sábado, 5 de abril de 2025

De Martí a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina (Parte II), de Luiz Alberto Moniz Bandeira

Editora: Civilização Brasileira

ISBN: 978-85-200-0866-9

Opinião: ★★★★☆

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Páginas: 798

Sinopse: Ver Parte I



A enfrentar a guerra não declarada que a Operation Mongoose configurava, Castro não podia prescindir da União Soviética, apesar de ter consciência de que ela não só apoiara como impelira os velhos comunistas a tentar a conquista do poder, através de um golpe branco e frio, visando ao controle do aparato político e administrativo do Estado cubano, conforme Escalante e, decerto, os demais militantes do PSP pretenderam. Por outro lado, Kruchev, não obstante a preocupação com a tendência de Castro para reduzir os partidos comunistas a dóceis instrumentos de sua política insurrecional para a América Latina, não podia perder Cuba, que se convertera em valioso trunfo na Guerra Fria, devido à sua importância estratégica. A enérgica reação de Castro à tentativa de Escalante e dos velhos comunistas de apossarem-se do poder em Cuba assustou assim os dirigentes soviéticos, que até então tiveram um comportamento dúplice, e eles logo procuraram eximir-se da responsabilidade pela atuação de Escalante. Esse acontecimento, paradoxalmente, foi que convenceu, inter alia, a maioria do Presidium do Comitê Central do PCUS a tomar a decisão de reconhecer o caráter socialista da Revolução Cubana e autorizar o Pravda a fazê-lo, pela primeira vez, no artigo publicado em 11 de abril, endossando a expulsão de Escalante,1 e a aprovar, no dia seguinte, o fornecimento de 180 mísseis SA-2, solicitados havia muito tempo por Fidel Castro, juntamente com uma bateria de mísseis para a defesa do litoral, assessores militares e um regimento do Exército soviético.

A substituição de Kudryavtsev por Alekseev como embaixador constituiu outra tentativa de descomprometer-se com a conspiração que estivera em curso. E tais atitudes certamente não foram gratuitas. Fortes razões e interesses estratégicos determinaram a busca de uma acomodação com o próprio Castro, pois, à época em que o conflito com Escalante e os velhos comunistas aflorou, Kruchev provavelmente já excogitava a instalação em Cuba de mísseis balísticos, com ogivas nucleares, e por esta razão tratou de reconhecer o caráter socialista do regime lá implantado, para atender a Castro. As duas iniciativas necessariamente se inter-relacionavam, inseridas no contexto global do conflito Leste-Oeste, configurado, como seu front mais sensível, na situação abnormal de Berlim, que Kruchev, premido pelos dirigentes da República Democrática Alemã, queria resolver ainda em 1962. Entretanto, segundo os indícios, a decisão definitiva de transferir mísseis nucleares de alcance médio e intermédio para Cuba, o que lhe permitiria eficazmente dar um ultimato para resolver a questão da Alemanha e expulsar as potências ocidentais de Berlim,2 ele só tomou em abril, depois que os Estados Unidos tornaram plenamente operacionais as cinco bases para o lançamento de 15 Jupiter IRBM, instaladas na Turquia, reiniciaram os testes atômicos no Pacífico, o que muito o irritou, e ampliaram seu engajamento na Indochina. Esta iniciativa de Kennedy concorreu para provocar a reação de Kruchev,3 e foi em torno do dia 27 daquele mês que chegou a Alekseev a convocação para ir a Moscou, onde ele recebeu a notícia de que seria nomeado embaixador da União Soviética em Havana. E Kruchev, na ocasião, perguntou-lhe como Castro reagiria a uma proposta para a instalação em Cuba de mísseis balísticos.4

Tal ideia aparentemente se cristalizara nos últimos dias de abril, quando o marechal Rodion Malinovsky, ministro da Defesa, conversando com Kruchev, que gozava férias na Crimeia, apontou na direção da Turquia, além do mar Negro, e comentou que ali os Estados Unidos haviam instalado mísseis nucleares com capacidade de destruir todas as cidades ao sul da União Soviética.5 “Eles nos cercaram por todos os lados” — acrescentou —, “por que não temos nós a possibilidade e o direito de fazer o mesmo?”6 Esta possibilidade somente Cuba, naturalmente, lhe oferecia. E, se concretizada, significaria para a União Soviética, ainda distante de alcançar a paridade nuclear com os Estados Unidos, uma superioridade estratégica que Kennedy publicamente proclamara em outubro de 1961,7 bem como a multiplicação de sua capacidade de resposta a qualquer ataque, além de melhor correlação de forças em favor do Bloco Socialista. Devido ao fato de que a União Soviética não possuía mais do que 44 ICBM, contra 229 dos Estados Unidos, a instalação em Cuba dos 44 R-14 transformá-los-ia de mísseis de alcance intermédio em mísseis estratégicos, duplicando ou mesmo triplicando o número de ogivas nucleares capazes de alcançar os Estados Unidos, o que equivalia à fórmula “IRBM + Cuba = ICBM”.8 Com um só golpe, Kruchev corrigiria o desequilíbrio estratégico, ao colocar os alvos nos Estados Unidos, 1.400 milhas distantes de Cuba, dentro do alcance de 36 R-12s, e o resto do país, a leste das Montanhas Rochosas, sob a ameaça de 24 R-14s, com 2.800 milhas de alcance.9

Kruchev, nas suas memórias, alegou, no entanto, que estava preocupado com a situação de Cuba, certo de que os Estados Unidos não aceitariam a ideia de ter um país socialista às suas portas e, mais dia menos dia, acabariam por invadi-la, pois, como os próprios norte-americanos diziam, might makes right.10 Segundo sua versão, foi sobre esse pano de fundo que a ideia de instalar mísseis nucleares no território cubano desenvolveu-se e foi confiada ao marechal Malinovski para seu planejamento. Naturalmente, a destruição do regime revolucionário de Castro pelos Estados Unidos constituiria um golpe contra o comunismo e enfraqueceria politicamente a posição da União Soviética no Terceiro Mundo, dando munição para os ataques da China à política de coexistência pacífica. Anatoli Dobrynin, embaixador da União Soviética em Washington, duvidou, porém, que a alegação de Kruchev fosse sincera e confirmou que o intento de instalar em Cuba mísseis ar-ar de médio alcance, capazes de atingir as principais cidades norte-americanas até a fronteira do Canadá, constituiu parte da ampla estratégia visando a alcançar maior paridade com os Estados Unidos, o que seria útil não só na disputa de Berlim como em outras questões.11 Também por isso mesmo, Cuba tornara-se extremamente importante para a União Soviética, que precisava preservá-la, impedindo a invasão que os Estados Unidos preparavam, como escopo da Operation Mongoose, tanto que o Estado-Maior Conjunto já planejava as medidas essenciais e preliminares, de modo a assegurar às Forças Armadas a capacidade para a intervenção decisiva12 e a prolongada ocupação daquele país, que a comunidade de inteligência julgava necessária.13 Seu desejo era realizá-la, de forma que, em poucos dias, as tropas norte-americanas superassem a resistência frontal e consolidassem o controle dos Estados Unidos sobre os principais centros de governos e as vias de transporte e de comunicação.14 Como Kruchev previu, “quando não restasse pedra sobre pedra da Cuba de Fidel Castro e um novo Batista estivesse instalado no poder para falar em nome da ilha, haveria tempo para discutir quem tinha razão”.15 Exitus acta probat.

