Editora: Rocco
ISBN: 978-85-3251-058-7
Tradução: Mario Fondelli
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 416
Opinião: Nesse último volume da trilogia sobre
Alexandre, o Grande, chegamos à apoteose definitiva e à morte precoce, aos 33
anos, do jovem rei fundador do maior império que já existiu. Depois de O sonho de Olympias e de As areias de Amon, Os confins
do mundo retoma a
formidável galeria de personagens, eventos e emoções responsável pelo enorme
sucesso dessa saga, perfeitamente equilibrada entre a rigorosa documentação
histórica e um vibrante ritmo de romance. Figuras de valorosos soldados ao lado
de políticos pusilânimes, heroísmo e traição, amizade, lealdade e violência
desfilam ao longo de páginas densas e movimentadas, em tensão constante, das
quais emergem os sentimentos mais nobres e também os mais repugnantes da alma
humana. O inesquecível cavalo Bucéfalo, o cão Péritas, o médico Filipe, a
belíssima Roxana e muitos outros são os personagens descritos com vigor e
nitidez que acompanham a definitiva vitória sobre o império persa, a viagem aos
extremos confins do mundo e a morte de Alexandre, em um final grandioso e
comovente. O autor reconhece que esta última parte das aventuras do rei
macedônio talvez tenha sido a mais complexa e difícil de interpretar. Há vários
trechos obscuros, mesmo nas fontes originais. O conquistador, no entanto, é
sempre representado de forma fiel, mesmo nos momentos mais escabrosos e menos
honrosos da sua história. Aos personagens femininos, que nas fontes antigas mal
chegam a ser mencionados, o autor deu consistência e reconstruiu, na base de
considerações lógicas, a presença dessas mulheres e a influência que tiveram
sobre os acontecimentos da história. De batalha em batalha, os três volumes
chegam até a morte de Alexandre. Esta também foi uma morte misteriosa. Falou-se
de um envenenamento por arsênico, se bem que um artigo publicado no New England Journal of
Medicine atribui a morte a
uma febre tifoide. O corpo de Alexandre foi transportado para o Egito, como
queria o oráculo de Amon. Mas ninguém sabe onde está sua tumba. Em 1850, um
funcionário do consulado russo em Alexandria disse ter visto, nos subterrâneos
de uma mesquita, um esqueleto no trono, cercado por armas e papiros. O que é
bem provável é que Alexandre ainda reine em alguma parte do universo, sobre uma
legião de anjos ou demônios.
“Uma mulher com
filhos talvez não possa ser uma verdadeira amante: o seu coração nunca deixa de
pensar em outros afetos.”
“Alexandre
acariciou-lhe novamente a mão com delicadeza:
– És bonita,
Estatira, e muito amável. O teu pai, Dario III, devia ter muito orgulho de ti.
Os olhos dela ficaram
úmidos.
– Tinha sim, pobre
do meu pai. Hoje mesmo ia completar cinquenta anos. Mas obrigada, de qualquer
maneira, pelas tuas boas palavras.
– São sinceras –
replicou Alexandre.
Estatira baixou a
cabeça.
– É estranho
ouvi-las do jovem que recusou a minha mão.
– Eu não te
conhecia.
– Iria mudar
alguma coisa?
– Talvez. Um olhar
pode mudar o destino de um homem.
– Ou de uma mulher
– respondeu fitando-o intensamente com os olhos lustrosos de lágrimas. – Por
que vieste? Por que deixaste o teu país? Não é bonito o teu país? (...)
– É difícil
responder. (...) Sempre tive o sonho de ir além do horizonte que podia alcançar
com o olhar, de chegar aos extremos confins do mundo, às ondas do Oceano...
– E aí? O que
farás depois de conquistar o mundo inteiro? Achas que realmente serás feliz?
Que terás conseguido aquilo que de verdade desejas? Ou quem sabe poderás ser
tomado por uma ansiedade ainda mais forte e profunda, desta vez invencível?
– Talvez, mas
nunca poderei saber sem, antes, alcançar os limites que os deuses concedem ao
ser humano.”
“– Sua irmã
Cleópatra sempre te quis bem, sempre quis ser o teu escudo contra a cólera do
teu pai. Não sentes a falta dela?
– Sinto demais,
respondeu Alexandre – assim como sinto falta daquele tempo. Mas não me é
concedido entregar-me às lembranças: a tarefa que escolhi para mim volta
implacavelmente à tona, como um imperativo ao qual tudo devo sacrificar e do
qual não posso fugir.
– Do qual não
queres fugir – replicou Eumênio.
– Achas que
poderia, mesmo se quisesse? Às vezes os deuses colocam no coração dos homens
sonhos, aspirações e desejos maiores do que eles. A grandeza de um homem
corresponde à dolorosa defasagem entre a meta que ele quer alcançar e as forças
que a natureza lhe deu quando o botou no mundo.”
“Alexandre tinha
os olhos brilhantes de comoção quando abraçou Roxana e sentiu o contato da sua
pele nua, quando procurou os seus lábios inexperientes, quando beijou-lhe o
seio, o ventre, as coxas. Amou-a com uma intensidade quase dolorosa, numa
entrega total que nunca experimentara antes, e quando os seus corpos se
enrijeceram no espasmo supremo, sentiu que vertia nela a vida, o segredo
daquela energia selvagem que desbaratara cidades e exércitos, que suportara os
mais pavorosos ferimentos, que pisoteara os mais sagrados sentimentos e que
matara a piedade e a compaixão. E quando deixou-se cair ao seu lado para
entregar-se ao sono, sonhou caminhar ao longo de uma íngreme estrada, sob um
céu negro, até às margens de um oceano imóvel, plano e frio como uma chapa de
ferro polido. Mas não ficou com medo pois o calor de Roxana envolvia-o como uma
roupa macia, como a felicidade misteriosa de uma lembrança infantil.”
“– Nunca se pode
ter certeza de coisa alguma no mar.”
“Não há conquista
que faça sentido, não há guerra que valha a pena de ser combatida. No fim, a
única terra que nos sobra é aquela em que seremos sepultados.”
“– Muitos dos meus
soldados – replicou Alexandre – já vivem com garotas persas ou medas, e também
têm filhos. É justo que se casem com elas, e para alguns outros eu mesmo estou
escolhendo noivas persas. Calculei que no fim das contas os casamento serão
mais ou menos dez mil.
A idosa rainha
arregalou os olhos entre a maranha de rugas.
– Dez mil, pai?
Oh, grande Ahura Mazda, isto é algo que nunca se viu no mundo! – Sorriu com uma
expressão de inocente malícia. – Mas, afinal acho que estejas certo: a cama é o
lugar certo para lançar as bases de uma paz duradoura.”
“Naquele momento pensou na mãe, pensou na sua
espera amarga e inútil. Teve a impressão de vê-la, numa torre do palácio.
Enquanto gritava chorando e chamava com desespero: “Alexandre, não vás,
volta para mim, eu te peço!”. E, por um instante, aquele grito pareceu
realmente chamá-lo de volta, mas só foi um momento. Aquele grito, aquelas
palavras e aquele rosto desapareceriam agora ao longe, perdiam-se no vento....
Diante de si podia ver agora uma planície sem fim, uma pradaria coberta de
flores, e ouvia um cão que latia, mas não era o ladrar sombrio de Cérbero: era
Péritas! Vinha correndo louco de felicidade como no dia em que voltara do
desterro, e logo a seguir, no infinito daquelas terras, trovejava um galope,
ressoava um relincho. Era ele, lá estava Bucéfalo que vinha ao seu encontro com
a crina ao vento, e o deixava subir na garupa, como naquele dia em Mésia, e ele
gritava: “Em frente, Bucéfalo!”. E como um fogoso Pégaso o corcel lançava-se à
disparada rumo ao derradeiro horizonte, rumo à luz infinita.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário