sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Bíblia Sagrada – O Evangelho Segundo São Lucas

Editora: Paulus

ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém (BJ) – 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) – 978-85-349-0228-1

Tradução, introdução e notas (BPa): Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin

Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini

Notas (BPe): Luís Alonso Schökel

Opinião: N/A

Páginas: BPe – 94 / BJ – 48 / BPa – 41

Sinopse: Ver aqui

 


“Maria disse:

Minha alma proclama a grandeza do Senhor,

meu espírito festeja a Deus, meu salvador,

porque olhou a humildade de sua escrava

e daqui para a frente me felicitarão todas as gerações.

Porque o Poderoso fez proezas,

seu nome é sagrado.

Sua misericórdia com seus fiéis

continua de geração em geração.

Seu poder é exercido com seu braço:

dispersa os soberbos em seus planos:

derruba do trono os potentados

e exalta os humildes:

cumula de bens os famintos

e despede vazios os ricos.

Socorre Israel seu servo,

recordando a lealdade,

prometida a nossos antepassados,

em favor de Abraão e sua descendência para sempre.”

(Lc 1,46-55 – BPe)

1: Maria dirige o louvor para Deus, que fez tudo, ao passo que ela deixou fazer. Na passagem prodigiosa da virgindade à maternidade ela descobre o estilo e o esquema da ação renovadora de Deus, manifestada também na esfera política e na econômica (1Sm 2,4-8; SI 113,6-9): não para mudar os lugares, deixando as coisas como estão, mas sim no espírito messiânico das bem-aventuranças (felicidades, venturas). A ela felicitarão (Gn 30,13; Ct 6,9) todos os que reconhecerem esses valores. Ela é a “serva” que representa Israel, “servo” desvalido e socorrido por Deus (e também a igreja das bem-aventuranças). O hino é de puro estilo bíblico, cheio de citações e reminiscências do AT (...). (BPe)

2: (...) O cântico de Maria inspira-se no cântico de Ana (1 Sm 2,10) e em muitas outras passagens do AT. Além das principais semelhanças literárias, sublinhadas nas referências marginais, notem-se os dois grandes temas: 1. pobres e pequenos são socorridos, em detrimento de ricos e poderosos (Sf 2,3+; cf. Mt 5,3+); 2. Israel, objeto da graça de Deus (cf. Dt 7,6+ etc.), desde a promessa feita a Abraão (Gn 15,1+; 17,1+). Lc deve ter encontrado esse cântico no ambiente dos “pobres”, onde era talvez atribuído à Filha de Sião; julgou conveniente pô-lo nos lábios de Maria, inserindo-o em sua narrativa, que é em prosa. (BJ)

 

 

“Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. Ele ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam. Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. Conforme seu costume, no sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor.” Em seguida Jesus fechou o livro, o entregou na mão do ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Então Jesus começou a dizer-lhes:

– Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir.”

(Lc 4,14-21 – BPe)

 

 

“Certo dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré. A multidão se apertava ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado, e lavavam as redes. Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem1. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão:

– Avance para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca.

Simão respondeu:

– Mestre, tentamos a noite inteira, e não pescamos nada. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes.

Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes, que as redes se arrebentavam. Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que fossem ajudá-los. Eles foram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. Ao ver isso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo:

– Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!2

É que o espanto tinha tomado conta de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Mas Jesus disse a Simão:

– Não tenha medo! De hoje em diante você será pescador de homens.3

Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo, e seguiram a Jesus.”

(Lc 5,1-114 – BPa)

1: O primeiro chamado tem como cenário as multidões; no entanto, Jesus se afasta para expor-lhes “a palavra de Deus”, fórmula que a liturgia popularizou e que designa a mensagem evangélica. As duas posturas de Jesus definem sua atitude: de pé, comprimido pelo povo, ensinando sentado. Em seguida, sobre o fundo realista de pescadores em ação, toma forma o relato teológico do chamado, claramente concentrado na pessoa de Pedro. (BPe)

2: Mais importante, Pedro tem de descobrir sua condição pecadora revelada pela presença e atuação de Jesus, o Santo, e como pano de fundo do chamado: de modo semelhante a Isaías, “eu, homem de lábios impuros” (Is 6,5); como o salmista: “Puseste nossas culpas diante de ti, nossos segredos à luz do teu olhar” (Sl 90,8). Como pecador, sente que Jesus de deve afastar-se do seu contato; mas o chamado pede mais, como que uma reconciliação. (BPe)

3: Pescar é imagem de apostolado, como será depois o pastoreio; o pescador vive em mais contato com a natureza, está mais exposto ao acaso dos elementos e à sorte do trabalho. A abundância da pesca pode simbolizar para a comunidade a expansão da Igreja. Simão é o primeiro; quando “cai aos pés” de Jesus, já tem o nome oficial de Simão Pedro. Ao final da cena se acrescentam os dois irmãos que formarão o trio dos íntimos. Ao chamado respondem com o seguimento imediato e incondicional. (BPe)

4: Cf. Mt 4,18-22, Mc 1,16-20 e Jo 1,35-42.

 

 

“Levantando os olhos para os discípulos, Jesus disse:

– Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence.

Felizes de vocês que agora têm fome, porque serão saciados. Felizes de vocês que agora choram, porque hão de rir.

Felizes de vocês se os homens os odeiam, se os expulsam, os insultam e amaldiçoam o nome de vocês, por causa do Filho do Homem. Alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas.

Mas, ai de vocês, os ricos, porque já têm a sua consolação!

Ai de vocês, que agora têm fartura, porque vão passar fome! Ai de vocês, que agora riem, porque vão ficar aflitos e irão chorar!

Ai de vocês, se todos os elogiam, porque era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas.1

Mas, eu digo a vocês que me escutam: amem os seus inimigos, e façam o bem aos que odeiam vocês. Desejem o bem aos que os amaldiçoam, e rezem por aqueles que caluniam vocês. Se alguém lhe dá um tapa numa face, ofereça também a outra; se alguém lhe toma o manto, deixe que leve também a túnica. Dê a quem lhe pede e, se alguém tira o que é de você, não peça que devolva. O que vocês desejam que os outros lhes façam, também vocês devem fazer a eles2. Se vocês amam somente aqueles que os amam, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam.

Se vocês fazem o bem somente aos que lhes fazem o bem, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores fazem assim. E se vocês emprestam somente para aqueles de quem esperam receber, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. Ao contrário, amem os inimigos, façam o bem e emprestem, sem esperar coisa alguma em troca3. Então, a recompensa de vocês será grande, e vocês serão filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e maus. Sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso.”4

Não julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condenados; perdoem, e serão perdoados5. Deem, e será dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante. Porque a mesma medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês.

Jesus contou uma parábola aos discípulos:

– Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? Nenhum discípulo é maior do que o mestre; e todo discípulo bem formado será como o seu mestre. Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção na trave que há no seu próprio olho? Como é que você pode dizer ao seu irmão: ‘Irmão, deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando você não vê a trave no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu próprio olho, e então você enxergará bem, para tirar o cisco do olho do seu irmão.6

Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons; porque toda árvore é conhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem se apanham uvas de plantas espinhosas. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, mas o homem mau tira do seu mal coisas más, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio.7

Por que vocês me chamam: ‘Senhor! Senhor!’, e não fazem o que eu digo? Vou mostrar a vocês com quem se parece todo aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática. É semelhante a um homem que construiu uma casa: cavou fundo e colocou o alicerce sobre a rocha. Veio a enchente, a enxurrada bateu contra a casa, mas não conseguiu derrubá-la, porque estava bem construída. Aquele que ouve e não põe em prática, é semelhante a um homem que construiu uma casa sobre a terra, sem alicerce. A enxurrada bateu contra a casa, e ela imediatamente desabou; e foi grande a ruína dessa casa.”

(Lc 6,20-498 – BPa)

1: O povo vem de todas as partes ao encontro de Jesus, porque a ação dele faz nascer a esperança de uma sociedade nova, libertada da alienação e dos males que afligem os homens. Os vv. 20-26 proclamam o cerne de toda a atividade de Jesus: produzir uma sociedade justa e fraterna, aberta para a novidade de Deus. Para isso, é preciso libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Isso, porém, só se alcança denunciando aqueles que geram a pobreza e a opressão e depondo-os dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza. (BPa)

2: Se alguém procura instintivamente o próprio bem, pense que também os outros o procuram. Se duvida como tratar o próximo, consulte seus próprios desejos. Não somente tratar como o tratam, mas como desejaria que o tratassem. Para tanto promove a iniciativa de fazer o bem. Pôr-se na situação do outro, adivinhar seus desejos, sentindo os próprios. Em outro contexto, Ben Sirac aconselha: “Pensa que teu vizinho é como tu” (Eclo 31,16). Como seria uma sociedade regida por esse princípio? (BPe)

3: Repete três normas: amar, fazer o bem, emprestar. Três coisas que os homens honestos praticam, só que em limites estreitos e pensando no interesse. O que Jesus propõe é superior porque derruba os limites da reciprocidade e o motor do interesse. (BPe)

4: A vida em sociedade é feita de relacionamentos de interesses e reciprocidade, que geram lucro, poder e prestígio. O Evangelho revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai. (BPa)

5: Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar. (BPa)

6: Outra vinheta feliz, hiperbólica, que nos legou as expressões “o cisco e a trave”. Quem corrige os outros que se corrija. A trave é como uma cegueira para os próprios defeitos. Atenção aos censores que se creem exemplares. (BPe)

7: Assim como as árvores são conhecidas pelos frutos, do mesmo modo os homens são conhecidos pelos seus atos. (BPa)

8: Cf. Mt 5,1-12

 


“Naquela ocasião, com o júbilo do Espírito Santo, Jesus disse:

– Dou-te graças, Pai, Senhor do céu e da terra! Porque, ocultando essas coisas aos entendidos, tu as revelaste aos ignorantes. Sim, Pai, essa foi a tua escolha. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai, e quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho decida revelá-lo.

Voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular:

– Felizes os olhos que veem o que vedes! Eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes, e não viram, escutar o que vós escutais, e não escutaram.

Nisso um jurista se levantou e, para pô-lo à prova, lhe perguntou:

– Mestre, que devo fazer para herdar vida eterna?

Respondeu-lhe:

O que está escrito na Lei? O que é que lês?

Replicou:

– Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, com toda a alma, com toda a força, com toda a mente e ao próximo como a ti mesmo.

Respondeu-lhe:

– Respondeste corretamente: faze isso e viverás.

Ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus:

– E quem é meu próximo?

Jesus lhe respondeu:

– Um homem descia de Jerusalém para Jericó. Deu de cara com assaltantes que lhe tiraram a roupa, o cobriram de golpes e foram embora deixando-o semimorto. Coincidiu que descia por esse caminho um sacerdote e, ao vê-lo, passou longe. O mesmo fez um levita: chegou ao lugar, viu-o e passou longe. Um samaritano que ia de viagem, chegou onde estava, viu-o e se compadeceu. Pôs azeite e vinho nas feridas e as atou. A seguir, montando-o em sua cavalgadura, o conduziu a uma pousada e cuidou dele. No dia seguinte, tirou dois denários, deu-os ao dono da pousada e lhe recomendou: Cuida dele, e o que gastares eu te pagarei na volta. Qual dos três te parece que se portou como próximo daquele que deu de cara com os assaltantes

Respondeu:

– Aquele que o tratou com misericórdia.

E Jesus lhe disse:

– Vai e faze tu o mesmo.”1

(Lc 10,21-372 – BPe)

1: O primeiro a colocar obstáculos no caminho de Jesus é um teólogo. Este sabe que o amor total a Deus e ao próximo é que leva à vida. Mas, não basta saber. É preciso amar concretamente. A parábola do samaritano mostra que o próximo é quem se aproxima do outro para lhe dar uma resposta às necessidades. Nessa tarefa prática, o amor não leva em conta barreiras de raça, religião, nação ou classe social. O próximo é aquele que eu encontro no meu caminho. O legista estabelecia limites para o amor: “Quem é o meu próximo?” Jesus muda a pergunta: “O que você faz para se tornar próximo do outro?” (BPa)

2: Cf. Mt 11,25-27; 13,16-17.

