Editora: Suma de Letras
ISBN: 978-85-81050-27-0
Tradução: Mário Molina
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 872
Sinopse: Criando uma
trama fantástica a cada reviravolta, Stephen King supera todas as expectativas neste
maravilhoso final da série A Torre Negra, uma saga épica de sete volumes,
que foi publicada ao longo de mais de vinte anos. Entremeando histórias, mundos
e panos de fundo vastos e complexos, esta conclusão muito esperada pelos leitores
é criativa, de tirar o fôlego, corajosa, visionária e vale cada segundo de espera
e de leitura.
Roland Deschain e seu ka-tet viajaram juntos e separados,
espalhados e distantes, em mundos paralelos, em diferentes tempos e espaços. Agora
o destino de Roland, Susannah, Jake, padre Callaham, Oi e Eddie são unidos na própria
Torre Negra, que os atrai para cada vez mais perto de seus próprios fins. Neste
capítulo final, o grupo acompanha o último Pistoleiro na missão para encontrar –
e salvar – a Torre das mãos do Rei Rubro e seus aliados, e o desfecho da missão
implacável de Roland e seu ka-tet finalmente é revelado.
“Aquele que fala sem um ouvido atento é mudo.”
“Batalhas que duram cinco minutos engendram lendas
que vivem mil anos. E: Você não precisa morrer feliz quando seu dia chegar, mas
deve morrer em paz consigo mesmo, achando que viveu sua vida do início ao fim e
que o ka (destino) sempre foi servido.”
“Também se lembrava de Roland dizendo que mesmo
a batalha mais curta, do primeiro tiro ao último corpo que cai, pareceu longa para
os que dela participaram.”
“Um homem não pode se fazer sozinho.”
“Susannah Dean olhou ao redor, mais uma vez contando
seus inimigos como Roland havia ensinado. Nunca deve sacar, ele tinha dito,
antes de saber quantos há contra você ou até se certificar de que jamais poderá
saber ou até concluir que é seu dia de morrer.”
“– Assim o mundo vai terminar, eu acho, antes
uma vítima do amor que do ódio. Pois o amor sempre foi a arma mais destrutiva, sem
dúvida.
Ele se inclinou, sentindo um cheiro de flores
murchas ou velhos temperos, e soltou o ar. A coisa que parecia vagamente uma cabeça
mesmo agora voou, como paina ou uma bola de dente-de-leão.
– Ela não pretendia prejudicar o universo – disse
Susannah, a voz não de todo firme. – Só queria
o privilégio de toda mulher: ter um bebê. Alguém para amar e criar.
– É – Roland concordou –, você diz a verdade.
E isso é o que torna seu fim tão negro.
– Às vezes penso — disse Eddie — que todos nós
estaríamos melhor se as pessoas que têm boas intenções se afastassem de mansinho
e morressem.
– Esse seria também o nosso fim, Grande Ed — Jake
alertou.”
“Pimli certamente não se via como vilão, mas nenhum
homem verdadeiramente perigoso jamais se vê dessa forma.”
“A maioria dos morks são introvertidos egoístas
que se mascaram como individualistas heroicos – e os funcionários do Algul adoram
isso, podem crer. Nenhuma comunidade é mais fácil de governar que aquelas que rejeitam
o próprio conceito de comunidade.”
“A única coisa que o talento quer é ser usado.”
“Sim, podia acontecer tudo aquilo que tinham esperança
que ocorresse... mas desejo é uma coisa e a merda que dá é outra, teriam de ver
qual o pote que encheria primeiro.”
“Agora Ted estava com a corda toda, mas ansioso?
Não. Ansiedade, pensou ele, era para pessoas que ainda não estavam decididas.”
“– Tinha dito a mim mesmo que jamais faria isto
– Jake contou a Dinky. – Nunca na vida. E aqui estou com um cigarro na mão. – Riu.
Foi um riso amargo, um riso adulto e aquele som saindo de sua boca o fez
tremer.
– Eu trabalhava para um cara antes de vir para
cá – disse Dinky. – Ele costumava dizer que nunca é a palavra que Deus gosta
de ouvir quando quer dar uma risada.”
“Havia um ponto em que a pessoa tinha de confiar
em alguma coisa, porque a alternativa era a loucura.”
“Poucas coisas nos tiram tanto a vontade de viver
quanto o frio constante... Um frio não suficiente para nos matar, talvez, mas que
esteja sempre à nossa volta, roubando nossa energia, nossa determinação e a gordura
do nosso corpo, grama por grama.”
