segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Fundação (02): Fundação e Império, de Isaac Asimov

Editora: Aleph

ISBN: 978-85-7657-197-1

Tradução: Fábio Fernandes

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 277

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Sinopse: Ver Primeiro livro



“O ponto essencial em correr um risco é que os lucros o justifiquem.”

 

 

“– Então, explique-se em seus próprios termos. Por que você diz que o Império não pode derrotar este pequeno inimigo?

O siwenniano se sentou mais uma vez e desviou os olhos do olhar fixo de Riose. Falou pesadamente:

– Porque tenho fé nos princípios da psico-história. Ela é uma ciência estranha. Atingiu a maturidade matemática com um homem, Hari Seldon, e morreu com ele, pois nenhum homem desde então foi capaz de manipular suas complexidades. Mas, nesse curto período, ela provou ser o instrumento mais poderoso jamais inventado para o estudo da humanidade. Sem fingir prever as ações de indivíduos, ela formulou leis definitivas capazes de análise e extrapolação matemática para governar e prever a ação em massa de grupos humanos.

– Então...

– Foi a psico-história que Seldon e o grupo com o qual ele trabalhou aplicaram com força total para criar a Fundação. O lugar, tempo e as condições, tudo isso conspira matematicamente e, portanto, inevitavelmente, para a criação de um Segundo Império Galáctico.

A voz de Riose tremia de indignação.

– Você quer dizer que essa arte dele prevê que eu atacaria a Fundação e perderia tal e tal batalha por tal e tal motivo? Você está tentando dizer que sou um tolo robotizado, seguindo um curso predeterminado para a destruição?

– Não – respondeu o velho patrício, com seriedade. – Eu já disse que a ciência nada tem a ver com ações individuais. É o pano de fundo maior que foi previsto.

– Então continuamos presos à mão da Deusa da Necessidade Histórica.

– Da Necessidade Psico-histórica – provocou Barr, baixinho.

– E se eu exercer minha prerrogativa de livre-arbítrio? Se eu escolher atacar no ano que vem ou não atacar? Quão flexível é essa Deusa? Que recursos tem?

Barr deu de ombros.

– Ataque agora ou nunca; com uma única nave, ou com toda a força do Império; pela força militar ou por pressão econômica; por uma declaração de guerra honesta e aberta ou por emboscada traiçoeira. Faça o que desejar, no mais amplo exercício de livre-arbítrio. Você ainda perderá.

– Por causa da mão morta de Hari Seldon?

– Por causa da mão morta da matemática do comportamento humano, que não pode ser detida, desviada nem atrasada.

Os dois se encararam em um impasse, até que o general recuou.

– Vou aceitar esse desafio – disse, simplesmente. – É uma mão morta contra uma vontade viva.”

 

 

“As forças econômicas e sociológicas mais profundas não são dirigidas por homens individuais.”

 

 

“Havia uma brutalidade assustadora em um céu que brilhava sem brechas em todas as direções. Era como estar perdido num mar de radiação.

E, no centro de um aglomerado aberto de dez mil estrelas, cuja luz rasgava em pedaços a fraca escuridão ao redor, circulava o imenso planeta imperial, Trantor.

Mas ele era mais que um planeta; era a pulsação viva de um Império de vinte milhões de sistemas estelares. Ele tinha apenas uma função, administração; um propósito, governo; e um bem manufaturado, a lei.

O mundo inteiro era uma distorção funcional. Não existia objeto vivo em sua superfície a não ser o homem, seus animais de estimação e seus parasitas. Nenhuma folha de relva ou fragmento de solo descoberto podia ser encontrado fora dos quase duzentos quilômetros quadrados do Palácio Imperial. Não havia água doce fora do terreno do Palácio, a não ser nas vastas cisternas subterrâneas que continham o suprimento de água de um mundo.

O metal lustroso, indestrutível e incorruptível que compunha a superfície inteiriça do planeta era a fundação das imensas estruturas metálicas que cobriam o mundo num labirinto. Eram estruturas conectadas por passagens; entrelaçadas por corredores; fechadas por escritórios; alicerçadas pelos imensos centros varejistas que cobriam quilômetros e quilômetros quadrados; recobertas pelo reluzente mundo de diversão que brilhava e se acendia todas as noites.

Era possível caminhar por todo mundo de Trantor e nunca deixar um único prédio conglomerado, nem tampouco ver a cidade.

Uma frota de naves, maior em número do que todas as frotas de guerra que o Império já havia sustentado, pousava suas cargas em Trantor todos os dias, para alimentar os quarenta bilhões de humanos que não davam nada em troca a não ser a satisfação da necessidade de desembaraçar as miríades de fios que espiralavam para dentro da administração central do mais complexo governo que a Humanidade já havia conhecido.

Vinte mundos agrícolas eram o celeiro de Trantor. Um universo era seu serviçal...”

 

 

“– Eu não tinha me dado conta disso antes, mas depois que tudo acabou e pude... bem... olhar para as respostas no fim do livro, o problema se torna simples. Agora nós podemos ver que o histórico social do Império torna as guerras de conquista impossíveis para ele. Sob imperadores fracos, ele é dilacerado por generais que competem por um trono sem valor e, certamente, letal. Sob imperadores fortes, o Império fica congelado num rigor paralítico no qual a desintegração aparentemente cessa no momento, mas apenas com o sacrifício de todo o crescimento possível.”

 

 

“– Ora, o que você acha da situação galáctica?

– Acho – Bayta disse concisamente – que está chegando uma crise Seldon... e se não estiver, então é melhor jogar o plano Seldon fora completamente. É um fracasso.

(“Uau”, murmurou Fran, de seu canto. “Que maneira de falar de Seldon.” Mas não disse nada em voz alta.)

