Editora: Martins Fontes
ISBN: 978-85-336-2060-5
Tradução: José Victorino Barreto Feio e José Maria da
Costa e Silva
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 449
Sinopse: Obra de Púbio Virgílio Marão, que ficaria
conhecido como Virgílio, foi o modelo de toda a poesia que se escreveu no
Ocidente até o século XVII. Os gêneros cultivados por Virgílio foram tomados de
empréstimo da literatura grega, mas ele imprimiu à sua poesia uma marca pessoal
e inconfundível, derivada de sai sensibilidade artística e da maestria com que
trabalhou seus versos. Camões, Tasso, Milton e todos os grandes poetas épicos
dos séculos XVI e XVII são virgilianos. Sua maior obra, a epopeia Eneida, foi projetada durante os anos 29 e 27 a. C.
e é considerada o maior poema da romanidade.
“Pois dentro do espaçoso
templo, enquanto
Cada cousa per si passa em
resenha,
Aguardando a rainha, enquanto
admira
Qual a fortuna seja da cidade,
Dos artistas as mãos
rivalizando
Entre si, e das obras o
trabalho,
Por ordem vê pintadas as
pelejas
De todas a guerra Ilíaca, por
fama
Já pelo mundo inteiro
divulgadas.
Príamo, e o filho vê d’Atreu,
e Aquiles
Para com ambos eles
implacável.
Para absorto, e co’as lágrimas
nos olhos,
Acates, disse, que lugar no
globo,
Que região existe, que já
cheia
Dos nossos infortúnios não
esteja?
Eis Príamo: a virtude aqui
seus prêmios
Tem, a desdita lágrimas, e aos
males
Da humanidade as almas são
sensíveis.
Desvanece os temores: esta
fama
Alguma salvação há de trazer-te.”
(...) “Meus próprios males
Me ensinaram a ser
compadecida”.
“Que sonhos indecisa, Ana, me
aterram!
Que novo hóspede entrou em
nossa casa!
Quão gentil! de quão forte
peito e braço!
Qu’é progênie dos deuses,
creio, e certo
Não creio em vão. Temor vileza
indica.
Ai, quanto o hão perseguido
adversos fados!
Quantas batalhas conta
pelejadas!
Se n’alma fixo e imoto eu não
tivesse
Em laço conjugal não mais
unir-me
A homem algum, depois qu’o
amor primeiro
Com a morte falseou minha esperança;
Se do tálamo tão aborrecida,
E fachos de Himeneu, não
estivesse,
Talvez a esta só culpa eu
sucumbira.
Ana, (o confesso enfim),
depois do infausto
Destino de Siqueu, mísero
esposo;
Depois que ensanguentou irmão
cruento
Com assassínio atroz nossos
penates,
Este só atraiu os meus
sentidos,
Meu ânimo impeliu, prostrou de
todo:
Reconheço os sinais da antiga
chama.
Mas antes se abra a terra e
nos abismos
Me sepulte, ou o padre
omnipotente
Co’um raio às sombras e
profunda noite,
Ó santa Pudicícia, qu’eu te
ofenda,
Ou chegue a violar os teus
preceitos!
Aquele que me uniu a si
primeiro,
Esse levou consigo os meus
amores:
Ele os tenha, ele os guarde no
sepulcro!
Disse, e banhou de lágrimas o
seio.”
“Aonde, ó Fábios, me levais
cansado?
Tu, Máximo, és aquele que nos
salvas
A República só temporizando.
Com mais brandura os
respirantes bronzes
Fundirão outros, não duvido, e
vultos
Farão surgir do mármore
animados;
Terão mais eloquentes
oradores,
As voltas mostrarão do céu
co’a vara
E dirão por que modo os astros
surgem.
Tu, Romano, a reger co’o
império os povos
Te aplica: estas serão as tuas
artes:
E impor as leis da paz, aos
submetidos
Perdoar clemente, e debelar os
soberbos.”
“Os Enéades súbito turbados
O odioso semblante reconhecem
E os membros giganteus! Então
de um salto
Pândaro ingente avança e
ardendo em ira
Pela fraterna morte: “Não é
este
O palácio dotal (lhe diz) de
Amata,
Nem Árdea te contém dentro em
seus muros.
Estás em campo imigo e tem por
certo
Que com vida escapar te é impossível.”
Com sorrir desdenhoso lhe
responde
Turno: “Se tens denodo,
principia,
Vamos às mãos, que a Príamo
irás breve
Contar que novo Aquiles
deparaste.”
Disse, e Pândaro logo uma
haste rude
Ainda com os nós e a casca
crua
Com quanta força tinha lhe dispara:
Recebe o vento o golpe, que a
Satúrnia
Juno, dos céus baixando, lh’o
desvia,
E a hasta na porta se cravou
tremendo.
“D’esta lança que o braço meu
te vibra
Agora tu não fugirás por
certo,
Que da lança e do golpe o
autor é outro.”
Disse, e co’a espada erguida
se prolonga,
Com desumana cutilada o colhe
Por entre as fontes e as
imberbes faces,
De meio a meio fende-lhe a
cabeça.
C’o baque e peso ingente o
chão se abala,
Já pela terra lânguidos os
membros
E do cérebro as armas
salpicadas
Morrendo estira; em duas
metades
A cabeça lhe pende dividida.”
“Por que o silêncio a quebrar
me obrigas?
E a concentrada dor mostrar
com vozes?”
“A fortuna é de audazes”.
“Mal que de longe os batalhões
turbando
Purpúreo no cocar, purpúreo em
roupas,
Dom da noiva, Mezêncio o vê em
guisa
De faminto leão, que,
estimulado
De apetite frenético, mil
voltas
Já dera em torno de um curral,
se acaso
Veado alticornígero descobre,
Ou fugaz cabra, as fundas
fauces abre,
Ouriça as jubas, fica-se
estendido
Da presa sobre as vísceras e
lava
Em negro sangue os truculentos
beiços;
Assim o audaz Mezêncio se
arremessa
Dos inimigos no esquadrão
cerrado.”
“Já o féretro e grades outros
tecem
De vergônteas e de roble e
arbúteas varas
E o pronto leito de folhagem
cobrem.
Sobre esta agreste cama o moço
estendem,
Qual flor colhida por
virgíneos dedos
De branda viola, ou lânguido
jacinto
De quem inda o fulgor, inda a
beleza
Não fugiram de todo, bem que a
terra
Já forças lhe não dá, nem dá
sustento.”
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