“Meu professor, Vannay, costumava dizer que existe
apenas uma regra sem exceções: Antes da vitória vem a tentação. E quanto
maiores os louros a conquistar, maior a tentação a que é preciso resistir.”
“A maioria dos políticos mente pela mesma razão
que um macaco se balança pela cauda, isto é, porque podem fazê-lo.”
“– Não tem sido uma vida ruim – Joe estava dizendo.
– Não foi, de nenhum modo ou tamanho, a vida que eu esperava, mas tenho uma teoria...
As pessoas que de fato conseguem viver as vidas que esperavam ter em geral são as
mesmas que vão acabar tomando soníferos ou enfiando o cano de um revólver na boca
e puxando o gatilho.”
“Como diz o ditado, uma chuva forte criava estranhos
companheiros de cama na pousada.”
“Roland de Gilead sentiu um aroma doce que foi
capaz de identificar: sachê de pinho, como o que a mãe colocara primeiro em seu
berço, depois, mais tarde, em sua primeira cama de verdade. O cheiro o fazia voltar
aquele tempo com grande nitidez, como os aromas sempre fazem; se algum sentido funciona
para nós como máquina do tempo é o sentido do olfato.”
_____________________________________
Childe Roland à Torre Negra chegou – por Robert
Browning (1855)
I
Primeiro pensei: ele mentiu a
cada sentença
O coxo encanecido, com olhos cheios
de malícia
Ávidos por ver nos meus de sua
mentira a perícia
E com a boca sem conter a alegria
intensa
Que repuxava seus cantos na crença
De que o predador outra vez se
sacia.
II
Qual outro seria o intuito, com
seu cajado?
Qual senão emboscar e laçar os
andarilhos
Que porventura o encontram pelos
trilhos
E vêm pedir direção? Que risada
má eu teria escutado,
quem deixaria meu epitáfio marcado
por diversão nos terrosos caminhos.
III
Se ao seu conselho eu devesse
me desviar
Para aquele curso sinistro que,
é sabido,
Esconde a Torre Negra? Porém eu,
de boa-fé imbuído,
Tomei o indicado caminho, sem
orgulho demonstrar
Nem esperança rediviva ao ver
o fim se aproximar,
Mas sim gratidão pela ideia de
algum fim existir.
IV
Pois, se depois de o mundo todo
vagar
Se na minha busca ano a ano estendida
Minha esperança tornou-se uma
sombra encardida
E incapaz de com o gozo ruidoso
da vitória lidar,
A festa no meu coração eu mal
pude refrear
Quando este entreviu a batalha
perdida.
V
Assim como um doente à beira da
morte
Já parece morto, e pressente o
pranto fatal,
e recebe de todos a despedida
amical,
E escuta ao longe a saída de outro
consorte
Para respirar lá fora, (não se
muda a sorte,
ele diz, e o pesar não se alivia
com o golpe final)
VI
Enquanto outros debatem junto
às covas
Se há espaço para o caixão e que
hora
É a mais apropriada para levá-lo
embora,
Sem esquecer dos estandartes,
hinos e estolas,
O homem ouve cada uma dessas estórias
E, respeitando tanta candura,
quer partir sem demora.
VII
Assim, já sofro há tanto nessa
jornada
Já ouvi do fracasso o vaticínio
e a confirmação
Para tantos e tantos companheiros
da Afiliação
de cavaleiros que da Torre Negra
atendem à chamada,
Que falhar como eles me pareceu
a coisa acertada
E a única dúvida era: não seria
essa minha função?
VIII
Tão quieto quanto o desespero
eu dei as costas
àquele coxo odioso, abandonando
sua via
e adentrando o caminho apontado.
Todo o dia
havia sido lúgubre, e as sombras,
sobrepostas,
fechavam-se a minha volta, mas
uma olhadela torta,
rubra e carrancuda, ele lançou
à planície todavia.
IX
Por Deus! Logo assim que me encontrei
Jurado à planície, após não mais
que uma passada,
Parei para um último olhar à segurança
da estrada
E nada mais havia, só a planura
cinza avistei
Nada senão a vastidão sob o céu
do astro rei.
Sem mais a fazer, decidi seguir
caminhada.
X
Assim, fui adiante. E creio nunca
ter visto
Natureza tão miserável e ignóbil,
onde nada medra:
Pois as flores – ou mesmo um cedro
entre a pedra,
Embora murchando como pela sua
lei previsto,
Mesmo no abandono perduram, pensaria
você;
Descobrem-se tesouros quando a
casca quebra.
