Editora: InterSaberes
ISBN: 978-85-5972-454-7
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 270
Sinopse: O que é
a filosofia? Qual é a natureza do pensamento filosófico? Quais são as
principais áreas que compõem essa ciência? Quais são os filósofos de maior
destaque e quais argumentos estes desenvolveram? Essas são apenas algumas das
muitas perguntas que costumam surgir quando damos nossos primeiros passos no
estudo dessa rica área do saber. Na obra que você tem mãos, os conceitos e as
ideias mais fundamentais da filosofia foram organizados de forma a lhe ajudar a
desenvolver criticidade em relação à realidade humana. Siga conosco nestas
páginas e descubra o vasto universo do pensar!
“Para ajudar a compreender um conceito de
ciência, recorreremos a Lakatos e Marconi (2003, p. 80)*, que afirmam que
ciência é “uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições
logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se
deseja estudar”.”
*: A autora citou, mas não referenciou a obra.
“Sócrates constata que todo conhecimento
possível parte do indivíduo, ou seja, é parte do ser. Desse modo, cada pessoa
pode apenas conhecer aquilo que em si já sabe. Assim, fazendo uma reflexão
sobre o “conhece-te a ti mesmo”, é possível concluir que a atitude de conhecer
é a prática de voltar o olhar sobre si mesmo, atividade que se dá única e
exclusivamente através do uso da razão.
É aí que entra o trabalho da parteira, pois,
segundo Sócrates, o ato de conhecer ou de pensar é semelhante a um parto. Não
físico, mas racional.
Sócrates desenvolveu uma forma de ajudar os
jovens em sua formação, auxiliando-os na descoberta dos próprios conhecimentos
e conduzindo-os ao “conhece-te a ti mesmo”. Essa forma, que o próprio pensador
chamava de maiêutica, que significa
“parto” em grego, consistia em uma espécie de interrogatório em que, com muita
habilidade, o filósofo induzia as pessoas a exporem seus pensamentos sobre os
mais diversos assuntos. Em seguida, com um trabalho de reflexão e inquisição
intelectual, Sócrates questionava ou contrapunha as opiniões oferecidas de
forma implacável, sempre possibilitando ao interlocutor a autorreflexão. Por
esse motivo, pode-se afirmar que o método socrático é dialético, ou seja,
fundamenta-se em um conhecimento que, embora seja inerente ao próprio sujeito que
conhece, se desenvolve pela possibilidade de ser reflexivo (Reale; Antiseri, História
da filosofia: Antiguidade e Idade Média, 1990). Por meio da maiêutica,
Sócrates chegou a outro elemento peculiar do ato de filosofar: a ironia.
Vimos que pela maiêutica Sócrates estimulava as
pessoas não só a refletir mas também a falar, a expor as suas ideias. (...)
No entanto, como Sócrates queria extrair
sempre mais conhecimento, acreditando que cada pessoa teria mais dentro de si,
Sócrates lançava um novo questionamento, justamente no momento em que o
interlocutor acreditava que sabia tudo, que havia chegado a uma conclusão. A
pessoa partia do zero, novamente não sabia de nada, de novo teria que supor,
indagar-se até uma nova conclusão, que possivelmente seria também derrubada com
um novo argumento socrático.”
“Na história da humanidade e, mais
precisamente, na história da filosofia, é possível observar que os filósofos
sempre foram contestadores e ao mesmo tempo instigadores. Sempre contestaram o
senso comum, o óbvio, as maiorias. Por meio dessa contestação, sempre
instigaram a reflexão, a crítica e o questionamento de verdades, muitas vezes
impostas, consideradas incontestáveis.
Imbuídos dessa postura contestadora, o
filósofo acaba por se tornar indesejado para a sociedade, pois chama a atenção
para as ideologias, para a estrutura social que envolve a política, a economia,
a cultura, a educação, dentre outros elementos sociais.
O debate proposto pelos filósofos tende a
“desmascarar” essas estruturas que são construídas, na maioria das vezes, por
discursos que pressupõem uma dominação social e ideológica. Nesse sentido, o
filósofo propõe uma nova visão sobre aquilo que está sendo debatido ou, ao
menos, observado por ele.
Ainda que muitos não reconheçam, ser filósofo
é criar novas concepções e diretrizes de pensamento, como um guia que direciona
o olhar do outro para a reflexão e contém ideias pioneiras que despertam o
indivíduo, um grupo ou a sociedade para um outro olhar – um olhar mais crítico,
profundo, tenaz e contumaz sobre as coisas materiais, espirituais, sociais e
científicas que se inter-relacionam na composição e atuação do ser humano como
sujeito em si e cidadão.
