União Soviética, ainda distante de alcançar a paridade
nuclear com os Estados Unidos, uma superioridade estratégica que Kennedy publicamente proclamara em outubro de 1961,7 bem como a multiplicação de sua capacidade de
resposta a qualquer ataque, além de melhor correlação de forças em favor do
Bloco Socialista. Devido ao fato de que a União Soviética não possuía mais do
que 44 ICBM, contra 229 dos Estados Unidos, a instalação em Cuba dos 44 R-14
transformá-los-ia de mísseis de alcance intermédio em mísseis estratégicos,
duplicando ou mesmo triplicando o número de ogivas nucleares capazes de alcançar
os Estados Unidos, o que equivalia à fórmula “IRBM + Cuba = ICBM”.8 Com um só golpe, Kruchev
corrigiria o desequilíbrio estratégico, ao colocar os alvos nos Estados Unidos,
1.400 milhas distantes de Cuba, dentro do alcance de 36 R-12s, e o resto do
país, a leste das Montanhas Rochosas, sob a ameaça de 24 R-14s, com 2.800
milhas de alcance.9
Kruchev, nas suas
memórias, alegou, no entanto, que estava preocupado com a situação de Cuba,
certo de que os Estados Unidos não aceitariam a ideia de ter um país socialista
às suas portas e, mais dia menos dia, acabariam por invadi-la, pois, como os
próprios norte-americanos diziam, might makes right.10
Segundo sua versão, foi sobre esse pano de fundo que a ideia de instalar
mísseis nucleares no território cubano desenvolveu-se e foi confiada ao
marechal Malinovski para seu planejamento.
Naturalmente, a destruição do regime revolucionário de Castro pelos Estados
Unidos constituiria um golpe contra o comunismo e enfraqueceria politicamente a
posição da União Soviética no Terceiro Mundo, dando munição para os ataques da
China à política de coexistência pacífica. Anatoli
Dobrynin, embaixador da União Soviética em Washington, duvidou, porém, que a
alegação de Kruchev fosse sincera e confirmou que o
intento de instalar em Cuba mísseis ar-ar de médio alcance, capazes de atingir
as principais cidades norte-americanas até a fronteira do Canadá, constituiu
parte da ampla estratégia visando a alcançar maior paridade com os Estados
Unidos, o que seria útil não só na disputa de Berlim como em outras questões.11 Também por isso mesmo, Cuba tornara-se
extremamente importante para a União Soviética, que precisava preservá-la,
impedindo a invasão que os Estados Unidos preparavam, como escopo da Operation
Mongoose, tanto que o Estado-Maior Conjunto já planejava as medidas essenciais
e preliminares, de modo a assegurar às Forças Armadas a capacidade para a
intervenção decisiva12 e a prolongada
ocupação daquele país, que a comunidade de inteligência julgava necessária.13 Seu desejo era realizá-la, de forma que, em
poucos dias, as tropas norte-americanas superassem a resistência frontal e
consolidassem o controle dos Estados Unidos sobre os principais centros de
governos e as vias de transporte e de comunicação.14
Como Kruchev previu, “quando não restasse pedra sobre
pedra da Cuba de Fidel Castro e um novo Batista estivesse instalado no poder para falar em nome
da ilha, haveria tempo para discutir quem tinha razão”.15
Exitus acta probat.
A instalação pela União Soviética de bases para o lançamento de mísseis,
com ogivas nucleares, decerto aumentaria a capacidade de dissuasão de Cuba
contra qualquer ataque dos Estados Unidos. Mas poderia igualmente servir como
pretexto e justificar a intervenção, tanto assim que, desde os meados de 1961,
funcionários do governo norte-americano, como Richard
Goodwin, já haviam começado a insinuar terem indícios positivos de que a União
Soviética as construía (o que ainda não era verdade) e o Estado Maior-Conjunto
exibira, em sessão secreta da Comissão de Diplomacia do Senado, uma série de
fotos, tomadas por aviões U-2, que indicariam a sua existência. Naquela época,
conforme o encarregado de Negócios do Brasil, Carlos
Alfredo Bernardes, acertadamente supôs, tratava-se do início de uma campanha de
preparação psicológica para justificar a ação coletiva ou mesmo unilateral, que
os Estados Unidos pretendiam executar contra Cuba depois da Conferência do CIES
em Montevidéu.16 De qualquer forma, a Kruchev afigurou-se que, se não transferisse para Cuba
mísseis de médio e intermédio alcance, com ogivas nucleares, sua perda seria
inevitável e tiraria à União Soviética a possibilidade de compensar o missile
gap que favorecia os Estados Unidos, além de dar à China poderoso argumento
para atacá-la, uma vez que, como os Estados Unidos sabiam,17
seu país, a uma distância de 11.000 km, não tinha condições de impedir a
invasão e não se arriscaria a desencadear a guerra atômica a fim de salvar o
regime de Castro.
A questão da Alemanha constituiu outro fator que, de acordo com Tom
Henry Kissinger, condicionou, fundamentalmente, o comportamento de Kruchev. Já
por duas vezes, em 1958 e em 1961, ele dera aos Estados Unidos, Grã-Bretanha e
França um ultimato para que se retirassem de Berlim Ocidental, dentro de
determinado prazo, e não tivera êxito. E Kennedy afirmara, em carta datada de 2
de dezembro de 1961, que as forças ocidentais estavam em Berlim Ocidental e lá
permaneceriam enquanto o povo da cidade o desejasse, o que para Kruchev soou
como ultimato.18 Ele entendia a insistência
dos Estados Unidos como expressão do desejo de preservar para a OTAN uma cabeça
de ponte e uma base militar contra a União Soviética dentro da República
Democrática Alemã, com a qual, em outra carta a Kennedy,
ameaçou assinar — “one way or another” — um tratado de paz, o que
forçaria, consequentemente, as potências ocidentais a retirar suas tropas de
Berlim.19 Naquelas circunstâncias, ao
perceber, então, as tensões no relacionamento entre Konrad
Adenauer, chefe do governo da República Federal da Alemanha, e Kennedy, que tendia a aceitar um modus vivendi
com a República Democrática Alemã (comunista), Kruchev
viu que tinha condições de provocar a maior crise dentro da Aliança Atlântica e
tentou alcançar com um só golpe a saída para o impasse de Berlim, uma vez que,
se tivesse sucesso na instalação dos mísseis nucleares em Cuba, o poder de
barganha da União Soviética tornar-se-ia esmagador.20”
1. Lévesque, The USSR and the Cuban Revolution, 1978, pp. 36-37.
2. White, The
Cuban Missile Crisis, 1996, pp. 75-77.
3. Bernstein, Barton J. “Reconsidering the
Missile Crisis: Dealing with the Problems of the American Jupiters in Turkey”,
in Nathan (ed.), 1992, pp. 57-58. White, 1996, pp. 82-83.
4. Fursenko & Naftali, “One Hell of a Gamble”, 1997, p. 179.
5. Thompson, The Missiles of October, 1992, pp. 143-144. Lechuga, Eye of the Storms — Castro, Khrushchev, Kennedy and the
Missile Crisis, 1995, p. 8.
6. Id., ibid., p. 144.
7. Lechuga, 1995, p. 59.
8. Gaddis, We Know Now, 1997, pp. 264 e 268.
9. Gribkov & Smith, Operation Anadyr, 1994, p. 13.
10. Kruchev, 1990, p. 216.
11. Dobrynin, In Confidence: Moscow’s Ambassador to Americas Six Cold War Presidents
(1962-1986), 1995, p. 76.
12. Guidelines for Operation Mongoose,
Washington, March 14, 1962. FRUS, vol. X, 1961-1963, Cuba, pp. 771-772.
13. Memorandum of the Chairman of the Board
of National Estimates (Kent) to Director of Central Intelligence McCone.
Subject: Probable Reactions to US Military Intervention in Cuba. Washington,
April 10, 1962. Ibid., pp. 783-785.
14. Ibid., p. 783.
15. Kruchev, 1991, p. 216.
16. Telegrama nº 528, secreto-urgente, da
embaixada do Brasil em Washington (Carlos Alfredo Bernardes), 19/7/1961 —
16hs30. Secretos — Q-W — Cts. —Telegramas — Rec. e Exp. — 1960-1961. AHMRE-B.
17. Memorandum from the Chairman of the Board
of National Estimates (Kent) to Director of Central Intelligence McCone.
Subject: Probable Reactions to a US Military Intervention in Cuba. Washington,
April 10, 1962. FRUS, vol. X, 1961-1962, Cuba, pp. 783-785.
18. Letter from President Kennedy to Chairman
Khrushchev, Washington, December 2, 1961; Letter from Chairman Khrushchev to
President Kennedy, Moscow, December 13, 1961. FRUS, vol. VI — Kennedy —
Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 65-78.
19. Letter from Chairman Khrushchev to
President Kennedy, Moscow, March 10, 1962. Ibid., pp. 118-126.
20. Kissinger, 1994, p. 591.
“Solução
diplomática para a crise havia, pois, secretamente, Kennedy podia haver
negociado com Kruchev a retirada dos mísseis de Cuba em troca do
desmantelamento das bases na Turquia e na Itália, como fora sugerido, inclusive
por McNamara, durante as reuniões do Ex Comm, e por ele próprio na conversação
com o embaixador da Grã-Bretanha. Ele, contudo, colocou o mundo à beira do
holocausto com o objetivo de obter ganhos na política interna dos Estados
Unidos, para que o Partido Democrata fizesse a maioria do Congresso nas
eleições de novembro, e compensar a humilhação que sofrera com a derrota na
Baía dos Porcos, quando sua própria atitude vis-à-vis aos preparativos da CIA
concorrera para criar aquela situação. Na realidade, Kennedy não fez gestão
diplomática para evitar a crise, que ele deflagrou como um ato de propaganda
eleitoral, a fim de superá-la negociando a partir de uma posição de força. A
política interna — John Kenneth Galbraith, embaixador dos Estados Unidos na
Índia àquela época, reconheceu — foi o fator mais importante na decisão de impor
o bloqueio naval a Cuba.4”
4. Lechuga, 1995, p. 70.
“Diante de tais
acontecimentos, o general Taylor defendeu o bombardeio
das bases de mísseis terra-ar existentes em Cuba, porém Kennedy,
conquanto reconhecesse ser este o único meio de assegurar a continuidade da
vigilância sem o risco de perder outros aviões,50
optou por não proceder a nenhuma retaliação. Sua decisão, conforme McGeorge Bundy sugerira e não Robert
Kennedy, como ele próprio escreveu,51 foi no
sentido de responder à primeira carta de Kruchev, o
que fez prontamente, comprometendo-se a revogar logo as medidas de quarentena e
dando garantias contra a invasão de Cuba, certo de que as outras nações do
Hemisfério estavam preparadas para proceder do mesmo modo.52
Entretanto, convencido de que, àquela altura, não encerraria a crise sem
equacionar a questão dos Jupiter, encarregou seu irmão, Robert, de
contatar o embaixador soviético, Dobrynin, entregar-lhe
a carta, que também seria transmitida por telegrama para a embaixada dos
Estados Unidos em Moscou, e dizer-lhe que o governo norte-americano estava
disposto a considerar favoravelmente a questão da Turquia e remover de lá
aqueles mísseis, mas o assunto tinha de ser conduzido com o máximo de discrição
e sigilo. A maior parte dos integrantes do Ex Comm não soube da negociação. Ali
o presidente contava com potenciais inimigos, como o vice-presidente Lyndon Johnson, McCone e,
talvez, o general Maxwell Taylor, entre outros,
capazes de permitir que a informação vazasse para a imprensa e destruísse sua
carreira.53 Assim, por volta de 19:45, Robert Kennedy recebeu Dobrynin
em seu gabinete. Explicou-lhe que seu irmão, o presidente, temia uma escalada
como consequência da derrubada do U-2, naquele dia, e estava sob forte pressão
para que ordenasse a retaliação, mas resistia, a fim de evitar uma cadeia de
reações difíceis de conter, e estava preparado para discutir qualquer proposta
da União Soviética, desde que a construção das bases fosse urgentemente
paralisada.54 Em seguida, transmitiu a
substância da carta e, indagado por Dobrynin sobre os
mísseis na Turquia, informou que o presidente os removeria dentro de quatro ou
cinco meses, mas que não podia anunciar o fato publicamente, pois isso cindiria
a OTAN, e mesmo dentro do governo norte-americano apenas quatro ou cinco
pessoas tinham conhecimento desse assunto.55
Então, ainda de acordo com as instruções do presidente, pediu uma resposta o
mais breve possível, salientando que não se tratava de um ultimato, porém da
necessidade de encerrar o mais cedo possível aquele impasse, dado que os
acontecimentos rapidamente se desenvolviam. Por fim, recomendou que Kruchev não escrevesse cartas, que teriam de ser
traduzidas no Departamento de Estado, mas se comunicasse diretamente com Kennedy, para o que forneceu alguns números do seu
telefone direto.56 Segundo Kruchev, a mensagem foi um misto de “ameaça e súplica”, e
Kennedy prometia ainda remover os mísseis da Itália.57 Entretanto, por temer que Kruchev não aceitasse fazer, secretamente, a barganha dos
Jupiter da Turquia pelos mísseis de Cuba, dado que o aparente recuo
nesta exigência e a concordância com a inspeção internacional afigurar-se-iam
como demonstração de fraqueza, Kennedy tratou de encontrar outra via que lhe
permitisse também superar honrosamente aquele ameaça de guerra atômica.
Procurou o professor Andrew Cordier, da Universidade de Columbia e pediu-lhe
que sugerisse a Sithu U Thant, secretário-geral da ONU de quem Cordier fora adjunto,
solicitar às superpotências que retirassem seus mísseis de Cuba e da Turquia,58 sob controle internacional, de modo que ele
pudesse atender publicamente àquela condição sem parecer que cedera diante de Kruchev.
Somente ele, seu irmão Robert Kennedy e Dean Rusk souberam de tal gestão.59
U Thant estava a
intermediar uma solução pacífica para o conflito, em estreito contato com o
embaixador Adlai Stevenson, e Kruchev já aquiescera inclusive à proposta de
suspender o envio de armas para Cuba. Porém, o apelo público à União Soviética
e aos Estados Unidos para que desmontassem, respectivamente, suas bases em Cuba
e na Turquia, bem como na Itália, conforme Kennedy pretendera para justificar,
abertamente, a aceitação do swap, não
se tornou necessário. Desde que o general Stepan Grechko, no comando da defesa
aérea de Cuba, ordenara o disparo do SA-75, derrubando em Cuba o avião
norte-americano U-2, Kruchev claramente se alarmou.
Mal informado sobre quem instigara aquela reação e nervoso com a militância de Fidel Castro, que lhe pareceu pretender transformar o
conflito em uma guerra global, receou perder o controle sobre os
acontecimentos. Sob grande pressão, os soldados podiam não esperar ordens de
Moscou e disparar mísseis de curto alcance com ogivas nucleares, caso os
Estados Unidos atacassem Cuba.60 Daí por que
ele, Kruchev, tratou imediatamente de responder à
mensagem de Kennedy, aceitando suas condições.61 Escreveu-lhe uma carta, na qual anunciou que
ordenara não apenas a descontinuidade da construção das bases em Cuba, como
igualmente o desmantelamento e o retorno à União Soviética dos armamentos
considerados ofensivos.62 Ao mesmo tempo,
admoestando-o a não dar passos que causassem irritação, advertiu-o de que a
violação do espaço aéreo cubano poderia acarretar consequências perigosas e
informou-o de que o vice-ministro das Relações Exteriores da União Soviética, Vassili V. Kuznetsov, viajaria a
Nova York a fim de colaborar com U Thant nos esforços para a superação da
crise.63 Em outra carta, de caráter privado e estritamente secreto, Kruchev
referiu-se à retirada dos mísseis norte-americanos da Turquia e, dizendo
compreender a delicadeza e a complexidade da questão, bem como os motivos pelos
quais Kennedy não a queria tratar em público, concordou em que os entendimentos
prosseguissem, confidencialmente, através de Robert Kennedy e Dobrynin em
Washington.64 Com isto, perdeu a oportunidade de fazer uma
negociação aberta, intermediada por U Thant, conforme Kennedy chegara a sugerir
ao professor Andrew Cordier, o que lhe resguardaria o prestígio, sem causar a
impressão de que tivera de proceder a humilhante recuo diante dos Estados
Unidos. Assim, a negociação não alcançou o objetivo, que era terminar a crise
com um equitativo quid pro quo, evitando que ela resultasse em humilhante e
inglória capitulação da União Soviética.65
Cuba estava disposta a negociar qualquer solução, inclusive o
desarmamento, a desnuclearização e a neutralização, desde que não fosse entregue
de mãos atadas aos Estados Unidos, conforme o presidente Oswaldo
Dorticós disse em Havana ao embaixador da Iugoslávia,66
cujo presidente Josip Broz Tito também oferecera seus bons ofícios para
intermediar o conflito. Kruchev, porém, formulou sua proposta e negociou com
Kennedy à completa revelia de Fidel Castro. Escreveu-lhe apenas uma carta, no
dia 28, comunicando que a mensagem enviada ao presidente dos Estados Unidos
permitia acertar a questão em seu favor, defender Cuba da invasão e evitar o
desencadeamento da guerra. Na carta, Kruchev, ao dizer-lhe que compreendia sua
indignação “diante das ações agressivas dos Estados Unidos e das violações das
normas mais elementares do direito internacional”, recomendou-lhe paciência,
firmeza e aconselhou-o a não se deixar levar pelos sentimentos, enfatizando que
o que estava em vigor não era “tanto o direito quanto a insensatez dos
militaristas do Pentágono”.67 “Não se deixe
levar pelas provocações, porque os militaristas desenfreados do Pentágono,
agora, pelo visto, quando se divisa a eliminação do conflito, que é em seu
favor, criando a garantia contra a invasão de Cuba, querem fazer frustrar o
acordo”, Kruchev escreveu.68
O fato de que Kruchev decidira retirar os mísseis sem
consultar Castro confirmou, no entanto, que os mísseis foram colocados em Cuba
não para sua defesa e sim por motivos políticos e estratégicos.69
Fidel Castro, que se
dispusera a fazer concessões e respondera favoravelmente à proposta de U Thant, convidando-o a ir a Havana,70
enfureceu-se, no entanto, com o fato de saber pelo rádio que os chefes de
governo das duas superpotências diretamente estabeleceram um acordo, passando
por cima de sua cabeça, e entendeu que Kruchev
manejara a crise muito mal: primeiro, ao anunciar como condição a retirada dos Jupiter
da Turquia; em seguida, recuando. E não escondeu o inconformismo com a decisão
de Kruchev de desmontar e remover os armamentos
julgados por Kennedy ofensivos sem consultá-lo, ainda mais quando poderia
aproveitar a oportunidade para resolver todo o problema das relações de Cuba
com os Estados Unidos, de acordo com cinco pontos, que ele então levantou, a
fim de dificultar a posição de Kruchev e fazer-se ouvir nas negociações: 1)
suspensão do bloqueio econômico e de todas as medidas de pressão comercial, que
os Estados Unidos impunham a todas as partes do mundo contra Cuba; 2) suspensão
de todas as atividades subversivas, como lançamento e desembarque de armas e
explosivos por via aérea ou marítima, organização de “invasiones mercenarias”,
infiltração de espiões e sabotadores, bem como de todas as ações fomentadas a
partir dos Estados Unidos e de “algunos países cómplices”; 3) cessação
dos “ataques piratas” realizados desde bases existentes nos Estados
Unidos e em Porto Rico; 4) cessação das violações do espaço aéreo e marítimo de
Cuba por aviões e navios de guerra norte-americanos; 5) retirada da Base Naval
de Guantánamo e devolução do território cubano ocupado pelos Estados Unidos.71 Kruchev,
entretanto, justificou-se, alegando que o próprio Castro o alarmara ao
informar-lhe, no dia 27, que esperava seguramente o ataque dos Estados Unidos a
Cuba dentro de 24 ou 72 horas, e que ele não podia aceitar sua sugestão de
assestar o primeiro golpe contra o território inimigo porque isto significaria
o início da guerra mundial termonuclear, na qual, sem duvida, o povo cubano,
embora lutasse valentemente, também heroicamente pereceria.72
“Lutamos contra o imperialismo não para morrer” — Kruchev
asseverou, aludindo ao refrão “Patria o Muerte”, repetido por Fidel Castro —, senão para aproveitar todas as
possibilidades, para perder menos nesta luta e ganhar mais para vencer e lograr
a vitória final do comunismo”.73 Castro
respondeu a Kruchev negando haver sugerido que “la
União Soviética fuese agresora, porque eso seria más que incorrecto, seria
inmoral e indigno”. Contudo, outra interpretação não cabia, posto que,
segundo sua própria confirmação, ele considerava que os Estados Unidos seriam o
agressor desde o instante em que atacassem Cuba, e a União Soviética, neste
caso, devia responder com um “golpe aniquilador”, porque lá também
contingentes de suas Forças Armadas se encontravam.74
De qualquer forma, em virtude do acerto de Kruchev com Kennedy, mesmo
sem consultar Fidel Castro, os acontecimentos afoitaram-se desde a noite de 26
de outubro, quando o embaixador Lincoln Gordon solicitara a intermediação do Brasil
ao primeiro-ministro Hermes Lima. Quando o general Albino Silva, emissário de
Goulart, chegou a Havana, no dia 29, levando um plano igual ao de U Thant, que
visava a assegurar a integridade e a soberania de Cuba,75
o perigo maior do conflito já estava a passar, não obstante a persistência de
tensões entre os Estados Unidos e União Soviética. Haviam apenas cessado os
voos rasantes dos aviões norte-americanos sobre a ilha. Castro, logo em
seguida, visitou a embaixada do Brasil e conferenciou por mais de uma hora com
o general Albino Silva, mas, ao exprimir sua satisfação
com o interesse de Goulart em cooperar na busca de uma
saída honrosa para a crise, colocou, como ponto básico dos entendimentos, a
evacuação da Base Naval de Guantánamo pelos Estados Unidos, o que, segundo ele,
demonstraria sinceridade na decisão de conferir a Cuba “real garantia contra a
agressão”, e recusou o plano de inspeção unilateral da ONU, por entender que
ela deveria igualmente realizar-se nos territórios onde havia franca ameaça à
integridade e soberania do seu país.76
Esta atitude Castro manteve nas conversações com U
Thant, que chegara a Havana em 30 de outubro, um dia depois do general Albino Silva, gerando um impasse e o temor de que a crise
recrudescesse.77 Mostrou-se extremamente
amargo com a União Soviética, particularmente porque Kruchev
não o consultara antes de responder à carta de Kennedy,
no dia 28.78 E não aceitou, conforme os
Estados Unidos propuseram, nem que representantes da ONU nem que seus aviões de
reconhecimento, com tripulantes dos Estados Unidos, União Soviética e Cuba,
verificassem o desmonte das plataformas de lançamento de projéteis, embora Kruchev houvesse aceito que a Cruz Vermelha
inspecionasse o transporte de armamentos nos navios soviéticos durante as próximas
três semanas. “Que derecho tienen los Estados Unidos para pedir esto?”,
Castro perguntou e U Thant concordou com ele em que tal
