Editora: Rocco
ISBN: 978-85-3251-037-2
Tradução: Mario
Fondelli
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 352
Sinopse: Este é o segundo volume da trilogia que
conta a história do belo príncipe da Macedônia que seria conhecido como
Alexandre, O Grande. O primeiro livro, O sonho de Olympias, fala do nascimento à adolescência. Em As areias de Amon, entra em cena o grande general Alexandre Magno, que desafia e
enfrenta o exército persa e parte para a conquista do Extremo Oriente. Vence a
primeira batalha em Granico, mas seu mais feroz adversário, o mercenário
general Mêmnon, consegue fugir do massacre, e desafia o jovem rei macedônio
para um duelo “até a última gota de sangue”. Um desafio que além de luta pelo
poder envolve uma rivalidade no amor. Anteriormente, Alexandre havia capturado
Barsine, a estonteante esposa persa de Mêmnon, por quem acabou se apaixonando
perdidamente. Entretanto, num gesto de grandeza, concedeu-lhe a liberdade e
permitiu-lhe voltar para seu povo. O duelo dramático acontece em Halicarnasso. Mêmnon
morre em circunstâncias misteriosas, mas não sem antes ter se encontrado com
Barsine pela última vez. Seus guerreiros companheiros erguem uma pira em sua
homenagem em meio à estepe gelada e, a seguir, se suicidam. Alexandre segue seu
destino. Um oráculo antigo dizia que aquele que soltasse o nó que atava a canga
e o timão da carruagem do rei Górdio teria o domínio da Ásia. O príncipe da
Macedônia corta o complicado nó com um golpe de espada, liberando
inconscientemente misteriosas e incontroláveis forças. A aventurosa marcha de
Alexandre prossegue, e o jovem conquistador encontra-se face a face com o
grande rei dos persas, Dario, em Isso, onde o inimigo é derrotado e foge do
campo de batalha. Alexandre logo vem a saber que Barsine está entre os prisioneiros.
A bela viúva, ainda muito abalada pela morte do marido, mas, ao mesmo tempo,
dominada pelos encantos do jovem rei, fica dividida entre a lembrança de uma
paixão perdida e a força de um novo amor, que ainda reluta em aceitar. Ainda
resta conquistar Tiro, cercada por altas muralhas, e Gaza, com suas torres
cobertas de betume. Acontecem, então, as mais espetaculares batalhas de todos
os tempos, por terra e por mar, com máquinas monstruosas, ataques debaixo da
água e navios em fogo. Nada resiste aos exércitos de Alexandre. Finalmente, ele
chega ao Egito misterioso, onde o aguarda o oráculo de Amon, em meio às areias
escaldantes do deserto. E lá, na terra dos faraós, é recebido como um deles, o
verdadeiro filho do sol.
“À esquerda, com
seus santuários e monumentos, havia a acrópole; naquele mesmo instante a fumaça
de algum sacrifício subia do altar para o céu claro, pedindo aos deuses a graça
de derrotar o inimigo.
– Os nossos
sacerdotes também ofereceram um sacrifício – observou Cratero. – Fico imaginando
em quem os deuses acreditarão mais.
Alexandre virou-se
para ele.
– No mais forte.”
“– Será possível
que nem as mães chorem os filhos tombados em combate? – Alexandre perguntou a
Eumênio, que se aproximara.
– Claro que sim –
replicou o secretário. – Ninguém chora por um mercenário. Não tem mãe nem pai,
e nem mesmo amigos. Só tem a sua lança com a qual ganha o pão mais duro e mais
amargo.”
“(...) – E a coisa
não te amedronta? – perguntou Eumênio a Alexandre.
– Nunca receio
algo que ainda não aconteceu.”
“– Parece-me
impossível – disse Alexandre. – Sempre foi-me fiel: já o vi arriscar muitas
vezes a sua vida por mim.
Parmênio sacudiu a
cabeça.
– O poder corrompe
muitos homens – observou. Mas dentro de si pensava “todos”.”
“Esperaram o
alvorecer para subir e ficar com o corpo para os ritos fúnebres.
– Colocá-lo-emos
sobre a pira conforme os nossos costumes – disse o mais velho entre eles, o que
nascera em Tegéia. – Abandonar o corpo como comida para cães e pássaros é para
nós uma vergonha insuportável: isto faz-te entender quão diferentes nós gregos
somos de vocês, persas. – E Barsine entendeu. Entendeu que naquela hora suprema
devia ficar de lado e deixar que Mêmnon voltasse às origens e recebesse as
honras funerárias segundo as tradições do seu povo.
Ergueram uma pira
no meio de uma planície embranquecida pela geada e colocaram nela o corpo de
seu comandante vestido com sua armadura e o elmo enfeitado com a rosa prateada
de Rodes.
E atearam o fogo.
O vento que varria
o planalto atiçou as chamas que se levantaram vorazes destruindo rapidamente os
restos mortais do grande guerreiro. Os seus soldados, perfilados e empunhando
as lanças, gritaram dez vezes o seu nome ao céu frio e cinzento que pesava
sobre aquela imensidão deserta como uma mortalha, e quando o último eco daquele
brado se calou, perceberam que haviam ficado completamente sós no mundo, que já
não tinham mãe nem pai, nem irmão nem família, que não tinham casa nem um lugar
para onde voltar.
– Jurei que iria
com ele para qualquer lugar – disse então o mais velho entre eles –, até para o
reino de Hades. – Ajoelhou-se, desembainhou a espada apontando-a contra o
próprio coração e jogou-se em cima dela.
– Eu também –
repetiu o companheiro sacando por sua vez a arma.
– E nós também –
disseram os outros dois. Tombaram um depois do outro esvaindo-se em seu próprio
sangue, enquanto o primeiro canto do galo rompia o silêncio espectral da
alvorada como um toque de clarim.”
“O templo era um
santuário indígena extremamente antigo que abrigava um simulacro da deusa
esculpido em madeira e carcomido pelos carunchos, enfeitado com uma incrível
quantidade de jóias e talismãs oferecidos pela multissecular fé dos crentes.
Nas paredes viam-se penduradas relíquias e oferendas de toda espécie e muitas
representações de membros humanos em terracota e madeira que testemunhavam
curas ou súplicas para obtê-las.
Havia mãos e pés
com os sinais da sarna pintados com cores vivas, olhos, narizes e orelhas,
úteros certamente estéreis que invocavam a fertilidade e membros masculinos
que, da mesma forma, não eram capazes de desempenhar as suas funções.
Cada um desses
objetos era o sinal das numerosas aflições, dores e misérias que desde o começo
dos tempos atormentavam o gênero humano, desde que o insensato Epimeteu abriu a
caixa de Pandora e deixara sair todos os males que invadem o mundo.
– Só deixando no
fundo a esperança – lembrou Eumênio, olhando em volta. – E o que mais são todos
estes objetos senão a manifestação de uma esperança quase sempre frustrada e
mesmo assim companheira preciosa, para não dizer indispensável, dos homens?”
“Alexandre mostrou
a Calístenes a mensagem que uma embaixada do Grande Rei acabava de trazer:
Dario, Rei dos Reis, senhor dos quatro cantos
da terra, luz dos arianos, a Alexandre, rei dos macedônios, salve!
Teu pai Filipe foi o primeiro a ofender os
persas na época do rei Arxes, embora não tivesse sofrido prejuízo algum da
parte deles. Quando me tornei rei, tu não enviaste embaixada alguma para
confirmar a antiga amizade e aliança, e invadiste a Ásia causando-nos graves
danos. Tive, portanto, de enfrentar-te em batalha para defender o meu país e
reconquistar os meus antigos domínios. O resultado do embate foi aquele que os
deuses escolheram, mas dirijo-me a ti de soberano a soberano para que libertes
os meus filhos, a minha mãe e a minha esposa. Estou pronto a estipular um
tratado de amizade e aliança: peço-te, portanto, que envies de volta um
mensageiro junto com a minha embaixada para que possamos determinar os termos
das negociações.
Calístenes fechou
a carta.
– Na prática, diz
que és culpado de tudo, reivindica o seu direito de defender-se, mas reconhece
a derrota e está disposto a tornar-te teu amigo e aliado desde que lhe devolvas
a família. O que tencionas fazer?
Nesse mesmo
momento Eumênio voltou com a cópia da resposta que havia preparado para o rei e
Alexandre pediu que a lesse. O secretário pigarreou e começou:
Alexandre, rei dos macedônios, a Dario, rei
dos persas, salve!
Os teus antepassados invadiram a Macedônia e
o resto da Grécia causando-nos graves prejuízos sem motivo algum. Eu fui
nomeado comandante supremo dos gregos e invadi a Ásia para vingar a vossa
agressão. Fostes vós, os persas, que assististes Perinto contra o meu pai e
invadistes a Trácia, que é um nosso território.
Alexandre
deteve-o.
– Acrescenta o que
vou ditar-te agora:
O meu pai, o rei Filipe foi vítima de uma
conspiração que tu apoiaste e umas cartas escritas por ti provam isto.
Além do mais conquistaste o trono com a
fraude, corrompeste os gregos para que se levantassem contra mim e tudo fizeste
para destruir a paz por mim tão penosamente conseguida. Venci os teus generais
e, com a ajuda dos deuses, triunfei sobre ti em campo aberto e sou, portanto,
responsável por aqueles entre os teus soldados que passaram para o meu lado,
assim como pelas pessoas que estão perto de mim. És tu, então, que deves me
tratar como senhor da Ásia. Pede o que consideras oportuno, vindo em pessoa ou
mandando os teus enviados. Pede pela tua mulher, por tua mãe e teus filhos, e
eu outorgarei desde que consigas me convencer. No futuro, se quiseres te
endereçar a mim, dirige-te ao Rei da Ásia e não a um teu igual, e terás de
fazer o teu pedido a quem está agora de posse de tudo aquilo que antes era teu.
Se assim não fizeres, tomarei contra ti as providências cabíveis contra quem
violou as leis e as normas das nações. Se, no entanto, reivindicares a tua
condição de soberano, então desce em campo, luta para defendê-la e não fujas,
pois eu irei ao teu encalço em qualquer lugar aonde fores.
– Não lhe deixas
muitas escolhas – comentou Calístenes.
– Não, de fato –
replicou Alexandre –, e se for homem e rei deverá reagir.”
“– É o destino de
toda mulher bela e desejável: ela sabe que é uma presa e sabe que só oferecendo
o amor ou sujeitando-se ao ímpeto do macho pode esperar salvação e amparo para
si e para as suas criaturas.”