quarta-feira, 8 de julho de 2009

A Sombra do Vento – Carlos Ruiz Zafón

Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-6028-009-4
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 399
Sinopse: Numa madrugada de 1945, em Barcelona, Daniel Sempere é levado por seu pai a um misterioso lugar no coração do centro histórico: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Lá, o menino encontra A Sombra do Vento, livro maldito que mudará o rumo de sua vida e o arrastará para um labirinto de aventuras repleto de segredos e intrigas enterrados na alma obscura da cidade, A busca por pistas do desaparecido autor do livro que o fascina transformará Daniel em um homem ao iniciá-lo no mundo do amor, do sexo e da literatura.
Numa narrativa de ritmo eletrizante que mistura gêneros como o romance de aventuras de Alexandre Dumas, a novela gótica de Edgar Allan Poe e os folhetins amorosos de Victor Hugo, Carlos Ruiz Zafón mantém o leitor em estado de contínuo suspense. Ambientada na Espanha franquista da primeira metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra, A Sombra do Vento é uma obra sedutora, comovente e impossível de largar. Uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros.


“Há coisas que só se podem ver nas trevas.”


“Uma das armadilhas da infância é que não é preciso se entender uma coisa para sentir. Quando a razão é capaz de entender o ocorrido, as feridas do coração já são profundas demais.”


“Se tivesse parado para pensar, teria entendido que minha devoção por Clara não era mais do que uma fonte de sofrimento. Talvez por isso a adorasse ainda mais, por essa estupidez eterna de perseguir os que nos fazem mal.”


“No dia em que você entender que o negócio dos livros é miséria e companhia, e decidir aprender a roubar um banco, ou a construir um, o que vai dar no mesmo, venha me ver e eu lhe ensinarei alguma coisa sobre trancas.”


“Presentes são dados pelo prazer de quem presenteia, não pelo mérito de quem recebe.”


“– O homem, como bom símio, é um animal social e nele prevalecem as patotas, o nepotismo, as trapaças e os rumores como pauta intrínseca de conduta ética – argumentava. – É biologia pura.”


“– O serviço militar só serve para descobrir a porcentagem de homens violentos na população – opinava ele. – E isso se descobre nas duas primeiras semanas, não precisa de dois anos. Exército, casamento, igreja e banco: os quatro cavaleiros do Apocalipse. Sim, sim, pode rir.”


“– As pessoas são muito malvadas. (...)
– Malvadas não – observou Fermín. – Imbecis, o que não é a mesma coisa. O mal pressupõe uma determinação moral, intenção e certa inteligência. O imbecil ou selvagem não para para pensar ou raciocinar. Age por instinto, como besta de estábulo, convencido de que está fazendo o bem, de que sempre tem razão e orgulhoso de sair fodendo, desculpe, tudo aquilo que lhe parece diferente dele próprio, seja em relação à cor, credo, idioma, nacionalidade ou, como no caso de dom Federico, pelos hábitos que tem no momento de ócio. O que faz falta no mundo é mais gente ruim de verdade e menos espertalhões limítrofes.”


“Julián falava daquilo como se não se importasse, como se fizesse parte de um passado que deixou para trás, mas essas coisas nunca se esquecem. As palavras com que envenenamos o coração de um filho, por mesquinharia ou por ignorância, ficam guardadas na memória e mais cedo ou mais tarde lhe queimam a alma.”


“– Você agora não entende isso, porque é jovem. Mas com o tempo verá que muitas vezes o que conta não é o que se dá, mas o que se cede.”


“Há poucas razões para se dizer a verdade, mas para mentir o número é infinito.”


“O dinheiro é como qualquer vírus: uma vez que apodreceu a alma de quem o hospeda, parte em busca de carne fresca.”


“– Bem, às vezes essas instituições famosas oferecem uma ou duas bolsas para os filhos do jardineiro ou do engraxate e assim mostram a sua grandeza de espírito e sua generosidade cristã – sugeriu Fermín. – O modo mais eficaz de tornar os pobres inofensivos é ensiná-los a querer imitar os ricos. Esse é o veneno com que o capitalismo cega...”


“– Você está enganado a respeito dela... – objetei.
– A você basta mostrar uns peitos bonitos e você acha que viu Santa Teresinha de Jesus, o que na sua idade tem desculpa, mas não conserto.”


“As pessoas que não têm vida sempre se metem nas dos outros.”


“Não existem segundas oportunidades, exceto para o remorso.”


“Longe de se sentir envaidecido por sua ética de trabalho, fazia troça com sua compulsão produtiva e a descrevia como uma forma menor de covardia:
– Enquanto trabalhamos, não encaramos a vida de frente.”


“Nós só amamos de verdade uma vez na vida, Julián, embora não percebamos.”


“Quantas almas perdidas será preciso, Senhor, para saciar seu apetite?, perguntava o chapeleiro. Deus, em seu infinito silêncio, olhava-o sem piscar.”