Editora: InterSaberes
ISBN: 978-85-443-0287-3
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 232
““O pensamento
humano é, essencialmente, filosófico” (Husserl).
Quer dizer, o
espírito humano, desperto e livre de preconceitos, não descansa em suas
investigações até que não tenha descoberto as últimas causas do maior número
possível de fenômenos. O pensamento deseja ir até as fontes do ser, quer
conhecer as relações dos seres entre si e tende a unificar os seus
conhecimentos isolados em uma síntese, em uma visão de conjunto. Todo o pensar
humano procura refletir, criticamente, sobre o valor daquilo que elabora. Tudo
isso é, precisamente, trabalho da filosofia.”
“A
verdade ontológica de uma coisa não é senão a completa concordância com o que
ela deve ser, ou seja, com o plano segundo o qual foi feita. É precisamente
esse plano de organização metafísica que, em última análise, a inteligência
procura descobrir. Ao descobri-lo, dizemos que a verdade ontológica do objeto
causa em nós a verdade lógica, isto é, uma concordância intencional entre a
realidade e o nosso intelecto. Dizemos “intencional” em um sentido todo
próprio, epistemológico: o conceito, que se espelha em nós (que somos a
realidade), aponta ao objeto. Nós entendemos realmente a coisa, não o conceito,
que não passa de simples meio de conhecimento. Ou, em outros termos: o que a
inteligência vê é o conteúdo objetivo do conceito, não a sua forma (subjetiva).”
“Você
pode expulsar a natureza com um forcado, mas ela continuará retornando.”
(Horácio)
“Um
sistema científico não é outra coisa senão a concatenação de toda uma série de
definições, demonstrações, conclusões, hipóteses e axiomas, segundo determinado
“método” e tratando de determinado objeto. É nesse sentido que geralmente se
fala hoje em “ciência”.
Todos os três
significados da palavra ciência têm
uma coisa em comum: a de que procura sempre exprimir seu conhecimento por meio
da relação entre causa e efeito; e a condição indispensável é que seja sempre
um conhecimento “certo” e “evidente”, ou seja, que do ponto de vista lógico
haja estrita consequência das operações cognoscitivas e que do ponto de vista
objetivo ou ontológico seja manifesta a concordância entre o conhecimento e a
realidade.”
“Para
Platão, a procura pela verdade há de se distinguir como tarefa por excelência
da filosofia. Só assim o conhecimento torna-se fundamental e dotado de valor.”
“É adequado
afirmarmos que todos os filósofos gregos concordavam que o homem é algo que
sobressai ao resto do universo e que a alma humana é a parte mais importante do
composto chamado homem. Parece ser
também um consenso que a alma sobrevive após a morte do corpo.
Nesse panorama, as
duas mais importantes visões sobre o homem que tiveram uma influência decisiva
na alta escolástica foram as de Platão e Aristóteles. Podemos incluir nessa
influência, também, o neoplatonismo e alguns elementos do estoicismo. Para
Platão, a alma é o verdadeiro ser do homem; ela é o espirito exilado no mundo
material e sua única tarefa é vencer a matéria e retornar ao mundo a que
propriamente pertence, qual seja, o mundo das ideias.
Enquanto na concepção
platônica a alma é verdadeiramente o outro-mundo (o mundo das ideias), para
Aristóteles ela é primordialmente a substância do corpo. Embora Aristóteles
atribua à alma humana certo parentesco com a divina, toda a sua doutrina sobre
a alma humana (não “materialista”) revela-se inteiramente assentada e com os “pés
no chão”.
Na filosofia
estoica, a alma era concebida como uma participação na alma cósmica ou no logos, algo de caráter monístico. Essa
alma, um fragmento ou uma “centelha” da alma divina, é a verdadeira personalidade
do homem. Além disso, a verdadeira sabedoria consiste em libertar o pensamento
e o querer dos liames das coisas terrenas, empíricas ou particulares e
conservar a alma em harmonia com a direção divina e universal do cosmos.
Quando o
neoestoicismo se encaminhava para uma visão de mundo determinista, naturalista
e de um materialismo rígido, surge outra filosofia, o neoplatonismo — que
aparece como defensora da doutrina da imortalidade e da “redenção” dos grilhões
do mundo material. Para Plotino, a alma do homem é uma emanação da Alma
Universal, que, por sua vez, provém do noûs
(razão), do Uno*, enquanto pensa e quer por si mesmo.”
*: É uma ideia que significa “centro de onde derivam todas as coisas”.
Serve como princípio organizador do mundo, que é pura multiplicidade.
“Segundo Étienne
Gilson (1995), a ética de Agostinho forma uma só com a sua metafísica e a sua
religião. O conhecimento ético é um caso particular da iluminação divina, que
é, ela própria, um efeito das ideias divinas (justiça, amor, caridade). As
definições de círculo e de esfera são verdades eternas e necessárias que julgam
o nosso pensamento, e este, por sua vez, julga os círculos e as esferas
particulares. Mas as verdades morais são tão imutáveis, necessárias e eternas
quanto especulativas. Além disso, todo homem as vê na sua própria mente e elas
são comuns a todos. Nesse sentido, todos parecem concordar que a sabedoria
consiste no conhecimento pelo qual se obtém a felicidade; daí se infere que é necessário se esforçar para
obtê-las.