Randu ficou fumando seu cachimbo especulativamente.

– É mesmo? Por que você diz isso? Eu estive na Fundação quando jovem, sabe, e também tive grandes pensamentos dramáticos. Mas por que você diz isso agora?

– Bem – os olhos de Bayta ficaram nublados e pensativos enquanto ela curvava os dedos nus na suavidade branca do tapete e aninhava o queixo pequeno numa mão gordinha –, me parece que toda a essência do plano de Seldon era criar um mundo melhor do que o antigo do Império Galáctico. Aquele mundo estava caindo aos pedaços há trezentos anos, quando Seldon criou a Fundação... e se a história é verdadeira, ele estava desabando com a doença tripla da inércia, do despotismo e da má distribuição dos bens do universo.

Randu assentiu devagar, enquanto Toran olhava para sua esposa com olhos orgulhosos e luminosos, e Fran, no canto, estalava a língua e enchia cuidadosamente seu copo.

– Se a história de Seldon for verdade – ela continuou –, ele previu o colapso completo do Império por meio de suas leis da psico-história, e foi capaz de prever os necessários trinta mil anos de barbárie antes do estabelecimento de um novo Segundo Império para restaurar a civilização e a cultura para a humanidade. Foi todo o objetivo do trabalho da vida dele estabelecer condições para assegurar um rejuvenescimento mais rápido.

A voz profunda de Fran explodiu:

– E é por isso que ele estabeleceu duas Fundações, honrado seja seu nome.

– E foi por isso que ele estabeleceu as duas Fundações – concordou Bayta. – Nossa Fundação era um ajuntamento dos cientistas do Império moribundo com a intenção de levar a ciência e o aprendizado do homem a novas alturas. E a Fundação foi situada de tal forma no espaço, e o ambiente histórico era tal que, por intermédio dos cuidadosos cálculos de seu gênio, Seldon previu que em mil anos ela se tornaria um império novo e maior.

Fez-se um silêncio reverente.

A garota disse suavemente:

– É uma história velha. Vocês a conhecem. Por quase três séculos, todos os seres humanos da Fundação souberam disso. Mas eu achava que seria apropriado passar por isso... apenas rapidamente. Hoje é o aniversário de Seldon, vocês sabem, e mesmo que eu seja da Fundação e vocês sejam de Refúgio, isso nós temos em comum...

Ela acendeu um cigarro devagar e ficou olhando, distraída, a ponta brilhante.

– As leis da história são tão absolutas quanto as leis da física, e se as probabilidades de erro são maiores, é apenas porque a história não lida com tantos humanos quanto a física com átomos, então variações individuais contam mais. Seldon previu uma série de crises através dos mil anos de crescimento, cada uma das quais forçaria uma nova virada de nossa história para um caminho previamente calculado. São essas crises que nos guiam... e, portanto, uma crise deve estar vindo agora. Agora! – ela repetiu, com força. – Já se passou quase um século desde a última, e nesse século cada um dos vícios do Império foi repetido na Fundação. Inércia! Nossa classe dominante conhece uma lei: nada de mudança. Despotismo! Eles conhecem uma regra: força. Má distribuição! Eles conhecem um desejo: manter o que é deles.

– Enquanto outros passam fome! – Fran rugiu, subitamente, com um poderoso soco no braço de sua poltrona. – Garota, suas palavras são pérolas. Os gordos, com seu dinheiro, arruínam a Fundação, ao passo que os bravos comerciantes ocultam sua pobreza em mundos arruinados como Refúgio. É uma desgraça para Seldon, como se lhe cuspissem na cara, lhe arrancassem a barba.”

 

 

“– Capitão Pritcher, você é um soldado, e calcula em termos de armas. Não é bom se permitir chegar a um ponto que envolva me desobedecer. Tome cuidado. Minha justiça não é simplesmente fraqueza. Capitão, já foi provado que os generais da Era Imperial e os senhores da guerra da presente época são igualmente impotentes contra nós. A ciência de Seldon que prevê o curso da Fundação é baseada não em heroísmo individual, como você parece crer, mas nas tendências sociais e econômicas da história. Nós já passamos com sucesso por quatro crises, não passamos?

– Passamos, Excelência. Mas a ciência de Seldon é conhecida... somente para Seldon. A nós mesmos, só nos ficou a fé. Nas três primeiras crises, como me ensinaram cuidadosamente, a Fundação foi liderada por homens sábios que previram a natureza das crises e tomaram as precauções adequadas. Caso contrário... quem pode dizer?

– Sim, capitão, mas você omite a quarta crise. Vamos, capitão, não tivemos liderança digna do nome então, e enfrentamos o oponente mais inteligente, o exército mais bem armado, a força mais forte de todas. Mas vencemos, pela inevitabilidade da história.

– Excelência, isso é verdade. Mas essa história que o senhor menciona só se tornou inevitável depois que lutamos desesperadamente por mais de um ano. A vitória inevitável nos custou quinhentas naves e meio milhão de homens. Excelência, o plano de Seldon ajuda a quem se ajuda.”

 

 

“Com bastante frequência, bons instrumentistas costumam ser, de resto, idiotas. É uma dessas configurações estranhas que tornam a psicologia interessante.”

 

 

“Ela balançou a cabeça: – Ele é tão estranho.

– Ele mexe com seu instinto materno, Bay, é o que ele faz. Um dia teremos um filho e aí você esquecerá Magnífico.

Bayta respondeu das profundezas de seu sanduíche:

– Ocorre-me que você é tudo o que meu instinto materno pode suportar.”

 

 

“– Mas, e se a Fundação não caiu? E se os relatórios forem falsos? Dizem que já foi previsto que ela não pode cair.

– Já passamos da era dos videntes, senhor.”

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