Editora: Loyola
ISBN: 978-85-1501-910-6
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 248
“No cotidiano dos cultos
e na vasta programação de rádio e TV dos neopentecostais, conhecer Jesus, ter
um encontro com Ele e a Ele obedecer constituem, acima de tudo, meios
infalíveis para o converso se dar bem nesta vida. Nos templos e na mídia,
Cristo é propagandeado como panaceia para todos os males terrenos. Haja vista
que a tarefa primordial desse Deus, razão aliás pela qual o Todo-Poderoso é tão
assediado por seus dedicados servos, é a de protegê-los e abençoá-los pronta e
abundantemente em todos os campos da vida. Seus cultos, evangelísticos ou não,
praticamente batem só nesta tecla. Funcionam como prontos-socorros espirituais
e como tais são procurados. Baseiam-se em promessas e rituais para a cura
física e emocional, prosperidade material, libertação de demônios, resolução de
problemas afetivos, familiares, de crise individual e de relacionamento
interpessoal.”
“O quadro acima revela um
processo de consideráveis mudanças no cenário religioso brasileiro: a derrocada
constante da hegemonia católica concomitante à consolidação institucional e
demográfica dos grupos pentecostais, à ampliação e diversificação das religiões
de matriz cristã, à pentecostalização do protestantismo e de segmentos do
catolicismo e à dessacralização da cultura por meio do desenraizamento dos
brasileiros da “religião tradicional e da tradição religiosa”, abrindo-os
inevitavelmente para a apostasia, para a quebra de lealdade e para a livre
escolha religiosa. Tal pluralização do espectro cristão tem propiciado a
formação de um vasto mercado religioso e a expansão do mercado de negócios,
produtos e profissões bancados por e atrelados a empreendimentos ditos
religiosos ou pararreligiosos.”
“Numa situação de
pluralismo religioso, a concorrência inter-religiosa para cooptar adeptos e
mantê-los é acirrada. Cada religião procura imprimir seus símbolos e marcas
distintivas nos fiéis para que sejam identificados e reconhecidos por
pertencerem a ela. Sectários, os pentecostais até há pouco eram reconhecidos, e
muitas vezes estigmatizados, pela veiculação pública de sua identidade, já que
a conversão pentecostal implicava mudar de comportamento, de estilo de vida, de
visão de mundo e participar preferencialmente da comunidade religiosa. Com a
mobilidade social de parte da membresia e a irrupção do neopentecostalismo,
isso mudou, ainda que parcialmente. Mas se ficaram menos sectários e menos
distintos, permaneceram intransigentes no plano religioso.
A intransigência
discursiva do pentecostal, de todas as matizes, deriva de sua convicção de
possuir, com exclusividade, a verdade divina e constitui forma de autoafirmação
e defesa de sua identidade religiosa. Ligeiramente arrogante e portador de
certezas congeladas, jamais omite as vantagens de ser crente nem relativiza sua
opção religiosa. Para quem, por meio da conversão, supõe ter recomposto a
integridade psíquica, encontrado sentido e forjado identidade segura e que
pretende inabalável, a relativização de sua fé representaria o perigo de
retorno à dolorosa experiência pré-conversão, quando os referenciais de
sentido, as regras e normas de conduta encontravam-se subjetivamente em
frangalhos.
Mesmo entre as igrejas
pentecostais, há as exclusivistas que negam às outras, para retirá-las do páreo
e desqualificá-las, a posse dos bens de salvação. Recusam-se a identificá-las
como legitimamente bíblicas, de modo a pleitear para si o poder e status que os
símbolos, compartilhados em seu meio, conferem. Portadores de identidades em
conflito, disputam palmo a palmo o monopólio dos bens de salvação e da
definição dos símbolos sagrados.
A partir de sua
interpretação bíblica, pastores e fiéis avaliam e criticam tudo à sua volta.
Elegem o mundanismo e as outras religiões como alvos prediletos de ataque. Isto
é, canalizam sua agressividade para os de fora de seu grupo. Tudo que repudiam
nas religiões com as quais se relacionam e concorrem visa a aclamá-los como
detentores exclusivos da verdade e virtude bíblicas que conduzem à salvação.
