Editora: Record
ISBN: 978-85-0105-384-8
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 660
Sinopse: O livro Notícias
do império relata a história de um louco amor e a louca história da
fracassada tentativa de criar um império mexicano. A moratória da dívida com os
bancos franceses e ingleses somada à cobiça pelas minas de prata da região de
Sonora e o medo do aumento da influência dos Estados Unidos na região levaram o
imperador francês Napoleão III a ocupar o México, derrubar o índio zapoteca
Benito Juárez e instalar como imperador Fernando Maximiliano, irmão do
arquiduque da Áustria, Francisco José.
“Mas estranho que o senhor considere os
ingleses europeus. Em mais de um sentido, a Inglaterra não é a Europa. Digamos
que podemos considerar os ingleses europeus quando nos convém e como
bárbaros, vikings ou o que quiser quando for mais adequado
para nossos interesses. Afinal, eles, e ninguém mais, são os culpados de que
haja na América vinte milhões de ianques, os novos vândalos da história, que
querem roubar todo o continente, a começar pelo nome, do qual já se
apossaram.”
“O chanceler austríaco Klemens Lothar
Metternich, apelidado de Grande Inquisidor da Europa, e a quem, graças à sua
insistência e bom gosto, se deve a invenção do bolo de chocolate vienense Sachertorte,
afirmava que o café devia ser quente como o amor, doce como o pecado e negro
como o inferno.”
“E, sim, claro, os astecas também eram
cruéis, não é verdade? Faziam sacrifícios humanos. Isso, claro, era errado. Mas
o que não podemos permitir é que nós europeus continuemos a nos espantar com
esses sacrifícios quando, na época em que soubemos deles, a Inquisição agia na
Europa com todo o seu horror. Com uma diferença: a religião dos astecas era uma
religião de deuses cruéis, portanto o sacrifício tinha uma lógica: macabra,
sim, mas uma lógica. Nós, na Europa, torturávamos inocentes e queimávamos
bruxas em nome de um Deus todo misericordioso.”
“Acaba de ser publicado um regulamento para
os bailes à fantasia no jornal oficial, no que agora é chamado de Diário
do Império... É muito curioso: é proibido fantasiar-se de sacerdote,
freira, bispo ou cardeal... Mais que curioso, diria eu, é redundante, pois
proíbe fantasiar-se com fantasias... pois são isso as batinas e os hábitos:
fantasias de teatro. Recordo-me agora do que um amigo meu dizia sobre os
jesuítas, que são talvez os mais perigosos de todos: sob o manto negro de
Inácio de Loyola esconde-se a espada de Iñigo López.”
“Mas acontece algo muito irônico: quanto mais
distinto e culto é um mexicano, menos mexicano ele é, e também
menos parece importar a ele o futuro de seu país. O que interessa a eles é
viver como europeus e que seus filhos sejam educados como tais.”
“Mas o que se pode esperar de um país onde
todos os meses são descobertas e destruídas duas ou três máquinas para
falsificar moeda e no qual essa arte era praticada desde o tempo dos astecas?
Ou seja, aqui já se falsificava a moeda quando esta ainda não existia. Serei
mais claro: naquela época o que fazia as vezes de moeda era o cacau – que agora
descobri ser originário do México. Ou melhor, usava-se a semente de seu fruto,
que é grande. Pois bem, você não vai acreditar, mas havia índios que faziam um
buraco na semente, tiravam seu conteúdo, com o que é feito o chocolate, e
depois enchiam o buraco com barro e disfarçavam o orifício.”
“‘Veja bem, o México’, dizia-me outro dia um
importante geógrafo, ‘tem a forma de uma cornucópia’. Limitei-me a assentir,
com um leve levantar de sobrancelhas. Não quis dizer ao bom homem,
primeiramente, que o país adquiriu essa forma depois que os americanos roubaram
metade do mesmo; segundo, que a boca da cornucópia está para cima, ou seja,
voltada para os Estados Unidos, como uma premonição, talvez, do destino futuro
das riquezas deste país.”
“Mas um pouco antes Mejía deu mostras de que
não perdera o bom humor: quando Maximiliano, no convento, escutou uma trombeta
e perguntou a ele se aquele seria o sinal de partida para o patíbulo, “o negrinho”
respondeu: “Não sei, Vossa Majestade, é a primeira vez que me executam”.”
“Morto o cão, dizem, acaba a raiva.”
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