Editora: livro distribuído
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 66
Sinopse: Esquerdismo: doença infantil do comunismo, escrito e publicado em 1920, foi o último
livro de V. I. Lenin. A Rússia soviética passava por uma dura guerra civil
(1918-1920) levada a cabo pelas forças burguesas e reacionárias – internas e
estrangeiras – derrotadas em 1917. No movimento revolucionário internacional,
estavam consolidados a falência da Segunda Internacional e o triunfo da
estratégia e tática bolchevique na Rússia. E também se viviam as consequências
imediatas do fim da Primeira Guerra Mundial, num clima de destruição e
reconstrução.
Em 1919, Lenin propõe como
tática para se fortalecer o movimento revolucionário – e a própria Revolução
Russa – a criação da Terceira Internacional, que ficaria conhecida como a
Internacional Comunista. O experimentado dirigente via a necessidade de um
movimento revolucionário internacional para levar adiante a construção do
socialismo, pois sabia que ele apenas se consolidaria e avançaria em direção a
uma sociedade sem classes se os países do capitalismo desenvolvido também
fizessem a sua revolução. Daí a sua preocupação com o movimento revolucionário
na Alemanha, na Inglaterra e outros países.
O Esquerdismo (...) empreende uma crítica às correntes de
esquerda na Europa com vista a consolidar uma força revolucionária que fizesse
frente ao poder burguês e levasse ao triunfo a revolução em cada país.
Empenhado em construir a Terceira Internacional, traça um breve histórico de
construção do partido bolchevique na Rússia – tendo em conta as
particularidades desta formação social – principalmente no que toca às táticas
para tomar o poder de Estado. Com isso, também pretende demonstrar que a
política está intimamente relacionada ao movimento das forças em luta na
realidade. A luta de classes é a sua medida; e todas as táticas de luta são
válidas se travadas de maneira revolucionária, isto é, se utilizadas como
instrumento de divulgação das propostas e da consolidação das forças
revolucionárias nos diversos setores da sociedade.
Neste sentido, a política não
é feita somente a partir de princípios filosóficos, mas deve ser fruto de uma
profunda análise da estrutura e da dinâmica das classes que a compõem; e deve
estar vinculada a um único objetivo: tomar o Estado para começar a destruí-lo e
forjar uma sociedade “em que o livre desenvolvimento de cada um é a condição
para o livre desenvolvimento de todos”.
“A ditadura do
proletariado é a guerra mais severa e implacável da nova classe contra um
inimigo mais poderoso, a burguesia, cuja resistência está decuplicada, em
virtude de sua derrota (mesmo que em apenas um país), e cuja potência consiste
não só na força do capital internacional, na força e na solidez das relações
internacionais da burguesia, como também na força do costume, na força da
pequena produção. Porque, infelizmente, continua a haver no mundo a pequena
produção em grande escala, e ela cria capitalismo e burguesia constantemente,
todo dia, a toda hora, através de um processo espontâneo e em massa. Por tudo
isso, a ditadura do proletariado é necessária, e a vitória sobre a burguesia
torna-se impossível sem uma guerra prolongada, tenaz, desesperada, mortal; uma
guerra que exige serenidade, disciplina, firmeza, inflexibilidade e uma vontade
única.”
“Quanto a outro
inimigo do bolchevismo no movimento operário, a coisa já é bem diferente. Pouco
se sabe, no estrangeiro, que o bolchevismo cresceu, formou-se e temperou-se,
durante muitos anos, na luta contra o revolucionarismo pequeno-burguês,
parecido com o anarquismo, ou que adquiriu dele alguma coisa, afastando-se, em
tudo que é essencial, das condições e exigências de uma consequente luta de
classes do proletariado. Para os marxistas está plenamente provado do ponto de
vista teórico – e a experiência de todas as revoluções e movimentos
revolucionários da Europa confirmam-no totalmente – que o pequeno proprietário,
o pequeno patrão (tipo social muito difundido em vários países europeus e que
tem caráter de massas), que, muitas vezes sofre sob o capitalismo uma pressão
contínua e, amiúde, uma agravação terrivelmente brusca e rápida de suas
precárias condições de vida, não sendo difícil arruinar-se, passa-se facilmente
para uma posição ultra-revolucionária, mas é incapaz de manifestar serenidade,
espírito de organização, disciplina e firmeza. O pequeno-burguês “enfurecido”
pelos horrores do capitalismo é, como o anarquismo, um fenômeno social comum a
todos os países capitalistas. São por demais conhecidas a inconstância e a
esterilidade dessas veleidades revolucionárias, assim como a facilidade com que
se transformam rapidamente em submissão, apatia, fantasias, e mesmo num
entusiasmo “furioso” por essa ou aquela tendência burguesa “em moda”.”