Mas, quando, para cumprir ordens pretensamente divinas e impor sua verdade,
avançam destemidos como vimos, além das fronteiras dos templos, correndo o
risco de desencadear senão a “guerra santa”, mas ao menos uma perversa maré de
atos de intolerância explícita.”
“A guerra travada dia a
dia contra a umbanda, o candomblé, o kardecismo e a Igreja Católica torna seus
elementos parte integrante da própria identidade da Universal, a mais combativa
das igrejas neopentecostais, e da Internacional da Graça. Essa identidade se
estrutura na relação com o outro, seja ela pacifica ou não. Sem o Diabo, sem o
inimigo incessantemente expulso, humilhado, combatido, vilipendiado, Universal e
Internacional da Graça não seriam quem são nem quem presumem ser. Precisam
estar combatendo e vencendo um inimigo forte e poderoso para atestar seu
próprio poderio espiritual. Enfim, sem o Diabo e seus asseclas, não teriam como
justificar, diagnosticar e sanar os males que acometem os fiéis, nem como
legitimar sua própria existência ou sua natureza divina.”
“Diante de tamanha ênfase
na figura do Diabo como princípio explicativo, causa do mal e até de
comportamentos antissociais, cabe um parêntese para discutir, rapidamente, a
questão da ética e da culpa nesse meio religioso. Embora as igrejas
neopentecostais sejam quase tão moralistas quanto as que as precederam, nelas
pouca coisa é dita sobre livre-arbítrio, escolha entre opções éticas distintas,
pecado e responsabilidade do fiel frente à vida que leva e aos males que o
acometem. Se peca ou é acometido por problemas, ele é, antes de tudo, vítima da
tirania do Diabo. Dada sua inclinação pecaminosa, facilmente se deixa dominar pelo
mal que o ronda, que o impele a agir. Tal vulnerabilidade decorre do fato de
ele não estar totalmente sob o “temor de Deus”. Contudo, não é culpado disto,
pelo menos não totalmente, nem tem do que se arrepender. Embora dotado de
autoridade concedida a ele por Deus para amarrar, expulsar e repreender
demônios em nome de Jesus, parece deter pouca capacidade de reação e
autodeterminação, conquanto não seja uma simples marionete nas mãos de Satã.
Quanto mais próximo de Deus estiver, ou na “plenitude do Espírito”, mais força
terá para permanecer liberto. Tal vulnerabilidade ao poder demoníaco já serviu
até de justificativa para atos moral e criminalmente condenáveis.
Sônia Oliveira, 18 anos,
procurou Paulo Gomes de Oliveira, pastor da Universal, para resolver problemas
espirituais. Ele levou-a para a sede da igreja na Vila Galvão e a estuprou.
Preso em flagrante, alegou que não teve intenção de estuprar: “Fui possuído por
espíritos, que me obrigaram ao ato” (Folha
de S. Paulo, 26.9.90).
A atrofiada concepção de
autodeterminação ou de livre-arbítrio está diretamente vinculada à própria
ideia de libertação do mal pregada pelos neopentecostais. A libertação ritual
não conduz necessariamente à conversão do possesso. Do mesmo modo que o
fiel/frequentador é vítima requente de demônios sem que esboce qualquer ação
livre e autônoma resultando em pecado, afastamento de Deus ou algum ato
malévolo, também “a libertação é um ato praticado pelo pastor e independe da
vontade da pessoa” (Mariza Soares, 1990: 87). Enfraquecida a concepção de
autodeterminação,
debilitam-se também as noções de culpa e pecado e, por consequência, a ética,
cristã ou não, fundada na responsabilidade pelos atos cometidos.”
“Em
programa de rádio, depois de afirmar que no culto dominical ouvira um “coro de
anjos” e de imitar a voz de um deles, a bispa Sônia Hernandes travou o seguinte
diálogo — que demonstra como as crenças pentecostais, longe de destruírem, por
seu exclusivismo e caráter transnacional, as crenças preexistentes e o
imaginário religioso popular, podem reinterpretá-los e incorporá-los — com o
vice-presidente da Renascer na época, pastor Osvaldo Bertoni.
