Editora: Paulus
ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém (BJ)
– 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) 978-85-349-0228-1
Tradução, introdução
e notas (BPa):
Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin
Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini
Notas (BPe): Luís Alonso Schökel
Opinião: N/A
Páginas: BPe – 163 / BJ – 120 / BPa – 62
Sinopse: Ver aqui
“Quem corrige o zombador, atrai o seu desprezo;
e quem repreende o injusto, atrai o insulto. Não repreenda o zombador, porque ele
odiará você. Repreenda o sábio, pois ele lhe agradecerá. Dê um conselho ao sábio,
e ele se tornará mais sábio ainda. Dê instrução ao justo, e ele aprenderá ainda
mais.”
(Pr 9, 7-9 – BPa)
“Beleza numa mulher sem juízo é como um anel de
ouro no focinho de um porco.”1
(Pr 11,22)
1: O anel no nariz era ornamento feminino, Gn
24-27. O porco era nojento para os hebreus. (BPe)
“Cada um se satisfaz com aquilo que fala, mas
receberá conforme aquilo que faz.”
(Pr 12,14 – BPa)
“Esperança que tarda deixa doente o coração; desejo
que se realiza é árvore de vida.”
(Pr 13, 12 – BPa)
“Um grande bom senso alcança favor,
o caminho dos traidores é interminável.”
(Pr 13, 15 – BJ)
“Miséria e vergonha para quem rejeita a correção;
honra para quem observa a repreensão.”
(Pr 13, 18 – BPa)
“Quem poupa a vara odeia seu filho,
aquele que o ama aplica a disciplina.”
(Pr 13, 24 – BJ)
“Resposta calma aplaca a ira; palavra mordaz atiça
a cólera.”
(Pr 15, 1 – BPa)
“Mais vale um prato de verdura com amor do que
um boi cevado, com rancor.”
(Pr 15,17 – BPa)
“O homem planeja o seu caminho, mas é Javé quem
lhe dirige os passos.”
(Pr 16,9 – BPa)
“Mais vale adquirir sabedoria do que ouro, e é
melhor adquirir discernimento do que prata.”
(Pr 16,16 – BPa)
“Mais vale um homem lento para a ira do que um
herói,
e um homem senhor de si do que o conquistador
de uma cidade.”
(Pr 16,32 – BJ)
“Uma repreensão causa mais impressão no homem
inteligente
do que cem golpes em um insensato.”
(Pr 17,10 – BJ)
“É melhor encontrar uma ursa, da qual roubaram
os filhotes, do que um insensato dizendo idiotices.”
(Pr 17,12 – BPa)
“Quando calado, o insensato passa por sábio e,
se fecha bem a boca, passa por inteligente.”
(Pr 17,28 – BPa)
“O relaxado no trabalho é irmão de quem desperdiça.”
(Pr 18,9 – BPa)
“Antes da ruína o coração foi soberbo,
antes da glória foi humilde.”
(Pr 18,12 – BPe)
“O homem de bom senso reprime a ira, e tem como
honra ignorar uma ofensa.”
(Pr 19,11 – BPa)
“Parece doce o pão da fraude,
mas depois a boca fica cheia de areia.”
(Pr 20,17 – BJ)
“Todo caminho do homem é reto aos seus olhos,
mas é Javé quem pesa os corações.”
(Pr 21,2 – BJ/BPa)
“Quem fecha os ouvidos ao clamor do necessitado
não será ouvido quando gritar.”
(Pr 21,13 – BPe)
“É melhor morar no deserto do que junto com mulher
briguenta e mal humorada.”
(Pr 21,19 – BPa)
“Cidade aberta e sem muralhas é o homem que não
sabe se controlar.”
(Pr 25,28 – BPa)
“Como cão que volta ao seu vômito, assim é o insensato
que repete a sua estupidez.”
(Pr 26,11 – BPa)
“Agarra um cão pelas orelhas quem se mete em briga
alheia.”
(Pr 26,17 – BPa)
“Que um estranho elogie você, e não sua própria
boca; que seja um desconhecido, e não seus próprios lábios.”
(Pr 27,2 – BPa)
“A pedra é pesada e a areia é uma carga, mas a
cólera do estúpido pesa mais do que as duas.”
(Pr 27,3 – BPa)
“O furor é cruel e a ira é impetuosa, mas quem
pode resistir diante do ciúme?”
(Pr 27,4 – BPa)
“É melhor uma repreensão aberta do que um amor
encoberto.”
(Pr 27,5 – BPa)
“Goteira pingando em dia de chuva e mulher briguenta
são coisas iguais. Querer segurá-la é como segurar o vento ou pegar óleo com a mão.”
(Pr 27,15-16 – BPa)
“O ferro se aguça com o ferro,
e o homem se aguça com a presença do seu próximo.”
(Pr 27,17 – BJ)
“Pobre que explora os indigentes
é chuva torrencial que não dá pão.” 1
(Pr 28,3 – BPe)
1: Mudando “pobre” em “chefe” ou “perverso”,
anula-se o paradoxo significativo. Trata-se do pobre que adquiriu poder e o
emprega para explorar e enriquecer-se. Podia ser chuva benéfica, ao compreender
por experiência a pobreza; converte-se em aguaceiro que arrasta o húmus. (BPe)
BJ traduz com sentido um pouco diferente:
“O homem perverso que oprime os fracos
é chuva devastadora que deixa sem pão.”
“Quem dá ao pobre não passa necessidade; e quem
fecha os olhos para ele ficará coberto de maldições.”
(Pr 28,27 – BPa)
“O justo conhece a causa dos fracos,
o ímpio não tem a inteligência de reconhecê-la.”
(Pr 29,7 – BJ)
“Quando um sábio discute com um estulto,
quer se zangue quer ria, jamais terá descanso.”
(Pr 29,9 – BJ)
“A sanguessuga tem duas filhas: “Quero mais” “Quero
mais”.”
(Pr 30,15a – BPa)
“Existem três coisas insaciáveis, e uma quarta
que nunca diz “Chega”: a mansão dos mortos, o útero estéril, a terra que não se
farta de água, e o fogo que nunca diz “Chega”.”
(Pr 30,15b-16 – BPa)
“Existem três coisas difíceis para mim, e uma
quarta que não compreendo: o caminho da águia no céu, o caminho da serpente nas
pedras, o caminho do navio em alto mar e o caminho do homem com uma mulher.”1
(Pr 30,18-19 – BPa/BPe)
1: Não as manobras para seduzi-la, mas o
mistério da união conjugal e da procriação. (BJ)
“Examinei todas as obras que se fazem debaixo
do sol. Cheguei à conclusão de que tudo é vaidade1 e correr atrás do
vento!2”
(Ecl 1,14 – BJ/BPa)
1: Coélet evoca apenas o ser ilusório das
coisas, seu absurdo e, por conseguinte, a decepção que reservam ao homem. (BJ)
2: Quer dizer, esforço inútil, quimera, tempo
perdido. (BJ)
“Porque, onde há muita sabedoria, há também muita
tristeza, e onde há mais conhecimento, há também mais sofrimento.”
(Ecl 1,18 – BPa)
“Então percebi que a vantagem da sabedoria sobre
a insensatez é a vantagem da luz sobre as trevas. O sábio tem os olhos abertos,
e o insensato caminha na escuridão. Mas logo notei que ambos têm o mesmo destino.”
(Ecl 2,13-14 – BPa)
“Quem gosta de dinheiro, nunca se sacia de dinheiro.
Quem é apegado às riquezas, nunca se farta com a renda. Isso também é vaidade.”
(Ecl 5,9 – BPa/BJ)
“Não existe na terra homem tão justo que faça
o bem sem nunca pecar.”
(Ecl 7,20 – BPa)
“Eis a única conclusão a que cheguei:
Deus fez o homem reto,
este, porém, procura complicações sem conta.”
(Ecl 7,30)
“Sim, há um tempo e um julgamento para todo coisa,
mas há uma grande infelicidade para o homem:
ele não sabe o que acontecerá,
quem pode anunciar-lhe como há de ser?
Homem algum é senhor do sopro,
para reter esse sopro;1
ninguém é senhor do dia da morte,
e nessa guerra não há trégua;
nem mesmo a maldade deixa impune quem a comete.”
(Ecl 8,6-8 – BJ)
1: Encarcerar o alento é conservá-lo, não
deixá-lo sair, o que seria morrer, expirar. (BPe)
Cf. Gn 2,7.
“Refleti sobre tudo isso e cheguei a esta conclusão:
embora os justos e os sábios com suas obras estejam nas mãos de Deus, o homem não
sabe se Deus o ama ou o odeia. Tudo que o homem tem pela frente é vaidade, porque
uma única sorte cabe a todos: inocente e culpado, puro e impuro, quem oferece sacrifícios
e quem não oferece, justo e pecador, quem jura e quem evita jurar. Isto é o mal
de tudo o que acontece sob o sol: uma única sorte cabe a todos. O coração dos homens
está cheio de maldade: enquanto vivem, pensam loucuras, e depois morrem!
Quem é preferível? Para os vivos ainda há esperança,
pois é melhor um cão vivo do que um leão morto. Os vivos sabem... que deverão morrer,
mas os mortos não sabem nada, nem terão recompensa, porque a lembrança deles cairá
no esquecimento. Seus amores, ódios e paixões acabaram, e eles nunca mais participarão
de nada que se faz debaixo do sol.”
(Ecl 9,1-6 – BPe / BPa)
“Um só erro pode anular muita coisa boa.”
(Ecl 9,18b – BPa)
“Porque a justiça é imortal.”
(Sb 1,15)
“De fato, o fascínio do vício obscurece os verdadeiros
valores, e a força da paixão perverte a mente que não tem malícia.”
(Sb 4,12 – BPa)
“Os que nele confiam compreenderão a verdade,
e os que lhe são fiéis viverão junto dele no amor,
pois a graça e a misericórdia
estão reservadas para os seus escolhidos.
Os injustos, porém, serão castigados por sua maneira
de pensar,
porque desprezaram o justo e se afastaram do Senhor.
É infeliz quem despreza a sabedoria e a disciplina.
Sua esperança é vazia, suas fadigas não produzem
fruto,
e suas obras são inúteis.
Suas mulheres são insensatas, seus filhos depravados,
e sua descendência é maldita.”
(Sb 3,9-12 – BPa)
““Nós portanto nos desviamos do caminho da verdade.
A luz da justiça não brilhou para nós,
nem o sol para nós se levantou.
Cansamo-nos nas veredas da iniquidade e perdição
Percorremos desertos intransitáveis,
e não conhecemos o caminho do Senhor.
De que adiantou o nosso orgulho?
De que nos serviu riqueza e arrogância?
Tudo isso passou como uma sombra,
como notícia fugaz,
passou como o navio que singra as águas ondulosas
sem deixar rastro de sua travessia,
nem o sulco de seu casco nas ondas.
Foi embora como pássaro que voa pelos ares,
sem deixar qualquer sinal de sua rota:
o ar leve, ferido pelo toque das penas
e dividido pelo ímpeto vigoroso,
é atravessado pelas asas em movimento,
mas depois não fica sinal nenhum de sua passagem.
Tudo passou como flecha disparada para o alvo:
cicatriza num instante o ar ferido,
e já não se sabe mais a trajetória dela.
O mesmo acontece conosco: mal nascemos e já desaparecemos,
sem mostrar nenhum sinal de virtude,
porque nós nos consumimos em nossa maldade!”
Sim, a esperança do injusto é como palha arrebatada
pelo vento,
como leve espuma que a tempestade levanta.
Esperança que se desfaz como fumaça espalhada
pelo vento,
e é fugaz como a lembrança do hóspede que fica
um dia só.
Os justos, porém, vivem para sempre,
recebem do Senhor a recompensa, e o Altíssimo
cuida deles.”
(Sb 5,6-15 – BPa / BJ)
“Um julgamento implacável se exerce
contra os altamente colocados.
Ao pequeno, por piedade, se perdoa,
mas os poderosos serão provados com rigor.
Pois o Senhor do universo a ninguém teme.
Não se deixa impressionar pela grandeza;
pequenos e grandes, foi ele quem os fez:
com todos se preocupa por igual,
mas aos poderosos reserva um julgamento severo.”
(Sb 6,5b-8 – BJ)
“O princípio da Sabedoria é o desejo autêntico
de instrução1,
o afã da instrução é o amor,
o amor é a observância de suas leis,2
o respeito das leis é garantia3 de
incorruptibilidade4
e a incorruptibilidade aproxima de Deus.
Portanto, o desejo pela sabedoria conduz ao reino5.”
(6,17-20 – BJ/ BPa)
1: A sabedoria é o bom senso que cresce e se
aprofunda em meio à ambiguidade, no exercício contínuo do discernimento sobre
circunstâncias e situações. O desejo de aprender é o ponto de partida; o ponto
de chegada ultrapassa a nossa vida, pois a perfeição da sabedoria é o próprio
discernimento de Deus. (BPa)
2: O amor implica a obediência (Ex 20,6; Dt
5,10; 11,1; Eclo 2,15; Jo 14,15 etc.). As “leis” da Sabedoria identificam-se
com as grandes obrigações religiosas e morais contidas na Revelação; talvez
ainda com leis não escritas, ditadas pela consciência e iluminadas pela
Sabedoria divina. (BJ)
3: A palavra é empregada aqui no sentido
jurídico. Aplicar-se à observância das leis da Sabedoria não basta para
tornar-se incorruptível, mas cria título real e incontestável para obter de
Deus a incorruptibilidade bem-aventurada ou a imortalidade (cf. 2,23; 3,4).
(BJ)
4: Porque a morte afasta de Deus, que não é
Senhor dos mortos mas de vivos; também porque o homem recebe a
incorruptibilidade do fato de ser radicalmente imagem de Deus, Sb 2,23. (BPe)
BPa traduz “imortalidade”, ao invés de
“incorruptibilidade” como BJ e BPe.
5: O verdadeiro reino mencionado em Sb 3,8.
(BPe)
“Moderação
divina para com o Egito1
Seus pensamentos insensatos e iníquos
os extraviaram a ponto de renderem culto
a répteis irracionais e bichos miseráveis;
tu lhes enviaste por castigo2
uma multidão de animais irracionais.3
para que compreendessem que no pecado está o castigo.
Bem que não teria sido difícil à tua mão onipotente,
que criara o mundo de matéria informe,
soltar contra eles manadas de ursos e leões indomáveis,
ou espécies novas de animais recém-criados, ferocíssimos,
expirando hálito de fogo,
expelindo turbilhões de vapor infecto,4
cujos olhos lançassem relâmpagos terríveis,
capazes não apenas de aniquilá-los com sua maldade,
mas de exterminá-los somente com seu aspecto repelente.
Sem nada disso, poderiam sucumbir só com um sopro,
perseguidos pela Justiça, varridos pelo fragor
de teu poder.
Mas tudo dispuseste com medida, número e peso.
Razões desta moderação
Pois teu grande poder está sempre a teu serviço,
e quem pode resistir à força de teu braço?
O mundo inteiro está diante de ti
como o grão de areia na balança,
como a gota de orvalho que de manhã cai sobre
a terra.
Mas te compadeces de todos, pois tudo podes,
fechas os olhos diante dos pecados dos homens,
para que se arrependam.5
Sim, tu amas tudo o que criaste,
não te aborreces com nada do que fizeste;
se alguma coisa tivesses odiado, não a terias
feito.
E como poderia subsistir alguma coisa,
se não a tivesses querido?
Como conservaria sua existência,
se não a tivesses chamado?
Mas a todos perdoas, porque são teus:
Senhor, amigo da vida!
Todos levam teu espírito incorruptível!6
Por isso, pouco a pouco corriges os que caem,
e os admoestas, lembrando-lhes as faltas,
para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor.”
