quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Sinais do mar, de Ana Maria Machado

Editora: CosacNaify

ISBN: 978-85-7503-770-6

Opinião: ★☆☆☆☆

Link para compra: Clique aqui

Páginas: 56

Sinopse: Ao longo de vinte anos, o mar enviou sinais. Ana Maria Machado soube traduzir, num breve conjunto de poemas, suas misteriosas mensagens. A bússola lírica oscila entre pequenos naufrágios cotidianos e a celebração de uma memória pessoal.

Cada verso traz à tona uma discreta música de fundo, uma sutil rede de som e sentido.

Neste primeiro livro de poemas, Ana Maria Machado reencontra a longa tradição de nosso cancioneiro.


 

Arraia

Adeus, murmúrio!

É só mergulho.

Qualquer marulho

é sem som.

Todo barulho

é visão.

 

O mar balança

em lenta dança.

– o medo vem desde criança –

a sombra passa

à minha frente.

 

Arraia assombra

voa silente

desliza lisa e logo some.

 

Voltando à tona

levo-a comigo

na noite insone.

 

Pipa empinada no azul molhado.

 

 

Primeiro mar

Tantas páginas lidas muito antes

Tantos livros que enchiam as estantes

Tantos heróis a povoar os sonhos

Tantos perigos, monstros tão medonhos

 

Nos tempos sem tevê e sem imagem

Palavras fabricavam paisagem

 

Tesouros, mapas, ilhas tropicais,

Argonautas, recifes de corais,

Perigos na neblina entre rochedos.

Vinte mil léguas cheias de segredos.

 

Histórias de naufrágio e abordagens,

Ulisses, Moby Dick, mil viagens,

Robinson, calmarias, um motim.

Descobertas, veleiros, mar sem fim.

 

Mezena e bujarrona a todo o pano,

Lonjura, escorbuto, quase um ano.

Respingos salpicando a escotilha

Vagalhões se quebrando sobre a quilha.

 

Marujos, capitães, navegadores,

Piratas, marinheiros, pescadores,

Um sextante as estrelas a mirar

No convés, som de gaita ao luar

 

Nuvens de tempestade no horizonte

Um vigia na gávea sonha um monte

A cada onda, cada tábua geme,

O timão firme vai mantendo o leme

 

Cabeça de palavras povoada

Conversas de amplidão imaginada

Mas que leitura tanto poderia?

 

Cheiro salgado a entrar pelas narinas

E a dança leve de algas submarinas

Sal azul, movimento de água fria

 

O que se leu mostrava o infinito

Só não se imaginava tão bonito

Tão pleno de surpresas e imprevistos

 

Mesmo em tantas belezas e celebradas

Por todas as palavras encantadas

Por mares nunca dantes entrevistos

Nenhum comentário: