Editora: Paulus
ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém
(BJ) – 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) – 978-85-349-0228-1
Tradução,
introdução e notas (BPa):
Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin
Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini
Notas (BPe): Luís Alonso Schökel
Opinião: N/A
Páginas: BPe – 77 / BJ – 73 / BPa – 47
Sinopse: Ver aqui
“Jesus viu as multidões, subiu à montanha e
sentou-se. Os discípulos se aproximaram, e Jesus começou a ensiná-los:
Felizes os pobres em espírito,
porque deles é o Reino do Céu.
Felizes os afligidos,
porque serão consolados.
Felizes os despossuídos,
porque herdarão a terra.
Felizes os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
Felizes os que são misericordiosos,
porque encontrarão misericórdia.
Felizes os puros de coração,
porque verão a Deus.
Felizes os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os que são perseguidos por causa da
justiça,
porque deles é o Reino do Céu.
Felizes vocês, se forem insultados e
perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim.
Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu.
Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês.”
(Mt 5,1-121 – BPa / BPe).
1: Cf. Lc 6,20-23.
“Pois eu vos digo: amem os seus inimigos, e
rezem por aqueles que perseguem vocês! Assim vocês se tornarão filhos do Pai
que está no céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair
sobre justos e injustos. Pois, se vocês amam somente aqueles que os amam, que
recompensa vocês merecerão? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa?
E se vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de
extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sejam perfeitos
como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.”
(Mt 5,44-48 – BPa/BPe)
“Quando vocês rezarem, não sejam como os
hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem
vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam sua recompensa. Ao
contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu
Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você1.
Quando vocês rezarem, não usem muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles
pensam que serão ouvidos por causa do seu palavreado. Não sejam como eles, pois
o Pai de vocês sabe do que é que vocês precisam, ainda antes que vocês façam o
pedido. Vocês devem rezar assim:
Pai nosso, que estás no céu, santificado seja
o teu nome; venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu. Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como
nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação2,
mas livra-nos do mal.
De fato, se vocês perdoarem aos homens os
males que eles fizeram, o Pai de vocês que está no céu também perdoará a vocês.
Mas, se vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também não perdoará os
males que vocês tiverem feito.”
(Mt 6,5-15 – BPa / BJ)
1: Na oração, o homem se volta para Deus,
reconhecendo-o como único absoluto, e reconhecendo a si mesmo como criatura,
relativizando a autossuficiência. Por isso, rezar para ser elogiado é
colocar-se como centro, falsificando a oração. (BPa)
2: Cf. Lc 11,2-4.
“Não acumulem riquezas aqui na terra, onde a
traça e a ferrugem corroem, onde os ladrões assaltam e roubam. Acumulem riquezas
no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não arrombam
nem roubam. De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração.
Ninguém pode servir a dois senhores1. Porque, ou odiará a um e amará
o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus
e ao Dinheiro2.”
(Mt 6,19-21.24 – BPa / BPe / BJ)
1: Todo homem, consciente ou
inconscientemente, tem na vida um valor fundamental, um absoluto que determina
toda a sua forma de ser e viver. Qual é o absoluto: Deus ou as riquezas? Deus
leva o homem à liberdade e à vida, através da justiça que gera a partilha e a
fraternidade. As riquezas são resultado da opressão e da exploração, levando o
homem à escravidão e à morte. É preciso escolher a qual dos dois queremos
servir. (BPa)
2: Mamom é o deus do dinheiro, da cobiça:
rival inconciliável do Deus verdadeiro, que ´doador generoso (Sl 21,5; 37,4;
136,25 etc.) e ensina a dar. A cobiça é idolatria, diz Cl 3,5. O cobiçoso não
possui, mas é possuído por seus bens e suas ânsias. Quevedo sentenciava:
Poderoso cavaleiro é Dom Dinheiro. (BPe)
“Não vos preocupeis, portanto, com o dia de
amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o
seu mal.”
(Mt 6,34 – BJ)
““Não julguem, e vocês não serão julgados1.
De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem, e
serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem.
Por que você fica olhando o cisco no olho do
seu irmão, e não presta atenção à trave que está no seu próprio olho? Ou, como
você se atreve a dizer ao irmão: ‘deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando
você mesmo tem uma trave no seu? Hipócrita, tire primeiro a trave do seu
próprio olho, e então você enxergará bem para tirar o cisco do olho do seu irmão.
Não deem aos cães o que é sagrado2,
nem atirem pérolas aos porcos; eles poderiam pisá-las com os pés e, virando-se,
estraçalhar vocês.
Peçam, e lhes será dado! Procurem, e
encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês! Pois todo aquele que pede,
recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta. Quem de vocês
dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? Ou lhe dá uma cobra, quando ele
pede um peixe? Se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas a seus filhos,
quanto mais o Pai de vocês que está no céu dará coisas boas aos que lhe
pedirem.
Tudo o que vocês desejam que os outros façam
a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas.3
Entrem pela porta estreita, porque é larga a
porta e espaçoso o caminho que levam para a perdição, e são muitos os que
entram por ela! Como é estreita a porta e apertado o caminho que levam para a
vida, e são poucos os que a encontram!
Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a
vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes4.
Vocês os conhecerão pelos frutos deles: por acaso se colhem uvas de espinheiros
ou figos de urtigas? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore
má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, e uma árvore má
não pode dar bons frutos. Toda árvore que não der bons frutos, será cortada e
jogada no fogo. Pelos frutos deles é que vocês os conhecerão.5”
“Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’,
entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu
Pai, que está no céu.
Naquele dia muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor,
não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos
demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres?’ Então, eu vou
declarar a eles: Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores!6
“Portanto, quem ouve essas minhas palavras e
as põe em prática, é como o homem prudente que construiu sua casa sobre a
rocha. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra
a casa, mas a casa não caiu, porque fora construída sobre a rocha.
Por outro lado, quem ouve essas minhas
palavras e não as põe em prática, é como o homem sem juízo, que construiu sua
casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com
força contra a casa, e a casa caiu, e a sua ruína foi completa!”
Quando Jesus acabou de dizer essas palavras,
as multidões ficaram admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus ensinava
como alguém que tem autoridade, e não como os doutores da Lei.”
(Mt 7 – BPa)
1: Não julguei os outros, para não serdes julgados por Deus. Do mesmo modo se
entenda o v. seguinte (cf. Tg 4,12). (BJ)
2: Porções de carne consagrada, alimentos
santificados por terem sido oferecidos no Templo (cf. Ex 22, 30; Lv 22,14). —
Do mesmo modo, não se deve propor uma doutrina preciosa e santa a pessoas
incapazes de recebê-las bem e que poderiam fazer mau uso delas. O texto não
especifica que tipo de pessoas se trata: seriam os judeus hostis? Ou os pagãos
(cf. 15-16)?” (BJ)
3: A regra de ouro, síntese de toda a
Escritura, se encontra, na sua formulação negativa, em outras culturas, também
em Tb 4,15. Sua aplicação abrange desde o cotidiano até o heroico. É outra
formulação do amor ao próximo: “como a si mesmo” em sua vertente ativa. (BPe)
4: Os falsos profetas foram o pesadelo dos
autênticos (cf. Jr 23 e Ez 13 entre outros). Elogiam e não denunciam (Is
30,10); prometem falsamente a paz (Jr 6,14; 8,11). Não faltarão falsos profetas
nas comunidades cristãs (Mt 24,1 2 fala de anticristos), nem mestres que
“elogiem os ouvidos” (2Tm 4,3). (BPe)
5: “Nada se parece tanto com um verdadeiro
profeta, como um falso profeta.” As ideologias que nos afastam da opção
fundamental pelo Reino e sua justiça são cheias de fascínio, e sempre trazem a
aparência de humanidade e até mesmo de fé. Só poderemos perceber a sua
falsidade através daquilo que elas produzem na sociedade: a cobiça e a sede de
poder, que levam à exploração e opressão. (BPa)
6: Nem mesmo o ato de fé mais profundo da
comunidade, que é o reconhecimento de Jesus como o Senhor, faz que alguém entre
no Reino. Se o ato de fé pela palavra não for acompanhado de ações, é vazio e
sem sentido. A expressão “naquele dia” indica o Juízo final e nos remete a Mt
25,31-46, onde são mostradas as ações que qualificam o autêntico reconhecimento
de Jesus como Senhor. (BPa)
“Estando Jesus à mesa em casa de Mateus,
muitos cobradores de impostos e pecadores foram e sentaram-se à mesa com Jesus
e seus discípulos. Alguns fariseus viram isso, e perguntaram aos discípulos:
“Por que o mestre de vocês come com os cobradores de impostos e os pecadores?”
Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “As pessoas que têm saúde não precisam de
médico, mas só as que estão doentes. Aprendam, pois, o que significa: ‘Eu quero
a misericórdia e não o sacrifício’1. Porque eu não vim para chamar
justos, e sim pecadores”.”
(Mt 9,10-132 – BPa)
1: À prática rigorista e exterior da Lei,
Deus prefere os sentimentos íntimos do coração sincero e compassivo. Eis um
tema frequente dos profetas (Am 5,21+). (BJ)
2: Cf. Mc 2,15-17 e Lc 5,29-32.
“Nessa ocasião Jesus tomou a palavra e disse:
— Dou-te graças, Pai Senhor do céu e da
terra! Porque, ocultando estas coisas aos entendidos, tu as revelaste aos
ignorantes1.
Sim, foi tua escolha2. Meu Pai me
confiou tudo: ninguém conhece o Filho, senão o Pai; ninguém conhece o Pai,
senão o Filho, e a quem o Filho decidir revelá-lo. Vinde a mim, vós que andais
cansados e curvados, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo e aprendei de mim, que
sou tolerante e humilde, e vos sentireis aliviados. Pois meu jugo é suave e
minha carga é leve.2”
(Mt 11,25-303 – BPe)
1: Diante da soberba e arrogância das cidades
amaldiçoadas desprende-se no contexto essa exaltação do humilde e simples.
“Deus revela seus segredos aos humildes” (Eclo 3.20). Destaca-se como um pico,
estreito e altíssimo, esta efusão da espiritualidade íntima de Jesus;
testemunho da predileção do Pai, do seu sentimento filial e da missão soberana
que recebeu. Como em Is 29,14, os prodígios de Deus confundem a sabedoria dos
sábios: “Eu continuarei prodigiando prodígios... a sabedoria dos sábios
fracassará”. O prodígio presente é o envio e presença de seu Filho, mistério
que os “ignorantes” humildes compreendem, pois não vivem satisfeitos com seus
preconceitos; ao passo que os doutores que se creem suficientes olhando não
veem (cf. Is 42,20). A fé pascal dos cristãos acolhe e proclama essa revelação.
A relação filial de Jesus com seu Pai, o Deus criador do universo, é única. Do
Pai recebe, como mediador único, a missão de revelar e salvar. O evangelho e a
primeira carta de João são o melhor comentário a essa breve e densa perícope.
(BPe)
2: Não só os animais, também os homens
carregam o jugo como sinal e exercício de escravidão. Era um jugo curvo de
madeira, apoiado com almofadas sobre os ombros, que servia para transportar
cargas equilibradas. A imagem é frequente no AT: pode referir-se à lei (Jr
2,20; 5,5 etc.), à tirania estrangeira (Is 10,27; Jr 27,8 etc.) e também à
sabedoria, em princípio jugo, no fim joia (Eclo 6,24.30 no contexto 18-31). A
escravidão no Egito se definia pelas “cargas” (Ex 6,6). O jugo que Jesus impõe,
aceito com amor e levado com sua ajuda, é leve, particularmente se comparado
com as cargas dos fariseus (23,4). (BPe)
3: Cf. Lc 20,21.