Sônia — Você já soube de algum caso de gente ser transformada
em bicho?
Bertoni — Você está falando de lobisomem?
Sônia — É, esses negócios de mulas-sem-cabeça por aí.
Bertoni — Eu já soube. Eu atendi uma vida que presenciou
isso com o pai dela (...) É verdade. O homem era envolvido com feitiçaria.
Praticava as feitiçarias de São Cipriano, que é um livro maldito (...) Ela
tinha 7 anos de idade, quando um dia veio uma pessoa para matar o seu pai. A
mãe já havia falado a ela: Tome cuidado com o seu pai, porque ele se transforma
em moita, cerca, árvore, arbusto! E naquele dia ela viu seu pai sair correndo
quando soube que a pessoa vinha matá-lo. Correu para o curral de vacas. Ela
correu atrás. Mas, naquele momento, ele se transformou numa vaca e entrou no
meio do rebanho.
Sônia – Ah não!
Bertoni – Verdade. Esta vida ficou detonada. Agora ela tem
quarenta e poucos anos (...) Ela viu o pai virar uma vaca. E aquele homem,
aquela vaca, não sei como é que eu chamo, ficou lá no meio até o fim da tarde,
porque o homem que queria matá-lo não ia embora. Quando o homem desistiu, aí,
ela ali vendo, o pai dela voltou do meio de uma vaca. Isso causou trauma, desgraça, um problema tão grande (...)
Essa vida teve todos os problemas possíveis. Quando nós a atendemos, ela já
havia encontrado o Senhor havia algum tempo, mas sua vida estava amarrada (...) A contaminação foi tão
grande, o pai tinha feito oferecimento para estes demônios todos (...) O
processo de libertação dela durou umas quatro horas (...) Ao passar pela
libertação, Deus começou a realizar coisas grandiosas através dela (...)
Aconteceram curas interiores nela. Jesus tratou e restaurou aquela vida (Rádio Imprensa Gospel FM, 3.12.92).”
“A emergência de
escândalos políticos e financeiros, o enriquecimento de pastores, a cobrança
insistente de ofertas conjugada à malversação de recursos arrecadados e a
campanha difamatória, porque generalizante, conduzida pela mídia nos casos envolvendo Edir Macedo, resultaram em sérios custos
éticos para o pentecostalismo, abalando sua antiga imagem de retidão moral. De
modelos de comportamento ético, pastores pentecostais passaram a ser vistos,
pelos de fora, como espertalhões. A ponto de, em certos contextos, pastores
sentirem-se na obrigação de dar explicações antepondo-se a prováveis
discriminações, enquanto outros, para pouparem esforços pouco eficazes,
simplesmente omitem a identidade de ministros evangélicos. Já os fiéis se
tornaram objeto, de um lado, de sarcasmo, de outro, da piedade de quem os
encara como ingênuos submetidos a explorações aviltantes e mal disfarçadas. Em
conversas informais travadas nos mais distintos meios sociais no Brasil, fundar
uma igreja pentecostal tomou-se sinônimo de “tirar a sorte grande”, montar um
negócio escuso e altamente lucrativo, baseado na venda de promessas vãs, ou de
“mercadorias” que não são, nem podem ser, entregues pelos que se dizem
intermediários de Deus. Daí o surgimento do sarcástico bordão: “Templo é
dinheiro”.”
“Em
processo de acomodação à sociedade, os crentes, mormente os neopentecostais,
mudaram sua relação com o dinheiro, que adquiriu conotação e valor teológico
positivos, tornando-se até objeto de cultos especiais, as correntes da
prosperidade, baseados na formulação “é dando que se recebe”. Pastores, sem
cerimônia, passaram a pedi-lo em grandes quantias, enquanto os fiéis, sem
culpa, assumiram seus desejos de consumo e ambições materiais. Mas a nova relação
dos pastores com o dinheiro, encarada como charlatanice por muitos, veio
somar-se às acusações de fisiologismo e corrupção na política partidária, ao
enriquecimento de líderes ministeriais e à exploração da credulidade e
ingenuidade dos fiéis. Com isso, a boa reputação de muitas lideranças
pentecostais, se não foi a nocaute, passou a ser seriamente questionada.”