Não há exagero em considerar que é dever do
filósofo estar atento a todo movimento do sujeito, da sociedade (com todos os
seus elementos) e da ciência, bem como ensinar as pessoas a serem críticas, a
refletirem sobre esses movimentos. O filósofo tem o dever de conduzir os seres
humanos do senso comum a uma consciência crítica que perpassa as questões
práticas do dia a dia, como o consumo, o trabalho, as relações, até temas como
política e ideologias.
Em uma sociedade como a nossa, que apresenta
inúmeras injustiças sociais, com uma política consumida pela corrupção, com uma
mídia que favorece a alienação e transforma a população em massa de manobra a
serviço daqueles que estão no poder, com um dinamismo econômico e social que
reduz o trabalhador à sua função e a um consumo voraz, é fundamental que o
filósofo se faça cada vez mais presente.
Ressaltamos que a ausência do pensamento
crítico dos indivíduos colabora para a deterioração da sociedade, uma vez que
ideologias dominantes exercem seu poder sobre o povo. O filósofo não pode ser
ignorado. Precisa ser visto como profissional capaz de construir a crítica do
homem na sociedade, de conduzir o homem a seu próprio pensamento crítico.
Uma vez mais reafirmamos: o filósofo não
renuncia ao pensamento crítico e, ao não fazê-lo hoje em nossa sociedade,
possibilita àqueles que o observam, que o escutam e, principalmente, que
aprendem com ele a traçar seu próprio horizonte reflexivo.”
“Os métodos científicos e as perguntas em
torno deles passaram a ser objetos de estudo da filosofia da ciência. Embora
haja várias ciências e vários métodos, a estrutura lógica do método científico
apresenta algumas etapas comuns, conforme apontam Lakatos e Marconi (1991)*: a
colocação do problema (questão levantada que o conhecimento disponível ainda
não responde); a formulação de hipótese (solução ou um conjunto de soluções que
possam servir como respostas a serem testadas para solucionar o problema);
testes (conjunto de testes que avaliarão as hipóteses); conclusão (resultados
sobre os testes aplicados que comprovarão a resolução do problema, ou até mesmo
a criação de alguma teoria).”
*: A autora citou, mas também não referenciou
a obra.
“Outro filósofo contemporâneo que traz novos
elementos para a discussão da ética é Gilles Lipovetski (A sociedade pós-moralista,
2005). Analisando a nossa sociedade atual, o filósofo francês afirma que os
valores de hoje mudaram, o que fez mudar a moral. Na contemporaneidade, que
Lipovetski chama de pós-modernidade,
o bem passou a ter a ideia de bem-estar, quando não um bem-estar social. O
homem ético não tem mais o dever moral diante da sociedade como tinha na
Modernidade, muito menos o dever religioso que tinha no período medieval. Na
pós-modernidade, seu dever é para com o seu bem-estar. O individualismo, o
consumo, o apelo da mídia, o narcisismo são elementos que Lipovetski (2005, p.
127) traz para sua discussão:
No momento em que impera o culto do ego é que os valores
da tolerância triunfam; no momento em que perece a escola do dever, o ideal do
respeito aos outros atinge sua consagração suprema. A consciência
individualista é uma mescla de indiferença e repugnância pela violência, de
relativismo e universalismo, de incerteza e imposição absoluta dos direitos do
homem, de abertura às diferenças “dignas de consideração” e recusa às
diferenças “inadmissíveis”.
O sujeito ético da pós-modernidade é individualista
no sentido de que é guiado por suas próprias escolhas. Não mais se guia pelo
dever, mas por um querer, por isso a busca pelos seus direitos, por isso a
indiferença e indignação ou não a essa ou aquela situação.
Esse novo cenário é estimulado pela mídia
que, segundo Lipovetski (2005, p. 110), também exerce um papel ético:
Agora, os “empresários da moral” não são apenas as
associações caritativas e humanitárias, mas também as redes de TV e os astros
da mídia. Quanto mais se depaupera a religião do dever, mais consumimos
generosidade; quanto mais os valores individuais ganham terreno, mais proliferam
e alcançam recordes de audiência as encenações midiáticas das boas causas.”
“Na tradição do conhecimento filosófico,
chamamos de estética o campo que
estuda a natureza do belo e suas manifestações na arte. O fundamental em uma
reflexão estética é o entendimento sobre a valoração humana no que diz respeito
às suas experiências sensoriais e à produção de sentimentos gerados pela
percepção de fenômenos estéticos naturais ou criados pelo ser humano como a
arte e, consequentemente, o próprio conceito de arte. (...)
O que é o belo? A beleza e a feiura estão nos
objetos do mundo ou são apenas julgamentos feitos por sujeitos exteriores a
eles? É possível uma apreciação estética do feio? Por que as pessoas gostam da
representação de coisas desagradáveis, como peças trágicas ou filmes de
violência e terror? Esse tipo de discussão acaba sendo central na estética e na
filosofia da arte, desde a filosofia clássica até a contemporânea.
4.2.1 Estética e filosofia clássica
A preocupação com uma noção verdadeira da
beleza remonta aos pensadores clássicos da Grécia Antiga, inicialmente com
Sócrates, que entendia o belo como intimamente relacionado à utilidade do
objeto em questão. Para o filósofo grego, o objeto em questão deve ser útil e
ter uma boa funcionalidade para aquilo que foi construído: o que é útil é belo,
e o que é belo é útil. Essa noção socrática do belo é perceptível em diálogos
como Hípias maior (1980), na obra A
República, de Platão, em que o discípulo de Sócrates afirma que seria
feio um olho que não pudesse enxergar ou um corpo humano incapaz de desempenhar
atividades físicas (Platão, 1980). A mesma discussão pode ser observada no
texto Ditos
e feitos memoráveis de Sócrates, escrito por Xenofonte, em que Sócrates
afirma que um cesto de lixo pode ser belo, enquanto um escudo de ouro pode ser
feio. Se o cesto de lixo é adequado para cumprir sua função, é belo, e se o
escudo de ouro se apresenta pesado demais para cumprir a sua função, seria feio
(Sócrates,
1987).
Enquanto para Sócrates um objeto belo é
aquele que desempenha adequadamente sua função, para seu discípulo Platão, a
noção de belo se torna um tanto diferente. Para Platão, o belo passa a ser uma
característica não acessível pelos sentidos, mas passível de ser apreendida de
forma sensível, entretanto, apenas possível de ser compreendida pela intelecção
(Nougué, O belo e a arte segundo Platão, 2013). O belo só pode ser em si
no mundo das ideias, como o justo, o verdadeiro e o bem.
Em sua obra A República, Platão critica os artistas (pintores, escultures,
poetas e atores) por acreditar que esses indivíduos, sendo miméticos (mimesis em grego, ou “imitação”), faziam
cópias imperfeitas das coisas, inferiores em sua verdade. Se o nosso mundo
sensível já é imperfeito e os objetos menos verdadeiros que no mundo das
ideias, as obras de arte seriam então menos verdadeiras ainda.
O belo não pode ser criado, pois existe por
si mesmo no mundo das ideias, e a obra de arte é apenas imitação. Para Platão,
os artistas, além de serem reprodutores de cópias imperfeitas, eram criadores
de obras que mexem com as sensações e as emoções do homem, confundindo então
sua capacidade intelectiva e racional (Nougué, 2013).
Aristóteles concorda que a obra de arte é uma
cópia, que é mimética que produz efeitos. Porém, o estagirita discorda do papel
da arte para a polis (cidade) conferido por Platão, acredita no efeito positivo
da poesia, do teatro, das artes plásticas e de outras formas de representação
(Nougué, 2013).
Aristóteles distingue dois tipos de arte: as
que imitam a natureza (mas que podem abordar o que é impossível) e as que têm
utilidade prática. Aristóteles trouxe uma noção importante para a estética: de
que não apenas o belo e o alegre podem ter um valor artístico, mas também o
feio e o triste. Por isso, o filósofo afirma que, ao assistir peças trágicas,
como Édipo
Rei*, as pessoas gostam e se entretêm com obras dessa natureza porque
causam uma sensação de terror ligada a uma sensação de piedade e, ao fim da
peça, uma limpeza, um alívio de tensões. Isso é o que ele chama de catarse (em grego katharsis, que significa “purificação”) (Aristóteles, Poética,
2008).”
* Peça clássica de Sófocles que retrata a história de um
homem que acaba por matar seu pai, se casar com uma mulher sem saber que ela é
a sua mãe. Ao descobrir, esses eventos, arranca os próprios olhos.
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