 

 

“Quando dizia isso, uma mulher da multidão levantou a voz e disse:

– Feliz o ventre que te carregou e os peitos que te amamentaram!

Jesus replicou:

– Felizes, antes, os que excutam a palavra de Deus e a cumprem.”

(Lc 11,27-28 – BPe)

 

 

“Depois Jesus falou a todos:

– Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens.

E contou-lhes uma parábola:

– A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!’ Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus.”

(Lc 12,15-34 – BPa)

 


“Então Jesus falou aos seus discípulos:

– Por isso eu lhes digo: não fiquem preocupados com a vida, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir. Pois a vida vale mais do que a comida, e o corpo mais do que a roupa. Observem os corvos: eles não semeiam, nem colhem, não possuem celeiros ou armazéns. E, no entanto, Deus os alimenta. Vocês valem muito mais do que as aves. Quem de vocês pode crescer um centímetro à custa de se preocupar com isso? Portanto, se vocês não podem nem sequer fazer a menor coisa, por que se inquietam com o resto? Observem como os lírios crescem: eles não fiam, nem tecem. Porém, eu digo a vocês que nem mesmo o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, quanto mais ele fará por vocês, gente de pouca fé! Quanto a vocês, não fiquem procurando o que vão comer e o que vão beber. Não fiquem inquietos. Porque são os pagãos deste mundo que procuram tudo isso. O Pai bem sabe que vocês têm necessidade dessas coisas. Portanto, busquem o Reino dele, e Deus dará a vocês essas coisas em acréscimo. Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino. Vendam os seus bens e deem o dinheiro em esmola. Façam bolsas que não envelhecem, um tesouro que não perde o seu valor no céu: lá o ladrão não chega, nem a traça rói. De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração.”1

(Lc 12,22-34)

1: A aquisição de bens necessários para viver se torna ansiedade contínua e pesada, se não é precedida pela busca do Reino, isto é, a promoção de relações de partilha e fraternidade. (BPa)

 

 

“Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar. Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo: “Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!”

Então Jesus contou-lhes esta parábola:

– Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, com muita alegria a coloca nos ombros. Chegando em casa, reúne amigos e vizinhos, para dizer: ‘Alegrem-se comigo! Eu encontrei a minha ovelha que estava perdida’. E eu lhes declaro: assim, haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão.”1

Se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, será que não acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente, até encontrar a moeda? Quando a encontra, reúne amigas e vizinhas, para dizer: ‘Alegrem-se comigo! Eu encontrei a moeda que tinha perdido’. E eu lhes declaro: os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um só pecador que se converte.”2

(Lc 15,1-103 – BPa)

1: A primeira toma a imagem de uma atividade muito sensível na tradição bíblica: compare-se a figura do rei pastor que vai à luta para resgatar uma ovelha (1Sm 17,34-36) e a grande exposição de Ezequiel (em particular Ez 34,11-16). As noventa e nove ficam em lugar seguro. Leva a ovelha nos ombros (como em Is 40,11). É um por centro da sua propriedade; no entanto, alegra-se com uma alegria comunicativa e incontida, como se tivesse com a ovelha uma relação pessoal e não simplesmente econômica (cf. 2Sm 12,1-4). É a alegria que sobe até o céu. A frase é audaz: no céu se festeja o acontecimento. (BPe)

2: O segundo caso parece mais modesto à primeira vista. Mas a mulher é mais pobre e perdeu um décimo de seus bens. Proporcionalmente a alegria é a mesma e só em parte a aplicação: não se fala de alegria comparativa. Contudo, a alegria acusa um sofrimento precedente: a perda dói. Um pecador convertido é algo valioso que os anjos de Deus recuperam. (BPe)

3: Cf. Mt 18,12-14.

 

 

“– Ninguém pode servir a dois senhores: com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.”

(Lc 16,13 – BJ)

 

 

“Havia um homem rico que vestia púrpura e linho e banqueteava esplendidamente cada dia. E havia um pobre, chamado Lázaro, coberto de chagas, e deitado à porta do rico. Queria saciar-se com o que caía da mesa do rico. Até os cães iam lamber-lhe as chagas.