“Com o
neopentecostalismo, os conventículos de crentes virtuosos (expressão empregada
por Weber para se referir aos puritanos) cederam terreno a cinemas, teatros e
prédios desativados. Neles, as massas de crentes — cada vez mais conformadas
aos valores e padrões de conduta da sociedade e, portanto, cada vez menos
sectárias e distintas dos não-crentes — passaram a se acomodar para cultuar e
pleitear graças a Deus, submetendo-se a um rol de sacrifícios comportamentais
comparativamente bem menos rigoroso do que o praticado por seus irmãos de fé
das vertentes pentecostais tradicionais. A ética de ascetismo e de renúncia do
mundo perderam terreno e sentido.
Nas sociedades ocidentais
industrializadas e urbanizadas, afirma Wallis (1987), a religião cada vez menos
cria um “modo de vida” peculiar. Para sobreviver à concorrência e superá-la,
cada religião deixa de ser um fim em si para se configurar como meio para
atingir fins definidos por demandas e imperativos seculares. Fica a reboque das
vicissitudes e dos desejos do consumidor religioso. Com isso, perde sua
capacidade de reencantar o mundo. Toma-se mais uma mercadoria de consumo. Este
bem parece ser o caso do neopentecostalismo. Sua mensagem, especializada na
resolução de demandas seculares do cotidiano, não exige que os fiéis se tornem
“ETs” (estejam neste mundo mas não pertençam a ele) ou assumam um modo de vida
distinto, ascético e sectário. Requer apenas participação, fidelidade e o vil
metal, o que não é pouco. Em troca, promete a realização dos desejos dos fiéis:
uma vida saudável, próspera, longa, feliz e vitoriosa. Vida ideal que, como
diria Nietzsche, nega a condição humana.”
“A
promessa de salvação paradisíaca no pentecostalismo sempre foi acompanhada de
forte rejeição e desvalorização do mundo. O neopentecostalismo transformou as
tradicionais concepções pentecostais acerca da conduta e do modo de ser do
cristão no mundo. Ser cristão tomou-se o meio primordial para permanecer
liberto do Diabo e obter prosperidade financeira, saúde e triunfo nos
empreendimentos terrenos. Manter uma boa relação com Deus passou a significar o
mesmo que se dar bem nesta vida. “Ter um encontro com Cristo”, portanto,
corresponde, na visão dos líderes neopentecostais, a gozar uma vida próspera e
feliz, ou à certeza de poder contar com a efetiva intervenção divina em toda e
qualquer circunstância, mesmo que seja para satisfazer interesses e ambições
materiais. De sorte que o crente neopentecostal, às expensas da tradicional
postura sectária, ascética e contracultural do pentecostalismo, passou a
estabelecer sólidos compromissos com o mundo, com seus valores hedonistas, com
seus interesses materialistas e com seus prazeres.”
“Deve-se, contudo, ter
prudência acerca da potencialidade redentora da conversão ou filiação
pentecostal. A suposta vida comunitária e moralidade de cunho bíblico
pentecostais estão longe de constituir anteparo suficiente para evitar até
mesmo algo tão grave como a criminalidade juvenil. Pesquisa feita pela
Faculdade de Saúde Pública da USP com 390 familiares de menores internados na
Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor de São Paulo (Febem), entre março e
junho de 1997, revelou que 44% dos pais dos infratores frequentavam cultos
evangélicos. Essa cifra é quase quatro vezes maior do que a representada pelos
evangélicos na população brasileira, dado que sugere o insucesso (o oposto do
esperado) dessas famílias crentes na socialização primária, na formação ética e
na contenção de seus filhos da marginalidade social.”