A instalação pela União Soviética de bases para o lançamento de mísseis, com ogivas nucleares, decerto aumentaria a capacidade de dissuasão de Cuba contra qualquer ataque dos Estados Unidos. Mas poderia igualmente servir como pretexto e justificar a intervenção, tanto assim que, desde os meados de 1961, funcionários do governo norte-americano, como Richard Goodwin, já haviam começado a insinuar terem indícios positivos de que a União Soviética as construía (o que ainda não era verdade) e o Estado Maior-Conjunto exibira, em sessão secreta da Comissão de Diplomacia do Senado, uma série de fotos, tomadas por aviões U-2, que indicariam a sua existência. Naquela época, conforme o encarregado de Negócios do Brasil, Carlos Alfredo Bernardes, acertadamente supôs, tratava-se do início de uma campanha de preparação psicológica para justificar a ação coletiva ou mesmo unilateral, que os Estados Unidos pretendiam executar contra Cuba depois da Conferência do CIES em Montevidéu.16 De qualquer forma, a Kruchev afigurou-se que, se não transferisse para Cuba mísseis de médio e intermédio alcance, com ogivas nucleares, sua perda seria inevitável e tiraria à União Soviética a possibilidade de compensar o missile gap que favorecia os Estados Unidos, além de dar à China poderoso argumento para atacá-la, uma vez que, como os Estados Unidos sabiam,17 seu país, a uma distância de 11.000 km, não tinha condições de impedir a invasão e não se arriscaria a desencadear a guerra atômica a fim de salvar o regime de Castro.

A questão da Alemanha constituiu outro fator que, de acordo com Tom Henry Kissinger, condicionou, fundamentalmente, o comportamento de Kruchev. Já por duas vezes, em 1958 e em 1961, ele dera aos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França um ultimato para que se retirassem de Berlim Ocidental, dentro de determinado prazo, e não tivera êxito. E Kennedy afirmara, em carta datada de 2 de dezembro de 1961, que as forças ocidentais estavam em Berlim Ocidental e lá permaneceriam enquanto o povo da cidade o desejasse, o que para Kruchev soou como ultimato.18 Ele entendia a insistência dos Estados Unidos como expressão do desejo de preservar para a OTAN uma cabeça de ponte e uma base militar contra a União Soviética dentro da República Democrática Alemã, com a qual, em outra carta a Kennedy, ameaçou assinar — “one way or another” — um tratado de paz, o que forçaria, consequentemente, as potências ocidentais a retirar suas tropas de Berlim.19 Naquelas circunstâncias, ao perceber, então, as tensões no relacionamento entre Konrad Adenauer, chefe do governo da República Federal da Alemanha, e Kennedy, que tendia a aceitar um modus vivendi com a República Democrática Alemã (comunista), Kruchev viu que tinha condições de provocar a maior crise dentro da Aliança Atlântica e tentou alcançar com um só golpe a saída para o impasse de Berlim, uma vez que, se tivesse sucesso na instalação dos mísseis nucleares em Cuba, o poder de barganha da União Soviética tornar-se-ia esmagador.20

1. Lévesque, The USSR and the Cuban Revolution, 1978, pp. 36-37.

2. White, The Cuban Missile Crisis, 1996, pp. 75-77.

3. Bernstein, Barton J. “Reconsidering the Missile Crisis: Dealing with the Problems of the American Jupiters in Turkey”, in Nathan (ed.), 1992, pp. 57-58. White, 1996, pp. 82-83.

4. Fursenko & Naftali, “One Hell of a Gamble”, 1997, p. 179.

5. Thompson, The Missiles of October, 1992, pp. 143-144. Lechuga, Eye of the Storms — Castro, Khrushchev, Kennedy and the Missile Crisis, 1995, p. 8.

6. Id., ibid., p. 144.

7. Lechuga, 1995, p. 59.

8. Gaddis, We Know Now, 1997, pp. 264 e 268.

9. Gribkov & Smith, Operation Anadyr, 1994, p. 13.

10. Kruchev, 1990, p. 216.

11. Dobrynin, In Confidence: Moscow’s Ambassador to Americas Six Cold War Presidents (1962-1986), 1995, p. 76.

12. Guidelines for Operation Mongoose, Washington, March 14, 1962. FRUS, vol. X, 1961-1963, Cuba, pp. 771-772.

13. Memorandum of the Chairman of the Board of National Estimates (Kent) to Director of Central Intelligence McCone. Subject: Probable Reactions to US Military Intervention in Cuba. Washington, April 10, 1962. Ibid., pp. 783-785.

14. Ibid., p. 783.

15. Kruchev, 1991, p. 216.

16. Telegrama nº 528, secreto-urgente, da embaixada do Brasil em Washington (Carlos Alfredo Bernardes), 19/7/1961 — 16hs30. Secretos — Q-W — Cts. —Telegramas — Rec. e Exp. — 1960-1961. AHMRE-B.

17. Memorandum from the Chairman of the Board of National Estimates (Kent) to Director of Central Intelligence McCone. Subject: Probable Reactions to a US Military Intervention in Cuba. Washington, April 10, 1962. FRUS, vol. X, 1961-1962, Cuba, pp. 783-785.

18. Letter from President Kennedy to Chairman Khrushchev, Washington, December 2, 1961; Letter from Chairman Khrushchev to President Kennedy, Moscow, December 13, 1961. FRUS, vol. VI — Kennedy — Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 65-78.

19. Letter from Chairman Khrushchev to President Kennedy, Moscow, March 10, 1962. Ibid., pp. 118-126.

20. Kissinger, 1994, p. 591.

 

 

“Solução diplomática para a crise havia, pois, secretamente, Kennedy podia haver negociado com Kruchev a retirada dos mísseis de Cuba em troca do desmantelamento das bases na Turquia e na Itália, como fora sugerido, inclusive por McNamara, durante as reuniões do Ex Comm, e por ele próprio na conversação com o embaixador da Grã-Bretanha. Ele, contudo, colocou o mundo à beira do holocausto com o objetivo de obter ganhos na política interna dos Estados Unidos, para que o Partido Democrata fizesse a maioria do Congresso nas eleições de novembro, e compensar a humilhação que sofrera com a derrota na Baía dos Porcos, quando sua própria atitude vis-à-vis aos preparativos da CIA concorrera para criar aquela situação. Na realidade, Kennedy não fez gestão diplomática para evitar a crise, que ele deflagrou como um ato de propaganda eleitoral, a fim de superá-la negociando a partir de uma posição de força. A política interna — John Kenneth Galbraith, embaixador dos Estados Unidos na Índia àquela época, reconheceu — foi o fator mais importante na decisão de impor o bloqueio naval a Cuba.4

4. Lechuga, 1995, p. 70.

 

 

Diante de tais acontecimentos, o general Taylor defendeu o bombardeio das bases de mísseis terra-ar existentes em Cuba, porém Kennedy, conquanto reconhecesse ser este o único meio de assegurar a continuidade da vigilância sem o risco de perder outros aviões,50 optou por não proceder a nenhuma retaliação. Sua decisão, conforme McGeorge Bundy sugerira e não Robert Kennedy, como ele próprio escreveu,51 foi no sentido de responder à primeira carta de Kruchev, o que fez prontamente, comprometendo-se a revogar logo as medidas de quarentena e dando garantias contra a invasão de Cuba, certo de que as outras nações do Hemisfério estavam preparadas para proceder do mesmo modo.52 Entretanto, convencido de que, àquela altura, não encerraria a crise sem equacionar a questão dos Jupiter, encarregou seu irmão, Robert, de contatar o embaixador soviético, Dobrynin, entregar-lhe a carta, que também seria transmitida por telegrama para a embaixada dos Estados Unidos em Moscou, e dizer-lhe que o governo norte-americano estava disposto a considerar favoravelmente a questão da Turquia e remover de lá aqueles mísseis, mas o assunto tinha de ser conduzido com o máximo de discrição e sigilo. A maior parte dos integrantes do Ex Comm não soube da negociação. Ali o presidente contava com potenciais inimigos, como o vice-presidente Lyndon Johnson, McCone e, talvez, o general Maxwell Taylor, entre outros, capazes de permitir que a informação vazasse para a imprensa e destruísse sua carreira.53 Assim, por volta de 19:45, Robert Kennedy recebeu Dobrynin em seu gabinete. Explicou-lhe que seu irmão, o presidente, temia uma escalada como consequência da derrubada do U-2, naquele dia, e estava sob forte pressão para que ordenasse a retaliação, mas resistia, a fim de evitar uma cadeia de reações difíceis de conter, e estava preparado para discutir qualquer proposta da União Soviética, desde que a construção das bases fosse urgentemente paralisada.54 Em seguida, transmitiu a substância da carta e, indagado por Dobrynin sobre os mísseis na Turquia, informou que o presidente os removeria dentro de quatro ou cinco meses, mas que não podia anunciar o fato publicamente, pois isso cindiria a OTAN, e mesmo dentro do governo norte-americano apenas quatro ou cinco pessoas tinham conhecimento desse assunto.55 Então, ainda de acordo com as instruções do presidente, pediu uma resposta o mais breve possível, salientando que não se tratava de um ultimato, porém da necessidade de encerrar o mais cedo possível aquele impasse, dado que os acontecimentos rapidamente se desenvolviam. Por fim, recomendou que Kruchev não escrevesse cartas, que teriam de ser traduzidas no Departamento de Estado, mas se comunicasse diretamente com Kennedy, para o que forneceu alguns números do seu telefone direto.56 Segundo Kruchev, a mensagem foi um misto de “ameaça e súplica”, e Kennedy prometia ainda remover os mísseis da Itália.57 Entretanto, por temer que Kruchev não aceitasse fazer, secretamente, a barganha dos Jupiter da Turquia pelos mísseis de Cuba, dado que o aparente recuo nesta exigência e a concordância com a inspeção internacional afigurar-se-iam como demonstração de fraqueza, Kennedy tratou de encontrar outra via que lhe permitisse também superar honrosamente aquele ameaça de guerra atômica. Procurou o professor Andrew Cordier, da Universidade de Columbia e pediu-lhe que sugerisse a Sithu U Thant, secretário-geral da ONU de quem Cordier fora adjunto, solicitar às superpotências que retirassem seus mísseis de Cuba e da Turquia,58 sob controle internacional, de modo que ele pudesse atender publicamente àquela condição sem parecer que cedera diante de Kruchev. Somente ele, seu irmão Robert Kennedy e Dean Rusk souberam de tal gestão.59

