Editora: Alfaguara
Opinião: ★★★★☆
Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman
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ISBN: 978-85-7962-063-8
Páginas: 456
Sinopse: A Festa do Bode é um dos romances mais
importantes de Mario Vargas Llosa. Com uma pesquisa histórica rigorosa e uma
preocupação flaubertiana pelos detalhes, ele recria uma República Dominicana de
meados do século XX para recontar a história do general Rafael Leonidas
Trujillo Molina — o “Bode” — e a implacável ditadura que implantou no país
durante seus 31 anos de governo. Ao entrelaçar três histórias – a volta de
Urania a Santo Domingo, após 35 anos, para visitar o pai doente; o círculo mais
próximo a Trujillo, com suas intrigas e execuções; e um grupo de insurgentes
que prepara um atentado ao ditador —, Vargas Llosa relata o fim de uma era e
discute a natureza insaciável dos regimes totalitários.
“Chegou
ao Hispaniola. Urania está suando, o coração acelerado. Pela avenida George
Washington passa um duplo rio de carros, caminhonetes e caminhões, e ela tem a
impressão de que todos estão com os rádios ligados e o barulho vai arrebentar seus
tímpanos. Às vezes surge uma cabeça masculina em algum veículo e por um
instante seus olhos cruzam com uns olhos varonis que espreitam seus peitos,
suas pernas, seu traseiro. Esses olhares. Ela está esperando para atravessar e
pensa outra vez, como ontem, como anteontem, que está em terra dominicana. Em
Nova York ninguém mais olha as mulheres com esse descaramento. Medindo,
avaliando, calculando quanta carne há em cada peito e em cada coxa, quantos
pelos em seu púbis e a curva exata das suas nádegas. Fecha os olhos, sentindo
uma ligeira vertigem. Em Nova York, nem os latinos, dominicanos, colombianos,
guatemaltecos olham mais assim. Eles aprenderam a se reprimir, entenderam que
não podem olhar as mulheres como os cachorros olham as cadelas, os cavalos as
éguas, os porcos as porcas.”
“Toda
a sociedade local estava na recepção oferecida ao Chefe pela diretoria do
Partido Dominicano de Barahona, no clube. Havia dança e bebida. O Chefe, muito
alegre, já tarde da noite, diante de um vasto auditório de homens sós —
militares da Fortaleza local, ministros, senadores e deputados que o acompanhavam,
governadores e personalidades de destaque — que ele estivera distraindo com
histórias da sua primeira campanha política, três décadas antes, de repente,
com o olhar sentimental, nostálgico que costumava ter no final das festas,
exclamou, parecendo ceder a um rompante de franqueza:
— Eu
sempre fui um homem muito amado. Um homem que teve nos braços as mulheres mais
belas do país. Foram elas que me deram a energia para endireitá-lo. Sem elas,
eu jamais teria feito tudo o que fiz. (Levantou o copo contra a luz, olhou o
líquido, examinou sua transparência, a nitidez da sua cor.) Sabem qual foi a
melhor, de todas as que comi? (“Perdoem, meus amigos, a rudeza do verbo”,
desculpou-se o diplomata, “mas estou citando Trujillo textualmente”.) (Fez
outra pausa, aspirou o aroma do copo de brandy. A cabeça prateada
procurou e encontrou, no círculo de homens que estavam ali ouvindo, o rosto
lívido e gorducho do ministro. E concluiu:) A mulher de Froilán!
Urania
faz uma careta, tão enojada como aquela noite, ao ouvir o embaixador Chirinos
acrescentar que don Froilán tinha sorrido heroicamente, rido e aplaudido junto
com os outros a brincadeira do Chefe. “Branco como papel, ele não desmaiou, nem
caiu fulminado por um ataque”, detalhou o diplomata.
—
Como era possível, papai? Que um homem como Froilán Arala, culto, preparado,
inteligente, pudesse aceitar isso. O que Trujillo fazia com vocês? O que ele
lhes dava, para fazer don Froilán, Chirinos, Manuel Alfonso, você, todos os
seus braços direitos e esquerdos se transformarem em panos de chão?