“Se soubésseis o que significa: Misericórdia é que eu quero e não sacrifício,
não condenaríeis os que não têm culpa.”
(Mt 12,7 – BJ)
“Jesus contou outra parábola à multidão: “O
Reino do Céu é como um homem que semeou boa semente no seu campo. Uma noite,
quando todos dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e foi
embora. Quando o trigo cresceu, e as espigas começaram a se formar, apareceu
também o joio. Os empregados foram procurar o dono, e lhe disseram: ‘Senhor,
não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’ O dono
respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram:
‘Queres que arranquemos o joio?’ O dono respondeu: ‘Não. Pode acontecer que,
arrancando o joio, vocês arranquem também o trigo. Deixem crescer um e outro
até à colheita. E no tempo da colheita direi aos ceifadores: arranquem primeiro
o joio, e o amarrem em feixes para ser queimado. Depois recolham o trigo no meu
celeiro.”1
(Mt 13,24-30 – BPa)
1: A imagem do joio no meio do trigo
tornou-se proverbial em nossos tempos, a tal ponto que a parábola evangélica
nos é transparente. Duas coisas não se tornaram proverbiais e temos de
destacá-las. Que há poderes empenhados em malograr a boa colheita, que se
aproveitam dos momentos de descuido ou descanso legítimo (cf. Sl 127,2). Que é
preciso levar em conta o joio com paciência e lucidez. Isso se deve entender no
contexto social da Igreja, de sorte que é lido como um capítulo de eclesiologia
em germe. “Saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos” (1 Jo 2,19). O final
alude ao julgamento escatológico (cf. Is 27,11). (BPe)
“Um profeta só não é estimado em sua própria
pátria e em sua família.”
(Mt 13,57b – BPa)
“Alguns fariseus e diversos doutores da Lei,
de Jerusalém, se aproximaram de Jesus, e perguntaram:
– Por que os teus discípulos desobedecem à
tradição dos antigos?1 De fato, comem pão sem lavar as mãos!”
Jesus respondeu:
– Por que é que vocês também desobedecem ao
mandamento de Deus em nome da tradição de vocês? Pois Deus disse: ‘Honre seu pai e sua mãe’. E ainda: ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve morrer’.
E no entanto vocês ensinam que alguém pode dizer ao seu pai e à sua mãe: ‘O
sustento que vocês poderiam receber de mim é consagrado a Deus’. E essa pessoa
fica dispensada de honrar seu pai ou sua mãe2. Assim vocês
esvaziaram a palavra de Deus com a tradição de vocês. Hipócritas! Isaías
profetizou muito bem sobre vocês, quando disse: ‘Esse povo me honra com os
lábios, mas o coração deles está longe de mim. Não adianta nada eles me
prestarem culto, porque ensinam preceitos humanos.’
Em seguida, Jesus chamou a multidão para
perto dele, e disse: “Escutem e compreendam. Não é o que entra na boca que
torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isso torna o homem impuro”.”
(Mt 15, 1-103 – BPa)
1: Tradição oral que, sob pretexto de
assegurar a observância da Lei escrita, ia mais longe do que ela. Os rabinos
faziam-na remontar, através dos “antigos”, a Moisés. (BJ)
2: Porque os bens assim votados (korbân) passaram a revestir caráter
“sagrado”, que interditava aos pais pretenderem para si qualquer parte deles.
Esse voto, aliás, fictício, não obrigando a nenhuma doação real, era meio
odioso de livrar-se de dever sagrado. Os rabinos, embora reconhecendo o seu
caráter imoral, consideravam válidos tais votos. (BJ)
3: Cf. Mc 7,1-16.
“Quando Jesus chegou à região de Cesareia de
Filipe, interrogou os discípulos:
— Quem dizem os homens que é este Homem?
Responderam:
— Uns que é João Batista; outros, Elias;
outros, Jeremias ou algum outro profeta.
Disse-lhes:
— E vós, quem dizeis que eu sou?
Respondeu Simão Pedro:
— Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.
Jesus lhe replicou:
— Feliz és tu, Simão, filho de Jonas! Porque
não foi alguém de carne e sangue que te revelou isso, e sim meu Pai do céu.
Pois eu te digo que tu és Pedro e sobre esta Pedra construirei minha igreja, e
o império da morte não a vencerá1. A ti darei as chaves do reino de
Deus: o que atares na terra ficará atado no céu; o que desatares na terra
ficará desatado no céu.2”
(Mt 16,13-19 – BPe)
1: (...) O povo não hostil, que presenciou a
atividade de Jesus, considera-o algum enviado especialíssimo de Deus para
preparar a era messiânica; inclusive alguém poupado da morte (Eclo 48,1) ou
morto e redivivo para ter maior autoridade (LC 16,30). Simão, que pela carne e
sangue é filho de Jonas, declara que Jesus é o Messias esperado; e Jesus o
ratifica, declarando que a confissão procede de uma revelação do Pai (cf. II
,27), pela qual Pedro tem uma bem-aventurança particular.
Dito isso, prossegue estabelecendo e
declarando a função específica de Simão. Jesus se propõe "construir"
um templo, que é uma comunidade nova, na qual Pedro será uma "pedra"
fundamental. O grego petros designa
uma pedra ou pedregulho, algo que se pode pegar e lançar. Ao passo que petra designa um silhar ou penha ou
rocha onde se assenta um edifício. O edifício ou comunidade é obra e domínio de
Jesus, "minha igreja", que substitui a comunidade sagrada qahal Yhwh ou qahal Yisrael (Dt 23,2; 1Rs 8,22 etc.). Pedro terá nela uma função
medianeira central: por sua adesão ou aderência a Cristo, participará da
solidez da rocha. Contra a igreja de Jesus nada poderá o poder da morte, que
abre suas portas para prender e fecha para não soltar. A obra de Jesus é
imortal (talvez sugira a ressurreição e a vida eterna dos seus membros). (BPe)
Pedro terá as chaves de acesso ao reino de
Deus (de acordo com as bem-aventuranças, 5,310) e terá o poder de julgar,
perdoar e condenar, ratificado por Deus. Diante de doutores e fariseus que
"amarram fardos pesados" (23,4) e fecham o acesso ao reino de Deus
(23,13) (...). (BPe)
2: Exatamente como a Cidade da morte, a
Cidade de Deus tem portas, que não deixam entrar senão os que são dignos;
comparar Mt 23,13p. Pedro recebe as suas chaves. Caberá a ele, pois, abrir ou
fechar o acesso ao Reino dos Céus, por meio da Igreja. – “Ligar” e “desligar”
são dois termos técnicos da linguagem rabínica que se aplicam primeiro ao
domínio disciplinar da excomunhão com que se “condena” (ligar) ou “absolve”
(desligar) alguém, e mais tarde às decisões doutrinais ou jurídicas, com o
sentido de “proibir” (ligar) ou “permitir” (desligar). Pedro como mordomo (cuja
insígnia são as chaves, cf. Is 22,22) da casa de Deus, exercerá o poder
disciplinar de admitir ou excluir quem ele bem julgar, e administrará a
comunidade através de todas as decisões cabíveis em matéria de doutrina e de
moral. As sentenças e decisões serão ratificadas por Deus do alto dos céus. –
Essas promessas eternas valem não só para a pessoa de Pedro, mas também para os
seus sucessores. Embora essa consequência não seja explicitamente indicada no
texto, é legítima, entretanto, em virtude da intenção clara que Jesus tem de
prover o futuro de sua Igreja como instituição que a morte de Pedro não podia
tornar caduca. – Dois outros textos, Lc 22,31s e Jo 21,15s, deixarão claro que
o primado de Pedro deve exercer-se particularmente na ordem da fé e que ele o
torna chefe não só da Igreja futura, mas já dos demais Apóstolos. (BJ)
“Pedro aproximou-se de Jesus, e perguntou:
– Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu
irmão pecar contra mim? Até sete vezes?”
