Editora: Imago
ISBN: 978-85-3120-605-4
Tradução: Lya Luft
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 460
Sinopse: Memórias
de uma Gueixa é um romance fascinante, para ser lido de várias maneiras:
como um mergulho na tradicional cultura japonesa, ou um romance sobre a
sexualidade, e ainda, como uma descrição minuciosa da alma de uma mulher já
apresentada por um homem.
Seu relato tem início numa vila pobre de pescadores, em
1929, onde a menina de nove anos é tirada de casa e vendida como escrava. Pouco
a pouco, vamos acompanhar sua transformação pelas artes da dança e da música,
do vestuário e da maquilagem; e a educação para detalhes como a maneira de
servir saquê revelando apenas um ponto do lado interno do pulso – armas e mais
armas para as batalhas pela atenção dos homens. Mas a Segunda Guerra Mundial
força o fechamento das casas de gueixas e Sayuri vê-se forçada a se reinventar
em outros termos, em outras paisagens.
“– O que está olhando?
– Sinto muito, senhora. Eu estava olhando o
seu quimono – eu disse.
– Nunca vi nada assim.
Deve ter sido a resposta certa – se é que
havia resposta certa –, porque ela deu uma espécie de risada, embora soasse
como tosse.
– Então você gostou, hem? – disse,
continuando a tossir, ou rir, eu não sabia. – Você tem ideia de quanto ele
custou?
– Não, senhora.
– Mais do que você, com certeza.”
“É por isso que os sonhos podem ser coisas
tão perigosas: queimam como fogo, e às vezes nos consomem completamente.”
“Um homem só se interessa por uma coisa.”
“Mas, sabe, eu acho fascinante que, não
importa como nós homens pareçamos diferentes, por baixo de tudo somos
exatamente iguais.”
“Desde que me mudei para Nova Iorque entendi
o que a palavra “gueixa” realmente significa para a maioria dos ocidentais. De
tempos em tempos, em festas elegantes, fui apresentada a uma jovem ou outra
usando um vestido magnífico e joias. Quando ela fica sabendo que um dia eu fui
gueixa em Kioto, dá uma espécie de sorriso, embora os cantos de sua boca não se
ergam como deveriam. Ela não sabe o que dizer. Então o ônus da conversa recai
sobre o homem ou a mulher que me apresentou a ela – porque nunca aprendi muito
inglês, mesmo depois de todos estes anos. Naturalmente, a essa altura não faria
muito sentido nem tentar, porque a mulher estará pensando: “Meu Deus... estou
falando com uma prostituta...” Logo depois ela é salva pelo seu acompanhante,
um homem rico trinta ou quarenta anos mais velho que ela. Bem, muitas vezes
imagino por que ela não percebe quanto realmente temos em comum. Ela é uma
mulher sustentada, você entende, e antigamente eu também fui.”
“A adversidade é como um longo vento forte.
Não quero apenas dizer que ela nos afasta de lugares aonde poderíamos ir, mas
também arranca de nós tudo, menos as coisas que não podem ser arrancadas, de
modo que depois nos vemos como realmente somos, e não apenas como gostaríamos
de ser.”
“– Olhe só para você, Nobu-san. Rugas tão
fundas entre os olhos como sulcos numa estrada.
Ele relaxou um pouco os músculos em torno dos
olhos, de modo que a ruga pareceu se desfazer.
– Não sou mais tão jovem como já fui, sabe? –
ele disse.
– E o que quer dizer isso?
– Quer dizer que algumas rugas se tornaram
traços permanentes e não vão desaparecer só porque você diz que deviam.
– Há rugas boas e rugas más, Nobu-san. Nunca
esqueça isso.”
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