O pobre morreu e os anjos o levaram para junto de Abraão. O rico também morreu e o sepultaram. Estando no Hades, em meio a tormentos, levantou os olhos e avistou Abraão com Lázaro a seu lado. Chamou-o e lhe disse: Pai Abraão, tem piedade de mim, e envia Lázaro, para que molhe a ponta do dedo na água e me refresque a língua, pois estas chamas me torturam1. Abraão respondeu: Filho, recorda que em vida recebeste bens, e Lázaro, por sua vez, desgraças. Agora ele é consolado, e tu, atormentado2. Além disso, entre vós e nós há um abismo imenso; de modo que, ainda que se queira, não é possível atravessar daqui até vós, nem passar daí até nós. O rico insistiu: Então, por favor, manda-o à casa de meu pai, onde tenho cinco irmãos, para que os admoeste a fim de que não venham também eles parar neste lugar de tormento. Abraão lhe disse: Eles têm Moisés e os profetas: que os escutem. O rico insistiu: Não, pai Abraão; se um morto os visita, eles se arrependerão. Mas Abraão lhe disse: Se não escutam Moisés nem os profetas, mesmo que um morto ressuscite, não lhe farão caso.3

(Lc 16,19-31 – BPe / BJ)

1: O fogo como tormento não é tradicional. E o elemento divino, o Inacessível, em Is 33,14, o aniquilador em SI 68,3. (BPe)

2: A resposta de Abraão desmente uma teoria da retribuição nesta vida. Pobreza e riqueza estão em correlação. A riqueza de um, desfrutada com egoísmo, provocou e conservou a pobreza do outro. As vítimas inocentes que choram “serão consoladas”. (BPe)

3: A frase se abre para sugerir a ressurreição de Jesus e a resistência dos incrédulos. (BPe)

 

 

“Jesus contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros.

– Dois homens subiram ao Templo para rezar; um era fariseu, o outro era cobrador de impostos. O fariseu, de pé, rezava assim no seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, que são ladrões, desonestos, adúlteros, nem como esse cobrador de impostos. Eu faço jejum duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’. O cobrador de impostos ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ Eu declaro a vocês: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva, será humilhado, e quem se humilha, será elevado.”

(Lc 18,9-14 – BPa / BJ)

 

 

“Entre os apóstolos houve também uma discussão sobre qual deles deveria ser considerado o maior. Jesus, porém, disse:

– Os reis das nações têm poder sobre elas, e os que sobre elas exercem autoridade, são chamados benfeitores. Mas entre vocês não deverá ser assim. Pelo contrário, o maior entre vocês seja como o mais novo; e quem governa, seja como aquele que serve. Afinal, quem é o maior: aquele que está sentado à mesa, ou aquele que está servindo? Não é aquele que está sentado à mesa? Eu, porém, estou no meio de vocês como quem está servindo. Vocês ficaram comigo em minhas provações. Por isso, assim como o meu Pai confiou o Reino a mim, eu também confio o Reino a vocês. E vocês hão de comer e beber à minha mesa no meu Reino, e sentar-se em tronos para julgar as doze tribos de Israel.1

(Lc 22,24-302 – BPa)

1: O primeiro salmo recitado do Hallel canta Deus. “encimado” que “se abaixa” e “levanta do pó o desvalido... para sentá-lo com os nobres” – entendendo-se sentar-se em posto de autoridade (SI 113,5-7). O que se canta vale para os discípulos? – Sim, mas não como eles imaginam, mas pelo caminho contrário. Como Davi recebeu do Senhor, Jesus recebeu do Pai, numa espécie de pacto, a autoridade real (Is 55,3; SI 89,4.29.35). Logo vai reparti-la com os apóstolos, só que num estilo novo, fundado em seu exemplo. Não fundado no poder, como os reinos humanos, mas no serviço. Numa espécie de corpo colegial, de doze tronos ou escanos, vão governar o novo Israel, fraterno e diferenciado. (BPe)

2: Cf. Mt 20,24-28 e Mc 10,41-45.

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