“Todo proletário
conhece greves, conhece “compromissos” com os odiados opressores e
exploradores, depois dos quais os operários tiveram de voltar ao trabalho sem
haver conseguido nada ou contentando-se com a satisfação parcial de suas
reivindicações. Todo proletário, graças ao ambiente de luta de massas e do
acentuado agravamento dos antagonismos de classe em que vive, percebe a
diferença existente entre um compromisso imposto por condições objetivas
(pobreza de fundos financeiros dos grevistas, que não contam com apoio algum,
passam fome e estão extenuados ao máximo) – compromisso que em nada diminui a
abnegação revolucionária nem a disposição de continuar. A luta dos operários
que o assumiram – e um compromisso de traidores que atribuem a causas objetivas
seu vil egoísmo (os fura-greves também assumem “compromissos”!), sua covardia,
seu desejo de atrair a simpatia dos capitalistas, sua falta de firmeza ante as
ameaças e, às vezes, ante as exortações, as esmolas ou as adulações dos
capitalistas.”
“A lei fundamental
da revolução, confirmada por todas as revoluções, e em particular pelas três
revoluções russas do século XX, consiste no seguinte: para a revolução não
basta que as massas exploradas e oprimidas tenham consciência da
impossibilidade de continuar vivendo como vivem e exijam transformações; para a
revolução é necessário que os exploradores não possam continuar vivendo e
governando como vivem e governam. Só quando os “de baixo” não querem e os “de
cima” não podem continuar vivendo à moda antiga é que a revolução pode
triunfar. Em outras palavras, esta verdade exprime-se do seguinte modo: a
revolução é impossível sem uma crise nacional geral (que afete explorados e
exploradores). Por conseguinte, para fazer a revolução é preciso conseguir, em
primeiro lugar, que a maioria dos operários (ou, em todo caso, a maioria dos
operários conscientes, pensantes, politicamente ativos) compreenda a fundo a
necessidade da revolução e esteja disposta a sacrificar a vida por ela; em
segundo lugar, é preciso que as classes dirigentes atravessem uma crise
governamental que atraia à política inclusive as massas mais atrasadas (o
sintoma de toda revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação do
número de homens aptos para a luta política, homens pertencentes à massa trabalhadora
e oprimida, antes apática), que reduza o governo à impotência e torne possível
sua rápida derrubada pelos revolucionários.”
“A vanguarda
proletária está ideologicamente conquistada. Isto é o principal. Sem isto não é
possível dar sequer o primeiro passo para a vitória. Mas daí para o triunfo
ainda falta uma grande distância a percorrer. Apenas com a vanguarda é
impossível triunfar. Lançar a vanguarda sozinha à batalha decisiva, quando toda
a classe, quando as grandes massas ainda não adotaram uma posição de apoio
direto a essa vanguarda ou, pelo menos, de neutralidade simpática, e não são
totalmente incapazes de apoiar o adversário, seria não só uma estupidez, como
um crime. E para que realmente toda a classe, para que realmente as grandes massas
dos trabalhadores e dos oprimidos pelo capital cheguem a ocupar essa posição, a
propaganda e a agitação, por si, são insuficientes. Para isso necessita-se da
própria experiência política das massas. Tal é a lei fundamental de todas as
grandes revoluções, confirmada hoje com força e realce surpreendentes tanto
pela, Rússia como pela Alemanha. Não só as massas incultas, em muitos casos
analfabetas, da Rússia, como também as massas da Alemanha, muito cultas, sem
nenhum analfabeto, precisaram experimentar em sua própria carne toda a
impotência, toda a veleidade, toda a fraqueza, todo o servilismo ante a
burguesia, toda a infâmia do governo dos cavalheiros da II Internacional, toda
a inelutabilidade da ditadura dos ultrarreacionários (Kornilov na Rússia, Kapp
& Cia. na Alemanha), única alternativa diante da ditadura do proletariado,
para orientar-se decididamente rumo ao comunismo.
A tarefa imediata
da vanguarda consciente do movimento operário internacional, isto é, dos
partidos, grupos e tendências comunistas, consiste em saber atrair as amplas
massas (hoje, em sua maior parte, ainda adormecidas, apáticas, rotineiras,
inertes) para essa sua nova posição, ou, mais bem dizendo, em saber dirigir não
só seu próprio partido, como também essas massas no período de sua aproximação,
de seu deslocamento para essa nova posição. Se a primeira tarefa histórica
(ganhar para o Poder Soviético e para a ditadura da classe operária a vanguarda
consciente do proletariado) não podia ser cumprida sem uma vitória ideológica e
política completa sobre o oportunismo e o social-chovinismo, a segunda tarefa,
que é agora imediata e que consiste em saber atrair as massas para essa nova
posição capaz de assegurar o triunfo da vanguarda na revolução, não pode ser
cumprida sem liquidar o doutrinarismo de esquerda, sem corrigir completamente
seus erros, sem desembaraçar-se deles.”
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