Jesus respondeu:
– Não lhe digo que até sete vezes, mas até
setenta vezes sete. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu acertar as
contas com seus empregados. Quando começou o acerto, levaram a ele um que devia
dez mil talentos1. Como o empregado não tinha com que pagar, o
patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e
tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés
do patrão e, ajoelhado, suplicava: ‘Dá-me um prazo. E eu te pagarei tudo’.
Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado, e lhe perdoou a
dívida. Ao sair daí, esse empregado encontrou um de seus companheiros que lhe
devia cem denários2. Ele o agarrou, e começou a sufocá-lo, dizendo:
‘Pague logo o que me deve’. O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava:
‘Dê-me um prazo, e eu pagarei a você’. Mas o empregado não quis saber disso.
Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. Vendo o que havia
acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão, e
lhe contaram tudo. O patrão mandou chamar o empregado, e lhe disse: ‘Empregado
miserável! Eu lhe perdoei toda a sua dívida, porque você me suplicou. E você,
não devia também ter compaixão do seu companheiro, como eu tive de você?’ O
patrão indignou-se, e mandou entregar esse empregado aos torturadores, até que
pagasse toda a sua dívida. É assim que fará com vocês o meu Pai que está no
céu, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão.3”
(Mt 18,21-35 – BPa / BJ)
1: Mais de trezentas e quarenta toneladas de
ouro: quantia exorbitante, escolhida intencionalmente. (BJ)
2: Menos de trinta gramas de ouro. (BJ)
3: Na comunidade de Jesus não existem limites
para o perdão (setenta vezes sete). Ao entrar na comunidade, cada pessoa já
recebeu do Pai um perdão sem limites (dez mil talentos). A vida na comunidade
precisa, portanto, basear-se no amor e na misericórdia, compartilhando entre
todos esse perdão que cada um recebeu. (BPa)
“Jesus disse aos seus discípulos:
– Eu vos asseguro: um rico dificilmente entrará
no reino de Deus. Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de
uma agulha que um rico entrar no reino dos céus.”
(Mt 19,23-241 – BPe)
1: Cf. Mc 10,23-25 e Lc 18,24-25.
“Mas Jesus os chamou e lhes disse:
– Sabeis que entre os pagãos os governantes
submetem os súditos, e os poderosos impõem sua autoridade. Não será assim entre
vós; pelo contrário, quem quiser ser grande entre vós, que se torne vosso
servidor; e quem quiser ser o primeiro que se torne o vosso escravo. Da mesma
forma que este Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida
como resgate por todos.1”
(Mt 20,25-282 – BPa)
1: Os pecados humanos determinam uma dívida
do homem para com a justiça divina, a pena de morte exigida pela Lei (cf. 1Cor
15,56; 2Cor 3,7.9; Gl 3,13; Rm 8,3-4 e as notas). A fim de libertá-los dessa
servidão do pecado e da morte (Rm 3,24+), Jesus pagará o resgate e satisfará a
dívida com o preço do seu sangue (1Cor 6,20; 7,23; Gl 3,13; 4,5 e as notas),
isto é, morrendo em lugar dos culposos, como fora predito a respeito do “Servo
de Iahweh” (Is 53). (BJ)
2: Cf. Mc 10,42-45.
“Jesus entrou no Templo e expulsou todos os
vendedores e compradores que lá estavam. Virou as mesas dos cambistas e as
cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes:
– Está escrito: Minha casa será chamada casa
de oração. Vós, porém, a convertestes em um covil de ladrões!”
(Mt 21,12-131 – BJ / BPe)
1: Cf. Mc 11,15-17; Lc 19-45-46; Jo 2,14-16.
“– Mestre, qual é o maior mandamento da
Lei?"
Ele respondeu:
– Amarás
ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é
semelhante a esse: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os
Profetas.”
(Mt 22,36-401 – BJ)
1: Cf. Mc 12,28-31.
