Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-6028-009-4
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 399
Sinopse: Numa
madrugada de 1945, em Barcelona, Daniel Sempere é levado por seu pai a um
misterioso lugar no coração do centro histórico: o Cemitério dos Livros
Esquecidos. Lá, o menino encontra A Sombra do Vento, livro maldito que mudará o
rumo de sua vida e o arrastará para um labirinto de aventuras repleto de
segredos e intrigas enterrados na alma obscura da cidade, A busca por pistas do
desaparecido autor do livro que o fascina transformará Daniel em um homem ao
iniciá-lo no mundo do amor, do sexo e da literatura.
Numa narrativa de ritmo eletrizante que mistura gêneros
como o romance de aventuras de Alexandre Dumas, a novela gótica de Edgar Allan
Poe e os folhetins amorosos de Victor Hugo, Carlos Ruiz Zafón mantém o leitor
em estado de contínuo suspense. Ambientada na Espanha franquista da primeira
metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do
pós-guerra, A Sombra do Vento é uma obra sedutora, comovente e impossível de
largar. Uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros.
“Há coisas que só se podem ver nas trevas.”
“Uma das armadilhas da infância é que não é
preciso se entender uma coisa para sentir. Quando a razão é capaz de entender o
ocorrido, as feridas do coração já são profundas demais.”
“Se tivesse parado para pensar, teria
entendido que minha devoção por Clara não era mais do que uma fonte de
sofrimento. Talvez por isso a adorasse ainda mais, por essa estupidez eterna de
perseguir os que nos fazem mal.”
“No dia em que você entender que o negócio
dos livros é miséria e companhia, e decidir aprender a roubar um banco, ou a
construir um, o que vai dar no mesmo, venha me ver e eu lhe ensinarei alguma
coisa sobre trancas.”
“Presentes são dados pelo prazer de quem
presenteia, não pelo mérito de quem recebe.”
“– O homem, como bom símio, é um animal
social e nele prevalecem as patotas, o nepotismo, as trapaças e os rumores como
pauta intrínseca de conduta ética – argumentava. – É biologia pura.”
“– O serviço militar só serve para
descobrir a porcentagem de homens violentos na população – opinava ele. – E
isso se descobre nas duas primeiras semanas, não precisa de dois anos.
Exército, casamento, igreja e banco: os quatro cavaleiros do Apocalipse. Sim,
sim, pode rir.”
“– As pessoas são muito malvadas. (...)
– Malvadas não – observou Fermín. –
Imbecis, o que não é a mesma coisa. O mal pressupõe uma determinação moral,
intenção e certa inteligência. O imbecil ou selvagem não para para pensar ou
raciocinar. Age por instinto, como besta de estábulo, convencido de que está
fazendo o bem, de que sempre tem razão e orgulhoso de sair fodendo, desculpe,
tudo aquilo que lhe parece diferente dele próprio, seja em relação à cor,
credo, idioma, nacionalidade ou, como no caso de dom Federico, pelos hábitos
que tem no momento de ócio. O que faz falta no mundo é mais gente ruim de
verdade e menos espertalhões limítrofes.”
“Julián falava daquilo como se não se
importasse, como se fizesse parte de um passado que deixou para trás, mas essas
coisas nunca se esquecem. As palavras com que envenenamos o coração de um
filho, por mesquinharia ou por ignorância, ficam guardadas na memória e mais
cedo ou mais tarde lhe queimam a alma.”
“– Você agora não entende isso, porque é
jovem. Mas com o tempo verá que muitas vezes o que conta não é o que se dá, mas
o que se cede.”
“Há poucas razões para se dizer a verdade,
mas para mentir o número é infinito.”
“O dinheiro é como qualquer vírus: uma vez
que apodreceu a alma de quem o hospeda, parte em busca de carne fresca.”
“– Bem, às vezes essas instituições
famosas oferecem uma ou duas bolsas para os filhos do jardineiro ou do
engraxate e assim mostram a sua grandeza de espírito e sua generosidade cristã
– sugeriu Fermín. – O modo mais eficaz de tornar os pobres inofensivos é
ensiná-los a querer imitar os ricos. Esse é o veneno com que o capitalismo
cega...”
“– Você está enganado a respeito dela...
– objetei.
– A você basta mostrar uns peitos
bonitos e você acha que viu Santa Teresinha de Jesus, o que na sua idade tem
desculpa, mas não conserto.”
“As pessoas que não têm vida sempre se metem
nas dos outros.”
“Não existem segundas oportunidades, exceto
para o remorso.”
“Longe de se sentir envaidecido por sua ética
de trabalho, fazia troça com sua compulsão produtiva e a descrevia como uma
forma menor de covardia:
– Enquanto trabalhamos, não encaramos a
vida de frente.”
“Nós só amamos de verdade uma vez na vida,
Julián, embora não percebamos.”
“Quantas almas perdidas será preciso, Senhor,
para saciar seu apetite?, perguntava o chapeleiro. Deus, em seu infinito
silêncio, olhava-o sem piscar.”