(Sb 11,15-12,2)
1: À guisa de introdução à sua releitura das
diferentes pragas provocadas por animais (16,1-14), o autor, apresentando-as
juntas (11,15-16; 12,23-27; cf. 15,18-19), abre uma primeira digressão (11,47):
o culto de animais “répteis” (crocodilo, serpente, lagarto, rã), “miseráveis
animaizinhos” (escaravelho), era muito honrado no Egito dos Ptolomeus; todavia,
essa aberração cultual foi castigada com moderação: a pedagogia divina visa de
fato a conversão do pecador. (BJ)
2: A vida do homem é determinada pelo culto à
divindade que ele adora. Quem serve aos ídolos sofre as consequências
destrutivas da idolatria. Estas, na verdade, são o castigo com que Deus chama a
atenção dos idólatras. Ele é o único Senhor da vida, e quer que todos se
convertam e encontrem o caminho para a vida. (BPa)
3: Rãs (Ex 8,1-2), mosquitos (8,13-14),
moscas (8,20), gafanhotos (10,12-15). (BJ)
4: Nessas descrições, o autor inspira-se em
monstros fabulosos da Grécia, quimeras, górgonas etc. (BJ)
5: Extraordinária afirmação: a onipotência
como causa ou razão da compaixão. Um poderoso é injusto porque ambiciona mais
poder, porque teme perdê-lo, porque cobiça, por temor; é rigoroso porque não
ama o acusado, porque teme que lhe escape, porque deve prestar contas, porque
deve ater-se a prazos, e embora tenha boa vontade, talvez não acerte. Ao invés,
Deus tem o poder supremo (vv. 17.23), não teme ninguém (12,11), não tem de
prestar contas (12,12-13), ama os acusados (11,24), tem tempo (11,21; 12,18),
sempre acerta (11,20). Quer a conversão e dá tempo para ela. Ver a profissão
litúrgica: Sl 86,15; 103,8; Nm 14,18. (BPe)
6: É o sopro vital derramado por Deus nas
criaturas (Gn 2,7; 6,3; Sl 104,29-30; Jó 27,3; 34,14-15). Parece que o autor
alude ao espírito da filosofia estoica ou à alma do mundo. (BJ)
“Tu és justo, governas o universo com justiça,
e consideras incompatível com o teu poder
condenar quem não merece castigo.
Pois a tua força é o princípio da justiça1
e, por seres o senhor de todos, a todos perdoas.
Demonstras tua força a quem não crê
na perfeição de teu poder,
e confundes a audácia dos que a reconhecem;
mas tu, dominando a força, julgas com moderação
e nos governas com muita indulgência;
fazer uso do poder está a teu alcance quando queres.
Assim procedendo, ensinaste a teu povo
que o justo deve ser amigo dos homens,
e a teus filhos deste a esperança
de que, após o pecado, dás a conversão.
Pois se os inimigos de teus filhos, réus de morte,
com tanta atenção e indulgência castigaste,
dando-lhes tempo e lugar para se afastarem de
suas culpas,
com que precaução julgaste os teus filhos,
a cujos pais, com juramentos e alianças,
tão belas promessas fizeste?
Assim, nos instruis quando castigas
nossos inimigos com medida
para que, ao julgar, nos lembremos da tua bondade
e, ao sermos julgados, contemos com tua misericórdia.”
(Sb 12,15-21 – BJ / BPe)
1: Porque possui a plenitude da força e não
tem razão alguma para dela abusar (cf., ao contrário, 2,11), Deus exerce sua
justiça com total imparcialidade e liberdade; seu domínio soberano sobre todos
os seres igualmente o autoriza e o convida a usar de clemência para com todos.
(BJ)
“Sim, naturalmente vãos foram todos os homens
que ignoraram a Deus
e que, partindo dos bens visíveis,
não foram capazes de conhecer Aquele que é,
e olhando suas obras não reconheceram o Artífice.
Mas tiveram como deuses o fogo, o vento, o ar
leve,
As órbitas astrais, a água impetuosa,
os luzeiros celestes, regedores do mundo.
Se, fascinados por sua beleza, os tomaram por
deuses,
aprendam quanto lhes é superior o Senhor dessas
coisas,
pois foi a própria fonte da beleza que as criou.
E se os assombrou sua força e atividade,
calculem quanto mais poderoso é Aquele que as
formou,2
pois a grandeza e a beleza das criaturas
fazem, por analogia, contemplar seu Autor.
Esses, porém, merecem repreensão menor,
porque talvez se tenham extraviado
procurando a Deus e querendo encontrá-lo.
Vivendo no meio das obras dele, procuram pesquisá-las,
e a aparência delas os fascina, tanto é belo o
que veem!
Entretanto, nem estes sequer são perdoáveis:
porque se conseguiram saber tanto,
a ponto de serem capazes de perscrutar o princípio
do cosmo,
como não descobriram antes o seu Senhor?”
(Sb 13,1-9 – BJ / BPe / BPa)
1: Extasiados diante da ordem e a beleza do
mundo, os antigos chegaram a divinizar os seres da natureza e os fenômenos do
universo. O autor, porém, mostra que estes são apenas testemunhas visíveis do
Criador invisível. Israel deu um passo à frente no conhecimento de Deus:
demitizou a natureza (cf. nota em Gn 1,1-2,4) e proclamou a presença e ação do
Deus vivo, que vai conduzindo a humanidade para a vida. (BPa)
A primeira forma de extravio religioso é o
culto de seres ou elementos da criação. O autor reconhece uma série de valores
no processo: a contemplação da natureza, a estima e admiração; o erro é não ter
transcendido refletindo sobre a realidade valiosa desses seres. Os seres se
repartem nos três elementos: ar, água e fogo (falta a terra). As qualidades
selecionadas são bem gregas: a beleza, a potência e o ato, a analogia. Esse
fragmento costuma ser comparado com o discurso de Paulo no Areópago (At
17,22-31). (BPe)
2: Toque grego (cf. também vv. 5.7; Eclo
43,9-12). O AT frequentemente celebra a grandeza e o poder de Deus na criação
(Jó 36.22-26; Sl 19,2; Is 40,12-14 etc.), mas não a beleza do universo
concebido como uma obra de arte refletindo seu autor. (BJ)
Desde Aristóteles, era comum falar de poderes
e atividade, potência e ato, com o binômio grego que o autor usa. (BPe)
“Mas tu, nosso Deus, és bom e verdadeiro;
paciente, governas o universo com misericórdia.
Mesmo pecando somos teus,
pois reconhecemos tua soberania,
mas não pecaremos, sabendo que te pertencemos.
A justiça perfeita está em conhecer a ti
acatar teu poder é a raiz da imortalidade.”
(Sb 15,1-3 – BJ / BPa)
“Aqueles que fazem, desejam e adoram os ídolos,
são amantes do mal e dignos da esperança que os
ídolos trazem.
(...) Mas os inimigos que oprimiram o teu povo
são muito mais insensatos e infelizes
que a alma de uma criança.1
De fato, eles consideraram como deuses
todos os ídolos dos pagãos.
Os olhos desses ídolos não os ajudam a ver,
nem o nariz a respirar o ar,
nem os ouvidos a ouvir,
nem os dedos das mãos a apalpar,
e seus pés são incapazes de caminhar.
Porque foi um homem quem os fez.
Quem os modelou foi um ser
que recebeu a respiração por empréstimo.
Nenhum homem pode plasmar um deus que lhe seja
semelhante,
pois, sendo mortal, suas mãos ímpias
só podem produzir um cadáver.
O homem é melhor do que os objetos que ele adora.
O homem, pelo menos, tem a vida;
mas os ídolos jamais a terão.”
(Sb 15,6.14-17 – BPa)
1: A criança pode ser facilmente enganada.
(BJ)
“Julgamento
das trevas (A escuridão da má consciência)1
Sim, teus julgamentos são grandes e difíceis de
compreender,
é por isso que as almas sem instrução se extraviaram.