exigência não constituía um direito e que a inspeção só podia ser realizada com
a aprovação e aceitação do governo cubano.79
Castro declarou, enfaticamente, que não aceitaria nada que não se ajustasse à
condição de Cuba como Estado soberano e que a inspeção constituía outra
tentativa de humilhá-la. Esta demanda visava convalidar a pretensão de violar o
direito do governo cubano de atuar dentro de suas fronteiras com inteira
liberdade, conforme Castro reiterou, afirmando que os Estados Unidos não tinham
o direito de invadir e não se podia negociar “con la simple promesa de no
cometer un delito”.80 Após a conversa, U Thant realizou algumas consultas com o embaixador do
Brasil e o general Albino Silva, e no dia seguinte, 31 de outubro, voltou a
conferenciar com Castro. Nesta ocasião, Castro mostrou-se mais calmo, e U Thant
disse-lhe, claramente, que ele e seus colegas fizeram saber aos Estados Unidos
que o bloqueio era ilegal, assim como o reconhecimento aéreo, e que nenhum
Estado podia admitir um bloqueio, fosse ele militar ou mesmo econômico, e que
isto era usar a imposição da força de uma grande potência contra um pequeno
país.81 Também revelou que muitos delegados
na ONU entendiam, igualmente, que grande parte do problema decorria das
eleições nos Estados Unidos e que seria aconselhável deixar que elas se
realizassem, no dia 6, para que se pudesse chegar a um resultado em melhores
condições.82 Segundo U
Thant, nos Estados Unidos havia três forças, ou seja, o Pentágono, a CIA e o
Departamento de Estado, mas o Pentágono e a CIA tinham mais poder que o
Departamento de Estado e o futuro do mundo se lhe afigurava muito sombrio se
tal situação continuasse.83 Ele revelou a
Castro que ameaçara renunciar ao cargo de secretário-geral da ONU se ela não
tivesse condições de deter a agressão de uma grande potência contra um pequeno
país, pois isto significaria o fim daquela entidade.84
E, a declarar que compreendia perfeitamente a reação de Castro, pois sentiria o
mesmo se seu país, a Birmânia, por uma grande potência fosse ameaçado,
pediu-lhe para não fazer nenhum pronunciamento que pudesse complicar as
negociações e confidenciou-lhe que muitas delegações entendiam que todo aquele
problema com Cuba e a União Soviética fora motivado pela disputa interna nas
eleições dos Estados Unidos.85
Castro manifestou-se disposto a contribuir para encontrar solução
definitiva para a crise, mas obstinou-se na recusa de qualquer fórmula que
implicasse algum tipo de status especial para Cuba ou que resultasse em capitis
diminutio para o Estado cubano. Aliás, as notícias veiculadas pelas rádios
nos Estados Unidos de que U Thant fora a Cuba com uma
equipe para verificar a retirada dos armamentos soviéticos irritaram-no e ele
nem sequer aquiesceu ao pedido para permitir que dois representantes do
secretário-geral da ONU permanecessem em Havana, a fim de manter contato direto
com ele e com o presidente Dorticós, porque eles
poderiam afigurar-se ao povo como uma espécie de funcionários de inspeção.86
U Thant compreendeu
assim que ele se opunha a todo tipo de inspeção e verificação de qualquer
atividade dentro do seu país, de conformidade com os direitos de um Estado
soberano. E recomendou-lhe que, quando falasse ao povo, como estava previsto,
no dia 1º de novembro, nada dissesse que pudesse criar mais problemas e
fricções.87 Ao regressar a Nova York, U Thant informou então a Adlai Stevenson que encontrara Castro
em “impossible and intractable mood”, furioso com Kruchev por comprometer-se em
permitir a verificação e disposto a lutar até o último homem para defender a
integridade de Cuba, cujo futuro só dispunha discutir com base nos cinco pontos
por ele anunciados, e não admitindo nenhum tipo de inspeção dentro do seu
território.88 E salientou que a situação
econômica em Havana, onde nem carne nem outros mantimentos não havia, era
incrivelmente ruim e que a continuação do bloqueio simplesmente faria os
cubanos mais desesperados e mais suscetíveis à influência de Castro.89
Castro atendeu ao apelo de U Thant e comportou-se
com habilidade e moderação, embora com franqueza, ao falar pela rádio e
televisão no dia seguinte, 1º de novembro. Criticou os Estados Unidos por
levarem o mundo à beira da guerra para exigir que a União Soviética retirasse
os mísseis de Cuba, enquanto se negavam a devolver o território de Guantánamo,
onde tinham a base naval. Reconheceu que, no curso da crise, discrepâncias
entre os governos soviético e cubano apareceram, porém que não gostaria de
discutir aqueles problemas ali, a fim de que os inimigos não tirassem proveito.
E, para acalmar o povo, que pelas ruas gritava “Nikita, Mariquita, lo que se
da no si quita”, declarou que entre Cuba e União Soviética brechas não
haveria, procurando justificar a decisão tomada por Kruchev
de remover os MRBM e IRBM sem consultá-lo com a alegação de que estas armas
estratégicas não pertenciam a Cuba, como, por exemplo, os tanques etc., não
pertenciam a Cuba. Afirmou que respeitava essa decisão e ressaltou que a União
Soviética, vários meses antes, cancelara a dívida que Cuba tinha com ela por
motivo da compra de armamentos.90 Não
obstante o tom conciliador do pronunciamento, sua indignação com a União Soviética
era tão grande, que Kruchev imediatamente despachou Anastás Mikoyan para Havana a fim de acertar as agudas
dificuldades que surgiram no relacionamento de Cuba com a União Soviética.
A insistência de Castro nos cinco pontos, sob fortes aplausos da China,
e sua obstinada recusa em permitir qualquer forma de inspeção estavam, na
realidade, embaraçando o entendimento de Kruchev com Kennedy. E as dificuldades
aumentaram mais ainda quando Mikoyan, ao passar pelo aeroporto de Nova York,
recebeu do embaixador Adlai Stevenson a relação dos armamentos considerados
ofensivos pelo governo norte-americano, com a exigência da remoção não só do
IRBM e MRBM, mas também dos bombardeiros Ilyushin-28 (IL-28), conforme o
analista de inteligência do Departamento de Estado, Raymond L. Garthoff,
sugerira, apoiado na declaração que Kennedy fizera em 4 de setembro.91 Esses aparelhos, obsoletos, foram entregues
a Cuba pela União Soviética para o patrulhamento do litoral, mas o governo
norte-americano considerou-os ofensivos porque tinham o alcance de 750 milhas
náuticas e podiam carregar bombas nucleares. Ao que tudo indicava, os Estados
Unidos trataram de complicar a situação, como Kruchev
disse em carta a Kennedy,92
com o objetivo, provavelmente, de não dar reais garantias contra a invasão de
Cuba. O próprio Castro e Dorticós chamaram a atenção de U Thant, no dia 31 de
outubro, para as notícias, publicadas na imprensa, de que funcionários do
governo norte-americano já davam a entender que não invadiriam Cuba, naquele
momento, porque a União Soviética desmanchara as plataformas de mísseis, mas
poderiam fazê-lo, mais adiante, amparados na OEA e no Tratado do Rio de
Janeiro.93
Mesmo depois do entendimento entre Kennedy e Kruchev, o Estado-Maior Conjunto continuara
apressadamente a preparar a invasão de Cuba, ignorando que as forças soviéticas
baseadas em Cuba, da ordem de 42.000 homens, dispunham de armas nucleares
táticas, pelo menos 90 ogivas, e seu comandante, general Issa
Pliyev, recebera ordem de usá-las.94 E, em
reunião do Ex Comm, Dean Rusk declarou que, se Castro
não permitisse a “permanent presence” da ONU em Cuba, os Estados Unidos
não poderiam comprometer-se a não invadi-la e os reconhecimentos aéreos prosseguiriam.95 No mesmo dia, Kennedy
entregou a McNamara um memorando, mostrando-se
insatisfeito com os “plans X”, ou seja, o CINCLANT OPLAN 316, para a
eventualidade da invasão de Cuba, por lhe parecerem muito reduzidos.96 E, em 7 de novembro, o Conselho de
Planejamento Político do Departamento de Estado submeteu ao Ex Comm um
documento, propondo “a maximal U.S. strategy (...) directed at the
elimination (...) of the Castro regime”.97
Embora Kennedy estivesse a buscar, através dos
contatos de seu irmão Robert com Dobrynin, alguma
forma de entendimento sobre a retirada dos IL-28, prometendo como contrapartida
levantar imediatamente a quarentena,98 e Kruchev lhe comunicasse em 14 de novembro que se
dispunha a fazê-lo, afirmando que para a União Soviética não constituía nenhuma
dificuldade, os Estados Unidos nem haviam levantado a quarentena nem seus
aviões deixaram de violar o espaço aéreo de Cuba.99
Fortes setores dentro do governo norte-americano preferiam alimentar a crise.
Em 16 de novembro, uma vez que o impasse continuava, o Estado-Maior Conjunto
recomendou ao presidente intensificar a vigilância aérea, retirar qualquer
segurança contra a invasão de Cuba, agravar o bloqueio, estendendo-o também aos
suprimentos de petróleo e seus derivados, e proceder, se necessário, à ação
militar, como um ataque aéreo, a fim de compelir a União Soviética a remover
aqueles bombardeiros da ilha.100 O general Maxwell Taylor, presidente do Estado-Maior Conjunto,
sugeriu igualmente que qualquer garantia a ser dada não afetasse o Tratado do
Rio de Janeiro e fosse vinculada simultaneamente à “good behavior” por
parte de Castro e à aceitação pelo seu governo de continuada vigilância aérea.101 Tais exigências evidenciavam que o
Pentágono não desejava qualquer acordo, e Roger Hilsman,
analista do Bureau of Intelligence and Research do Departamento de Estado,
concluiu, àquela época, que era melhor para os Estados Unidos manter o impasse
do que qualquer entendimento, o qual implicaria, substancialmente, dar a Cuba
salvaguarda contra a invasão e afigurar-se-ia aos governos latino-americanos
como o reconhecimento da legitimidade do regime de Castro e aceitação do
comunismo no Hemisfério.102
Castro tinha suas razões para não confiar nas intenções dos Estados
Unidos e, com seu sentido de honra e de orgulho, não ceder a uma política de
força. Era evidente que não podia aceitar a presença em Cuba de um posto
permanente de verificação da ONU, sem equidade e sem reciprocidade, i.e., se o
mesmo não fosse feito nos demais territórios do Caribe, inclusive pertencentes
aos Estados Unidos, como U Thant propusera. Os Estados
Unidos declararam que não aceitariam inspeção no seu território se não fosse
feita inspeção igualmente na União Soviética.103
Assim, para facilitar um acordo e resguardar a soberania de Cuba, o Brasil
apresentou à Assembleia-Geral da ONU, em 15 de novembro, um projeto de
resolução, visando tornar toda a América Latina zona desnuclearizada, com a
garantia de integridade territorial de todos os países da região.104 O governo Castro deu instruções ao seu
delegado na ONU, o embaixador Carlos Lechuga, para
apoiá-lo e apresentar emendas, incluindo também Porto Rico e a Zona do Canal do
Panamá, onde os Estados Unidos possuíam instalações militares, com a retirada
de todas as bases militares das grandes potências, entre as quais a de
Guantánamo.105 Esta posição era coerente com
a sua linha política, mas obviamente os Estados Unidos não aceitariam tais
emendas. E a manutenção do impasse e o agravamento das tensões convinham
exatamente aos militaristas e aos setores mais à direita do governo
norte-americano, que tratavam de encontrar algum pretexto para intervir na
ilha.
No mesmo dia em que o general Maxwell Taylor, em nome dos demais chefes
militares, tratara de induzir Kennedy a medidas mais drásticas, Castro escreveu
carta a U Thant, na qual, salientando que funcionários do governo
norte-americano proclamavam que os Estados Unidos não assumiram o compromisso
de não invadir Cuba porque a inspeção do seu território não fora permitida, comunicou
que ordenara às baterias antiaéreas abrirem fogo contra qualquer avião de
guerra que violasse o espaço aéreo do país.106
Embora tratasse de restringir os voos rasantes, Kennedy
alegou junto a Kruchev que a vigilância aérea era a única forma de proceder à
verificação, dado que o governo cubano recusara todas as outras propostas
feitas por U Thant. E, referindo-se à ameaça de Castro, advertiu que, se ela se
consumasse, os Estados Unidos fariam a retaliação.107 Naquelas
circunstâncias, a derrubada de algum outro avião norte-americano sobre Cuba
reacenderia inevitavelmente a crise, dando pretexto para a invasão, e por isto
a ordem de Castro não apenas surpreendeu como alarmou Mikoyan, que até então
não conseguira convencê-lo a permitir alguma forma de verificação, quer feita
por uma delegação da ONU quer fosse feita por cinco países da América com os
quais Cuba mantinha relações diplomáticas ou por 10 países neutros. O não
atendimento de tal exigência, sem dúvida abusiva, servia naturalmente como pretexto
para que o governo norte-americano não suspendesse a quarentena e não
assinasse, conforme Kruchev propusera a Kennedy, um termo de compromisso,
registrado na ONU, comprometendo-se a não invadir Cuba e a garantir a estrita
observância de sua soberania.108 Esta era a percepção do
vice-ministro das Relações Exteriores da União Soviética e incumbido das
negociações na ONU, Vassili V. Kuznetsov, que
considerava ociosa a insistência dos Estados Unidos na inspeção, uma vez que,
embora se declarassem satisfeitos com a remoção dos armamentos considerados
ofensivos, estavam a colocar obstáculos um após o outro.109
E ele tinha razão. Alto funcionário do Departamento de Estado explicou ao embaixador
brasileiro, Roberto Campos, que abandonar as
exigências de controle internacional sobre o desmantelamento das bases em Cuba
seria extremamente difícil para os Estados Unidos, por motivos de política
interna, porquanto, não satisfeito esse requisito, a resistência política ao
compromisso de não invasão, já enorme, aumentaria.110
Entretanto, caso impossível fosse montar um sistema de inspeção internacional,
em virtude da intransigência de Castro, seria possível para os Estados Unidos
manter as linhas gerais dos entendimentos Kennedy-Kruchev se a União Soviética permitisse a verificação em
alto-mar dos mísseis retirados de Cuba.111
E foi esta — a verificação em alto-mar — a solução encontrada. Kennedy
indicara que abandonaria a exigência de verificação on-site, devido à recusa de
Castro, desde que se acertasse a devolução dos bombardeiros IL-28. Mas aí o
impasse perdurou, dado que, ao contrário dos mísseis, os IL-28 foram doados a
Cuba, e Kruchev decidira também retirá-los, submetendo-se à pressão de Kennedy,
sem que Castro fosse previamente informado.112 Mikoyan defrontou-se
