segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

A morte de Arthur: Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda (Volume 2), de Thomas Malory

Editora: Nova Fronteira

ISBN: 978-65-564-0015-0

Tradução: Maria Helena Rouanet

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 458

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Sinopse: Ver Parte I



“O gozo do amor é excessivamente breve e extremamente longo o sofrimento que ele provoca.”

 

 

“De nada valem as qualidades de um homem se não vierem acompanhadas de sabedoria.”

 

 

Quisera Deus que eu tivesse parte de suas características, e foi uma desventura eu estar enferma por ocasião desse torneio. Suponho que, em toda minha vida, nunca verei tal reunião de cavaleiros e damas como haveis visto.

Então, os dois cavaleiros contaram como Sir Palamedes foi o vencedor do primeiro dia com grande nobreza. No segundo dia, a vitória foi atribuída a Sir Tristão e, no terceiro, a Sir Lancelote. E, indagou ainda a rainha, quem se saiu melhor nos três dias de competição? Valha-me Deus!, disseram ambos. Sir Lancelote e Sir Tristão foram os que menos sofreram desonra, mas sabei que Sir Palamedes foi poderoso e se saiu muito bem, porém voltou-se contra a companhia com que havia começado e, com isso, perdeu boa parte de seu mérito, pois parece que é bastante invejoso. Então, jamais conquistará qualquer honra, observou a Rainha Guinevere, já que, se um invejoso adquire honra uma vez, se vê desonrado duas vezes. Por isso, todos os homens valorosos desgostam dos invejosos e não desejam demonstrar nenhuma boa vontade para com eles, ao passo que aquele que é cortês, amável e gentil só encontra boa vontade em toda parte.”

 

 

Foi-se embora a pé, adentrou uma floresta e, por volta da hora de prima, chegou a um morro onde havia um eremitério e um ermitão que ia celebrar uma missa. Então, Sir Lancelote se ajoelhou e implorou misericórdia a Nosso Senhor pelos seus maus atos. Terminada a missa, chamou o eremita e lhe rogou que, por caridade, ouvisse o relato de sua vida. De bom grado o farei, disse o bom homem. Sois da corte do Rei Arthur, senhor? Da companhia da Távola Redonda? Em verdade, sim. Meu nome é Sir Lancelote do Lago, de quem se fala muito bem, mas, agora, minha boa fortuna mudou, pois sou o homem mais desditoso do mundo. O ermitão o fitou longamente e se surpreendeu ao vê-lo assim, transtornado. Senhor, disse ele então, mais que ninguém, deveríeis dar graças a Deus, pois Ele vos fez ter mais honra mundana do que qualquer outro cavaleiro que hoje vive. Foi por vossa presunção, ao se pôr em Sua presença, no local onde se encontravam Sua carne e Seu sangue apesar de estar em pecado mortal, que não pudestes vê-Lo com olhos mundanos, pois Ele não quer aparecer onde estão tais pecadores, a menos que seja para lhes causar sofrimento e vergonha. Mais que qualquer outro cavaleiro, devíeis dar graças a Deus, já que Ele vos concedeu beleza, galhardia e uma grande força como a ninguém mais. Por isso, mais do que qualquer outro homem, estais obrigado a amá-Lo e a temê-Lo, uma vez que de nada vos servem vossa força e vossa valentia se Deus estiver contra vós.”

 

 

Cuidai para que vosso coração e vossa boca estejam sempre de acordo, disse o bom homem, e eu vos asseguro que tereis mais honra do que jamais tivestes na vida.”

 

 

Merlin também fez a Távola Redonda como representação da forma do mundo, pois ela representa este mundo de forma completa, já que todos, cristãos e pagãos, são por ela acolhidos e, quando são escolhidos para integrar a companhia da Távola Redonda, consideram-se mais felizes e com mais honra do que se houvessem ganhado metade da terra. Vistes que perderam seus pais e toda sua linhagem, e também esposas e filhos para fazerem parte de vossa companhia. Pudestes vê-lo por vós mesmo, uma vez que, desde que deixastes vossa mãe, não quis voltar a vê-la, por vos encontrardes entre os cavaleiros da Távola Redonda. Quando Merlin fez a Távola Redonda, disse que, por serem seus membros quem eram, através dela seria conhecida a verdade do Santo Graal. Perguntaram-lhe como poderiam saber quem se sairia melhor e levaria a cabo a demanda do Santo Graal. Ele respondeu então que havia três touros brancos que realizariam tal tarefa, dois dos quais seriam virgens, e o terceiro, casto. Disse ainda que um dos três sobrepujaria o próprio pai como o leão supera o leopardo em força e ousadia.

E aqueles que o ouviam disseram: Já que virá tal cavaleiro, deves usar tuas artes para fazer uma cadeira na qual não se sente nenhum outro homem a não ser aquele que há de sobrepujar todos os demais cavaleiros. E Merlin respondeu que assim o faria. Por isso, fez a Cadeira Perigosa, na qual Sir Galahad (filho de Lancelote) se sentou para cear no último domingo de Pentecostes.”

 

 

“Um filho não deve carregar os pecados do pai, nem o pai os pecados do filho, pois cada qual tem que levar sua própria carga.”

 

 

Quando viram a quantidade de gente que tinham matado, consideraram-se grandes pecadores. Em verdade, observou Bors, creio que, se Deus os amasse, não teríamos conseguido matá-los assim. Esses homens tanto fizeram contra Nosso Senhor que Ele não quis permitir que continuassem a reinar. Não digais isso, retrucou Galahad, pois, se agiram contra Deus, a vingança não é nossa, mas Daquele que tem poder para tanto.”

 

 

Como diz o velho refrão, é dura a batalha em que parentes e amigos se enfrentam uns aos outros, pois aí não pode haver compaixão, apenas guerra mortal.”

 

 

“Senhora, não quero ser obrigado a amar, já que o amor deve nascer do coração e não por qualquer forma de imposição. Isso é verdade, observou o rei. E o amor de muitos cavaleiros é livre em si mesmo e nunca estará vinculado ao que quer que seja, pois ali onde o amor é amarrado ele próprio consegue se desatar.”

 

 

“Passaram-se, assim, a festa da Candelária e a Páscoa. Em seguida, chegou o mês de maio, quando todos os corações vigorosos começam a florescer e a frutificar, pois, assim como as plantas e as árvores frutificam e florescem em maio, assim também o coração vigoroso, que ama de alguma forma, desabrocha e floresce em atos amorosos. Esse alegre mês de maio, mais do que qualquer outro, traz alento para todos os amantes, levando-os a se esforçar em algum sentido e por diversas causas. Nessa ocasião, as plantas e as árvores renovam o homem e a mulher, e, do mesmo modo, os amantes voltam a se lembrar de antigas doçuras, de antigas delicadezas e de muitos atos afáveis esquecidos por displicência. Pois, assim como o desvanecimento do inverno apaga e desfigura o verde verão, assim também age o amor inconstante no homem e na mulher, porque, em muitas pessoas, a constância inexiste. Vemos, diariamente, como, por um pequeno sopro desse desvanecimento do inverno, logo apagamos e afastamos o verdadeiro amor, tão valioso, por pouca coisa ou por nada. Isso não é sabedoria nem constância, mas sim fraqueza de natureza e grande desonra para quem quer que tenha semelhante atitude. Portanto, assim como o mês de maio germina e floresce em muitos jardins, do mesmo modo também ele faz florescer o coração de cada homem de mérito neste mundo, primeiro para Deus, depois para a felicidade daqueles a quem prometeu sua fé, pois nunca houve homem nem mulher de mérito que não amasse alguém mais que a todos os outros; a honra em armas jamais pode ser menosprezada, mas, em primeiro lugar, vem a honra a Deus e, em segundo, vossa dama, e, a esse amor, chamo de amor virtuoso.

Hoje em dia, porém, os homens não podem amar por sete noites seguidas, pois devem alcançar todos os seus desejos. Tal amor não tem condições de durar, pois, mal se encontram juntos e ardentes, o calor esfria. É assim que o amor se apresenta nos dias de hoje: logo se inflama e logo esfria. Isso não é constância. Mas o amor de outrora era diferente: os homens e as mulheres podiam amar-se por sete anos sem que houvesse entre eles nenhum prazer voluptuoso. Esse era o amor verdadeiro e sincero, e sabei que o amor nos tempos do Rei Arthur era dessa mesma natureza. É por esta razão que comparo o amor de hoje ao verão e ao inverno, pois um deles é quente e o outro, frio, exatamente como acontece com o amor em nossos dias. Assim, pois, todos vós que amais deveis lembrar do mês de maio, como fez a Rainha Guinevere, que menciono apenas brevemente: enquanto viveu, foi amante verdadeira e, por isso, teve um bom fim.”

 

 

“Feliz é aquele que tem um amigo fiel.”

 

 

“Para mim, o despeito é injúria maior do que qualquer dano.”

 

 

“Ai, este é o maior defeito que nós, os ingleses, possuímos: nada nos satisfaz, nem mesmo por um curto espaço de tempo.”

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