Os ímpios, persuadidos de poderem oprimir uma
nação santa,
jaziam cativos das trevas, nos entraves de uma
longa noite,
reclusos sob seus tetos, excluídos da eterna providência.
Acreditavam passar despercebidos
com seus pecados encobertos
sob o sombrio véu do esquecimento;
foram dispersos, imersos em terrível aturdimento,
apavorados por alucinações.
Pois o antro que os detinha não os preservava
do medo:
retumbavam ao seu redor ruídos aterradores,
apareciam-lhes tétricos espectros de lúgubres
rostos.
Nenhum fogo, por mais intenso que fosse, conseguia
iluminá-los,
nem as luzes brilhantes dos astros
conseguiam aclarar aquela noite tenebrosa.
Para eles brilhava somente uma massa de fogo
que ardia por si só,
e, espantados por aquela aparição que não viam,
a visão lhes parecia mais que macabra.
Os artifícios da magia haviam fracassado,
seu alarde de ciência foi vergonhosamente confundido,
De fato, aqueles que prometiam expulsar
das almas enfermas os terrores e inquietações,
caíam eles próprios vítimas de pânico grotesco.
Mesmo que nada de inquietante os amedrontasse,
sobressaltavam-se com a passagem de animalejos
e sibilos de répteis,
sucumbiam tremendo, negando-se a olhar este ar
do qual e modo algum se pode fugir.
Com efeito, a maldade é singularmente covarde
e condena-se por seu próprio testemunho;
pressionada pela consciência2, imagina
sempre o pior,3
porque o medo não é outra coisa
senão o desamparo dos auxílios da reflexão;
quanto menos reflexão interior tivermos,
mais alarmante parecerá ser a causa oculta do
tormento.
Para eles, durante essa noite saída dos antros
do Hades,
impotente, adormecidos de um mesmo sono,
eles eram ora perseguidos por espectros monstruosos,
ora paralisados pelo torpor de sua alma,
invadidos pelo terror inesperado e repentino que
caía sobre eles.
Assim, todo aquele que ali caísse, quem quer que
fosse,
permanecia encarcerado,
trancado numa prisão sem trancas;
fosse agricultor, ou pastor, ou operário
que trabalha solitário,
surpreendido, sofria a sina inevitável:
porque a mesma cadeia de trevas amarrava a todos.
O silvar do vento,
o canto melodioso dos pássaros na ramagem frondosa,
a cadência da água fluindo impetuosa,
o surdo fragor de rochas caindo em avalanches,
a invisível carreira de animais saltitantes,
o rosnar das feras mais selvagens,
o eco retumbante das cavernas das montanhas,
tudo os estarrecia e enchia de pavor.
Pois o mundo inteiro, iluminado por uma luz radiante,
se entregava livremente a seus trabalhos;
Somente sobre eles se estendia a noite profunda,
imagem das trevas que os deviam receber.
Contudo, eles mesmos eram para si próprios
mais pesados do que as trevas.”
(Sb 17 – BJ / BPe / BPa)
1: O autor retoma a praga das trevas (uma das
sete pragas aplicada aos Egípcios por se recusarem a libertar os israelitas da
escravidão, ver Ex 10,20-23). O texto foi enriquecido com muitos detalhes,
certamente elaborados por lendas e tradições antigas. (BJ)
A escuridão adquire também uma tônica
psicológica: a má consciência do opressor torna-se obsessiva, e o pavor que ele
experimenta diante das coisas mais simples é o julgamento contra a sua
injustiça. (BPa)
2: Condenação que não produz conversão,
lucidez que redobra a tortura. (BPe)
3: Primeira menção da “consciência” na Bíblia
grega (cf. At 23,1+); a palavra designa aqui a consciência moral que reprova os
pecados cometidos.
A reflexão elimina as causas imaginárias do
medo. Mas a consciência pesada a tolhe e impede de realizar sua obra. (BJ)
Um comentário:
Pr 11,22 é oriunda de uma tradução que li em outra oportunidade, de maneira solta, e me pareceu mais clara do que as das três bíblias que li desta vez.
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