Você
não entende isso, Urania. Conseguira entender muitas coisas da Era; algumas, a
princípio, pareciam inexplicáveis, mas, de tanto ler, ouvir, cotejar e pensar,
você entendeu como tantos milhões de pessoas, acossadas pela propaganda, pela
falta de informação, embrutecidas pela doutrinação, o isolamento, despojadas de
livre-arbítrio, de vontade e até de curiosidade devido ao medo e à prática do
servilismo e da obsequiosidade, chegaram a divinizar Trujillo. Não apenas a
temê-lo, mas também a amá-lo, como os filhos amam os pais autoritários,
convencidos de que as pancadas e castigos são para o seu próprio bem. O que
você nunca entendeu é como os dominicanos mais bem-preparados, as cabeças
pensantes do país, advogados, médicos, engenheiros, às vezes diplomados em
excelentes universidades dos Estados Unidos ou da Europa, sensíveis, cultos,
com experiência, leituras, ideias, supostamente um senso de ridículo
bem-desenvolvido, sentimentos, pruridos, aceitaram ser humilhados de forma brutal
(e todos o foram alguma vez), como fez aquela noite, em Barahona, don Froilán
Arala.”
“— Só
os muito ricos podem se dar ao luxo de não trabalhar para Trujillo.”
“Desde
jovem, Salvador percebera como era difícil, às vezes impossível, submeter a
conduta diária aos mandamentos da sua religião. Seus princípios e crenças,
apesar de serem tão firmes, não o tinham freado na hora da farra nem para
correr atrás de saias. Nunca se arrependeria o suficiente de ter gerado dois
filhos naturais antes de casar-se com sua mulher atual, Urania Mieses. Eram
erros que lhe davam vergonha, que tentava redimir, mas não conseguia aplacar sua
consciência. Sim, era muito difícil não ofender Cristo na vida do dia a dia.
Ele, um pobre mortal, marcado pelo pecado original, era prova das fraquezas
congênitas do homem. Mas como podia errar a Igreja inspirada por Deus, apoiando
um desalmado?
Até
que, há dezesseis meses — nunca esqueceria esse dia —, no domingo 25 de janeiro
de 1960 aconteceu aquele milagre. Um arco-íris no céu dominicano. O dia 21
tinha sido a festa da padroeira, Nossa Senhora de Altagracia, e, também, o da
pior investida contra militantes do 14 de Junho*. A igreja da Altagracia,
naquela manhã ensolarada santiaguense, estava lotada. De repente, no púlpito,
com voz firme, o padre Cipriano Fortín começou a leitura — os pastores de
Cristo faziam o mesmo em todas as igrejas dominicanas — daquela Carta Pastoral
do episcopado que estremeceu a República. Foi um ciclone, mais dramático ainda
que aquele, famoso, de San Zenón, que em 1930, no começo da Era de Trujillo,
destruiu a capital.
Na
escuridão do carro, Salvador Estrella Sadhalá, imerso na lembrança daquele dia
venturoso, sorriu. Ouvindo o padre Fortín ler no seu espanhol ligeiramente
afrancesado, cada frase daquela Carta Pastoral que enlouqueceu de fúria a Besta
lhe parecia uma resposta às suas dúvidas e angústias. Conhecia tão bem aquele
texto — que, depois de ouvir, tinha lido, impresso às escondidas e distribuído
em toda parte — que o sabia quase de cor. Uma “sombra de tristeza” marcava a
festividade da Virgem dominicana. “Não podemos permanecer insensíveis diante da
profunda dor que aflige um bom número de lares dominicanos”, diziam os bispos.
Como são Pedro, eles queriam “chorar junto com os que choram”. Lembravam que “a
raiz e o fundamento de todos os direitos está na dignidade inviolável da pessoa
humana”. Uma entrevista de Pio XII evocava os “milhões de seres humanos que
continuam vivendo sob a opressão e a tirania”, para os quais não há “nada
certo: nem o lar, nem os bens, nem a liberdade, nem a honra”.
Cada
frase acelerava o coração de Salvador. “A quem pertence o direito à vida
senão unicamente a Deus, autor da vida?” Os bispos ressaltavam que desse
“direito primitivo” brotam os outros: o de formar uma família, o direito ao
trabalho, ao comércio, à imigração (não era uma condenação a esse sistema
infame de pedir permissão policial para cada viagem ao estrangeiro?), à boa
fama e a não ser caluniado “sob pretextos fúteis ou denúncias anônimas” “por
motivos baixos e rasteiros”. A Carta Pastoral reafirmava que “todo homem tem
direito à liberdade de consciência, de imprensa, de livre associação...”. Os
bispos faziam preces “nestes momentos de angústia e de incerteza” para que
houvesse “concórdia e paz” e se estabelecessem no país “os sagrados direitos de
convivência humana”. (...)
— As
represálias vão ser terríveis, padre Fortín — murmurou.
E
foram. Mas, com a endiabrada habilidade para a intriga do regime, a vingança se
concentrou nos dois bispos estrangeiros, ignorando os nascidos em solo
dominicano. Monsenhor Tomás F. Reilly, de San Juan de la Maguana, americano, e
monsenhor Francisco Panal, bispo de La Vega, espanhol, foram os alvos dessa
campanha ignóbil.
Nas
semanas seguintes ao júbilo do 25 de janeiro de 1960, Salvador cogitou pela
primeira vez na necessidade de matar Trujillo. Até então, essa ideia o
horrorizava, um católico tinha que respeitar o quinto mandamento. Apesar disso,
voltava, irresistível, toda vez que lia em El Caribe, em La Nación,
ou ouvia em La Voz Dominicana os ataques contra monsenhor Panal e monsenhor
Reilly: agentes de potências estrangeiras, vendidos ao comunismo,
colonialistas, traidores, víboras. Pobre monsenhor Panal! Acusar de estrangeiro
um sacerdote que tinha passado trinta anos fazendo obra apostólica em La Vega,
onde era querido por todo mundo. As infâmias tramadas por Johnny Abbes — quem
mais podia elucubrar semelhantes tramoias? —, de que o Turco ficava sabendo
pelo padre Fortín e pelos boatos, eliminaram seus escrúpulos. A gota que fez o
copo transbordar foi a sacrílega farsa montada contra monsenhor Panal na igreja
de La Vega, onde o bispo rezava a missa do meio-dia. Na nave repleta de fiéis,
quando monsenhor Panal lia o evangelho do dia, irrompeu um bando de rameiras
todas maquiadas e seminuas, e, diante do estupor dos fiéis, se aproximaram do
púlpito insultando e recriminando o velho bispo, acusando-o de ter-lhes feito
filhos e de ser um depravado. Uma delas, pegando o microfone, uivou: “Reconheça
as crianças que você nos fez parir, não as mate de fome.” Quando alguns dos
presentes, reagindo, tentaram botar as prostitutas para fora da igreja e
proteger o bispo que olhava incrédulo tudo aquilo, irromperam os caliés,
umas duas dezenas de meliantes armados de paus e correntes que investiram sem
misericórdia contra os fiéis. Pobres bispos! Picharam suas casas com insultos.
Em San Juan de la Maguana, dinamitaram a caminhonete em que monsenhor Reilly se
deslocava pela diocese e bombardearam sua casa com animais mortos, águas sujas,
ratos vivos, toda noite, até obrigá-lo a se refugiar no Colégio Santo Domingo,
em Trujillo. O indestrutível monsenhor Panal continuava resistindo, em La Vega,
às ameaças, infâmias, insultos. Um velho feito com o barro dos mártires.
Um
desses dias o Turco se apresentou na casa do padre Fortín com o rosto inchado,
transfigurado.
— O
que houve, Salvador?
— Vou
matar Trujillo, padre. Quero saber se terei perdão. — Sua voz se cortou: — Isso
não pode continuar assim. O que estão fazendo com os bispos, com as igrejas,
essa campanha asquerosa na televisão, nos rádios e jornais. É preciso acabar
com isso, cortar a cabeça da hidra. Terei perdão?
O
padre Fortín o acalmou. Ofereceu-lhe café recém-coado, levou-o para dar um
longo passeio pelas ruas cheias de loureiros de Santiago. Uma semana depois lhe
avisou que o núncio apostólico, monsenhor Lino Zanini, o receberia em Trujillo,
em audiência privada. O Turco chegou intimidado ao elegante casarão da
nunciatura, na avenida Máximo Gómez. Mas o príncipe da Igreja fez se sentir à
vontade desde o primeiro instante aquele gigante tímido, apertado na sua camisa
social e na gravata que pôs para a audiência com o representante do papa.
Como
era elegante e falava bem o monsenhor Zanini! Um verdadeiro príncipe, sem
dúvida. Salvador ouvira muitas histórias sobre o núncio e sentia simpatia por
ele, porque diziam que Trujillo o odiava. Seria verdade que Perón tinha saído
do país, onde estava exilado havia sete meses, ao saber da chegada do novo
núncio da Sua Santidade? Todo mundo dizia isso. Que foi correndo ao Palácio
Nacional, dizer: “Tome cuidado, Excelência. Não se pode enfrentar a Igreja. Não
esqueça o que aconteceu comigo. Não foram os militares que me derrubaram, foram
os padres. Este núncio que o Vaticano lhe manda agora é como aquele que me
mandou, quando começaram os atritos com a Igreja. Cuidado com ele!” E o
ex-ditador argentino fez as malas e fugiu para a Espanha.
Depois
dessa reunião, o Turco estava disposto a acreditar em tudo que dissessem de bom
sobre o monsenhor Zanini. O núncio o levou ao seu gabinete, ofereceu
refrigerantes, estimulou-o a dizer o que sentia fazendo comentários afáveis num
espanhol com música italiana que fazia o efeito em Salvador de uma melodia
angelical. Ouviu-o dizer que não suportava mais tudo o que estava acontecendo,
o que o regime estava fazendo com a Igreja, com os bispos, o deixava louco.
Depois de uma longa pausa, segurou a mão anelada do núncio:
— Vou
matar Trujillo, monsenhor. Haverá perdão para a minha alma?
Sua
voz se cortou. Permanecia com os olhos baixos, respirando com ansiedade. Sentiu
nas costas a mão paternal de monsenhor Zanini. Quando, finalmente, levantou os
olhos, o núncio tinha nas mãos um livro de santo Tomás de Aquino. Seu rosto
franco sorria com um ar travesso. Um dos seus dedos apontava para um parágrafo,
na página aberta. Salvador se inclinou e leu: “A eliminação física da Besta é
bem-vista por Deus se com ela se liberta um povo.”
Saiu
da nunciatura em estado de transe. Andou um bom tempo pela avenida George
Washington, à beira do mar, com uma tranquilidade de espírito que não sentia
havia muito tempo. Mataria a Besta, e Deus e a sua Igreja o perdoariam,
manchando-se de sangue ele lavaria o sangue que a Besta fazia correr na sua
pátria.”
* Tentativa malograda de deposição do ditador Rafael Trujillo por meio
de um levante militar.
“—
Seu pai sempre suspeitou que o intrigante foi Chirinos, o Constitucionalista
Bêbado — lembra a tia Adelina.
—
Esse gordo negrusco e nojento foi um dos que melhor se acomodou — interrompe
Lucindita. — De cama e mesa de Trujillo e terminou como ministro e embaixador
de Balaguer. Está vendo como é este país, Uranita?
—
Lembro-me muito dele, vi-o em Washington faz uns anos, como embaixador — diz
Urania. — Ia muito em casa quando eu era pequena. Parecia íntimo de papai.
— E
de Aníbal e meu — acrescenta tia Adelina. — Vinha aqui com seus salamaleques,
recitava-nos seus versinhos. Andava o tempo todo citando livros, posando de
culto. Convidou-nos ao Country Clube uma vez. Eu não queria acreditar que
tivesse traído o seu companheiro da vida inteira. Bem, a política é isso,
abrir-se caminho entre cadáveres.”
“— Na
secretaria há um traidor ou um inepto. Espero que seja um traidor, os ineptos
são mais daninhos.”
“O
pequeno mandatário negou com a cabeça: nada disso era verdade. Não tinha feito
nem faria voto algum; ao contrário de alguns companheiros da Escola Normal, que
se torturavam perguntando-se se tinham sido escolhidos pelo Senhor para
servi-lo como pastores da grei católica, ele sempre soube que sua vocação não
era o sacerdócio, mas o trabalho intelectual e a ação política. A religião
dava-lhe uma ordem espiritual, uma ética com que confrontar a vida. Duvidava às
vezes da transcendência, de Deus, mas nunca da função insubstituível do
catolicismo como instrumento de contenção social das paixões e apetites
perturbadores da besta humana. E, na República Dominicana, como força
constitutiva da nacionalidade, como a língua espanhola. Sem a fé católica, o
país cairia na desintegração e na barbárie. Quanto a acreditar, ele praticava a
receita de santo Ignácio de Loyola, nos seus Exercícios espirituais:
agir como se acreditasse, imitando os rituais e preceitos: missas, preces,
confissões, comunhões. Essa repetição sistemática da forma religiosa ia criando
o conteúdo, preenchendo o vazio — em algum momento — com a presença de Deus.”
“Que
pena não ter forças para dizer aos seus amigos que não se preocupassem, que
estava contente, com o Bode morto. Tinham vingado as irmãs Mirabal e o pobre
Rufino de la Cruz, o motorista que as levou para a Fortaleza de Puerto Plata
para visitar os maridos presos, e a quem Trujillo mandou assassinar também para
fazer mais verossímil a farsa do acidente*. Aquele assassinato remexeu as
fibras mais íntimas de Pedro Livio e o impulsionou, daquele 25 de novembro de
1960, a juntar-se à conspiração que armava seu amigo Antonio de la Maza. Só
conhecia as Mirabal de ouvir falar. Mas, como a muitos dominicanos, a tragédia
daquelas garotas de Salcedo transtornou-o. Agora também se assassinavam
mulheres indefesas, sem que ninguém fizesse nada! A esses extremos de ignomínia
tínhamos chegado na República Dominicana? Já não havia colhões neste país,
porra! Ouvindo Antonio Imbert falar tão comovido — ele, sempre parco em
exteriorizar seus sentimentos — sobre Minerva Mirabal, teve, na frente dos seus
amigos, aquele pranto, o único na sua vida de adulto. Sim, ainda havia homens
com colhões na República Dominicana. A prova, esse cadáver que sacolejava na
mala.”
* Três
irmãs fundadoras do grupo oposicionista à ditadura de Trujillo chamado
Movimento Revolucionário de 14 de Junho (em homenagem a opositores do governo
que foram torturados e mortos em 14 de junho de 1959). Por sua atividade
política, as irmãs Mirabal foram, a mando do ditador, presas e torturadas inúmeras
vezes. Embora tivessem sido libertadas em razão da intervenção da Comissão de
Paz da Organização dos Estados Americanos (OEA), Trujillo articulou um plano para
eliminá-las: determinou a transferência dos respectivos maridos, então detidos
em Santo Domingo, para a prisão de Puerto Plata, situada a duas horas de
distância da residência familiar, forçando-as a realizar viagens frequentes
para visitá-los. Durante uma dessas viagens, as irmãs Mirabal, que tinham respectivamente
36, 34 e 24 anos de idade, foram capturadas em uma emboscada, torturadas e
assassinadas, juntamente com o motorista, Rufino de La Cruz. Seus corpos foram
posteriormente colocados de volta no veículo e arremessados em um precipício,
com o objetivo de simular um acidente.
Este
assassinato, obviamente orquestrado a mando do ditador, tocou fundo na alma
dominicana e fez com que Trujillo também tivesse sua já chamuscada imagem
internacional deteriorada de vez.
O
sacrifício e a coragem das irmãs Mirabal se tornaram um símbolo da luta contra
a opressão e da resistência ao autoritarismo, sendo lembradas anualmente no “Dia
Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher”, em 25 de
novembro, data da morte delas.
“—
Espero que me faça bem contar essa história truculenta. Agora, esqueçam. Já
passou. Passou e não tem mais jeito. Outra pessoa poderia ter superado, talvez.
Eu não quis, e nem pude.”
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