U Thant estava a intermediar uma solução pacífica para o conflito, em estreito contato com o embaixador Adlai Stevenson, e Kruchev já aquiescera inclusive à proposta de suspender o envio de armas para Cuba. Porém, o apelo público à União Soviética e aos Estados Unidos para que desmontassem, respectivamente, suas bases em Cuba e na Turquia, bem como na Itália, conforme Kennedy pretendera para justificar, abertamente, a aceitação do swap, não se tornou necessário. Desde que o general Stepan Grechko, no comando da defesa aérea de Cuba, ordenara o disparo do SA-75, derrubando em Cuba o avião norte-americano U-2, Kruchev claramente se alarmou. Mal informado sobre quem instigara aquela reação e nervoso com a militância de Fidel Castro, que lhe pareceu pretender transformar o conflito em uma guerra global, receou perder o controle sobre os acontecimentos. Sob grande pressão, os soldados podiam não esperar ordens de Moscou e disparar mísseis de curto alcance com ogivas nucleares, caso os Estados Unidos atacassem Cuba.60 Daí por que ele, Kruchev, tratou imediatamente de responder à mensagem de Kennedy, aceitando suas condições.61 Escreveu-lhe uma carta, na qual anunciou que ordenara não apenas a descontinuidade da construção das bases em Cuba, como igualmente o desmantelamento e o retorno à União Soviética dos armamentos considerados ofensivos.62 Ao mesmo tempo, admoestando-o a não dar passos que causassem irritação, advertiu-o de que a violação do espaço aéreo cubano poderia acarretar consequências perigosas e informou-o de que o vice-ministro das Relações Exteriores da União Soviética, Vassili V. Kuznetsov, viajaria a Nova York a fim de colaborar com U Thant nos esforços para a superação da crise.63 Em outra carta, de caráter privado e estritamente secreto, Kruchev referiu-se à retirada dos mísseis norte-americanos da Turquia e, dizendo compreender a delicadeza e a complexidade da questão, bem como os motivos pelos quais Kennedy não a queria tratar em público, concordou em que os entendimentos prosseguissem, confidencialmente, através de Robert Kennedy e Dobrynin em Washington.64 Com isto, perdeu a oportunidade de fazer uma negociação aberta, intermediada por U Thant, conforme Kennedy chegara a sugerir ao professor Andrew Cordier, o que lhe resguardaria o prestígio, sem causar a impressão de que tivera de proceder a humilhante recuo diante dos Estados Unidos. Assim, a negociação não alcançou o objetivo, que era terminar a crise com um equitativo quid pro quo, evitando que ela resultasse em humilhante e inglória capitulação da União Soviética.65

Cuba estava disposta a negociar qualquer solução, inclusive o desarmamento, a desnuclearização e a neutralização, desde que não fosse entregue de mãos atadas aos Estados Unidos, conforme o presidente Oswaldo Dorticós disse em Havana ao embaixador da Iugoslávia,66 cujo presidente Josip Broz Tito também oferecera seus bons ofícios para intermediar o conflito. Kruchev, porém, formulou sua proposta e negociou com Kennedy à completa revelia de Fidel Castro. Escreveu-lhe apenas uma carta, no dia 28, comunicando que a mensagem enviada ao presidente dos Estados Unidos permitia acertar a questão em seu favor, defender Cuba da invasão e evitar o desencadeamento da guerra. Na carta, Kruchev, ao dizer-lhe que compreendia sua indignação “diante das ações agressivas dos Estados Unidos e das violações das normas mais elementares do direito internacional”, recomendou-lhe paciência, firmeza e aconselhou-o a não se deixar levar pelos sentimentos, enfatizando que o que estava em vigor não era “tanto o direito quanto a insensatez dos militaristas do Pentágono”.67 “Não se deixe levar pelas provocações, porque os militaristas desenfreados do Pentágono, agora, pelo visto, quando se divisa a eliminação do conflito, que é em seu favor, criando a garantia contra a invasão de Cuba, querem fazer frustrar o acordo”, Kruchev escreveu.68 O fato de que Kruchev decidira retirar os mísseis sem consultar Castro confirmou, no entanto, que os mísseis foram colocados em Cuba não para sua defesa e sim por motivos políticos e estratégicos.69

Fidel Castro, que se dispusera a fazer concessões e respondera favoravelmente à proposta de U Thant, convidando-o a ir a Havana,70 enfureceu-se, no entanto, com o fato de saber pelo rádio que os chefes de governo das duas superpotências diretamente estabeleceram um acordo, passando por cima de sua cabeça, e entendeu que Kruchev manejara a crise muito mal: primeiro, ao anunciar como condição a retirada dos Jupiter da Turquia; em seguida, recuando. E não escondeu o inconformismo com a decisão de Kruchev de desmontar e remover os armamentos julgados por Kennedy ofensivos sem consultá-lo, ainda mais quando poderia aproveitar a oportunidade para resolver todo o problema das relações de Cuba com os Estados Unidos, de acordo com cinco pontos, que ele então levantou, a fim de dificultar a posição de Kruchev e fazer-se ouvir nas negociações: 1) suspensão do bloqueio econômico e de todas as medidas de pressão comercial, que os Estados Unidos impunham a todas as partes do mundo contra Cuba; 2) suspensão de todas as atividades subversivas, como lançamento e desembarque de armas e explosivos por via aérea ou marítima, organização de “invasiones mercenarias”, infiltração de espiões e sabotadores, bem como de todas as ações fomentadas a partir dos Estados Unidos e de “algunos países cómplices”; 3) cessação dos “ataques piratas” realizados desde bases existentes nos Estados Unidos e em Porto Rico; 4) cessação das violações do espaço aéreo e marítimo de Cuba por aviões e navios de guerra norte-americanos; 5) retirada da Base Naval de Guantánamo e devolução do território cubano ocupado pelos Estados Unidos.71 Kruchev, entretanto, justificou-se, alegando que o próprio Castro o alarmara ao informar-lhe, no dia 27, que esperava seguramente o ataque dos Estados Unidos a Cuba dentro de 24 ou 72 horas, e que ele não podia aceitar sua sugestão de assestar o primeiro golpe contra o território inimigo porque isto significaria o início da guerra mundial termonuclear, na qual, sem duvida, o povo cubano, embora lutasse valentemente, também heroicamente pereceria.72 “Lutamos contra o imperialismo não para morrer” — Kruchev asseverou, aludindo ao refrão “Patria o Muerte”, repetido por Fidel Castro —, senão para aproveitar todas as possibilidades, para perder menos nesta luta e ganhar mais para vencer e lograr a vitória final do comunismo”.73 Castro respondeu a Kruchev negando haver sugerido que “la União Soviética fuese agresora, porque eso seria más que incorrecto, seria inmoral e indigno”. Contudo, outra interpretação não cabia, posto que, segundo sua própria confirmação, ele considerava que os Estados Unidos seriam o agressor desde o instante em que atacassem Cuba, e a União Soviética, neste caso, devia responder com um “golpe aniquilador”, porque lá também contingentes de suas Forças Armadas se encontravam.74

De qualquer forma, em virtude do acerto de Kruchev com Kennedy, mesmo sem consultar Fidel Castro, os acontecimentos afoitaram-se desde a noite de 26 de outubro, quando o embaixador Lincoln Gordon solicitara a intermediação do Brasil ao primeiro-ministro Hermes Lima. Quando o general Albino Silva, emissário de Goulart, chegou a Havana, no dia 29, levando um plano igual ao de U Thant, que visava a assegurar a integridade e a soberania de Cuba,75 o perigo maior do conflito já estava a passar, não obstante a persistência de tensões entre os Estados Unidos e União Soviética. Haviam apenas cessado os voos rasantes dos aviões norte-americanos sobre a ilha. Castro, logo em seguida, visitou a embaixada do Brasil e conferenciou por mais de uma hora com o general Albino Silva, mas, ao exprimir sua satisfação com o interesse de Goulart em cooperar na busca de uma saída honrosa para a crise, colocou, como ponto básico dos entendimentos, a evacuação da Base Naval de Guantánamo pelos Estados Unidos, o que, segundo ele, demonstraria sinceridade na decisão de conferir a Cuba “real garantia contra a agressão”, e recusou o plano de inspeção unilateral da ONU, por entender que ela deveria igualmente realizar-se nos territórios onde havia franca ameaça à integridade e soberania do seu país.76

Esta atitude Castro manteve nas conversações com U Thant, que chegara a Havana em 30 de outubro, um dia depois do general Albino Silva, gerando um impasse e o temor de que a crise recrudescesse.77 Mostrou-se extremamente amargo com a União Soviética, particularmente porque Kruchev não o consultara antes de responder à carta de Kennedy, no dia 28.78 E não aceitou, conforme os Estados Unidos propuseram, nem que representantes da ONU nem que seus aviões de reconhecimento, com tripulantes dos Estados Unidos, União Soviética e Cuba, verificassem o desmonte das plataformas de lançamento de projéteis, embora Kruchev houvesse aceito que a Cruz Vermelha inspecionasse o transporte de armamentos nos navios soviéticos durante as próximas três semanas. “Que derecho tienen los Estados Unidos para pedir esto?”, Castro perguntou e U Thant concordou com ele em que tal exigência não constituía um direito e que a inspeção só podia ser realizada com a aprovação e aceitação do governo cubano.79 Castro declarou, enfaticamente, que não aceitaria nada que não se ajustasse à condição de Cuba como Estado soberano e que a inspeção constituía outra tentativa de humilhá-la. Esta demanda visava convalidar a pretensão de violar o direito do governo cubano de atuar dentro de suas fronteiras com inteira liberdade, conforme Castro reiterou, afirmando que os Estados Unidos não tinham o direito de invadir e não se podia negociar “con la simple promesa de no cometer un delito”.80 Após a conversa, U Thant realizou algumas consultas com o embaixador do Brasil e o general Albino Silva, e no dia seguinte, 31 de outubro, voltou a conferenciar com Castro. Nesta ocasião, Castro mostrou-se mais calmo, e U Thant disse-lhe, claramente, que ele e seus colegas fizeram saber aos Estados Unidos que o bloqueio era ilegal, assim como o reconhecimento aéreo, e que nenhum Estado podia admitir um bloqueio, fosse ele militar ou mesmo econômico, e que isto era usar a imposição da força de uma grande potência contra um pequeno país.81 Também revelou que muitos delegados na ONU entendiam, igualmente, que grande parte do problema decorria das eleições nos Estados Unidos e que seria aconselhável deixar que elas se realizassem, no dia 6, para que se pudesse chegar a um resultado em melhores condições.82 Segundo U Thant, nos Estados Unidos havia três forças, ou seja, o Pentágono, a CIA e o Departamento de Estado, mas o Pentágono e a CIA tinham mais poder que o Departamento de Estado e o futuro do mundo se lhe afigurava muito sombrio se tal situação continuasse.83 Ele revelou a Castro que ameaçara renunciar ao cargo de secretário-geral da ONU se ela não tivesse condições de deter a agressão de uma grande potência contra um pequeno país, pois isto significaria o fim daquela entidade.84 E, a declarar que compreendia perfeitamente a reação de Castro, pois sentiria o mesmo se seu país, a Birmânia, por uma grande potência fosse ameaçado, pediu-lhe para não fazer nenhum pronunciamento que pudesse complicar as negociações e confidenciou-lhe que muitas delegações entendiam que todo aquele problema com Cuba e a União Soviética fora motivado pela disputa interna nas eleições dos Estados Unidos.85

Castro manifestou-se disposto a contribuir para encontrar solução definitiva para a crise, mas obstinou-se na recusa de qualquer fórmula que implicasse algum tipo de status especial para Cuba ou que resultasse em capitis diminutio para o Estado cubano. Aliás, as notícias veiculadas pelas rádios nos Estados Unidos de que U Thant fora a Cuba com uma equipe para verificar a retirada dos armamentos soviéticos irritaram-no e ele nem sequer aquiesceu ao pedido para permitir que dois representantes do secretário-geral da ONU permanecessem em Havana, a fim de manter contato direto com ele e com o presidente Dorticós, porque eles poderiam afigurar-se ao povo como uma espécie de funcionários de inspeção.86

U Thant compreendeu assim que ele se opunha a todo tipo de inspeção e verificação de qualquer atividade dentro do seu país, de conformidade com os direitos de um Estado soberano. E recomendou-lhe que, quando falasse ao povo, como estava previsto, no dia 1º de novembro, nada dissesse que pudesse criar mais problemas e fricções.87 Ao regressar a Nova York, U Thant informou então a Adlai Stevenson que encontrara Castro em “impossible and intractable mood”, furioso com Kruchev por comprometer-se em permitir a verificação e disposto a lutar até o último homem para defender a integridade de Cuba, cujo futuro só dispunha discutir com base nos cinco pontos por ele anunciados, e não admitindo nenhum tipo de inspeção dentro do seu território.88 E salientou que a situação econômica em Havana, onde nem carne nem outros mantimentos não havia, era incrivelmente ruim e que a continuação do bloqueio simplesmente faria os cubanos mais desesperados e mais suscetíveis à influência de Castro.89

Castro atendeu ao apelo de U Thant e comportou-se com habilidade e moderação, embora com franqueza, ao falar pela rádio e televisão no dia seguinte, 1º de novembro. Criticou os Estados Unidos por levarem o mundo à beira da guerra para exigir que a União Soviética retirasse os mísseis de Cuba, enquanto se negavam a devolver o território de Guantánamo, onde tinham a base naval. Reconheceu que, no curso da crise, discrepâncias entre os governos soviético e cubano apareceram, porém que não gostaria de discutir aqueles problemas ali, a fim de que os inimigos não tirassem proveito. E, para acalmar o povo, que pelas ruas gritava “Nikita, Mariquita, lo que se da no si quita”, declarou que entre Cuba e União Soviética brechas não haveria, procurando justificar a decisão tomada por Kruchev de remover os MRBM e IRBM sem consultá-lo com a alegação de que estas armas estratégicas não pertenciam a Cuba, como, por exemplo, os tanques etc., não pertenciam a Cuba. Afirmou que respeitava essa decisão e ressaltou que a União Soviética, vários meses antes, cancelara a dívida que Cuba tinha com ela por motivo da compra de armamentos.90 Não obstante o tom conciliador do pronunciamento, sua indignação com a União Soviética era tão grande, que Kruchev imediatamente despachou Anastás Mikoyan para Havana a fim de acertar as agudas dificuldades que surgiram no relacionamento de Cuba com a União Soviética.

A insistência de Castro nos cinco pontos, sob fortes aplausos da China, e sua obstinada recusa em permitir qualquer forma de inspeção estavam, na realidade, embaraçando o entendimento de Kruchev com Kennedy. E as dificuldades aumentaram mais ainda quando Mikoyan, ao passar pelo aeroporto de Nova York, recebeu do embaixador Adlai Stevenson a relação dos armamentos considerados ofensivos pelo governo norte-americano, com a exigência da remoção não só do IRBM e MRBM, mas também dos bombardeiros Ilyushin-28 (IL-28), conforme o analista de inteligência do Departamento de Estado, Raymond L. Garthoff, sugerira, apoiado na declaração que Kennedy fizera em 4 de setembro.91 Esses aparelhos, obsoletos, foram entregues a Cuba pela União Soviética para o patrulhamento do litoral, mas o governo norte-americano considerou-os ofensivos porque tinham o alcance de 750 milhas náuticas e podiam carregar bombas nucleares. Ao que tudo indicava, os Estados Unidos trataram de complicar a situação, como Kruchev disse em carta a Kennedy,92 com o objetivo, provavelmente, de não dar reais garantias contra a invasão de Cuba. O próprio Castro e Dorticós chamaram a atenção de U Thant, no dia 31 de outubro, para as notícias, publicadas na imprensa, de que funcionários do governo norte-americano já davam a entender que não invadiriam Cuba, naquele momento, porque a União Soviética desmanchara as plataformas de mísseis, mas poderiam fazê-lo, mais adiante, amparados na OEA e no Tratado do Rio de Janeiro.93

Mesmo depois do entendimento entre Kennedy e Kruchev, o Estado-Maior Conjunto continuara apressadamente a preparar a invasão de Cuba, ignorando que as forças soviéticas baseadas em Cuba, da ordem de 42.000 homens, dispunham de armas nucleares táticas, pelo menos 90 ogivas, e seu comandante, general Issa Pliyev, recebera ordem de usá-las.94 E, em reunião do Ex Comm, Dean Rusk declarou que, se Castro não permitisse a “permanent presence” da ONU em Cuba, os Estados Unidos não poderiam comprometer-se a não invadi-la e os reconhecimentos aéreos prosseguiriam.95 No mesmo dia, Kennedy entregou a McNamara um memorando, mostrando-se insatisfeito com os “plans X”, ou seja, o CINCLANT OPLAN 316, para a eventualidade da invasão de Cuba, por lhe parecerem muito reduzidos.96 E, em 7 de novembro, o Conselho de Planejamento Político do Departamento de Estado submeteu ao Ex Comm um documento, propondo “a maximal U.S. strategy (...) directed at the elimination (...) of the Castro regime”.97 Embora Kennedy estivesse a buscar, através dos contatos de seu irmão Robert com Dobrynin, alguma forma de entendimento sobre a retirada dos IL-28, prometendo como contrapartida levantar imediatamente a quarentena,98 e Kruchev lhe comunicasse em 14 de novembro que se dispunha a fazê-lo, afirmando que para a União Soviética não constituía nenhuma dificuldade, os Estados Unidos nem haviam levantado a quarentena nem seus aviões deixaram de violar o espaço aéreo de Cuba.99 Fortes setores dentro do governo norte-americano preferiam alimentar a crise. Em 16 de novembro, uma vez que o impasse continuava, o Estado-Maior Conjunto recomendou ao presidente intensificar a vigilância aérea, retirar qualquer segurança contra a invasão de Cuba, agravar o bloqueio, estendendo-o também aos suprimentos de petróleo e seus derivados, e proceder, se necessário, à ação militar, como um ataque aéreo, a fim de compelir a União Soviética a remover aqueles bombardeiros da ilha.100 O general Maxwell Taylor, presidente do Estado-Maior Conjunto, sugeriu igualmente que qualquer garantia a ser dada não afetasse o Tratado do Rio de Janeiro e fosse vinculada simultaneamente à “good behavior” por parte de Castro e à aceitação pelo seu governo de continuada vigilância aérea.101 Tais exigências evidenciavam que o Pentágono não desejava qualquer acordo, e Roger Hilsman, analista do Bureau of Intelligence and Research do Departamento de Estado, concluiu, àquela época, que era melhor para os Estados Unidos manter o impasse do que qualquer entendimento, o qual implicaria, substancialmente, dar a Cuba salvaguarda contra a invasão e afigurar-se-ia aos governos latino-americanos como o reconhecimento da legitimidade do regime de Castro e aceitação do comunismo no Hemisfério.102

Castro tinha suas razões para não confiar nas intenções dos Estados Unidos e, com seu sentido de honra e de orgulho, não ceder a uma política de força. Era evidente que não podia aceitar a presença em Cuba de um posto permanente de verificação da ONU, sem equidade e sem reciprocidade, i.e., se o mesmo não fosse feito nos demais territórios do Caribe, inclusive pertencentes aos Estados Unidos, como U Thant propusera. Os Estados Unidos declararam que não aceitariam inspeção no seu território se não fosse feita inspeção igualmente na União Soviética.103 Assim, para facilitar um acordo e resguardar a soberania de Cuba, o Brasil apresentou à Assembleia-Geral da ONU, em 15 de novembro, um projeto de resolução, visando tornar toda a América Latina zona desnuclearizada, com a garantia de integridade territorial de todos os países da região.104 O governo Castro deu instruções ao seu delegado na ONU, o embaixador Carlos Lechuga, para apoiá-lo e apresentar emendas, incluindo também Porto Rico e a Zona do Canal do Panamá, onde os Estados Unidos possuíam instalações militares, com a retirada de todas as bases militares das grandes potências, entre as quais a de Guantánamo.105 Esta posição era coerente com a sua linha política, mas obviamente os Estados Unidos não aceitariam tais emendas. E a manutenção do impasse e o agravamento das tensões convinham exatamente aos militaristas e aos setores mais à direita do governo norte-americano, que tratavam de encontrar algum pretexto para intervir na ilha.

No mesmo dia em que o general Maxwell Taylor, em nome dos demais chefes militares, tratara de induzir Kennedy a medidas mais drásticas, Castro escreveu carta a U Thant, na qual, salientando que funcionários do governo norte-americano proclamavam que os Estados Unidos não assumiram o compromisso de não invadir Cuba porque a inspeção do seu território não fora permitida, comunicou que ordenara às baterias antiaéreas abrirem fogo contra qualquer avião de guerra que violasse o espaço aéreo do país.106 Embora tratasse de restringir os voos rasantes, Kennedy alegou junto a Kruchev que a vigilância aérea era a única forma de proceder à verificação, dado que o governo cubano recusara todas as outras propostas feitas por U Thant. E, referindo-se à ameaça de Castro, advertiu que, se ela se consumasse, os Estados Unidos fariam a retaliação.107 Naquelas circunstâncias, a derrubada de algum outro avião norte-americano sobre Cuba reacenderia inevitavelmente a crise, dando pretexto para a invasão, e por isto a ordem de Castro não apenas surpreendeu como alarmou Mikoyan, que até então não conseguira convencê-lo a permitir alguma forma de verificação, quer feita por uma delegação da ONU quer fosse feita por cinco países da América com os quais Cuba mantinha relações diplomáticas ou por 10 países neutros. O não atendimento de tal exigência, sem dúvida abusiva, servia naturalmente como pretexto para que o governo norte-americano não suspendesse a quarentena e não assinasse, conforme Kruchev propusera a Kennedy, um termo de compromisso, registrado na ONU, comprometendo-se a não invadir Cuba e a garantir a estrita observância de sua soberania.108 Esta era a percepção do vice-ministro das Relações Exteriores da União Soviética e incumbido das negociações na ONU, Vassili V. Kuznetsov, que considerava ociosa a insistência dos Estados Unidos na inspeção, uma vez que, embora se declarassem satisfeitos com a remoção dos armamentos considerados ofensivos, estavam a colocar obstáculos um após o outro.109 E ele tinha razão. Alto funcionário do Departamento de Estado explicou ao embaixador brasileiro, Roberto Campos, que abandonar as exigências de controle internacional sobre o desmantelamento das bases em Cuba seria extremamente difícil para os Estados Unidos, por motivos de política interna, porquanto, não satisfeito esse requisito, a resistência política ao compromisso de não invasão, já enorme, aumentaria.110 Entretanto, caso impossível fosse montar um sistema de inspeção internacional, em virtude da intransigência de Castro, seria possível para os Estados Unidos manter as linhas gerais dos entendimentos Kennedy-Kruchev se a União Soviética permitisse a verificação em alto-mar dos mísseis retirados de Cuba.111

