Editora: Record
ISBN: 978-85-0105-778-5
Tradução: Alves
Calado
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 338
Sinopse: Grady
Tripp, um escritor de meia-idade, vive da fama conquistada na juventude, quando
seus primeiros livros o consagraram como o enfant terrible da literatura
americana. Mas, nos últimos sete anos, ele nada lançou. Vive preso a um grande
romance – Wonder Boys – de quase três mil páginas que não consegue terminar e
sobrevive dando aulas em uma universidade. Entre seus alunos, destaca-se James
Leer, um jovem escritor obcecado com os suicídios de Hollywood, que pratica
pequenos furtos. Durante um fim de semana, entre um baseado e outro e novas
páginas do livro interminável, ele vive uma verdadeira odisseia de desencontros
pelas ruas, bares e arredores de Pittsburgh.
Em apenas dois dias, Tripp, um herói divertido e pouco
ortodoxo, consegue destruir dois casamentos, provoca a morte de uma cobra e de
um cachorro, salva a vida de um aluno, vai a um caótico encontro de escritores
e, pior de tudo, consegue perder as centenas de páginas de seu manuscrito.
Durante essa viagem, acompanhado de Terry Crabtree,
editor sexualmente ambicioso de Grady, e outra de suas alunas, Hanna Green,
Tripp procura desesperadamente um final para o romance que o assombra há anos e
faz uma crítica ácida e bem-humorada ao mercado editorial americano, repleto de
escritores de muito sucesso e apenas um livro.
“Eu bebi durante anos. Depois, parei de beber
e descobri a verdade triste sobre as festas. Um homem sóbrio numa festa é tão solitário
quanto um jornalista, tão implacável quanto um legista, amargo como um anjo olhando
do céu. Há algo puramente idiota em comparecer a uma grande reunião de homens e
mulheres sem o benefício de alguma poção ou algum pó mágico para cegá-lo e enfraquecer
suas faculdades críticas. A propósito, não pretendo colocar a sobriedade nas alturas.
De todos os modos de consciência humana disponível ao consumidor moderno, eu a considero
a mais superestimada. Não parei de beber porque tinha problemas com bebida, mesmo
supondo que talvez tivesse, mas porque o álcool, misteriosamente, havia se tornado
tão venenoso para o meu corpo que meia garrafa de George Dickel fez meu coração
parar por quase vinte segundos (acabei descobrindo que era alérgico àquele negócio).”
“Toda história é a história do azar de alguém.”
“Eu apenas nunca desejaria pertencer a um clube
que me aceitasse como sócio.”
“Com Emily, não havia acontecido amor à primeira
vista, verdade. À primeira-vista, achei-a fria e distante, apesar de linda, e ela
me achou metido a besta, hiperbólico, alcoólatra e barulhento. Nós estávamos certos,
claro.”
“Os escritores, diferentemente da maioria das
pessoas, contam as melhores mentiras quando estão sozinhos.”
“– Que punhado de... não sei... ricos... ricos
sacanas. – Ele olhou para o colo. – Sinto pena deles.
– Quer dizer que você não gostaria de ser um rico
sacana?
– Não. Os ricos nunca são felizes.
– Não?
– Não – disse James em tom grave. – Quero dizer,
as pessoas sem nenhum dinheiro também não têm grandes chances de felicidade
na vida, claro. Mas os ricos, eu acho, não têm nenhuma.
– A não ser que comprem.”
“Segurei seu queixo, acariciei o cabelo agradável
e admirei pela milésima vez os planos surpreendentes de seu rosto virado para baixo.
Emily era uma mulher pensativa, intensa e complicada, com bom ouvido para diálogos,
um belo senso do absurdo e um coração leal, mas eu poderia não ter motivo melhor
para me apaixonar por ela do que seu rosto. E também não me importo com o que você
diga a meu respeito. Pessoas se casam por motivos piores do que esse. Mas, como
todos os rostos lindos, o de Emily fazia a gente acreditar que sua dona era uma
pessoa melhor do que era.”
“– Vejo você logo – disse Tripp.
– Tenha cuidado – disse Hanna, tirando fiapos
de cabelo que haviam se grudado no bálsamo labial no canto da boca.
– Terei.
Já que ela estava se apaixonando por mim, eu podia
muito bem começar a fazer promessas que não pretendia cumprir.”
“Nenhuma explicação é suficientemente concisa
ou sincera que sirva a um policial.”
“Fiquei pasmo ao ver que o principal obstáculo
ao contentamento conjugal era esse golfo perpétuo entre o pessimismo bem fundado,
recomendável, das mulheres e o otimismo totalmente idiota dos homens, este último
uma força muito mais responsável do que qualquer outra pelo estado lamentável do
mundo.”
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