Editora: Companhia das Letras
ISBN: 978-85-359-1310-1
Tradução: Celso Nogueira
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 986
Sinopse: O herói e o vilão de Jogos sagrados não
se conhecem pessoalmente; trocam umas poucas palavras pelo interfone, tamanha a
distância que separa o humilde inspetor Sartaj Singh de Ganesh Gaitonde, chefão
da máfia de Mumbai. A suspeita morte do gângster no bunker que mandou construir
em Mumbai marca o início da investigação que levará o detetive Singh a uma
jornada pelas contradições e mistérios da Índia moderna, onde tradição e
mudança se chocam diariamente.
“– Se pretende viver
na cidade, precisa antecipar três rodadas, e ver através de uma mentira para conhecer
a verdade, e ver através da verdade para ver a mentira.”
“Mas eu sabia, lá no
fundo, que sem terra o sujeito não valia nada. A gente pode morrer por amor, pode
morrer por amizade, pode morrer por dinheiro, mas, no final das contas, a única
coisa real neste mundo é a terra.”
“Mas por que Chotta
Badriya me seguiu até as portas da morte? Ele mal me conhecia, sabia dos riscos
insanos de meu plano, e mesmo assim me acompanhou. Eu acho que ele foi comigo porque
eu mandei. A maioria dos homens quer ser conduzida, e só poucos sabem liderar. Eu
tinha um problema, uma escolha e uma decisão a tomar. Decidi, Chotta Badriya e outros
me seguiram. Os que não conseguem decidir são barro mole nas mãos de quem consegue.”
“A comida é o maior
e mais confiável dos prazeres.”
“Um homem sóbrio tem
prioridades, vive alerta e atento. Não precisa de uísque e rum. Basta-lhe a vida.”
“Patriosh Shah me dava
lições diárias sobre o poder de seu dândi-swami. “Você viu como seu apelo foi atendido.
Você pediu, ele deu. Como pode se recusar a acreditar?”. Eu me sentia tentado a
acreditar. Mas, no início da vida, vira como a crença era uma podridão interna que
esvaziava um homem e o transformava num eunuco. Sabia ser a fé uma muleta conveniente
para fracos e covardes. Não, eu não queria ser contaminado por essa doença.”
“Era bom para os dois
policiais Sartaj Singh e Katekar ficarem ali debaixo de uma thela, reclamando. Eles
já haviam se queixado da prefeitura, das corporações, das transferências de funcionários
públicos e policiais honestos, do preço da manga, do trânsito, do excesso de construções,
dos prédios que caíam, dos bueiros entupidos, do parlamento rebelde e selvagem,
da extorsão dos Rakshaks, dos filmes ruins, da falta de programas interessantes
na televisão, da interferência norte-americana nos assuntos subcontinetais, do desaparecimento
de Rimzim das barracas que vendiam refrigerantes, das disputas interestaduais a
respeito das águas dos rios, da falta de boas escolas que ensinassem inglês para
quem não tivesse um pai disposto a gastar um caminhão de dinheiro, da maneira como
retratavam os policiais nos filmes, das horas extras sem pagamento de adicional,
do trabalho e do trabalho. Depois que a pessoa reclama de tudo, resta sempre o trabalho,
com suas horas aleatórias, monotonia, complicações políticas, falta de reconhecimento
e exaustão.”
““O propósito, o sentido,
o intento e a metodologia do serviço secreto é o discernimento de padrões.” Os alunos
esperam, ávidos, pela revelação que lhes trará conhecimento, aguçando-lhes a compreensão
para que, preparados, sobrevivam e triunfem. “A capacidade de identificar um método,
ordem, projeto, é o maior talento que um agente secreto pode possuir”, declara K.D.
Yadav, alcançando o fundo da sala. “O velho ditado se aplica: uma vez é o acaso,
duas é coincidência, três é ação inimiga”.”
“Existem sadhus (milagres),
mesmo. Reais e falsos. Ambos são úteis.”
“Para jogar esse jogo
direito, é preciso controlar homens maus, levá-los a fazer coisas ruins que acabariam
se tornando coisas boas. Era necessário. Só quem nunca esteve num campo de batalha
exige virtude impoluta e feitos impecáveis.”
“O que a quase meia
idade lhe fizera, corroera seu fervor revolucionário com – com o quê? – longas horas
de serviço, contas, o trânsito insuportável, a poluição venenosa que aplicava um
filme negro em seu rosto e nos braços. E pelas derrotas profissionais, pelo divórcio,
pela abrupta amputação do amor, pela compreensão profunda de que o futuro não era
um prado interminável, e sim um vale estreito cercado pela noite.”
“Eu sabia até a medula
dos ossos que todos os presentes são traições, que nascer é ser enganado, que nada
nos é concedido sem que algo maior nos seja tirado”.
“O dinheiro cria beleza,
o dinheiro liberta, o dinheiro torna a moralidade possível.”
“Os escritores são
especialmente suscetíveis ao elogio. Já trabalhei com políticos, homens santos e
gângsteres, e posso afirmar que nenhum deles poderia competir com escritores em
matéria de ego inflado e insegurança de rato.”
“O amor, Sartaj pensou
zombeteiro, era uma armadilha inescapável. Capturado em suas barras, nos debatemos,
salvamos uns aos outros e destruímos uns aos outros.”
Um comentário:
Um aspecto negativo a se destacar sobre o livro, é que há muitas palavras em dialetos diversos (hindi, urdu, sânscrito) no meio da obra e, ao invés de colocar as tradução na própria página, por economia de espaço, a editora preferiu colocá-las juntas no final do livro. O problema é que em um livro que tem quase mil páginas, você toda hora ter de parar a leitura, ir até o final do livro e procurar o significado da palavra, e depois reencontrar onde estava e recomeçar e leitura, torna-se cansativo. Ademais, há inúmeras palavras (como kurta, chappal, pathan, yaar, tamasha, jhakaas, dentre muitas outras), que não têm o significado descrito no glossário – o que é bem frustrante, interromper a leitura para procurar uma palavra, e não encontrá-la.
Por outro lado, a despeito de o livro só ter recebido três estrelas, há boas partes (especialmente as que tratam do vilão Ganesh Gaitonde) que mereciam nota melhor.
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