Editora: Via Lettera
ISBN: 978-85-7636-095-7
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 240
Sinopse: Sem papas na língua – até por que “o pop não
poupa ninguém” – o psicólogo, astrólogo, primeiro baterista e fundador dos
Engenheiros do Hawaii, Carlos Maltz, canta a pedra fundamental da Filosofia Pop
– o diálogo igual pra igual entre diferentes.
Neste livro manifesto, o filósofo-pop-star encarna o
auto-profetizado “mensageiro das almas” que, agindo como um juiz de Vale Tudo,
se posiciona entre os lutadores, olha nos olhos, sinaliza o momento do embate e
fala em tom ao mesmo tempo grave e tranquilo.
“Porque se não
soubermos sentir a dor, também não saberemos sentir prazer. (...) Não tem jeito
de estarmos vivos e não sentirmos dor. A dor faz parte da vida. A dor é uma de
nossas maiores amigas, e o único jeito de não sentirmos dor, é nos
anestesiarmos a ponto de não sentirmos nada... Quem se anestesiar não sente
dor, mas, em compensação, também não sente mais nada... Fica confortavelmente
anestesiado para tudo... Joga fora o bebê junto com a água do banho ou, se você
preferir, joga fora a possibilidade de amar, junto com o medo de sofrer... Não
existe vida sem a possibilidade do sofrimento... É aquela história do cara que
“vive como se nunca fosse morrer, e morre como se nunca tivesse vivido”.”
“Sem dúvida, como
eu vinha dizendo, concordo inteiramente com a frase do Gessinger: “Você que
tem ideias tão modernas é o mesmo homem que vivia nas cavernas”. O mundo
mudou muito, na superfície, na aparência, mas, no fundo, não somos tão
diferentes assim dos nossos antepassados... Em termos emocionais a coisa anda
muito devagar... O mundo das emoções num tá nem aí pro nosso avanço tecnológico
e talz... Veja a internet: milhões de pessoas procurando alguém... Milhões de
pessoas diariamente se conectando para encontrar um pouco de algo que elas
sentem muita falta, mas não sabem o que é... Mudamos muito pouco mesmo nas
coisas que realmente importam... Vejam esses sites de realidade
virtual... Forte-apaches dos meninos e das meninas grandes...
Multidões de Barbies e Kens em busca de emoções que não vão encontrar e que vão
gerar mais ansiedade, e mais horas navegando no mar da ilusão... A indústria da
pornografia on-line é uma das que mais crescem nesse mundo rico
de coisa e pobre de alma... Um grande neg-ócio...”.
Fuga
(Carlos Maltz)
Você que está parado aí nessa porta
Tentando esquecer que é você que se
importa
Com o que eu vivo
Ou deixo de viver
Você que já fugiu de sua própria vida
Você me fez sentir a dor de sua ferida
Agora, não pode nem me ver
Quanto mais você foge
Mais perto você fica
Do fogo
Que arde em você
Você que já fez tudo que já tinha feito
Você buscou em mim todos os seus
defeitos
Ninguém vive a vida por ninguém
Você já teve a chama acesa em sua mão
Você gelou o sopro da sua paixão
Tenho um pedaço
Do resto do teu coração
Quanto mais você foge
Mais perto você fica
Do fogo
Que arde em você
“Tem um amigo meu,
compositor lá do Tocantins, o Juraílde da Cruz que escreveu: “Eu tentei
correr de mim, mas pra onde eu ia, eu tava”.”
“A máquina voraz
gera produtos e consumo. Quer consumidores. Todos temos que ser consumidores.
Essa é nossa identidade nesse admirável mundo novo em que vivemos. Só existimos
enquanto consumidores e, se para sermos reais nesse mundo temos que ser
consumidores, as pessoas farão qualquer coisa para se enquadrar nisso. Qualquer
coisa! A máquina voraz tem uma lógica própria: pessoas que roubam milhões e dão
golpes gigantescos são personagens de luxo desse sistema, a menos que deixem
rastros escandalosos. Já as pessoas vindas das classes sociais menos
favorecidas, que na ânsia e na incompetência de se tornarem consumidores,
causarem algum ruído que possa atrapalhar a paz de Muzak dos shopping centers,
serão exilados em penitenciárias cada vez mais modernas, superlotadas... Ainda
chegaremos a cumprir a profecia de Huxley, criando um outro país, onde os
marginalizados e os excluídos vivam em um estado de isolamento que não possam
causar ruído, nem contaminar nosso mundo esterelizado. Nossa sociedade está dividida
em consumidores e não consumidores, que são eliminados.”