XI
Mas não! Penúria, feiura, inércia
Em condição estranha está essa
parte da terra
“Veja, ou feche os olhos”, a Natureza
berra
“Não há escapatória: ela é de
todo néscia,
Só o fogo do Julgamento Final
trará a panaceia,
Calcinando o chão e livrando os
presos que ele cerra.”
XII
Se havia ali alguma ressequida
haste de cardo,
Seus colegas não se achavam, e
o talo estava decepado.
O que fez aqueles buracos e rasgos
no folhado
escuro e duro da bardana, tão
machucado
que era impossível pensá-lo regenerado?
Era preciso que um bruto as tivesse
pisoteado.
XIII
Quanto à relva, era como o cabelo
escasso
Dos leprosos; magras lâminas secas
na lama
Que parecia ter por baixo uma
sanguínea trama.
Um cavalo cego e rijo, ossos à
vista, lasso,
Parava ali, estúpido; havia chegado
àquele pedaço:
Rebento que o garanhão do diabo
não reclama!
XIV
Vivo? A meu ver poderia muito
bem já ter partido,
Com seu pescoço rubro, descarnado
e macilento.
E os olhos fechados por sob o
pelo bolorento;
Nunca o grotesco andou à desgraça
tão unido;
E jamais senti por criatura ódio
tão ardido:
Ele deve ser mau para merecer
tal sofrimento.
XV
Fecho meus olhos, e os volto para
o meu coração,
Como um homem que pede vinho antes
de lutar,
Visão mais feliz, de outro tempo,
eu quis saborear
Para ficar mais apto a encarar
minha missão.
Pensar antes, lutar depois, eis
do soldado o bordão:
Um vislumbre do passado pode a
tudo acertar.
XVI
Mas não! Imaginei de Cuthbert
a face corada
Em meio a seu adorno de cachos
dourados,
Querido amigo, eu quase o senti
laçar meus braços
Para me colocar a postos na caminhada
Como ele sempre fez. Ai, noite
desgraçada!
O fogo no meu coração se apagou,
deixando-o gelado.
XVII
Giles então surge – ele que é
da honra a alma,
Leal como há dez anos, quando
tornou-se cavaleiro
Capaz de ousar tudo que ousaria
um homem verdadeiro
Mas – argh – a cena se modifica!
Um carrasco infama
seu peito com um aviso que para
todos informa:
Desprezado e amaldiçoado; traidor
rasteiro.
XVIII
Do que um passado assim, melhor
este presente
Que eu volte então para meu caminho
triste
Nenhum som, nada que se veja ao
longe em riste.
Aparecerá morcego ou coruja após
o poente?
Perguntei quando algo na planície
descrente
capturou e dominou meu pensamento
num despiste.
XIX
Um súbito córrego atravessava
meu caminho
Veio tão inesperado quanto uma
cobra
Sem o lento escorrer que a atmosfera
desdobra
Poderia ser um banho, com seu
burburinho,
Para o casco do demônio, a ver
seu redemoinho
Negro borbulhar com espuma e faísca
rubra.
XX
Tão pequeno e ao mesmo tempo tão
mau
Amieiros o cercavam, rasteiros
e mirrados;
Salgueiros afundavam-se e afogavam-se
desesperados
Numa síncope muda, num atropelo
mortal:
Quem os destruiu foi esse carrasco
manancial,
E, fosse ele o que fosse, fluía
sem ser desviado.
XXI
Bom Deus, ao adentrar seu leito,
quanto medo
De pisar o rosto de algum cadáver
humano,
A cada passo – tateando com um
ramo
À cata de buracos – seus cabelos
entre meus dedos.
Um rato-d'água talvez tenha por
acaso lancetado,
Mas, argh, parecia o grito de
um menino.
XXII
Estava feliz quando cheguei ao
outro lado.
Agora terras melhores me esperam.
Vã esperança!
Quais foram os contendores? Qual
foi a matança?
Que trotar selvagem pôde fazer
desse solo molhado
Um atoleiro? Sapos em um tanque
infectado
Ou gatos selvagens numa cela em
incandescência –
XXIII
Assim deve ter sido a luta naquela
arena decadente
O que os trouxe até lá, se tinham
toda a planície?
Nenhuma pegada na direção daquela
imundície
Nenhuma dela se afastando. Alguma
poção demente
Agiu em seus cérebros, sem dúvida,
como no da gente
Escrava – judia e cristã – que
o turco atiçava por malícia.
XXIV
E além de tudo – a uma milha –,
o que era aquele achado?
Para que mau intuito servia aquela
máquina, aquela polia –
Um travão, não uma polia –, aquela
grade que fiaria
Corpos humanos como se fossem
seda? O ar desonrado
Dos rituais de Tophet, na terra
perdido, ou invocado
Para afiar o enferrujado metal
da sua gradaria.
XXV
Então uma terra de galhos, que
um dia foi floresta;
Depois algo como um pântano; e
agora apenas terra dura
Desesperada e acabada (um tolo
encontra ventura,
Faz algo e em seguida o destrói,
seu humor desembesta
E ele o abandona!). Por dez ares,
chão que cresta,
Lamaçal, seixos, areia, e uma
esterilidade negra, impura.
XXVI
Agora, pústulas inflamam-se em
cor forte,
E medonha. Agora, remendos onde
a aridez do chão
Tornou-se musgo, ou substâncias
em ebulição;
Surge então um carvalho, e nele
há um corte
Como uma boca distorcida que cava
seu porte
Num bocejo para a morte, morrendo
em seu repuxão.
XXVII
E tão longe como nunca o fim se
afigura!
Nada no horizonte senão a noite,
nada
Que direcionasse adiante minha
passada!
Isso pensei, e surgiu um pássaro
de imensa negrura
Amigo de Satã, a asa de dragão,
na largura,
roçou meu gorro – talvez esta
fosse a guia procurada.
XXVIII
Ao olhar para cima, apesar do
anoitecer,
Vi com mais clareza. A planície
dera lugar
às montanhas que a cercavam –
nome muito invulgar
Para meras alturas feias e montes
a não mais ver.
Como poderiam elas ter-me surpreendido,
tente esclarecer!
Como vencê-las também não era
fácil deslindar.
XXIX
Mas ainda assim, pareci reconhecer
certo truque
Do qual fui vítima, Deus sabe
quando –
Talvez em um mau sonho. Aqui estava
terminando
O progresso por este caminho.
Quando fiz que
desistia, mais uma vez, soou um
clique
Como o de um alçapão atrás de
mim se fechando.
XXX
Veio a mim de imediato, como fogo
em um milharal,
Era este o lugar! À direita, esses
dois morros, agachados,
como dois búfalos com os chifres
enganchados;
Enquanto à esquerda, uma montanha
alta... Boçal,
Imbecil, vacilar logo na hora
mais crucial,
Você que treinou uma vida para
ter olhos afiados!
XXXI
E se a própria Torre estivesse
no centro? Redonda
e atarracada, cega como um coração
rasteiro,
Feita de pedra marrom, sem igual
no mundo inteiro.
O elfo, caçoando da tempestade
que o ronda,
Aponta ao timoneiro o banco que
ninguém sonda.
Ele aporta, por pouco não rompendo
do casco o madeiro.
XXXII
Não vê-la? Talvez por conta da
noite? – se o dia
Ressurgiu para isto! E antes de
partir novamente
O poente brilhou por uma fenda
rente:
As colinas, como gigantes caçadores
na tocaia,
Esperando que a presa na armadilha
caia –
“Agora ataquem e matem a criatura,
inclementes”.
XXXIII
Não ouvi-la? Com tantos sons à
volta! O ribombar
dos sinos cada vez mais alto.
Nomes nos meus ouvidos
Todos os aventureiros, meus companheiros
perdidos –
Como, se um era tão forte, outro
de tão corajoso bradar,
Outro tão afortunado, como foram
perdidos acabar?
Um instante trazia tantos anos
de sofrimentos renascidos.
XXXIV
Ali estavam eles, pelos lados
dos montes, unidos
Para assistir meu fim. Eu, uma
moldura animada
Para mais um quadro! Numa súbita
labareda
Eu os vi e reconheci a todos.
E, destemido,
Deixei meus lábios formarem um
bramido:
“Childe Roland à Torre Negra chegou”,
foi minha chamada.
Um comentário:
Classifiquei como muito bom, mas quase diminuí a nota por conta da enorme vaidade do autor de se inserir como personagem - coisa que já havia me incomodado bastante no livro anterior.
*
De qualquer modo, o que definiu como 4 asteriscos (e não 3) foi o final - onde ele tinha tudo pra fazer uma enorme bobagem.
Tendo em vista que tanto se fala na Torre Negra, criar o enredo ao se alcançá-la não é tarefa fácil, e um deslize nesse momento poderia fazer com que os leitores se arrependessem de ter lido a série inteira (como C. Paolini conseguiu fazer com o ciclo da herança).
Mas, felizmente, não é o caso. O final é muito interessante e original.
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