com enorme dificuldade para alcançar um entendimento com Castro e os líderes
cubanos, cuja intransigência, dificultando a superação da crise e a posição
conciliadora de Kruchev, visou a demonstrar independência em face da União
Soviética, como pareceu a Bastian Pinto, embaixador do Brasil em Havana.113 Desde o início, demonstrando ostensiva
frieza ante sua presença,114 eles criticaram
duramente o fato de não terem sido consultados nem informados pelo governo
soviético, ao deflagrar-se a crise, e apontaram como erro crasso a proposta de
trocar as instalações missilísticas em Cuba, que era um país socialista, pelas
bases de Jupiter na Turquia.115 O
melhor, segundo Castro, teria sido exigir a devolução do território ocupado
pela Base Naval de Guantánamo, o que demonstraria que a instalação dos mísseis
visara realmente à defesa de Cuba e não a corrigir o desequilíbrio estratégico
entre a União Soviética e os Estados Unidos. Castro e seus companheiros
opuseram-se também à retirada total pela União Soviética das tropas
motomecanizadas, dos IL-28 e dos lançadores de foguetes KOMAR, bem como a
qualquer inspeção unilateral.116 Guevara, por sua vez, reforçou a observação de Castro,
segundo a qual os Estados Unidos quiseram destruí-los fisicamente, mas a União
Soviética, com a carta de Kruchev, aceitando, em 27
de outubro, a retirada dos mísseis, destruiu-os juridicamente. E criticou a
“debilidade” do comportamento do governo soviético, que reconhecera como ato
legítimo, conforme sua opinião, a violação, pelos Estados Unidos, do direito
internacional.117 Mikoyan,
por sua vez, retrucou, com dureza idêntica, esclarecendo que a União Soviética
preocupara-se em salvar a paz, mas também criara condições para que os Estados
Unidos garantissem a integridade de Cuba. O governo soviético — acrescentou —
não fez concessões e sim pensou, no final da primeira semana, que a invasão de
Cuba era iminente, como o próprio Castro informara.118
Mikoyan também deixou claro que a União Soviética não
admitia que Cuba interferisse em sua política internacional e criticou
severamente a posição de Castro, rechaçando publicamente a inspeção
internacional, o que, a seu ver, complicara ainda mais a crise e agravara o
perigo de guerra. As discussões daí evoluíram para a estratégia geral e Mikoyan manifestou a inconformidade do governo soviético
com a linha da Declaração de Havana, que estava em franco desacordo com a
doutrina da coexistência pacífica e não apenas privava Cuba do apoio de outros
países latino-americanos, como prejudicava, no continente, os próprios partidos
comunistas, cujas queixas chegavam a Moscou.119
Kennedy percebeu as
dificuldades de Mikoyan em Havana, onde as conversações com Castro, várias e
espaçadas, arrastavam-se, havia mais de duas semanas, sem qualquer conclusão.
E, preocupado em não perder o controle da situação, pediu a Robert Kennedy que
cobrasse de Dobrynin urgente resposta, antes de sua entrevista à imprensa,
anunciada para o dia 20, à mensagem que, no dia 12, enviara a Kruchev,
verbalmente, propondo que ele aquiescesse à retirada dos IL-28 para
possibilitar o levantamento imediato da quarentena. Robert Kennedy cumpriu as
instruções do presidente, no dia 18, durante uma recepção oferecida em honra
dos artistas do Balé Bolshoi, em sua residência. No mesmo dia, John McCloy,
adjunto de Adlai Stevenson na ONU, manteve longa
conversa com o embaixador Kuznetsov, fazendo-lhe ver
que a remoção dos bombardeiros não podia ser indefinidamente adiada, ainda mais
quando o presidente havia declarado que o levantamento da quarentena dependia
de verificação da ONU e garantia adequada contra a reintrodução de novos
armamentos, precondições estas que ele estava disposto a relevar, em favor de
um rápido entendimento.120 Segundo adiantou,
Kennedy estava enfrentando a oposição de “extremist
groups” e encarecia que o governo de Moscou fizesse essa concessão, a fim
de que ele pudesse anunciá-la no dia 20, ao dirigir-se à nação, fazendo seu
primeiro pronunciamento desde 2 novembro, quando informara, pelo rádio e
televisão, que a União Soviética já estava a desmantelar as bases de mísseis em
Cuba.121 Àquela altura, Castro, ainda que
timbrasse em mostrar-se independente e mesmo arrogante,122
não pôde mais resistir à pressão de Mikoyan, quando
este o informou que Kruchev decidira, inapelavelmente,
atender a mais essa exigência dos Estados Unidos e retirar os IL-28 dentro de
30 dias. Apenas teve, desta vez, a oportunidade de salvar a face.123 No mesmo dia, 19 de novembro,
antecipando-se à comunicação de Kruchev a Kennedy, escreveu a U Thant uma
carta, na qual, acusando o governo norte-americano de exigir a retirada do
IL-28 simplesmente como “pretexto para mantener la tensión, prolongar la
crisis y sostener una política de fuerza”, declarou que o governo cubano
não criaria obstáculos, se a União Soviética considerasse conveniente à boa
marcha das negociações a remoção daqueles aparelhos.124
No dia seguinte, ao receber a mensagem com que Kruchev
fazia mais esta concessão,125 Kennedy, antes de conceder a entrevista e anunciar o fim
da quarentena, pediu ao antigo embaixador em Moscou, Llewellyn Thompson, que
transmitisse a Dobrynin que já ordenara o rebaixamento do estado de alerta,
estabelecido no começo da crise, e a desmobilização dos esquadrões aéreos de
reserva. E enviou a Kruchev curta mensagem, assegurando-lhe que, conquanto não
se pudesse persuadir Castro a aceitar conveniente forma de inspeção ou
verificação, não havia necessidade de temer qualquer invasão de Cuba, enquanto
as questões seguissem aquele presente curso favorável.126
Isto significava que a promessa de não intervir
militarmente contra o regime de Fidel Castro não ia além das salvaguardas que
qualquer outro país da América Latina tinha, sob as leis internacionais, ou
seja, sob a Carta da OEA e o Tratado do Rio de Janeiro.
Destarte, Kennedy, com a ambiguidade que caracterizou seu comportamento,
evadiu-se de assinar, em documento apropriado e registrado na ONU, conforme
Kruchev solicitara, o compromisso formal de que os Estados Unidos não
invadiriam Cuba. Usando como pretexto o fato de que Castro não permitira a
inspeção on-site, saiu interna e externamente fortalecido da crise. O Partido
Democrata, embora perdesse quatro cadeiras na Câmara de Deputados, ganhara mais
senadores, entre os quais Edward M. Kennedy, o irmão mais jovem do presidente,
cujo antigo rival Richard Nixon também perdera a eleição para o governo da
Califórnia, fato ironicamente referido por Kruchev em carta de 14 de novembro.127
No plano internacional, Kennedy afigurou-se como vitorioso, ao forçar o recuo
de Kruchev, no mais grave confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética
desde que a Guerra Fria se instalara, na segunda metade dos anos 1940. O
triunfo, porém, foi mais aparente que real. A crise dos mísseis abalou a
confiança dos aliados europeus da OTAN nos Estados Unidos. Apesar de que
apoiaram a atitude de Kennedy contra Cuba, a França e a Alemanha, sobretudo,
perceberam que os Estados Unidos não se dispunham a consultar seus aliados da
Europa, antes de tomar qualquer iniciativa, e tampouco arriscariam sua própria
existência para proteger a Europa. Por isso, Charles de Gaulle, presidente da
França, tratou de rever as relações da Europa Ocidental com os Estados Unidos,
cogitando retirá-la da Guerra Fria, e buscou estabelecer com Konrad Adenauer,
chefe do governo, um tratado de amizade e melhorar as relações com os países do
Pacto de Varsóvia. Mais grave também foi o fato de que, ao fazer, secretamente,
a barganha dos Jupiter pelos mísseis
de Cuba, Kennedy, mesmo sem uma carta formal, não apenas comprometeu a
confiabilidade dos Estados Unidos, como colocou seu destino político — e o do
irmão Robert — na dependência da discrição de Kruchev
e dos demais dirigentes soviéticos.128
Embora não tivesse dado nenhuma garantia real de que não invadiria Cuba, Kennedy jamais ousou dizê-lo publicamente, com receio de
que Kruchev revelasse a barganha secreta com os
mísseis da Turquia.129
De qualquer forma, os entendimentos entre Kennedy
e Kruchev, ainda que fizessem Cuba sentir-se bastante
vulnerável, retirando-lhe até mesmo os barcos de patrulha contra os ataques
terroristas a partir do mar,130 constituíram
fator importante para o avanço das negociações sobre o desarmamento, que a
situação financeira das duas superpotências já tornava imperativo, situando-se
as divergências mais no plano da confiança, ou seja, na questão do controle e
da verificação, conforme a questão dos mísseis soviéticos em Cuba realçara. A
União Soviética, que tivera gastos estimados em US$ 1 milhão por dia, nos
últimos quatro meses, com a Operação Anadyr, atingindo seus custos o total
avaliado pela CIA em US$ 1 bilhão, enfrentava, porém, uma situação muito pior.131 Sua economia já estava combalida, e ela só
podia manter a corrida armamentista à custa de extremo sacrifício de sua
população e dos demais países do Bloco Socialista. Por esta razão, Kruchev tinha, provavelmente, mais interesse no
desarmamento, pois um acordo com os Estados Unidos possibilitaria a redução dos
preços da carne, manteiga e outros gêneros, bem como a abolição das taxas sobre
o rendimento do trabalho, duas vezes adiada devido às despesas militares, e o
lançamento no mercado dos bens de consumo pelos quais a população da União
Soviética ansiava.132 Ao que tudo indicou,
portanto, ao perceber o fracasso da tentativa de instalar MRBM e IRBM em Cuba
para melhorar a paridade estratégica da União Soviética em relação aos Estados
Unidos e forçar uma solução do problema de Berlim, Kruchev
procurou acomodar a situação com Kennedy, em favor do
desarmamento, mediante sucessivas concessões, como a retirada dos mísseis e
depois dos IL-28, à custa de Castro e do seu próprio prestígio no movimento
comunista mundial. Mas os Estados Unidos, em abril de 1963, removeram os 15
mísseis Jupiter da Turquia e os 30 da Itália e, em 5 de agosto, firmaram
com a União Soviética e a Grã-Bretanha o Tratado de Limitação dos Testes
Nucleares.”
50. May & Zelikow, The Kennedy Tapes, 1997, pp. 571-572.
51. Kennedy, Thírteen Days — A Memoir of the Cuban Crisis, 1969, pp. 101-102.
Nash, The Other Missiles of October, 1997,
p. 136.
52. Telegram nº 1050 from the Department of
State to the Embassy in Soviet Union, Washington, October 27, 1962 — 8:05 p.m.
FRUS, vol. VI, Kennedy — Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 81 e 182. Texto
também transcrito in May & Zelikow, 1997, pp. 603-604.
53. Thompson, The Missiles of October, 1992, pp. 329-330.
54. May & Zelikow, 1997, p. 525.
55. Kennedy, 1969, pp. 107-109. Dobrynin,
1995, pp. 89-91. Nash, 1997, pp. 141-142.
56. Fursenko & Naftali, 1997, pp.
281-282.
57. Kruchev, 1991, p. 224.
58. Fursenko & Naftali, 1997, p. 281.
59. Nash, 1997, pp. 144-146. Gaddis, 1997, p.
271.
60. Gribkov & Smith, 1994, pp. 66, 67 e
71.
61. Id., ibid., p. 67.
62. Letter from Chairman Khrushchev to
President Kennedy, Moscow, October 28, 1962. FRUS, vol. VI, Kennedy —
Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 183-187.
63. Ibid., pp. 186-187.
64. Letter from Chairman Khrushchev to
President Kennedy, Moscow, October 28, 1962. Ibid., pp. 189-190. Kennedy
cumpriu o compromisso e retirou os mísseis não só da Turquia como da Itália.
65. Nash, 1997, p. 143. Dobrynin, 1995, p.
82.
66. Telegrama nº 347, secreto, da embaixada
do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 26/27.10.1962 — 18hs00.600 (24h), Situação
Política — outubro 1962. AHMRE-B.
67. Carta de Nikita S. Kruchev a Fidel
Castro, Moscou, 28/10/1962, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José
Martí, 1991, p. 66.
68. Ibid., p. 66.
69. Duncan, The Soviet Union and Cuba: Interests and Influence, 1985, p. 42.
70. Telegrama nº 352, secreto-urgentíssimo,
da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 27-28/10/1962 — 19h15. CTs. —
Telegramas — Recebidos — Havana — 1962-1964. AHMRE-B.
71. Declaración del Primer Ministro del
Gobierno Revolucionario de Cuba, Fidel Castro, La Habatta, 28/10/1962. in
Pueblo Invencible, Editorial José Martí, La Habana, 1991, p. 65. Telegrama nº
155, confidencial, do Itamaraty para a embaixada do Brasil em Moscou,
6/11/1962. — Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962 — 6223.
Ibid.
72. Carta de Nikita S. Kruchev a Fidel
Castro, 30/10/1962, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí,
1991, pp. 69-72.
73. Ibid., p. 70.
74. Carta de Fidel Castro a Nikita S. Kruchev,
La Habana, 31/10/1962, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí,
1991, pp. 73-75.
75. May & Zelikow, 1997, p. 638.
76. Telegrama nº 359, secreto-urgentíssimo,
da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 30/10/1962. CTs. — Telegramas
— Recebidos — Havana — 1962-1964. AHMRE-B.
77. Telegrama nº 813, confidencial-urgente,
da embaixada do Brasil em Washington (Roberto Campos), 31/10/1962 — 19h.
Washington — Telegramas — Cts. — Rec. e Exp. — 1962. Ibid.
78. Telegrama nº 1585, from New York (Adlai
Stevenson) to Secretary of State, November 1, 1962 — 1:00a.m., in The Cuban
Missile Crisis 1962, A National Security Archive Documents Reader, pp. 249-251.
79. Conversaciones sostenidas por Fidel
Castro, Primer Ministro del Gobierno Revolucionario de Cuba, y U Thant, Secretario
Interno de la Organización de Naciones Unidas, Palacio Presidencial, La Habana,
30/10/1962 — 3:10, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991,
pp. 76-89.
80. Ibid., p. 88.
81. Conversaciones sostenidas por Fidel
Castro, Primer Ministro del Gobierno Revolucionario de Cuba, y U Thant,
Secretario Interno de la Organización de Naciones Unidas, Palacio Presidencial,
La Habana, 31/10/1962 — 3:10. Ibid., p. 91.
82. Ibid., p. 95.
83. Ibid., p. 91.
84. Ibid., p. 92.
85. Ibid., p. 95.
86. Memorandum of Telephone Conversation
between Secretary of State (Rusk) and the Permanent Representative to the
United Nations (Stevenson). October 31, 1962. FRUS, vol. XI, October
1962-December 1963, Cuba, pp. 323-325. Conversaciones sostenidas por Fidel
Castro, Primer Ministro del Gobierno Revolucionario de Cuba, y U Thant,
secretario de la Organización de Naciones Unidas, Palacio Presidencial, La
Habana, 31/10/1962 — 3:10, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José
Martí, 1991, p. 96.
87. Ibid., pp. 95-96.
88. Telegram nº 1585, from New York (Adlai
Stevenson) to Secretary of State, November 1, 1962 — 1:00 a.m., in The Cuban
Missile Crisis 1962, A National Security Archive Documents Reader, pp. 249-251.
89. Ibid., pp. 250-251. Memorandum of
Telephone Conversation between Secretary of State (Rusk) and the Permanent
Representative to the United Nations (Stevenson). October 31, 1962. FRUS, vol.
XI, October 1962- December 1963, Cuba, p. 324.
90. Fragmentos de la comparecencia de Fidel
Castro, Primer Ministro del Gobierno Revolucionario de Cuba, ante la radio y la
televisión cubanas, La Habana, 1º de noviembre de 1962, in Pueblo Invencible,
La Habana, Editorial José Martí, 1991, pp. 102-108.
91. FState Department Memorandum,
“Considerations in Defining Weapons Which Must Be Removed from Cuba”, October
29, 1962, in The Cuban Missile Crisis 1962 — National Security Archive
Documents Reader, ed. By Chang & Kornbluh, pp. 247-248.
92. FLetter from Chairman Khrushchev of
President Kennedy, Moscow, undated (transmited to the Soviet Embassy in
Washington on November 4). FRUS, vol. VI, Kennedy-Khrushchev Exchanges,
1961-1963, pp. 199-200.
93. FConversaciones sostenidas por Fidel
Castro, Primer Ministro del Gobierno.
94. FFursenko & Naftali, 1997, pp.
268-269. McNamara, 1995, p. 341.
95. F“Sumary Record of NSC Executive
Committee Meeting” (Bromley Smith), November 5, 1962, in The Cuban Missile
Crisis 1962 — National Security Archive Documents Reader, ed. by Chang &
Kornbluh, pp. 262-263.
96. FMemorandum from President Kennedy to
Secretary of Defense McNamara, Washington, November 5, 1962. FRUS, vol. XI,
October 1962-December 1963, Cuba, p. 381 .Thompson, 1992, p. 346.
97. FApud The Cuban Missile Crisis 1962 —
National Security Archive Documents Reader, ed. by Chang & Kornbluh, p.
236.
98. FPresident Kennedy=s oral message to
Premier Khruschev, regarding the IL-28 aircraft, November 12, 1962, in “Sumary
Record of NSC Executive Committee Meeting” (Bromley Smith), November 5, 1962.
Ibid., p. 273.
99. FMessage from Chairman Khrushchev to
President Kennedy, Moscow, November 14, 1962. FRUS, vol. XI, October
1962-December 1963, Cuba, pp. 209-212.
100. General Maxwell Taylor, “Chairman=s
Talking Paper for Meeting with the President” (sintetized version), November
16, 1962, in the Cuban Missile Crisis 1962 — National Security Archive
Documents Reader, ed. by Chang & Kornbluh, pp. 280-282.
101. Ibid., pp. 281-282.
102. State Department Bureau of Intelligence
and Research Memorandum, “Negotiations on Cuba: The Advantages of Stalemate”
(Roger Hilsman), November 17, 1962. Ibid., pp. 284-287.
103. Message from President Kennedy to
Chairman Khrushchev, Washington, November 15, 1962. FRUS, vol. VI, Kennedy —
Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 212-215. Telegram from the Mission to the
United States to the Department of State (Stevenson), Nova York, November 19,
1962 — 1 a.m. FRUS, vol. XI, October 1962-December 1963, Cuba, pp. 482-487.
104. Esse projeto de resolução foi que gerou
o Tratado de Tlatelolco.
105. Telegrama nº 384, confidencial-urgentíssimo,
da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 14/11/1962 — 12h15.
Telegramas — Recebidos — Havana — 1962-1964. AHMRE-B. Lechuga, Eye of the Storms — Castro, Khrushchev,
Kennedy and the Missile Crisis, 1995, pp. 146-148.
106. Carta de Fidel Castro a U Thant, La
Habana, 15/11/1962, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí,
1991, pp. 109-111.
107. Message from President Kennedy to
Chairman Khrushchev, Washington, November 15, 1962. FRUS, vol. VI, Kennedy —
Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 212-215.
108. Message from Chairman Khrushchev to
President Kennedy, Moscow, undated (transmitted to the Soviet Embassy in
Washington on November 11 and was given to Robert Kennedy in the following
day). Ibid., pp. 204-208.
109. Telegram from the Mission to the United
Nations to the Department of State (Stevenson), Nova York, November 19, 1962 —
1 a.m., FRUS, vol. XI, October 1962-December 1963, Cuba, pp. 482-487. Telegrama
nº 144, secreto, da delegação do Brasil junto à Assembleia-Geral da ONU — Nova
York (Afonso Arinos de Melo Franco), 9/11/1962 — 19h30. 600 (24h) — Situação
Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962. AHMRE-B.
110. Carta-Telegrama nº 370, confidencial, da
embaixada do Brasil em Washington (Roberto Campos), 10/11/1962. Washington —
Telegramas — Cts. — Rec. e Exp. — 1962. Ibid.
111. Ibid.
112. Lechuga, 1995, p. 153.
113. Telegrama nº 385, confidencial, da
embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 14/11/1962 — 15h15. 600 (24h) —
Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962 — 6228. AHMRE-B.
114. Telegrama nº 389, confidencial-urgente,
da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 16-17/11/1962. Telegramas —
Recebidos — Havana, 1962-1964. Ibid.
115. Telegrama nº 385, confidencial, da
embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 14/11/1962 — 15h15. 600 (24h) —
Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962 — 6228. Ibid.
116. Entrevista de Jorge Risquét ao Autor,
Havana, dezembro de 1995.
117. Castañeda, La Vida en Rojo — Una Biografia del Che Guevara, 1997, pp. 287-288.
118. Telegrama nº 385, confidencial, da
embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 14/11/1962 — 15h15. 600 (24h) —
Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962 — 6228. AHMRE-B.
119. Ibid.
120. Telegram from the Mission to the United
Nations to the Department of State (Stevenson), Nova York, November 19, 1962 —
1 a.m., FRUS, vol. XI, October 1962-December 1963, Cuba, pp. 482-487.
121. Fursenko e Naftali, 1997, pp. 307 e 308.
122. Telegrama nº 389, confidencial-urgente,
da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 16-17/11/1962. Telegramas —
Recebidos — Havana, 1962-1964. AHMRE-B.
123. Telegrama nº 212, confidencial, do
Itamaraty para a embaixada do Brasil em Moscou, 26/11/1962. Moscou — CTs. —
Telegramas — Expedidos — 1962-1963. Ibid.
124. Carta de Fidel Castro a U Thant, La
Habana, 19/1/1962. In Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991,
pp. 112-113.
125. Message from Chairman Khrushchev to
President Kennedy, Moscow, November 20, 1962. FRUS, vol. VI, Kennedy —
Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 215-222.
126. Message from President Kennedy to
Chairman Khrushchev, Washington, November 21, 1962. Ibid., p. 223.
127. Message from Chairman Khrushchev to
President Kennedy, Moscow, November 14, 1962. Ibid., pp. 209-212.
128. Os Jupiter foram retirados da Turquia em
abril de 1963, mas os submarinos Polaris passaram a estacionar no Mediterrâneo.
129. Beschloss, 1991, p. 566.
130. Brenner, Philip, “Thirteen Months:
Cuba=s Perspective on the Missile Crisis”, in Nathan (ed.), 1992, 204.
131. Telegrama nº 800, confidencial, da
embaixada do Brasil em Washington (Roberto Campos), 28/10/1962 — 14h — Washington
— Telegramas — Cts. Rec. e Exp. — 1962. AHMRE-B. “Análise da Crise Cubana”,
confidencial, anexo ao Ofício nº 994, confidencial, Roberto Campos ao chanceler
Her-mes Lima, Washington, 1º de novembro de 1962. 600 (24h) — Situação Política
— Cuba — novembro a dezembro de 1962. Ibid. Zubok & Pleshakov, 1996, p.
259.
132. Telegrama nº 260, confidencial, da
embaixada do Brasil em Moscou (Vasco Leitão da Cunha), 23/11/1962 — 17h15.
Moscou CTs. — Telegramas — Recebidos e Expedidos — 1962-1963-1964. Ibid.
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