“Mas não são das seitas
puritanas tradicionais que estamos tratando. Isto é, não são elas que assustam,
causam temor e mal-estar, mas sim as mais recentes, as fundamentalistas,
surgidas a partir do começo do século em reação à teologia liberal
(demograficamente inexpressivas no Brasil), e as pentecostais, essas sim
numerosas. Tais grupos são antiintelectuais, antiecumênicos e, frequentemente,
politicamente conservadores. Desejam, por meio da conversão individual, da
inculcação da moral cristã, e mais recentemente, da mídia e da participação
direta nos poderes políticos constituídos, estabelecer um regime teocrático, a
dominação cristã do Estado e da vida privada.
Mas qual o poder efetivo
das igrejas pentecostais? Elas possuem discurso religioso fervoroso, combativo
e relativamente padronizado, ampla rede de templos e de pastores bem organizada,
em alguns poucos casos muito dinheiro, recursos humanos de sobra, emissoras de
rádio e TV, jornais, revistas, editoras, gravadoras, dezenas de parlamentares
em todo o espectro partidário. Pode-se notar de imediato que tais igrejas, no
conjunto, detêm algum poder. De posse dele, tentam influir nos destinos da
nação de dois modos. O primeiro toma a tradicional via da conversão, da
moralização e da evangelização: “transformar o indivíduo para transformar a
sociedade”. O segundo, mais recente, opta pelas vias midiática e política.”
“Quando uma religião,
para evitar defecções, mantiver estável sua membresia e tornar-se atraente aos
olhos da clientela, deixa de controlar o tipo de corte e o comprimento do
cabelo dos fiéis, para de padronizar seu vestuário e aparência, desiste de
impor limites de se imiscuir no lazer e nas variadas formas de entretenimento e
de busca de prazer, dos membros, atividades de que se ocupava com extremo zelo,
e passa a prometer o céu na terra, prosperidade material e felicidade, ela está
irremediavelmente se secularizando, cedendo terreno para forças secularizantes
implacavelmente muitíssimo mais poderosas do que as encerradas no dogmatismo e
moralismo religiosos. Noutros termos, para sobreviver e crescer no Brasil de
hoje cada vez mais secularizado, cada vez mais indiferente às instituições
religiosas e aos poderes eclesiásticos tradicionais, cada vez mais radicalmente
avesso às regras e imposições reguladoras da intimidade e do tempo de lazer e
cada vez mais liberal no plano comportamental, várias igrejas pentecostais
resolveram, esperta e realisticamente, abrir mão de preceitos, valores,
tradições, tabus e verdades anacrônicos, disfuncionais e impopulares.
Estratégia que representa a admissão crassa da crescente limitação de seu poder
de impor normas severas de conduta, de exigir o indesejado, de requerer o
sacrifício. Todavia, uma das razões do sucesso numérico do neopentecostalismo
reside justamente na capacidade de — ao reconhecer a ululante inexpressividade
cultural e política do antigo modelo pentecostal sectário, contracultural e
moralista — se contextualizar, flexibilizar, acomodar, secularizar, adaptando
sua mensagem aos anseios das massas pobres e marginalizadas. Seu sucesso,
portanto, implica o declínio no compromisso com crenças puritanas, o abandono
(ainda parcial, mas crescente) de práticas ascéticas, a perda, enfim, da
distintividade da conduta e aparência dos adeptos.”
“O neopentecostalismo,
como estratégia proselitista, relativamente pouco exige dos adeptos. A exceção
mais evidente fica por conta dos incessantes pedidos financeiros. Em troca,
promete tudo, solução dos problemas, o fim do sofrimento, a panaceia. Seu
sucesso fundamenta-se extensamente no milagre, na magia, na experiência
extática, no transe, no pietismo ou na manipulação da emoção transbordante e
desbragada, todas elas práticas desprezadas e reprimidas pelas igrejas Católica
e protestantes históricas. Propicia, em suma, magia e catarse para as massas. E
uma boa pitada do velho moralismo cristão. Secularização comportamental,
retrocesso mágico (em relação ao longo processo de secularização católica e
protestante) e reatualização de pensamentos e visões de mundo arcaicos.”
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