Editora: Suma de
Letras
ISBN:
978-85-6028-012-4
Tradutor: Heloísa
Mourão
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 271
Sinopse: Inverno de 1938 em Paris. Num discreto
hotel para amantes ocorre um assassinato seguido de suicídio. Trata-se de uma
ação da OVRA, a polícia secreta fascista de Mussolini, orquestrada para
eliminar o editor do Liberazione, um jornal clandestino de intelectuais
emigrados. Carlo Weisz, que fugira de Trieste e conseguira trabalho como
correspondente da agência de notícias Reuters, torna-se seu novo editor. Weisz –
um homem obrigado a agir em diversos fronts e determinado a salvar a amada,
espiã na Alemanha de Hitler – passa a ser perseguido pela Sûreté (a polícia de
segurança nacional francesa), pelos espiões da OVRA e pelos agentes do Serviço
Secreto Britânico. Em meio ao confuso ambiente político da Europa à beira da
guerra, o correspondente se torna uma peça importante no intrincado tabuleiro
dos bastidores do conflito.
“A conversa passou para a conferência da
tarde, o sarcasmo conservador de Sparrow não tão distante do afável liberalismo
de Weisz, e para Olivia tudo começava e acabava em barbas. O sr. Brown era bem
mais opaco, suas opiniões políticas aparentemente mantidas em segredo, embora
fosse um enfático partidário de Churchill. Até citou Winston, quando este se
dirigiu a Chamberlain e seus colegas na ocasião do covarde acordo de Munique:
– “Foi lhes dada uma escolha entre a vergonha
e a guerra. Escolheram a vergonha e terão a guerra” – e
acrescentou: – E tenho certeza de que o senhor concorda com isto, sr.
Weisz.
– Parece estar certo, de fato – disse
Weisz. No pequeno silêncio que se seguiu, ele disse: - Perdoe-me pela pergunta
de jornalista, sr. Brown, mas posso saber a que tipo de atividade o senhor se
dedica?
– Certamente que sim, embora, como
dizem, não para divulgação.
Neste momento o cachimbo emitiu uma grande
nuvem de fumaça adocicada, como para sublinhar a proibição.
– Por hoje o senhor está a salvo – disse
Weisz. – Informação confidencial. – Seu tom brincalhão, Brown jamais poderia
pensar que estava sendo entrevistado.
– Sou proprietário de uma pequena
companhia que controla alguns armazéns no porto de Istambul – disse ele. – Temo
que seja apenas o bom e velho comércio, e só estou lá às vezes.
Puxou um cartão e entregou a Weisz.
– E o que o senhor pode fazer é torcer
para que os turcos não se alinhem com a Alemanha.
– Exato – disse Brown. – Mas creio que
ficarão neutros. Tiveram toda a guerra que queriam em 1918.
– Nós todos tivemos – disse Sparrow. –
Não vamos fazer isso outra vez, combinado?
– Não se pode parar uma vez que começa –
disse Brown. – Veja a Espanha.
– Acho que deveríamos ter ajudado –
disse Olivia.
– Suponho que deveríamos – disse Brown.
– Mas, de nossa parte, estávamos pensando em 1914, sabe como é.”
“Os espiões estavam sempre atrás de alguma
coisa. Se você era um jornalista, de repente aparecia o russo mais amável, o alemão
mais culto, a francesa mais sofisticada que jamais conheceu. O favorito de
Weisz em Paris era o magnífico Conde Polanyi, da diplomacia húngara – adoráveis
modos de europeu dos velhos tempos, honestidade implacável e senso de humor;
muito interessante, muito perigoso. Era um erro estar perto dele em quaisquer
circunstâncias, mas erros são cometidos de vez em quando.”
“Ele moveu a mão um pouco e logo a repousou.
Ela pôs a mão sobre a dele. Weisz fitou-a por um longo tempo.
– Então, o que vê?
– A melhor coisa que já vi.
De Christa, um sorriso duvidoso.
– Não, é verdade – disse ele.
– São seus olhos, amor. Mas eu adoro ser
o que você vê.”
“14 de abril, 3h30 (1939). Weisz postou-se na
esquina onde a rue Daphine encontrava a marginal do Sena, e esperou por
Salamone. E esperou. E essa agora? Era culpa daquele maldito
Renault, velho e melindroso. Por que ninguém de seu mundo jamais tinha qualquer
coisa nova? Tudo em suas vidas era gasto, usado, não funcionava bem havia muito. Que
se dane, pensou, eu vou para a América. Onde ele seria pobre
novamente, no meio da riqueza. Era a velha história para os imigrantes
italianos – o famoso cartão-postal de volta à Itália dizendo: “Não apenas as
ruas não são pavimentadas de ouro, elas não são pavimentadas, e eles esperam
que nós as pavimentemos”.”
“O objetivo era acabar com o Liberazione –
não adiar a publicação – e gerar um exemplo, para demonstrar aos outros,
comunistas, socialistas, católicos, o que acontecia com aqueles que ousavam se
opor ao fascismo. Além disso, acreditavam piamente no ditado inglês do século
XVII, cunhado na guerra civil, que dizia: “Aquele que puxa sua espada contra
seu príncipe deve atirar fora a bainha”.”
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