Editora: Ediouro
ISBN: 978-85-0002-554-9
Tradução: Fernando
Py
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 432
Sinopse: Ver primeiro
livro
“Mas às vezes o futuro nos habita sem que o
saibamos, e nossas palavras que creem mentir estão descrevendo uma realidade
que se aproxima.”
“– Adeus, mal pude lhe falar; é assim mesmo
na sociedade, a gente mal se vê, não diz as coisas que gostaria de dizer.
Aliás, dá-se o mesmo em toda parte na vida. Esperemos que após a morte as
coisas sejam mais bem arranjadas. Pelo menos, não haverá necessidade de estar
sempre a decotar-se. E mesmo assim, quem sabe? Talvez a gente exiba os ossos e
os vermes para as grandes recepções. Por que não?”
“Finalmente, foi a própria vida que ela nos
declarou ser uma coisa enfadonha, sem que se soubesse com certeza de onde
tirava o seu termo de comparação.”
“Mesmo que o atavismo e as parecenças de
família fossem as únicas causas em jogo, é inevitável que o tio que prega o
sermão tenha mais ou menos os mesmos defeitos que o sobrinho a quem foi
encarregado repreender. O tio, aliás, não põe nisso nenhuma hipocrisia,
enganado que está pela faculdade que têm os homens de acreditar, em cada nova
circunstância, que se trata de "outra coisa", faculdade que lhes
permite adotar erros artísticos, políticos, etc.; sem se aperceberem de que são
os mesmos que tomaram por verdades, dez anos antes, a propósito de outra escola
de pintura, que condenavam, de outro caso político, que juravam merecer o seu
ódio, de que se afastaram, e que esposam sem os reconhecer sob um novo disfarce.”
“Pensava nas imagens que me haviam decidido
voltar a Balbec. Eram bem diferentes das de outrora, a visão de que eu vinha
buscar era tão esplêndida como a primeira era brumosa; não deviam me
decepcionar menos. As imagens escolhidas pela lembrança são tão arbitrárias,
tão estreitas, tão inatingíveis como as que a imaginação havia formado e a
realidade destruíra. Não há motivo para que, fora de nós, um local de verdade
possua de preferência os quadros da memória do que os do sonho. E depois, uma nova
realidade nos fará talvez esquecer, e até mesmo detestar, os desejos em virtude
dos quais tínhamos partido.”
“Frequentemente faz mal pensar.”
“Sem dúvida, embora cada qual fale
mentirosamente da ternura de ser amado, sempre recusada pelo destino, trata-se
de uma lei geral a que diz que a criatura a quem não amamos que nos ama
pareça-nos insuportável.”
“Os prazeres que temos no sono, não os
fazemos figurar na conta dos prazeres experimentados durante a existência. Para
só aludirmos ao mais vulgarmente sensual de todos, qual de nós, ao despertar,
não sentiu alguma irritação por ter experimentado, enquanto dormia, um prazer
que, se não queremos nos cansar demais, já não podemos, uma vez despertos,
renovar indefinidamente nesse dia? É como uma riqueza perdida. Tivemos prazer
em uma outra vida que não a nossa. Sofrimentos e prazeres do sonho (que em
geral se dissipam rapidamente ao despertar), se os fizéssemos figurar num
orçamento, não seria no da vida corrente.”
“Ninguém gosta de exibir os parentes que
permanecem aquilo que tanto nos esforçamos para deixar de ser.”
“Há uma coisa ainda mais difícil do que
seguir uma regra: é não impô-la aos outros.”
“Por mais que minhas malas já estejam
prontas, a gente nunca dispõe de tempo num dia de partida.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário