quarta-feira, 15 de julho de 2015

O Quarteto de Alexandria: Balthazar, de Lawrence Durrell

Editora: Ediouro

ISBN: 978-85-0001-757-5

Tradução: Daniel Pellizzari

Opinião: ★★★★☆

Páginas: 200

Sinopse: Intriga, mistério e sensualidade na cosmopolita e poliglota cidade de Alexandria no tempo da Segunda Guerra Mundial. Os quatro romances que compõem O Quarteto de Alexandria Justine, Balthazar, Mountolive e Clea – exploram a sociedade daquela cidade poliglota e cosmopolita, repleta de intrigas, mistério e sensualidade, retomando genericamente uma mesma história sob diferentes pontos de vista, acrescentando e refazendo pormenores e situações.

Em Balthazar, o segundo livro desta tetralogia, o narrador, isolado numa ilha onde vive com a pequena filha de Melissa, recebe a inesperada visita de Balthazar, que lhe entrega o manuscrito de Justine. Relendo o seu próprio texto e os comentários do amigo, Darley revive o seu envolvimento com as mulheres do seu passado e toma conhecimento de novos fatos.


 

“Um diário é a última fonte a ser consultada quando se busca a verdade sobre alguém. Ninguém ousa confessar ao papel as verdades supremas acerca de si mesmo: pelo menos no que tange ao amor.”

 

 

“Quando se colhe uma flor, a haste treme e retorna à posição inicial. Não se pode dizer os mesmos dos transtornos do coração.”

 

 

“A verdade é aquilo que mais se contradiz com o passar do tempo.”

 

 

“É bem possível amar aqueles a quem mais magoamos.”

 

 

“Somos criadores de nossos próprios infortúnios, que sempre carregam nossas impressões digitais.”

 

 

“E mesmo Clea, tão inexperiente, não podia senão compadecer-se quando Justine dizia coisas como “Não valho grande coisa, sabe. Arnauti costumava dizer que só consigo gerar tristeza. Ele despertou minha lucidez e ensinou-me que nada importa além do prazer – que é o oposto da felicidade, sua porção trágica, imagino.” Clea comoveu-se porque lhe parecia claro que Justine nunca havia experimentado o verdadeiro prazer – para isso é necessário ser generoso. O egoísmo é uma fortaleza na qual a consience de soi-même a tudo corrói, como um ácido. Não há dúvidas de que o verdadeiro prazer está na doação.”

 

 

“O amor é como uma guerra de trincheiras – não enxergamos o inimigo, mas sabemos que ele está ali e que é melhor não levantar a cabeça.”

 

 

“Lembro de ir até o cais esperar pelo navio de Pursewarden, acompanhado por um Keats ofegante – que tinha a intenção de entrevistá-lo. Chegamos atrasados e o encontramos preenchendo o formulário de imigração. Na coluna ‘religião’, havia escrito ‘Protestante – apenas no sentido de que protesto’.

Convidamos Pursewarden para beber alguma coisa, para que Keats pudesse fazer sua entrevista. O pobre rapaz estava completamente transtornado. Pursewarden tinha um sorriso especial que usava somente para a imprensa. É o mesmo sorriso que poderia ser visto no rosto de um bebê morto. Mais tarde aprendi seu significado. Indicava que Pursewarden estava prestes a atentar contra o bom senso com algumas de suas ironias. Não queria divertir ninguém além de si mesmo, saiba disso. Keats ofegava, suspirava, parecia ‘sincero’ e compenetrado, mas tudo em vão. Mais tarde pedi uma cópia datilografada da entrevista, que Keats entregou com um ar perplexo, explicando que aquele homem não era ‘notícia’. Pursewarden dissera coisas como ‘É dever de todo patriota odiar seu país de forma criativa’ e ‘Acima de tudo, a Inglaterra precisa de bordeis’; este último comentário deixou o pobre Keats um pouco atônito.

Pursewarden escreveu certa vez ao seu adorado D. H. Lawrence: “Maître, Maître, tome cuidado. Ninguém pode ser rebelde por muito tempo sem se transformar em autocrata”.

Quando queria discutir uma obra de arte medíocre, comentava com um tom de aprovação: ‘Bem competente’. Era uma finta. Como não se interessava o suficiente por arte a ponto de querer discutir o assunto com outras pessoas (‘cães farejando uma cadela pequena demais para ser montada’), dizia ‘Bem competente’. Uma vez estava bêbado e completou: ‘Em arte, competente é tudo aquilo que violenta a emoção do público sem lhe nutrir de valores’.”

 

 

“Quase nada pode ser mais cruel que a autêntica honestidade.”

 

 

“De certo modo, Pursewarden realmente era o homem certo para Justine, mas como você deve saber, a suposta pessoa ‘certa’ sempre chega cedo ou tarde demais; é uma das leis do amor.”

 

 

“Desencorajar Justine era uma tarefa tão simples quanto cancelar um equinócio.”

 

 

“Pursewarden conseguia fazer com que ela risse – certamente a coisa mais perigosa que pode ser feita a uma mulher, pois o riso é o que mais valorizam depois da paixão. Fatal! (...) Então atacava de repente com alguma frase terrível, como ‘Todos nós buscamos alguém adorável para trair’.”

 

 

“Aos que não têm filhos, todas as coisas são vazias de ressonância.”

 

 

“A verdade, embora impiedosa como o amor, sempre é um tesouro.”

 

 

“– O fruto da árvore do bem e do mal não é outro senão a carne.”

 

 

“Um navio sem vela é uma mulher sem seios. Nada mais.”

 

 

“Ao ser pronunciada, a verdade é sempre reduzida à metade.”

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