E foi esta — a verificação em alto-mar — a solução encontrada. Kennedy indicara que abandonaria a exigência de verificação on-site, devido à recusa de Castro, desde que se acertasse a devolução dos bombardeiros IL-28. Mas aí o impasse perdurou, dado que, ao contrário dos mísseis, os IL-28 foram doados a Cuba, e Kruchev decidira também retirá-los, submetendo-se à pressão de Kennedy, sem que Castro fosse previamente informado.112 Mikoyan defrontou-se com enorme dificuldade para alcançar um entendimento com Castro e os líderes cubanos, cuja intransigência, dificultando a superação da crise e a posição conciliadora de Kruchev, visou a demonstrar independência em face da União Soviética, como pareceu a Bastian Pinto, embaixador do Brasil em Havana.113 Desde o início, demonstrando ostensiva frieza ante sua presença,114 eles criticaram duramente o fato de não terem sido consultados nem informados pelo governo soviético, ao deflagrar-se a crise, e apontaram como erro crasso a proposta de trocar as instalações missilísticas em Cuba, que era um país socialista, pelas bases de Jupiter na Turquia.115 O melhor, segundo Castro, teria sido exigir a devolução do território ocupado pela Base Naval de Guantánamo, o que demonstraria que a instalação dos mísseis visara realmente à defesa de Cuba e não a corrigir o desequilíbrio estratégico entre a União Soviética e os Estados Unidos. Castro e seus companheiros opuseram-se também à retirada total pela União Soviética das tropas motomecanizadas, dos IL-28 e dos lançadores de foguetes KOMAR, bem como a qualquer inspeção unilateral.116 Guevara, por sua vez, reforçou a observação de Castro, segundo a qual os Estados Unidos quiseram destruí-los fisicamente, mas a União Soviética, com a carta de Kruchev, aceitando, em 27 de outubro, a retirada dos mísseis, destruiu-os juridicamente. E criticou a “debilidade” do comportamento do governo soviético, que reconhecera como ato legítimo, conforme sua opinião, a violação, pelos Estados Unidos, do direito internacional.117 Mikoyan, por sua vez, retrucou, com dureza idêntica, esclarecendo que a União Soviética preocupara-se em salvar a paz, mas também criara condições para que os Estados Unidos garantissem a integridade de Cuba. O governo soviético — acrescentou — não fez concessões e sim pensou, no final da primeira semana, que a invasão de Cuba era iminente, como o próprio Castro informara.118 Mikoyan também deixou claro que a União Soviética não admitia que Cuba interferisse em sua política internacional e criticou severamente a posição de Castro, rechaçando publicamente a inspeção internacional, o que, a seu ver, complicara ainda mais a crise e agravara o perigo de guerra. As discussões daí evoluíram para a estratégia geral e Mikoyan manifestou a inconformidade do governo soviético com a linha da Declaração de Havana, que estava em franco desacordo com a doutrina da coexistência pacífica e não apenas privava Cuba do apoio de outros países latino-americanos, como prejudicava, no continente, os próprios partidos comunistas, cujas queixas chegavam a Moscou.119

Kennedy percebeu as dificuldades de Mikoyan em Havana, onde as conversações com Castro, várias e espaçadas, arrastavam-se, havia mais de duas semanas, sem qualquer conclusão. E, preocupado em não perder o controle da situação, pediu a Robert Kennedy que cobrasse de Dobrynin urgente resposta, antes de sua entrevista à imprensa, anunciada para o dia 20, à mensagem que, no dia 12, enviara a Kruchev, verbalmente, propondo que ele aquiescesse à retirada dos IL-28 para possibilitar o levantamento imediato da quarentena. Robert Kennedy cumpriu as instruções do presidente, no dia 18, durante uma recepção oferecida em honra dos artistas do Balé Bolshoi, em sua residência. No mesmo dia, John McCloy, adjunto de Adlai Stevenson na ONU, manteve longa conversa com o embaixador Kuznetsov, fazendo-lhe ver que a remoção dos bombardeiros não podia ser indefinidamente adiada, ainda mais quando o presidente havia declarado que o levantamento da quarentena dependia de verificação da ONU e garantia adequada contra a reintrodução de novos armamentos, precondições estas que ele estava disposto a relevar, em favor de um rápido entendimento.120 Segundo adiantou, Kennedy estava enfrentando a oposição de “extremist groups” e encarecia que o governo de Moscou fizesse essa concessão, a fim de que ele pudesse anunciá-la no dia 20, ao dirigir-se à nação, fazendo seu primeiro pronunciamento desde 2 novembro, quando informara, pelo rádio e televisão, que a União Soviética já estava a desmantelar as bases de mísseis em Cuba.121 Àquela altura, Castro, ainda que timbrasse em mostrar-se independente e mesmo arrogante,122 não pôde mais resistir à pressão de Mikoyan, quando este o informou que Kruchev decidira, inapelavelmente, atender a mais essa exigência dos Estados Unidos e retirar os IL-28 dentro de 30 dias. Apenas teve, desta vez, a oportunidade de salvar a face.123 No mesmo dia, 19 de novembro, antecipando-se à comunicação de Kruchev a Kennedy, escreveu a U Thant uma carta, na qual, acusando o governo norte-americano de exigir a retirada do IL-28 simplesmente como “pretexto para mantener la tensión, prolongar la crisis y sostener una política de fuerza”, declarou que o governo cubano não criaria obstáculos, se a União Soviética considerasse conveniente à boa marcha das negociações a remoção daqueles aparelhos.124 No dia seguinte, ao receber a mensagem com que Kruchev fazia mais esta concessão,125 Kennedy, antes de conceder a entrevista e anunciar o fim da quarentena, pediu ao antigo embaixador em Moscou, Llewellyn Thompson, que transmitisse a Dobrynin que já ordenara o rebaixamento do estado de alerta, estabelecido no começo da crise, e a desmobilização dos esquadrões aéreos de reserva. E enviou a Kruchev curta mensagem, assegurando-lhe que, conquanto não se pudesse persuadir Castro a aceitar conveniente forma de inspeção ou verificação, não havia necessidade de temer qualquer invasão de Cuba, enquanto as questões seguissem aquele presente curso favorável.126 Isto significava que a promessa de não intervir militarmente contra o regime de Fidel Castro não ia além das salvaguardas que qualquer outro país da América Latina tinha, sob as leis internacionais, ou seja, sob a Carta da OEA e o Tratado do Rio de Janeiro.

Destarte, Kennedy, com a ambiguidade que caracterizou seu comportamento, evadiu-se de assinar, em documento apropriado e registrado na ONU, conforme Kruchev solicitara, o compromisso formal de que os Estados Unidos não invadiriam Cuba. Usando como pretexto o fato de que Castro não permitira a inspeção on-site, saiu interna e externamente fortalecido da crise. O Partido Democrata, embora perdesse quatro cadeiras na Câmara de Deputados, ganhara mais senadores, entre os quais Edward M. Kennedy, o irmão mais jovem do presidente, cujo antigo rival Richard Nixon também perdera a eleição para o governo da Califórnia, fato ironicamente referido por Kruchev em carta de 14 de novembro.127 No plano internacional, Kennedy afigurou-se como vitorioso, ao forçar o recuo de Kruchev, no mais grave confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética desde que a Guerra Fria se instalara, na segunda metade dos anos 1940. O triunfo, porém, foi mais aparente que real. A crise dos mísseis abalou a confiança dos aliados europeus da OTAN nos Estados Unidos. Apesar de que apoiaram a atitude de Kennedy contra Cuba, a França e a Alemanha, sobretudo, perceberam que os Estados Unidos não se dispunham a consultar seus aliados da Europa, antes de tomar qualquer iniciativa, e tampouco arriscariam sua própria existência para proteger a Europa. Por isso, Charles de Gaulle, presidente da França, tratou de rever as relações da Europa Ocidental com os Estados Unidos, cogitando retirá-la da Guerra Fria, e buscou estabelecer com Konrad Adenauer, chefe do governo, um tratado de amizade e melhorar as relações com os países do Pacto de Varsóvia. Mais grave também foi o fato de que, ao fazer, secretamente, a barganha dos Jupiter pelos mísseis de Cuba, Kennedy, mesmo sem uma carta formal, não apenas comprometeu a confiabilidade dos Estados Unidos, como colocou seu destino político — e o do irmão Robert — na dependência da discrição de Kruchev e dos demais dirigentes soviéticos.128 Embora não tivesse dado nenhuma garantia real de que não invadiria Cuba, Kennedy jamais ousou dizê-lo publicamente, com receio de que Kruchev revelasse a barganha secreta com os mísseis da Turquia.129

De qualquer forma, os entendimentos entre Kennedy e Kruchev, ainda que fizessem Cuba sentir-se bastante vulnerável, retirando-lhe até mesmo os barcos de patrulha contra os ataques terroristas a partir do mar,130 constituíram fator importante para o avanço das negociações sobre o desarmamento, que a situação financeira das duas superpotências já tornava imperativo, situando-se as divergências mais no plano da confiança, ou seja, na questão do controle e da verificação, conforme a questão dos mísseis soviéticos em Cuba realçara. A União Soviética, que tivera gastos estimados em US$ 1 milhão por dia, nos últimos quatro meses, com a Operação Anadyr, atingindo seus custos o total avaliado pela CIA em US$ 1 bilhão, enfrentava, porém, uma situação muito pior.131 Sua economia já estava combalida, e ela só podia manter a corrida armamentista à custa de extremo sacrifício de sua população e dos demais países do Bloco Socialista. Por esta razão, Kruchev tinha, provavelmente, mais interesse no desarmamento, pois um acordo com os Estados Unidos possibilitaria a redução dos preços da carne, manteiga e outros gêneros, bem como a abolição das taxas sobre o rendimento do trabalho, duas vezes adiada devido às despesas militares, e o lançamento no mercado dos bens de consumo pelos quais a população da União Soviética ansiava.132 Ao que tudo indicou, portanto, ao perceber o fracasso da tentativa de instalar MRBM e IRBM em Cuba para melhorar a paridade estratégica da União Soviética em relação aos Estados Unidos e forçar uma solução do problema de Berlim, Kruchev procurou acomodar a situação com Kennedy, em favor do desarmamento, mediante sucessivas concessões, como a retirada dos mísseis e depois dos IL-28, à custa de Castro e do seu próprio prestígio no movimento comunista mundial. Mas os Estados Unidos, em abril de 1963, removeram os 15 mísseis Jupiter da Turquia e os 30 da Itália e, em 5 de agosto, firmaram com a União Soviética e a Grã-Bretanha o Tratado de Limitação dos Testes Nucleares.”

50. May & Zelikow, The Kennedy Tapes, 1997, pp. 571-572.

51. Kennedy, Thírteen Days — A Memoir of the Cuban Crisis, 1969, pp. 101-102. Nash, The Other Missiles of October, 1997, p. 136.

52. Telegram nº 1050 from the Department of State to the Embassy in Soviet Union, Washington, October 27, 1962 — 8:05 p.m. FRUS, vol. VI, Kennedy — Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 81 e 182. Texto também transcrito in May & Zelikow, 1997, pp. 603-604.

53. Thompson, The Missiles of October, 1992, pp. 329-330.

54. May & Zelikow, 1997, p. 525.

55. Kennedy, 1969, pp. 107-109. Dobrynin, 1995, pp. 89-91. Nash, 1997, pp. 141-142.

56. Fursenko & Naftali, 1997, pp. 281-282.

57. Kruchev, 1991, p. 224.

58. Fursenko & Naftali, 1997, p. 281.

59. Nash, 1997, pp. 144-146. Gaddis, 1997, p. 271.

60. Gribkov & Smith, 1994, pp. 66, 67 e 71.

61. Id., ibid., p. 67.

62. Letter from Chairman Khrushchev to President Kennedy, Moscow, October 28, 1962. FRUS, vol. VI, Kennedy — Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 183-187.

63. Ibid., pp. 186-187.

64. Letter from Chairman Khrushchev to President Kennedy, Moscow, October 28, 1962. Ibid., pp. 189-190. Kennedy cumpriu o compromisso e retirou os mísseis não só da Turquia como da Itália.

65. Nash, 1997, p. 143. Dobrynin, 1995, p. 82.

66. Telegrama nº 347, secreto, da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 26/27.10.1962 — 18hs00.600 (24h), Situação Política — outubro 1962. AHMRE-B.

67. Carta de Nikita S. Kruchev a Fidel Castro, Moscou, 28/10/1962, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991, p. 66.

68. Ibid., p. 66.

69. Duncan, The Soviet Union and Cuba: Interests and Influence, 1985, p. 42.

70. Telegrama nº 352, secreto-urgentíssimo, da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 27-28/10/1962 — 19h15. CTs. — Telegramas — Recebidos — Havana — 1962-1964. AHMRE-B.

71. Declaración del Primer Ministro del Gobierno Revolucionario de Cuba, Fidel Castro, La Habatta, 28/10/1962. in Pueblo Invencible, Editorial José Martí, La Habana, 1991, p. 65. Telegrama nº 155, confidencial, do Itamaraty para a embaixada do Brasil em Moscou, 6/11/1962. — Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962 — 6223. Ibid.

72. Carta de Nikita S. Kruchev a Fidel Castro, 30/10/1962, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991, pp. 69-72.

73. Ibid., p. 70.

74. Carta de Fidel Castro a Nikita S. Kruchev, La Habana, 31/10/1962, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991, pp. 73-75.

75. May & Zelikow, 1997, p. 638.

76. Telegrama nº 359, secreto-urgentíssimo, da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 30/10/1962. CTs. — Telegramas — Recebidos — Havana — 1962-1964. AHMRE-B.

77. Telegrama nº 813, confidencial-urgente, da embaixada do Brasil em Washington (Roberto Campos), 31/10/1962 — 19h. Washington — Telegramas — Cts. — Rec. e Exp. — 1962. Ibid.

78. Telegrama nº 1585, from New York (Adlai Stevenson) to Secretary of State, November 1, 1962 — 1:00a.m., in The Cuban Missile Crisis 1962, A National Security Archive Documents Reader, pp. 249-251.

79. Conversaciones sostenidas por Fidel Castro, Primer Ministro del Gobierno Revolucionario de Cuba, y U Thant, Secretario Interno de la Organización de Naciones Unidas, Palacio Presidencial, La Habana, 30/10/1962 — 3:10, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991, pp. 76-89.

80. Ibid., p. 88.

81. Conversaciones sostenidas por Fidel Castro, Primer Ministro del Gobierno Revolucionario de Cuba, y U Thant, Secretario Interno de la Organización de Naciones Unidas, Palacio Presidencial, La Habana, 31/10/1962 — 3:10. Ibid., p. 91.

82. Ibid., p. 95.

83. Ibid., p. 91.

84. Ibid., p. 92.

85. Ibid., p. 95.

86. Memorandum of Telephone Conversation between Secretary of State (Rusk) and the Permanent Representative to the United Nations (Stevenson). October 31, 1962. FRUS, vol. XI, October 1962-December 1963, Cuba, pp. 323-325. Conversaciones sostenidas por Fidel Castro, Primer Ministro del Gobierno Revolucionario de Cuba, y U Thant, secretario de la Organización de Naciones Unidas, Palacio Presidencial, La Habana, 31/10/1962 — 3:10, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991, p. 96.

87. Ibid., pp. 95-96.

88. Telegram nº 1585, from New York (Adlai Stevenson) to Secretary of State, November 1, 1962 — 1:00 a.m., in The Cuban Missile Crisis 1962, A National Security Archive Documents Reader, pp. 249-251.

89. Ibid., pp. 250-251. Memorandum of Telephone Conversation between Secretary of State (Rusk) and the Permanent Representative to the United Nations (Stevenson). October 31, 1962. FRUS, vol. XI, October 1962- December 1963, Cuba, p. 324.

90. Fragmentos de la comparecencia de Fidel Castro, Primer Ministro del Gobierno Revolucionario de Cuba, ante la radio y la televisión cubanas, La Habana, 1º de noviembre de 1962, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991, pp. 102-108.

91. FState Department Memorandum, “Considerations in Defining Weapons Which Must Be Removed from Cuba”, October 29, 1962, in The Cuban Missile Crisis 1962 — National Security Archive Documents Reader, ed. By Chang & Kornbluh, pp. 247-248.

92. FLetter from Chairman Khrushchev of President Kennedy, Moscow, undated (transmited to the Soviet Embassy in Washington on November 4). FRUS, vol. VI, Kennedy-Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 199-200.

93. FConversaciones sostenidas por Fidel Castro, Primer Ministro del Gobierno.

94. FFursenko & Naftali, 1997, pp. 268-269. McNamara, 1995, p. 341.

95. F“Sumary Record of NSC Executive Committee Meeting” (Bromley Smith), November 5, 1962, in The Cuban Missile Crisis 1962 — National Security Archive Documents Reader, ed. by Chang & Kornbluh, pp. 262-263.

96. FMemorandum from President Kennedy to Secretary of Defense McNamara, Washington, November 5, 1962. FRUS, vol. XI, October 1962-December 1963, Cuba, p. 381 .Thompson, 1992, p. 346.

97. FApud The Cuban Missile Crisis 1962 — National Security Archive Documents Reader, ed. by Chang & Kornbluh, p. 236.

98. FPresident Kennedy=s oral message to Premier Khruschev, regarding the IL-28 aircraft, November 12, 1962, in “Sumary Record of NSC Executive Committee Meeting” (Bromley Smith), November 5, 1962. Ibid., p. 273.

99. FMessage from Chairman Khrushchev to President Kennedy, Moscow, November 14, 1962. FRUS, vol. XI, October 1962-December 1963, Cuba, pp. 209-212.

100. General Maxwell Taylor, “Chairman=s Talking Paper for Meeting with the President” (sintetized version), November 16, 1962, in the Cuban Missile Crisis 1962 — National Security Archive Documents Reader, ed. by Chang & Kornbluh, pp. 280-282.

101. Ibid., pp. 281-282.

102. State Department Bureau of Intelligence and Research Memorandum, “Negotiations on Cuba: The Advantages of Stalemate” (Roger Hilsman), November 17, 1962. Ibid., pp. 284-287.

103. Message from President Kennedy to Chairman Khrushchev, Washington, November 15, 1962. FRUS, vol. VI, Kennedy — Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 212-215. Telegram from the Mission to the United States to the Department of State (Stevenson), Nova York, November 19, 1962 — 1 a.m. FRUS, vol. XI, October 1962-December 1963, Cuba, pp. 482-487.

104. Esse projeto de resolução foi que gerou o Tratado de Tlatelolco.

105. Telegrama nº 384, confidencial-urgentíssimo, da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 14/11/1962 — 12h15. Telegramas — Recebidos — Havana — 1962-1964. AHMRE-B. Lechuga, Eye of the Storms — Castro, Khrushchev, Kennedy and the Missile Crisis, 1995, pp. 146-148.

106. Carta de Fidel Castro a U Thant, La Habana, 15/11/1962, in Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991, pp. 109-111.

107. Message from President Kennedy to Chairman Khrushchev, Washington, November 15, 1962. FRUS, vol. VI, Kennedy — Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 212-215.

108. Message from Chairman Khrushchev to President Kennedy, Moscow, undated (transmitted to the Soviet Embassy in Washington on November 11 and was given to Robert Kennedy in the following day). Ibid., pp. 204-208.

109. Telegram from the Mission to the United Nations to the Department of State (Stevenson), Nova York, November 19, 1962 — 1 a.m., FRUS, vol. XI, October 1962-December 1963, Cuba, pp. 482-487. Telegrama nº 144, secreto, da delegação do Brasil junto à Assembleia-Geral da ONU — Nova York (Afonso Arinos de Melo Franco), 9/11/1962 — 19h30. 600 (24h) — Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962. AHMRE-B.

110. Carta-Telegrama nº 370, confidencial, da embaixada do Brasil em Washington (Roberto Campos), 10/11/1962. Washington — Telegramas — Cts. — Rec. e Exp. — 1962. Ibid.

111. Ibid.

112. Lechuga, 1995, p. 153.

113. Telegrama nº 385, confidencial, da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 14/11/1962 — 15h15. 600 (24h) — Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962 — 6228. AHMRE-B.

114. Telegrama nº 389, confidencial-urgente, da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 16-17/11/1962. Telegramas — Recebidos — Havana, 1962-1964. Ibid.

115. Telegrama nº 385, confidencial, da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 14/11/1962 — 15h15. 600 (24h) — Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962 — 6228. Ibid.

116. Entrevista de Jorge Risquét ao Autor, Havana, dezembro de 1995.

117. Castañeda, La Vida en Rojo — Una Biografia del Che Guevara, 1997, pp. 287-288.

118. Telegrama nº 385, confidencial, da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 14/11/1962 — 15h15. 600 (24h) — Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962 — 6228. AHMRE-B.

119. Ibid.

120. Telegram from the Mission to the United Nations to the Department of State (Stevenson), Nova York, November 19, 1962 — 1 a.m., FRUS, vol. XI, October 1962-December 1963, Cuba, pp. 482-487.

121. Fursenko e Naftali, 1997, pp. 307 e 308.

122. Telegrama nº 389, confidencial-urgente, da embaixada do Brasil em Havana (Bastian Pinto), 16-17/11/1962. Telegramas — Recebidos — Havana, 1962-1964. AHMRE-B.

123. Telegrama nº 212, confidencial, do Itamaraty para a embaixada do Brasil em Moscou, 26/11/1962. Moscou — CTs. — Telegramas — Expedidos — 1962-1963. Ibid.

124. Carta de Fidel Castro a U Thant, La Habana, 19/1/1962. In Pueblo Invencible, La Habana, Editorial José Martí, 1991, pp. 112-113.

125. Message from Chairman Khrushchev to President Kennedy, Moscow, November 20, 1962. FRUS, vol. VI, Kennedy — Khrushchev Exchanges, 1961-1963, pp. 215-222.

126. Message from President Kennedy to Chairman Khrushchev, Washington, November 21, 1962. Ibid., p. 223.

127. Message from Chairman Khrushchev to President Kennedy, Moscow, November 14, 1962. Ibid., pp. 209-212.

128. Os Jupiter foram retirados da Turquia em abril de 1963, mas os submarinos Polaris passaram a estacionar no Mediterrâneo.

129. Beschloss, 1991, p. 566.

130. Brenner, Philip, “Thirteen Months: Cuba=s Perspective on the Missile Crisis”, in Nathan (ed.), 1992, 204.

131. Telegrama nº 800, confidencial, da embaixada do Brasil em Washington (Roberto Campos), 28/10/1962 — 14h — Washington — Telegramas — Cts. Rec. e Exp. — 1962. AHMRE-B. “Análise da Crise Cubana”, confidencial, anexo ao Ofício nº 994, confidencial, Roberto Campos ao chanceler Her-mes Lima, Washington, 1º de novembro de 1962. 600 (24h) — Situação Política — Cuba — novembro a dezembro de 1962. Ibid. Zubok & Pleshakov, 1996, p. 259.

132. Telegrama nº 260, confidencial, da embaixada do Brasil em Moscou (Vasco Leitão da Cunha), 23/11/1962 — 17h15. Moscou CTs. — Telegramas — Recebidos e Expedidos — 1962-1963-1964. Ibid.

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