“O
juízo final1 – Quando o Filho do Homem vier na sua glória,
acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos
os povos da terra2 serão reunidos diante dele, e ele separará uns
dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as
ovelhas à sua direita, e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que
estiverem à sua direita: ‘Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam
como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo. Pois
eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram
de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa,
e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e
vocês foram me visitar’3. Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor,
quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de
beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem
roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te
visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Eu garanto a vocês: todas as vezes que
vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.’
Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua
esquerda: ‘Afastem-se de mim, malditos. Vão para o fogo eterno, preparado para
o diabo e seus anjos. Porque eu estava com fome, e vocês não me deram de comer;
eu estava com sede, e não me deram de beber; eu era estrangeiro, e vocês não me
receberam em casa; eu estava sem roupa, e não me vestiram; eu estava doente e
na prisão, e vocês não me foram visitar’. Também estes responderão: ‘Senhor,
quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou sem roupa,
doente ou preso, e não te servimos?’ Então o Rei responderá a esses: ‘Eu
garanto a vocês: todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses
pequeninos, foi a mim que não o fizeram’. Portanto, estes irão para o castigo
eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna.4”
(Mt 25,31-46 – BPa)
1: Esta é a única cena dos Evangelhos que mostra
qual será o conteúdo do juízo final. Os homens vão ser julgados pela fé que
tiveram em Jesus. Fé que significa reconhecimento e compromisso com a pessoa
concreta de Jesus. Porém, onde está Jesus? Está identificado com os pobres e
oprimidos, marginalizados por uma sociedade baseada na riqueza e no poder. Por
isso, o julgamento será sobre a realização ou não de uma prática de justiça em
favor da libertação dos pobres e oprimidos. Esta é a prática central da fé,
desde o início apresentado por Mateus como o cerne de toda a atividade de
Jesus: “cumprir toda a justiça” (3,15). É a condição para participar da vida do
Reino. (BPa)
2: Todos os homens de todos os tempos. A
ressurreição dos mortos não é mencionada, mas deve ser subentendida (cf. 10,15;
11 22-24; 12.41s). (BJ)
3: Os homens são julgados segundo suas obras
de misericórdia (descritas de forma bíblica, cf. Is 58,7; Jó 22,6s; Eclo 7.32s
etc.), não segundo suas ações excepcionais (cf. 7,22s). (BJ)
4: A expressão "os mais pequeninos dos
irmãos" (v. 40) designa todos aqueles que estão em necessidade, pois o
termo "irmão" não parece ter aqui o sentido restritivo segundo o qual
designaria apenas os missionários cristãos (cf. Henoc 61 ,8; 62,25; 69,27).
Esta poderosa cena dramática inclui elementos parabólicos (o pastor, as ovelhas
e os bodes), mas não se pode minimizar a importância deste texto
transformando-o em simples parábola; também não devemos tomá-lo como uma
descrição "cinematográfica" do julgamento. O acento do texto recai
sobre o amor ao próximo, valor moral supremo (cf. 22,34-40); contrariamente ao
costume do autor, é o Filho que é apresentado como juiz e não Deus Pai. (BJ)
“Jesus ainda falava, quando chegou Judas, um
dos Doze, com uma grande multidão armada de espadas e paus. Iam da parte dos
chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. O traidor tinha combinado com eles
uma senha: “Aquele que eu beijar é Jesus. Prendam-no.” Judas logo se aproximou
de Jesus, e disse:
– “Salve, Mestre.”
E o beijou.
Jesus lhe disse:
– “Amigo, faça logo o que tem a fazer.”
Então os outros avançaram, lançaram as mãos
sobre Jesus, e o prenderam. Nesse momento, um dos que estavam com Jesus
estendeu a mão, puxou da espada, e feriu o empregado do sumo sacerdote,
cortando-lhe a orelha. Jesus, porém, lhe disse: “Guarde a espada na bainha.
Pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão. Ou você pensa que eu não
poderia pedir socorro ao meu Pai? Ele me mandaria logo mais de doze legiões de
anjos. E, então, como se cumpririam as Escrituras, que dizem que isso deve
acontecer?” 1
E nessa hora, Jesus disse às multidões:
“Vocês saíram com espadas e paus para me prender, como se eu fosse um bandido.
Todos os dias, no Templo, eu me sentava para ensinar, e vocês não me
prenderam.” Porém, tudo isso aconteceu para se cumprir o que os profetas
escreveram. Então todos os discípulos, abandonando a Jesus, fugiram.”
(Mt 26,47-562 – BPa / BPe)
1: O episódio serve de admoestação para a
Igreja em tempo de perseguição. Morrer por Cristo, não matar por Cristo, é seu
heroísmo (cf. 5,10-11.39-41). Jesus concentra três argumentos: Primeiro, o
provérbio que penetrou como refrão: nele ressoa a lei do talião ou a dialética
da violência; que a provoca tornam-se vítima dela. Segundo, o auxílio celeste
milagroso. Terceiro, a vontade do Pai. (BPe)
2: Cf. Mc 14,43-52; Lc 22,47-53; Jo 18,3-12.
“Os onze discípulos foram para a Galileia, ao
monte que Jesus lhes tinha indicado1. Quando viram Jesus,
ajoelharam-se diante dele. Ainda assim, alguns duvidaram. Então Jesus se aproximou,
e falou: “Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra. Portanto,
vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o
que ordenei a vocês. Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do
mundo.”
(Mt 28,16-20)
1: 28,16-20 Para concluir, Mateus compõe uma
cena magistral. No espaço de cinco vv. condensa o substancial da sua
cristologia e eclesiologia.
Vão à Galileia, como que voltando ao começo e
abandonando Jerusalém, aonde foi só para morrer. Sobe a um monte, em ascensão
simbólica, como quando lançou seu manifesto (5-7) ou se transfigurou (17). Os
onze daquele momento representam toda a Igreja; por isso não falta quem duvide,
como no lago (8,26; 14,30-41). Veem o ressuscitado e hão de ser suas
testemunhas.
Jesus toma a palavra, afirmando sua plena
autoridade recebida de Deus (aludindo a Dn 7,14; Mt 9,6). Em virtude desta,
envia seus discípulos para a missão universal, não mais limitada aos judeus
(10.6; 15.24). Não hão de ensinar para serem mestres de muitos discípulos
(23,8), mas para "fazer discípulos" de Jesus. Como rito de
consagração administrarão o batismo, com a invocação trinitária explícita
(compare-se com a fórmula de At 2,38; 8,16; ICor 1,13; Gl 3,27). Como
consequência, a vida de acordo com o ensinamento de Jesus.
Inaugura-se o tempo da Igreja, cujo fim não é
iminente. É preciso viver e agir nesse tempo com a certeza de que Jesus, não
obstante ir-se embora, fica com eles. Emanuel era Deus conosco na história do
povo eleito. Agora é Jesus glorificado com sua Igreja para sempre. (BPe)
2: Nessas últimas instruções de Jesus, com a
promessa que as acompanha está condensada a missão da Igreja apostólica. Cristo
glorificado exerce tanto na terra como no céu (6,10; cf. Jo 17,2, Fl 2,10; Ap
12,10) o poder sem limite (Mt 7,29; 9,6; 21,23 etc) que recebeu de seu Pai (cf.
Jo 3,35+). “Portanto” os seus discípulos exercerão esse poder em seu nome pelo
batismo e pela formação dos cristãos. Sua missão é universal: depois de ter
sido anunciada primeiro ao povo de Israel (10,5s+;15,24), como exigia o plano
divino, a salvação doravante devia ser oferecida a todas as nações (8,11;
21,41; 24,14-30s; 25,32; 26,13; cf. At 1,8+; 13,5+; Rm 1,16+). Nessa obra de
conversão universal, por mais demorada e laboriosa que seja, o Ressuscitado,
estará vivo e ativo com os seus. (BJ)
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