Editora: Nova Fronteira
ISBN: 978-85-209-0426-8
Tradução: H. P. de Andrade
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 216
Sinopse: Einstein
trata dos problemas fundamentais do ser humano – nos campos social, político,
econômico e cultural – e torna clara sua posição diante deles: a de um sábio
radicalmente consciente de que, sem a liberdade de ser e agir, o homem, por
mais que conheça e possua, não é nada.
“Minha condição humana me fascina. Conheço o
limite de minha existência e ignoro por que estou nesta terra, mas às vezes o pressinto.
Pela experiência cotidiana, concreta e intuitiva, eu me descubro vivo para
alguns homens, porque o sorriso e a felicidade deles me condicionam
inteiramente, mas ainda para outros que, por acaso, descobri terem emoções
semelhantes às minhas.
E cada dia, milhares de vezes, sinto minha
vida – corpo e alma – integralmente tributária do trabalho dos vivos e dos
mortos. Gostaria de dar tanto quanto recebo e não paro de receber. Mas depois
experimento o sentimento satisfeito de minha solidão e quase demonstro má
consciência ao exigir ainda alguma coisa de outrem. Vejo os homens se
diferenciarem pelas classes sociais e sei que nada as justifica a não ser pela
violência.”
“A pior das instituições gregárias se
intitula exército. Eu o odeio. Se um homem puder sentir qualquer prazer em
desfilar aos sons de música, eu desprezo este homem... Não merece um cérebro
humano, já que a medula espinhal o satisfaz. Deveríamos fazer desaparecer o
mais depressa possível este câncer da civilização. Detesto com todas as forças
o heroísmo obrigatório, a violência gratuita e o nacionalismo débil. A guerra é
a coisa mais desprezível que existe. Preferiria deixar-me assassinar a
participar desta ignomínia.
No entanto, creio profundamente na
humanidade. Sei que este câncer de há muito deveria ter sido extirpado. Mas o
bom senso dos homens é sistematicamente corrompido. E os culpados são: escola,
imprensa, mundo dos negócios, mundo político.”
“Homens reconhecem então algo de impenetrável
a suas inteligências, conhecem porém as manifestações desta ordem suprema e da
Beleza inalterável. Homens se confessam limitados e seu espírito não pode
apreender esta perfeição. E este conhecimento e esta confissão tomam o nome de
religião. Deste modo, mas somente deste modo, soa profundamente religioso, bem
como esses homens. Não posso imaginar um Deus a recompensar e a castigar o
objeto de sua criação. Não posso fazer ideia de um ser que sobreviva à morte do
corpo. Se semelhantes ideias germinam em um espírito, para mim é ele um fraco,
medroso e estupidamente egoísta.”
“Pouco importa em que lugar, em quinze dias,
uma campanha da imprensa pode instigar uma população incapaz de julgamento a um
tal grau de loucura, que os homens se prontificam a vestir a farda de soldado
para matar e se deixarem matar. E seres maus realizam assim suas intenções
desprezíveis. A dignidade da pessoa humana está irremediavelmente aviltada pela
obrigação do serviço militar e nossa humanidade civilizada sofre hoje deste
câncer.”
“A condição dos homens seria lastimável se
tivessem de ser domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma
recompensa depois da morte.”
“Ora, existe um contraste grotesco entre as
capacidades e os poderes que os homens me atribuem e aquilo que sou e o que
posso. A consciência deste estado de coisas falacioso seria insuportável, se
uma soberba compensação não me consolasse. Porque é um sinal encorajador em
nossa época, tida por tão materialista, que transforme homens em heróis, quando
as finalidades de tais heróis se manifestam exclusivamente no domínio
intelectual e moral. Isto prova que o conhecimento e a justiça são, para grande
parte da humanidade, julgados superiores à fortuna e ao poder.”
“O que há de melhor no homem somente
desabrocha quando se desenvolve em uma comunidade.”
“O esforço para unir sabedoria e poder
raramente dá certo e somente por tempo muito curto.”
“O homem habitualmente evita reconhecer
inteligência em outro, a não ser quando, por acaso, se trata de um inimigo.”
“Poucos seres são capazes de dar bem
claramente uma opinião diferente dos preconceitos de seu meio. A maioria é
mesmo incapaz de chegar a formular tais opiniões.”
“A maioria dos imbecis permanece invencível e
satisfeita em qualquer circunstância. O terror provocado por sua tirania se
dissipa simplesmente por sua distração e por sua inconsequência.”
“Para ser um membro irrepreensível de uma
comunidade de carneiros, é preciso, antes de tudo, ser também carneiro.”
“Quem banca o original neste mundo da verdade
e do conhecimento, quem imagina ser um oráculo, fracassa lamentavelmente diante
da gargalhada dos Deuses.”
“Contudo, em primeiro lugar, com Schopenhauer,
imagino que uma das mais fortes motivações para uma obra artística ou
científica consiste na vontade de evasão do cotidiano com seu cruel rigor e
monotonia desesperadora, na necessidade de escapar das cadeias dos desejos
pessoais eternamente instáveis. Causas que impelem os seres sensíveis a se
libertarem da existência pessoal, para procurar o universo da contemplação e da
compreensão objetivas. Esta motivação assemelha-se à nostalgia que atrai o
morador das cidades para longe de seu ambiente ruidoso e complicado, para as
pacíficas paisagens das altas montanhas, onde o olhar vagueia por uma atmosfera
calma e pura e se perde em perspectivas repousantes, que parecem ter sido
criadas para a eternidade.”
“No momento atual, em que situação no corpo
social da humanidade se encontra o homem de ciência? Em certa medida, pode
felicitar-se de que o trabalho de seus contemporâneos tenha radicalmente
modificado, ainda que de modo muito indireto, a vida econômica por ter
eliminado quase inteiramente o trabalho muscular. Mas sente-se também
desanimado, já que os resultados de suas pesquisas provocaram terrível ameaça
para a humanidade. Porque esses resultados foram apropriados pelos
representantes do poder político, estes homens moralmente cegos. Percebe também
a terrível evidência da fenomenal concentração econômica engendrada pelos
métodos técnicos provindos de suas pesquisas. Descobre então que o poder
político, criado sobre essas bases, pertence a ínfimas minorias que governam à
vontade, e completamente, uma multidão anônima, cada vez mais privada de
qualquer reação. Mais terrível ainda se lhe impõe outra evidência. A
concentração do poder político e econômico nas mãos de tão poucas pessoas não
acarreta somente a dependência material exterior do homem de ciência, ameaça ao
mesmo tempo sua existência profunda. De fato, pelo aperfeiçoamento de
técnicas requintadas para dirigir uma pressão intelectual e moral, ela impede o
aparecimento de novas gerações de seres humanos de valor, mas independentes.
Hoje, o homem de ciência se vê
verdadeiramente diante de um destino trágico. Quer e deseja a verdade e a
profunda independência. Mas, por estes esforços quase sobre-humanos, produziu
exatamente os meios que o reduzem exteriormente à escravidão e que irão
aniquilá-lo em seu íntimo. Deveria autorizar aos representantes do poder
político que lhe ponham uma mordaça. E como soldado, vê-se obrigado a
sacrificar a vida de outrem e a própria, e está convencido de que este
sacrifício é um absurdo. Com toda a inteligência desejável, compreende que, num
clima histórico bem condicionado, os Estados fundados sobre a ideia de Nação
encarnam o poder econômico e político e, por conseguinte, também o poder
militar, e que todo este sistema conduz inexoravelmente ao aniquilamento
universal. Sabe que, com os atuais métodos de poder terrorista, somente a
instauração de uma ordem jurídica supranacional pode ainda salvar a humanidade.
Mas é tal a evolução, que suporta sua condenação à categoria de escravo como
inevitável. Degrada-se tão profundamente que continua, a mandado, a aperfeiçoar
os meios destinados à destruição de seus semelhantes.
Estará realmente o homem de ciência obrigado
a suportar este pesadelo? Terá definitivamente passado o Tempo em que sua
liberdade íntima, seu pensamento independente e suas pesquisas podiam iluminar
e enriquecer a vida dos homens? Teria ele se esquecido de sua responsabilidade
e sua dignidade, por ter seu esforço se exercido unicamente na atividade
intelectual? Respondo: sim, pode-se aniquilar um homem interiormente livre e
que vive segundo sua consciência, mas não se pode reduzi-lo ao estado de
escravo ou de instrumento cego.
Se o cientista contemporâneo encontrar tempo
e coragem para julgar a situação e sua responsabilidade, de modo pacífico e
objetivo, e se agir em função deste exame, então as perspectivas de uma solução
racional e satisfatória para a situação internacional de hoje, excessivamente
perigosa, aparecerão profunda e radicalmente transformadas.”
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