Editora: Ideia e Ação
ISBN: 978-85-7788-133-8
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 192
“Para o Vampiro
não há céu nem inferno, ele é um paradoxo primevo a caminhar entre os mundos,
um morto-vivo. Outrora homem, agora antideus. Sua antivida é pautada pela
violência, sede de sangue, paixão e terror, o horror que se esconde nas
sombras. Quebrando e destruindo todas as normas, regressando ao atavismo mais
profundo. Um ser habitante do limbo, um limbo glorioso, isso é o Vampiro.”
“O Vampiro na
China, como em outras partes do mundo, é ativo ao cair a noite, voltando à sua
sepultura ao raiar do Sol. Uma lenda chinesa trata da volta dos mortos e da
destruição advinda disso. Um funcionário do governo chinês, Chang Kuei, estava
em viagem quando, em dado momento, um temporal se abateu. Ele se refugiou em
uma casa. Lá, encontrou uma bela dama. A princípio, tomaram chá, para mais
tarde se unirem numa torrente de paixões. Ao despertar, no dia seguinte, qual
não foi a sua surpresa ao se encontrar sobre a lápide de uma tumba, com seu
cavalo a alguns metros dali. Ele o montou e saiu a toda brida pela estrada. Ao
chegar a seu destino, foi interrogado devido à demora, e seu relato revelou
onde estava a tumba de uma jovem prostituta que havia se enforcado. O fantasma
dela havia seduzido inúmeras vítimas. O clamor dessa história chegou aos
ouvidos do magistrado da região, que mandou abrir a tumba, onde o cadáver foi
encontrado como se estivesse a dormir. Cremaram-no imediatamente. Curiosamente,
após a destruição do corpo da vampira, uma seca que grassava a região teve
fim.”
“Uma diferença
fundamental entre o Egito e outras culturas residia no fato de os sacerdotes
egípcios literalmente mandarem em seus deuses, que eram compelidos a fazer a
vontade do magista ou sacerdote, que para isso usavam encantamentos, talismãs,
rituais e mais uma infinidade de práticas.”
“O Cristianismo
tem suas origens nos cultos dionisíacos e mitraicos, a sublimação, a busca pelo
inatingível, o sofrimento como caminho iniciático, o coletivo em detrimento do
individual. Uma lenda que passa bem o espírito original do Cristianismo é a
lenda de Orfeu. Orfeu foi músico e poeta, ajudou a todos que pôde sem, contudo,
poder ajudar a si mesmo, e a ele são atribuídas inúmeras curas. Com o poder de
sua música contagiava as pessoas, transmitindo amor e paz, e até as feras se
prostravam para ouvi-lo. Foi personagem na expedição dos argonautas atrás do
velocino de ouro, tendo salvado todos com o poder de sua música, quando eles se
defrontaram com as sereias.
Na volta se casou,
mas um infortúnio o esperava: sua bela esposa Eurídice foi picada por uma cobra
e morreu, e ele, inconformado, vai até o Hades em busca de sua amada (sua
música foi a chave utilizada). Por onde ele passava, nos sombrios domínios do
submundo, sua música encantava a todos os horrores, as Moiras por um fugaz
momento pararam de tecer, Cérbero, o cão de três cabeças de Hades, deitou-se ao
embalo da suave música e as Harpias, seres rapaces e sanguinários, ficaram
imobilizadas pela bela música. Por fim ele chegou até o poderoso Hades, regente
do submundo e sua mulher Perséfone, e fez o pedido: queria poder reaver sua
amada. Hades concorda, mas com a seguinte condição: ele não poderia olhar para
trás até sair do submundo. Orfeu começa sua jornada de volta, mas a dúvida e a
insegurança o invadiram, e, temendo ter sido enganado por Hades, ele se vira e
vê sua amada pela última vez, e para nunca mais.
Uma dor atroz o
acompanhou por toda a vida, e para remediá-la ele pregou por todo o mundo,
levando sua palavra de amor. Condenava os sacrifícios e pregava uma vida mais
frugal, tornando-se assim um pregador espiritual. Seu fim foi trágico: muitos
julgavam que ele queria se tomar um deus, e por isso teria sido despedaçado e
morto. Algumas lendas atribuem a Dioniso a sua morte, pois o deus havia ficado
enciumado de Orfeu. Por sua compaixão e bondade, Orfeu foi sempre lembrado;
também por seu amor incondicional e o sacrifício pelo próximo, e por não poder
ajudar a si mesmo e escapar do fim terrível. Essa lenda ilustra as raízes do
Cristianismo e o que ele tinha de melhor, se esquecermos dos gnósticos, antes
de sua secularização e total deturpação, seja do passado ou do presente, seja
de católicos ou de protestantes.”
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