Editora: Aleph
ISBN: 978-85-7657-197-1
Tradução: Fábio Fernandes
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 301
Link para compra: Clique aqui
Análise em vídeo: Clique
aqui
Sinopse: Ver Primeiro livro
“O homem que não tinha outro nome
a não ser Mulo e nenhum título a não ser Primeiro Cidadão olhava, através das
paredes que eram como espelhos de face única, para a cidade brilhante e nobre
no horizonte.
No fim de tarde, as estrelas
surgiam e não havia nenhuma que não devesse obediência.
Ele sorriu com uma amargura
fugaz, perante o pensamento. Elas deviam obediência a uma personalidade que
poucos haviam visto.
Ele não era um homem para ser
contemplado, o Mulo – não era um homem para ser contemplado sem desdém. Pouco
mais de 50 quilos esticados em 1,70 m. Seus membros eram como pequenos caules
ossudos que saíam de seu corpo esquelético em ângulos pouco graciosos. E seu
rosto magro estava quase tomado pela proeminência de um bico carnudo que se
projetava, chegando a sete centímetros.
Somente seus olhos desmentiam a
comédia geral que era o Mulo. Na suavidade – algo estranho de se encontrar no
maior conquistador da Galáxia – de seus olhos, a tristeza nunca estava de todo
apagada.
Na cidade, encontrava-se toda a
alegria de uma capital luxuosa de um mundo luxuoso. Ele poderia ter estabelecido
sua capital na Fundação, o mais forte entre todos os seus inimigos
conquistados, mas ela estava muito longe, na borda da Galáxia. Kalgan, mais
centralmente localizada, com uma longa tradição de parque de diversões da
aristocracia, servia melhor – estrategicamente.
Mas, em sua tradicional alegria,
aumentada por uma prosperidade nunca antes vista, ele não encontrava paz.
Eles o temiam, obedeciam e,
talvez, até respeitassem – de uma boa distância. Mas quem poderia olhar para
ele sem desdém? Somente os que tinham sido convertidos. E de que valia essa
lealdade artificial? Não tinha sabor. Ele poderia ter adotado títulos, imposto
um ritual e inventado elaborações, mas mesmo isso não teria mudado nada. Melhor
– ou menos pior – ser simplesmente o Primeiro Cidadão – e se esconder.
Houve uma repentina onda de
rebelião dentro dele – forte e brutal. Nenhuma porção da Galáxia deveria ser
negada a ele. Por cinco anos, permanecera silencioso e enterrado aqui em Kalgan
por causa da ameaça eterna, mística, espalhada pelo espaço da nunca vista,
nunca ouvida, nunca conhecida Segunda Fundação. Ele tinha trinta e dois anos.
Não era velho – mas se sentia velho. Seu corpo, quaisquer que fossem seus
poderes mentais mutantes, era fisicamente fraco.
Todas as estrelas! Todas as estrelas
que ele podia ver – e todas as estrelas que não conseguia ver. Tudo devia ser
dele!
Vingança contra todos. Contra uma
humanidade da qual não fazia parte. Contra uma Galáxia onde não se encaixava.”
“– Onde a história se preocupa
principalmente com as personalidades, os esboços podem ser tanto positivos
quanto negativos, de acordo com os interesses do escritor.”
“– Um Orador deve ser capaz de
discutir o Plano sem matemática. Se não o Plano em si, pelo menos sua filosofia
e seus objetivos. Primeiro de tudo, qual é o objetivo do Plano? Por favor,
diga-me em suas próprias palavras... e não fique procurando lindas palavras.
Você não será julgado por polidez e suavidade, eu garanto.
Foi a primeira chance do
Estudante de dizer mais de uma sentença, e ele hesitou antes de mergulhar no
espaço cheio de expectativas que se abriu à sua frente. Começou a falar, com
modéstia:
– Como resultado do que aprendi,
acredito que é a intenção do Plano estabelecer uma civilização humana baseada
em uma orientação inteiramente diferente de qualquer coisa que já existiu
antes. Uma orientação na qual, de acordo com as descobertas da psico-história,
nunca poderia espontaneamente chegar a existir...
– Pare! – insistiu o Primeiro
Orador. – Você não deve falar “nunca”. Essa é uma difamação preguiçosa dos
fatos. Na verdade, a psico-história prevê somente probabilidades. Um evento em
particular pode ser infinitesimalmente provável, mas a probabilidade é sempre
maior do que zero.
– Sim, Orador. A orientação
desejada, se posso me corrigir, então, sabe-se muito bem que não possui nenhuma
probabilidade significativa de acontecer espontaneamente.
– Melhor. Qual é a orientação?
– É a de uma civilização baseada
na ciência mental. Em toda a história conhecida da Humanidade, avanços foram
feitos primeiramente na tecnologia física; na capacidade de lidar com o mundo
inanimado. O controle do ego e da sociedade foi deixado ao acaso, ou aos
esforços vagos de sistemas éticos intuitivos baseados na inspiração e na
emoção. Como resultado, jamais existiu uma cultura com estabilidade maior do
que 55% e, mesmo estas, foram resultado de uma grande miséria humana.
– E por que a orientação da qual
estamos falando é não espontânea?
– Porque uma grande minoria de
seres humanos está mentalmente equipada para participar dos avanços na ciência
física, e todos recebem os benefícios crus e visíveis desses avanços. Somente
uma minoria insignificante, no entanto, é intrinsecamente capaz de levar o
Homem através de um envolvimento maior com a Ciência Mental; e os benefícios
derivados disso, apesar de durarem mais, são mais sutis e menos aparentes. Além
disso, já que tal orientação levaria ao desenvolvimento de uma ditadura
benevolente dos que são mentalmente superiores... virtualmente, uma subdivisão
superior da Humanidade... isso causaria muito ressentimento e não seria estável
sem a aplicação de uma força que deprimiria o resto da Humanidade para o nível
da brutalidade. Tal desenvolvimento é repugnante para nós, e deve ser evitado.
– Qual, então, é a solução?
– A solução é o Plano Seldon. As
condições foram organizadas e mantidas de forma que, em um milênio a partir de
seu começo... seiscentos anos contando a partir de agora... um Segundo Império
Galáctico terá sido estabelecido no qual a Humanidade estará pronta para a
liderança da Ciência Mental. Nesse mesmo intervalo, a Segunda Fundação, em seu
desenvolvimento, terá criado um grupo de psicólogos pronto para assumir a
liderança. Ou, como eu sempre penso, a Primeira Fundação fornece a estrutura
física de uma única unidade política, e a Segunda Fundação fornece a estrutura
mental de uma classe dominante já pronta.
– Estou vendo. Bastante adequado.
Você acha que qualquer Segundo Império, mesmo se formado na época
prevista por Seldon, completaria seu Plano?
– Não, orador, não acho. Há
vários possíveis Segundos Impérios que podem ser formados no período de tempo
que vai dos novecentos aos 1.700 anos depois do princípio do Plano, mas somente
um desses é o Segundo Império.
– E, em vista de tudo isso, por
que é necessário que a existência da Segunda Fundação fique escondida...
sobretudo, da Primeira Fundação?
O Estudante procurou um sentido
oculto na questão, mas não conseguiu encontrá-lo. Estava preocupado com sua
resposta:
– Pela mesma razão que os
detalhes do Plano, como um todo, devem ser escondidos da Humanidade em geral.
As leis da psico-história são estatísticas por natureza, e se tornam inúteis se
as ações de indivíduos não são aleatórias por natureza. Se um grupo grande de
seres humanos aprender os detalhes-chave do Plano, suas ações serão governadas
por aquele conhecimento e não serão mais aleatórias no sentido dos axiomas da
psico-história. Em outras palavras, eles não serão mais perfeitamente
previsíveis. Perdoe-me, Orador, mas sinto que a resposta não é satisfatória.
– E faz bem em se sentir assim.
Sua resposta é bastante incompleta. É a própria Segunda Fundação que deve ser
escondida, não simplesmente o Plano. O Segundo Império ainda não foi formado.
Ainda temos uma sociedade que se ressentiria de uma classe dominante de
psicólogos, que temeria seu desenvolvimento e lutaria contra ela. Você entende
isso?”
“Não valia a pena pedir para que
ela esquecesse o acontecido. Em relação ao inimigo, “esquecer” era uma palavra
sem sentido; e o conselho ajudava a tornar o assunto mais importante, tendo,
assim, o efeito contrário.”
“– Você nunca ganhará o respeito
acadêmico, a menos que conte toda a história.
– Ah, besteira. Quem se importa
com respeito acadêmico? – ela o achava encantador. Ele não tinha deixado de
chamá-la de Arkady durante todo o tempo. – Meus romances serão interessantes e
vão vender, e serei famosa. Qual o sentido de escrever livros, se não for para
vendê-los e se tornar bem conhecida? Não quero que somente alguns velhos
professores me conheçam. Precisa ser todo mundo.”
“O encanto do poder nunca
desaparece completamente.”
“Arcádia Darell, vestida com
roupas emprestadas, parada em um planeta emprestado em uma situação emprestada
de uma vida que também parecia emprestada, queria ardentemente a segurança do
útero. Ela não sabia que era isso o que queria. Ela só sabia que a própria
abertura do mundo aberto era um grande perigo. Ela queria um ponto fechado em
algum lugar... algum lugar distante... em algum canto inexplorado do
universo... onde ninguém a procuraria.
E lá estava ela, pouco mais de
catorze anos, cansada como se tivesse mais de oitenta, amedrontada como se
tivesse menos de cinco.”
“Trantor era um mundo de restos e
renascimentos. Como uma joia sem brilho no meio de uma desconcertante multidão
de sóis no centro da Galáxia – entre os muitos e pródigos grupos de estrelas –
ele sonhava, alternadamente, com o passado e o futuro.
Já fazia tempo que suas fitas
insubstanciais de controle tinham se esticado desde seu revestimento metálico
até os domínios mais distantes das estrelas. Trantor tinha sido uma única
cidade, abrigando quatrocentos bilhões de administradores; a mais poderosa
capital que já havia existido.
Até que a decadência do Império,
no final, o alcançou e, no Grande Saque de um século atrás, suas forças foram
repelidas e quebradas para sempre. Nas ruínas da morte, a camada de metal que
circulava o planeta se enrugara numa dolorosa paródia de sua própria grandeza.
Os sobreviventes rasgaram o
revestimento de metal e venderam-no a outros planetas, em troca de sementes e
gado. O solo estava descoberto mais uma vez, e o planeta voltou ao princípio.
Na disseminação das áreas de agricultura primitiva, ele esquecia seu passado
intricado e colossal.
Ou teria esquecido, se não fossem
os ainda poderosos fragmentos com suas ruínas maciças que subiam até o céu, em
um silêncio amargo e digno.”
“Galáxia! Quando um homem pode
saber com certeza que não é uma marionete? Como um homem pode saber que não é
uma marionete?”