“Bode expiatório é
o nome de uma prática judaica antiga. Os Judeus têm o seu tradicional Dia do
Perdão, que é um dia em que a pessoa faz uma espécie de avaliação dos erros que
cometeu no ano que passou, se limpa desses erros e se compromete a não
cometê-los novamente... Antigamente, existia a prática do “bode expiatório”,
que era um animal, um bode mesmo, no qual se jogavam todos os pecados...
Depois, esse animal era levado ao templo, onde era sacrificado, juntamente com
os pecados da galera, que se sentia mais leve para iniciar o ano novo que
estava começando.”
Dia novo (pra você)
(Carlos Maltz & Marcos Mesquita)
Pelas ruas da cidade
Procurando encontrar alguém
Que ainda esteja vivo
E que se importe se eu estou
também
Pelas ruas da cidade onde eu
cresci
Procurando encontrar alguém que possa
me dizer pelo menos:
“Meu amigo, como vai você?, como tens
andado?”
Vou cruzando com olhares de fachada
Esbarrando em multidões de autistas
Todos eles têm os olhos na estrada
Mas só podem ver a sua própria pista
Pelos prédios da cidade futurista
Eu procuro por alguém que ainda insista
Em manter acesa a chama do seu
coração
Procurando água no deserto da
solidão
Pelas pedras da cidade velha
Onde eu caminhei
Eu procuro as pegadas
De alguém que eu tanto amei
Eu não quero te perder (me perder)
Nunca mais
Agora, abre os olhos
E vem ver o Sol que já vem nascer
Amanhecerá um dia novo pra você (amanhã
será)
É o que te deseja alguém que te quer bem.
“Henry D. Thoreau
escreve em 1854:
Por fecharem os
olhos e dormirem, por consentirem em ser enganados pelas aparências, os homens
em toda parte estabelecem e confirmam suas vidas diárias de rotina e hábito em
cima de fundações puramente ilusórias. Crianças, que brincam de viver,
discernem com mais clareza que os adultos a verdadeira lei da vida e suas
relações, enquanto estas fracassam sem conseguir vivê-la condignamente, embora
pensem que a experiência, isto é, o fracasso, os tornou mais sábios.”
“Pra que Satanás
ia perder tempo com mensagens subliminares, se ela está escancarada em todas as
páginas de jornais, estações de televisão, emissoras de rádio? (...) A maioria
esmagadora de todos os programas de todas as estações de televisão do mundo,
com honrosas exceções... transmitindo mensagens de medo, morte, banalização do
sexo, do amor, do corpo humano... Banalização da violência, machismo,
sexismo... depravação sexual, como se fosse a coisa mais natural... Drogas,
apologia do uso das drogas... O que é isso, meu irmão??? A besta, bestificação
do sexo, das amizades, do amor... Tá dominado, véio... Tá tudo dominado...
Quero dizer, tudo não. Ainda tem gente que não se rendeu pra besta-coisa...
Mas é muuuuito raro, muuuuito raro mesmo! O satanás tá deitando e rolando... É
o imperador deste mundo... Dono de quase toda a extensão territorial dos
corações humanos, inclusive de muitos que se colocam ingenuamente no lugar de
combatê-lo, sem saber com quem estão se metendo... (...) Quer ver a marca da
besta? Olhe no espelho. Ela está nos seus olhos, nos meus olhos. Nos nossos
olhos esbugalhados e famintos de alma.”
“Giselle
Beckham diz:
O que é um mito? É
tipo uma parada que é mentira.
C. Maltz diz:
Não, não... Isso
já é uma utilização deturpada da palavra. As pessoas dizem mito quando querem
dizer que algo é inventado, que é falso... Na origem a palavra quer dizer uma
coisa totalmente diferente. (...) O mito é uma história original. Ninguém sabe
quem escreveu, quando escreveu. O mito sempre existiu e não existe no tempo.
(...) O mito está além dos limites da razão, explica sem explicar... Se
tentarmos entender racionalmente, não vamos entender nada... Temos que nos
deixar levar pelo mito... Temos que tentar ser vividos pela narrativa...”
“O James Hillman,
aquele junguiano sobre o qual falei pra vocês, esse cara tem umas sacações
interessantes, vejam o que ele diz sobre esse assunto (HILLMAN, James.
Entre-vistas. S. Paulo: Summus, 1989, p. 171):
Sem dúvida, uma
cultura tão maníaca e materialista como a nossa gera comportamentos
materialistas, principalmente naqueles que só estiveram sujeitos à destruição
da imaginação através do que a cultura chama de educação, à destruição da
autonomia através do que ela chama de trabalho e à destruição da atividade
através do que ela considera diversão. “Educação”, “trabalho” e “diversão”
(enfocando unicamente a matéria) criam um comportamento que servirá para
justificar as noções dessa cultura. É um eficiente círculo vicioso. Não me
admira que tanta gente tolhida por esse comportamento desde o nascimento
esteja, em todos os níveis da sociedade, voltando-se para as drogas. Por que
usam drogas? Para quebrar o rigor do ambiente corporativamente programado de
“educação”, “trabalho” e “diversão”, em outras palavras, para satisfazer a
ânsia que elas têm de uma experiência não material. Usam Ácido Lisérgico para
ter visões, Heroína e Maconha para ter a sensação de outros mundos, a Cocaína e
o Crack para uma injeção de energia que é sugada pelo sifão do meio ambiente...”
“Veja a situação
desesperadora em que nos encontramos, e me responda você mesmo... A técnica e a
ciência vão até certo ponto... Mas é muito raso. Somos basicamente emoções e
água. Não temos objetividade nenhuma... Jung dizia que nós somos todos “míopes”
e que o máximo que podemos fazer é nos conhecer a ponto de sabermos qual é o
“grau de nossa miopia”, ou seja, para que lado a gente distorce a realidade e o
quanto a gente distorce... Só o fato de o cara saber que isso existe, segundo o
próprio Jung, já não é pouca coisa... O projeto modernista é bem intencionado,
mas é ingênuo demais... Simplório, reducionista... O que mais me impressiona é
que, mesmo depois da loucura coletiva do povo alemão, sob a batuta de Adolf
Hitler, ainda existam pessoas com esse tipo de ilusão... O povo tem memória
curta mesmo... Gosta de ser enganado... Como o velho Freud já bem sabia e
dizia: “o povo não aguenta viver sem a ilusão... Exige ser iludido”... Veja no
que é que as eleições, por exemplo, se transformaram... “Quem mente mais diz
a verdade”, como bem já dizia o Gessinger... E não é só aqui no Brasil,
não... Veja o sucesso impressionante que fazem esses livros de autoajuda,
prometendo milagres... Sabem qual é o item que mais consome dinheiro no mundo
hoje? Em primeiro lugar, guerra. E em segundo, pornografia.”
“Veja a situação
do superaquecimento global, por exemplo. Somos uma civilização mimada, mal-acostumada,
que consome uma quantidade burral de energia e matéria-prima para manter os
seus mimos e maus costumes. Pegue uma pessoa qualquer, um empregado qualquer
dos Estados Unidos de hoje... Esse cara não suportaria dois dias vivendo nas
condições materiais de um nobre da corte de Luís XIV... Ele não aguentaria...
Eu não aguentaria, você não aguentaria. Nós nos rebelaríamos.”
“C. Maltz diz:
Saí do rock, mas o
rock não saiu de mim. O rock é o grito de agonia de uma civilização que está morrendo.
É o grito de morte da civilização-coisa. É raiva, lágrima,
suicídio, demolição. Era a única coisa que fazia sentido para mim até encontrar
o Jung e a porta que a leitura de seus livros me abriu. Foi como encontrar uma
tábua num naufrágio. Saber que tinha outro mundo começando, além daquele
agonizante que eu estava podendo enxergar.
el escama diz:
AHHH... Não...
Você também acha que o rock está morrendo... Não concordo, cara. Sempre estarão
nascendo novos “reis” que irão salvar o rock... Como diz aquela música do Neil
Young.
C. Maltz diz:
Acho que o Kurt
Cobain foi o último e sua morte é bem sintomática... Ele era um esteta da destruição...
Foi fiel à sua arte até o fim... Fez a única coisa que poderia ter feito... Se
não quisesse ser apenas mais um picareta que se vendeu pelos confortos e mimos
da civilização-coisa. Mais um que começa a sua caminhada jogando
pedras no Titanic, e que depois é seduzido pelo canto da sereia materialista.
Cobain não se deixou seduzir, não virou dono de grife chique. Era um cara de
verdade, era aquilo que ele cantava. Por isso, tantos garotos até hoje usam
camiseta com a sua imagem estampada. Mas Cobain é destruição pura, morte. Não
há saída para ele e seu canto, a não ser a morte e a autodestruição. Cobain era
o que os caras do Heavy Metal fazem de conta que são, mas não têm coragem
existencial para ser.
el escama diz:
Hehehe, como
assim?
C. Maltz diz:
Todos esses
garotinhos com cara de mau e voz de ogro... Roupas pretas, papo satânico.
Pobres criancinhas. O sistemão nem se coça. Mal botam a cabecinha pra fora e
são devorados pelo moedor de carne. Dopados até a morte, confortavelmente
anestesiados até a morte. Esse sim é Heavy Metal, esse sim é metal pesado,
Death, Trash, Suicide e o que mais você quiser. E ele se chama: Sistema
capitalista pós-industrial. A sociedade do espetáculo, como dizia o Debord, a
máquina de moer gente, a civilização-coisa... Coisifica tudo...
Liquidaram o “rei” de tanta coisa... Elvis morreu de overdose de coisa...
Entupido de coisa... Cara, quer apagar a chama de um roqueiro rebelde?
Transforme-o num roqueiro rico... Cheio de coisa... Logo, logo o cara tá cheio
de coisa pra cuidar... Escravo da coisa e eleitor de gente como o Bush.
Agente Smith diz:
E você, Maltz? Se
ficar rico com esse livro, votaria num político como o Bush também? Hehehehe...
C. Maltz diz:
Eu sou um típico
eleitor de Obama... Mas... Se eu ficar rico com esse livro, prepare-se... O FIM
está próximo, mesmo...
el escama diz:
Hehehehe...
C. Maltz diz:
E aí... Não vai
ter muita coisa pra fazer com a grana... Quando o navio está afundando, tanto
faz a marca do salva-vidas que você está usando...
el escama diz:
E o Lennon? Se
vendeu também?
C. Maltz diz:
Não! John Lennon
era um artista de verdade. Sua vida é arte... Podia ter a mulher que ele
quisesse. Casou-se com uma japonesa feia e chata... Quero ver qualé desses
garotinhos com cara de mau que encara uma dessas... Querem todos comer a mulher-coisa que
estiver na moda. Lennon tentou abrir mão de ser um mito. Ficou 8 anos trancado
dentro de casa cuidando do seu filho. Aprendendo a ser gente... Mas quando saiu
para a rua, o mito veio cobrar a sua taxa: ele já tinha ido longe demais. Não
tinha mais para onde voltar. Era um mito e teve de morrer como um mito. Os
heróis não morrem de velhice...”
“Consegui juntar o
inútil ao desagradável: ser pobre e narcisista.”
“Apesar dos
cristãos, Cristo continua vivo em nossos corações.”
“Cavaleiro da
triste figura diz:
Ah, pra mim
aqueles árabes na guerra estão só a fim de grana.
el escama diz:
Você não se
venderia?
Cavaleiro da
triste figura diz:
Bom... Eu...
Agente Smith diz:
Por um carro? Tu
acha que eu sou o que? Se ainda fosse a Daniela Ciccareli... Hehehe..
Mutante diz:
Todo mundo tem um
preço?
Cavaleiro da
triste figura diz:
Não tenho a menor
dúvida...
C. Maltz diz:
E o homem-bomba?
Qual é o preço dele?”
“C. Maltz diz:
Estou tentando
fazer o que o pensamento coletivo de nossa civilização desistiu de fazer:
procurar uma saída...
Mutante diz:
Por que você acha
que ele desistiu?
C. Maltz diz:
Porque ele está
cansado... desiludido... Existem pessoas pensando em saídas? Sim... Mas...
poucas... Se levarmos em conta a proporção de gente que não vê mais saídas... E
a maioria das que ainda não desistiu de procurar... procura saídas onde talvez
não existam mais saídas. Estão no porão do navio... Lutando para continuar
respirando. Sem saber que a água já invadiu os camarotes de luxo do convés...
Estão tentando tapar o rombo do casco, com chiclete... Mas não percebem que o
furo é mais embaixo... O buraco é muito maior do que eles imaginam... O crack
da bolsa e a eleição de Barack Obama são apenas a pontinha do iceberg que nos
acertou...
Mutante diz:
E de que tamanho
ele é?
C. Maltz diz:
Do tamanho da
nossa falta de amor...”
“Mutante diz:
Você acha que é
possível encontrar uma saída pacífica para o conflito Árabe-Judeu?
C. Maltz diz:
A ÚNICA saída
possível para qualquer conflito é a pacífica... Você nunca conseguirá
interromper o ódio com ódio... A política do olho-por olho, dente-por
dente gera uma matança que nunca terá fim. Aqueles caras lá do Oriente
Médio estão nessa há milênios... É a mesma guerra estúpida... Jesus já veio ao
mundo... (Lá mesmo) trazendo a solução... Mas não foi ouvido ainda... Mesmo os
caras que colocam aqueles adesivos escrito 100% Jesus... tão lá com aquele
adesivo no vidro de trás.... e uma arma no coração (quando não é no porta
luvas)...”
(...)
euzinha diz:
Acho que a
Palestina é aqui mesmo...
C. Maltz diz:
É isso... Quando
estoura uma guerra sangrenta o Oriente Médio, na África, um atentado violento
que destrói milhares de vidas em alguma cidade europeia, ficamos chocados
(Ficamos mesmo? Ainda ficamos?). Mas não percebemos que temos uma Palestina
aqui dentro do nosso país, das nossas casas... Não percebemos que temos uma
palestina ocupada e confinada em um campo de concentração dentro de nós...
Todas essas crianças pobres jogadas nas ruas como se fossem lixo... Todas essas
crianças ricas jogadas nas creches de luxo enquanto seus papais e mamães não
têm tempo para cuidar delas, pois estão muito ocupados acumulando coisas...
Crianças de dois anos de idade que passam o dia inteirinho na creche... Nos
braços de pessoas que são pagas para amá-las...”
Farinha do Mesmo
Saco
(Carlos Maltz)
Até mesmo quem você odeia pode ser
muito importante
Alguém que você usa de espelho pra se
ver de trás pra diante
Até mesmo quem você não conhece pode
ser pessoa de fé
Alguém que não espera que você não seja
o que é
Até mesmo quem te sacaneia também tem o
seu papel
Te mostrando o quanto ainda falta pra
você bater nas portas do céu
Até mesmo a nossa humanidade pode ter
alguma salvação
No dia em que todo mundo reconhecer que
todo mundo é irmão
Há cento e cinquenta mil anos atrás
No colo da Mãe África
Éramos todos negros
Sem dinheiro e sem pátria
Uns foram pro norte, outros foram pro
sul
Esqueceram do vovô macaco
Mas somos todos farinha do mesmo saco
Nós somos todos farinha do mesmo saco
Até mesmo quem você despreza pode ter o
seu valor
Pessoa que não se entrega e não foge da
vida por medo da dor
Até mesmo um bêbado e drogado pode ser
o porta-voz
Daquele ser iluminado que um dia andou
aqui entre nós
Até mesmo a santa ignorância também tem
sua importância
Fazendo com que a gente cresça pela
doença a dor e a inconsciência
Brancospretosjaponesesárabeshindúsmulatasjudeus
Todos feitos à mesma imagem pelo amor
do mesmo Deus.
Há cento e cinquenta mil anos atrás...
E nem entre numas de pensar que você está
sozinho
Bem do seu lado pode ter alguém
precisando do seu carinho...