Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-7302-742-6
Tradução: Marta
Miranda O'Shea
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 356
Sinopse: No verão
de 1909, dois norte-americanos, inicialmente amigos e colaboradores,
reivindicaram a descoberta do Polo Norte, a mais cobiçada distinção entre os
exploradores geográficos. O engenheiro civil Robert Peary afirmava ter
alcançado o polo em março de 1909; seu rival, o médico Frederick Cook, rebatia
com provas de que lá chegara em abril de 1908. Um século depois, a batalha
entre os dois homens continua.
Norte Verdadeiro trata de uma das controvérsias mais amargas e duradouras da história da
exploração, uma contenda que haveria de dividir a comunidade científica
internacional e resultar na ruína de um dos reivindicantes e no descrédito do
outro. Usando os argumentos e contra-argumentos de cada uma das partes, e um
extenso diário publicado somente no final do século XX, o escritor americano
Bruce Henderson revela qual dos dois mentiu e quem foi o verdadeiro descobridor
do Polo Norte.
“Imerso naquela cultura, Cook já se parecia
com um esquimó; deixou de cortar o cabelo e trocou as roupas de lã pelas peles
mais quentes que os nativos usavam no inverno. Através deles soube que não
adotavam qualquer forma de governo, conselho, nem possuíam chefes tribais. Não
tinham sacerdotes e seus conceitos de religião eram elementares, a maioria
relacionada a espíritos maus. Não acreditavam ter sido criados por um deus
onipotente, embora tivessem a própria versão de Adão e Eva e da criação.
Segundo a tradição esquimó, houve um dilúvio que dizimou quase toda a espécie
humana. Um homem sobreviveu e mais tarde, encontrando-se numa montanha, bateu
numa pedra com um bastão de madeira. A pedra transformou-se numa mulher. Esse
casal deu origem a todos os seres humanos. Para o esquimó, a noção de Paraíso
vinculava-se ao conforto. O Paraíso, conforme a descrição feita pelos nativos,
era um local onde a paisagem era acidentada como aquelas às quais estavam
acostumados, mas com sol eterno, riachos de águas límpidas e morsas, renas e
aves em quantidade. Não tinham leis, nem tribais nem de qualquer outro tipo –
cada família era regida pelo homem, que podia resolver, mediante o
consentimento de outro homem casado, trocar de mulher. Caso não se chegasse a
um consenso, os homens lutavam e o vencedor ficava com as duas mulheres.”
“Com o nascimento de bebês, no território
esquimó, durante aquele inverno, Cook ficou sabendo que o atendimento de um
médico não era nem requisitado, nem desejado. A sobrevivência do mais forte
começava no nascimento. Quando uma mulher entrava em trabalho de parto e estava
prestes a dar à luz, era conduzida a um iglu onde permanecia sozinha com a
quantidade suficiente de óleo, gordura de baleia e carne congelada para duas
semanas. Se ela sobrevivesse e o choro do bebê fosse ouvido, os demais se
aproximavam para dar assistência à mãe e à criança. Se tudo silenciasse no
iglu, este era fechado para sempre.”
“Quanto aos bebês que nasciam, Cook observou
que nos dois primeiros anos a criança não usava roupa nenhuma da cintura para
baixo e era carregada dentro de uma sacola às costas da mãe, junto ao calor do
seu corpo. Uma criança era amamentada durante quatro ou seis anos, ou até que a
mãe tivesse outro bebê; normalmente a diferença de idade entre as crianças era
de quatro anos. Quando nasciam gêmeos, ambos eram mortos, pois se considerava
impossível que a mãe carregasse e cuidasse de duas crianças. Quando morria a
mãe ou o pai de uma criança com menos de três anos de idade, esta era
estrangulada com uma tira de couro de foca. O gesto não era considerado cruel
ou desapiedado e sim a fatalidade mais rápida que poderia se abater sobre tal
criança diante de um mundo implacável. Ter pai e mãe era fator decisivo para
uma criança, escreveu Cook, “numa região onde não existe animal ou vegetal
vivos, durante meses seguidos, para se manter uma família. É preciso que
estejam presentes o pai para caçar focas e a mãe para criar o bebê, até que ele
tenha idade suficiente para cuidar de si mesmo. Todos os esquimós lamentam o
costume que lhes foi transmitido pelos ancestrais, mas admitem sua necessidade.”
“A relutância dos esquimós em percorrer a
calota de gelo não se baseava apenas na superstição e no temor aos espíritos
maus, era também uma questão de bom senso. Desde os primórdios da exploração,
os nativos do Ártico jamais compreenderam o interesse dos visitantes brancos em
explorar regiões áridas, isoladas. Por longo tempo, os nativos sobreviveram ao
rigor do frio, aprendendo a buscar a caça, normalmente no litoral ou nas
proximidades, ou procurando simplificar a vida, em vez de dificultá-la. Quando
se deparavam com grupos de homens brancos, provenientes de terras distantes,
dirigindo-se a regiões onde era grande a possibilidade de passar fome e morrer,
não se inclinavam a acompanhá-los”.
“Cheguei onde não havia qualquer longitude.”
(Cook)
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