“Única razão de
filosofar é ser feliz; só aquele que é verdadeiramente feliz é verdadeiramente
filósofo, e só o cristão é feliz, porque é o único que possui – e possuirá para
sempre - o verdadeiro Bem, fonte de toda felicidade”. (Fonte: Étienne Gilson, A filosofia na Idade Média, 1995, p.
133.)
Muitas regras de
sabedoria são claras, tais como respeitar a justiça, subordinar o inferior ao
superior, tratar equitativamente as coisas semelhantes, dar a cada um o que lhe
é devido etc. Todas essas regras, e muitas outras mais, constituem em nós as
muitas expressões de uma ideia, de uma lei inteligível que é, para a nossa
mente, uma luz. Há, portanto, uma iluminação moral das virtudes como há uma
iluminação especulativa das cognições científicas. Em outras palavras, a mesma
explicação metafísica considera a iluminação física dos corpos pelos números, a
iluminação especulativa da mente pela ciência e a sua iluminação moral pela
virtude.
As regras morais,
cuja luz brilha em nós, constituem a “lei
natural”: e o conhecimento, ou a percepção dessa luminosidade, chama-se consciência.
Mas a consciência moral e o conhecimento das virtudes não bastam para consumar
a vida moral. O homem não é só intelecto, é também vontade, e enquanto a sua
vontade não se conformar com as prescrições da verdade moral, não se pode dizer
que haja moralidade. O modelo de ordem que se obteria em nós mesmos se encontra
diante de nós, na natureza.
A sabedoria de
Deus colocou tudo em seu próprio lugar e estabeleceu entre as coisas todas as
relações que convêm às suas naturezas. A “justiça” física é o modelo ideal com
base no qual as nossas ações deveriam se realizar. As quatro virtudes cardeais
de prudência, fortaleza, temperança e justiça são expressões particulares da “lei
eterna” – e que, vale dizer, funcionam como regras de conduta aplicáveis a
problemas particulares da vida moral.
De modo inverso, a
origem comum dos vícios morais é o injusto movimento da vontade que se recusa a
conformar-se às prescrições da ordem eterna. Mais especificamente, os vícios
são ações desordenadas da vontade, que prefere o deleite dos bens materiais ao
gozo da verdade inteligível.”
“A maior
contribuição que marca a metafísica de São Tomás de Aquino pode ser considerada
a doutrina filosófica sobre Deus, sendo mais conhecida pela doutrina das cinco
vias para provar a existência divina.
As cinco vias para provar a existência de Deus
A primeira prova
analisa a realidade do movimento e chega à conclusão da existência de um motor
imóvel, sendo que a base para essa prova é a seguinte: nada pode mover-se por
si mesmo, mas somente por outro (esse é o principio da causalidade). Além
disso, não se pode conceber uma série indefinida de causas. Resumindo: todo
movimento tem uma causa, sendo que esta deve ser exterior ao ser que está em
movimento. Assim, não se pode ser, ao mesmo tempo, o que é movido e o que é o
princípio ou causa do movimento. Aquino foi o primeiro a introduzir esse
raciocínio aristotélico na escolástica.
A segunda prova
foi extraída da série das causas eficientes. Isso significa que há um limite na
cadeia delas, e esse limite é a causa primeira, que não possui outra causa que
seja o fundamento de sua existência – ou seja, nada pode ser causa eficiente de
si mesmo. Desse modo, toda causa eficiente supõe outra, a qual supõe outra,
sucessivamente. É necessário, portanto, que exista uma primeira causa da série,
uma causa intermediária e uma causa última. Essa causa primeira é Deus.
A terceira prova
está fundamentada nas noções de contingência e necessidade e leva à conclusão
da existência de um Ser primeiro e necessário. Uma vez que seres contingentes
só podem existir pela admissão de um ser necessário que lhe sustente, e sendo
que não se pode admitir uma série infinita de seres necessários, Aquino defende
ser Deus o Ser primeiro e necessário – ou seja, o Ser necessário por si mesmo e
que é causa de todos os seres não pode ser outro a não ser Deus.
A quarta prova é
aquela que se fundamenta nos graus de perfeição das coisas. O conhecimento dos
diversos graus de bem e de verdade das coisas leva-nos ao conhecimento de um
Ser Supremo perfeitíssimo, que é causa de todo bem e de toda perfeição nas
coisas.
Por último, a
quinta prova da existência de Deus – que tem caráter teológico e se inspira nas
obras dos santos padres da Igreja. A tese é a seguinte: a ordem e a finalidade
que se observa no mundo nos levam ao conhecimento de uma inteligência suprema
ordenadora, e essa inteligência primeira e ordenadora da finalidade das coisas
é Deus. Essas provas, para Aquino, não são apenas o fundamento de nosso
conhecimento da existência de Deus, mas também apontam o caminho das reflexões
sobre a essência e os atributos divinos. Em resumo, tais provas contêm a
demonstração de Deus como: a) primeiro motor imóvel e ato puro, sendo a mais
pura realidade e sem nenhum grau de potencialidade; b) primeira causa (sem
nenhuma outra causa) de todos os seres; c) ser eterno, necessário e perfeito.”
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