Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-7302-740-2
Tradução: Thelma
Médici Nóbrega
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 368
Sinopse: Trágico
e irônico, o romance de Stephen Amidon conta a história de Drew Hagen, um
outrora próspero empresário do ramo imobiliário que vê na nova amizade com o
gerente de investimentos Quint Manning a chance de dar a volta por cima. Mal
sabe ele, porém, que Manning já tem os seus próprios problemas.
Enquanto os destinos das famílias de Drew e Manning se
entrelaçam cada vez mais, um terrível acidente envolvendo os filhos dos dois
homens dá a Drew uma ótima justificativa para continuar no jogo de especulações
financeiras. Mas sua decisão de especular com vidas humanas em vez de dinheiro
traz consequências imprevisíveis e um clímax devastador.
“Caíram em silêncio. Ele esperou que ela desligasse
primeiro, como sempre. Ela fez sua vontade.”
“Jamie era quase tão inteligente quanto Quint,
descontando a matemática; muito mais sociável e certamente mais bonito. O que lhe
faltava era a determinação do pai. Não havia comparação. Diziam que a culpa fora
do excesso de mimo, mas Carrie sabia que não era só isso. Eram os traços que herdara
dela. A brandura. A indecisão. A fragilidade. Tudo que restava a uma alma artística
quando o talento lhe faltava. (...) Você devia ter escolhido a mim, pensou ela,
contemplando Jamie. Tudo em mim é perdão. Você vence só por existir.”
“Falou da mãe também. Virginia. Ginny. Trabalhara
com higiene dental durante muito tempo. Antes andara com um bando de motoqueiros.
Não tivera muita sorte com os homens, especialmente com o pai de Ian, que sofria
violentas mudanças de humor. Durante um desses acessos, foi parar na Califórnia,
onde bateu a moto a quase 200 quilômetros por hora, com resultados previsíveis.
Depois que Ian nasceu, ela passou a ter um sério problema de peso. Quando descobriu
que tinha câncer, tornou-se religiosa e tentou fazer um acordo com Deus para lhe
dar mais alguns anos. Mas Deus não estava interessado em acordos, e ela teve uma
morte dolorosa três meses depois.”
“– Como sabia que eu faria aquilo?
– Sei tudo sobre você – disse ele sem hesitar.
Era o tipo de coisa que crianças diziam umas às
outras como provocação. Como se fossem videntes. Mas aquilo era diferente. Ele falava
sério. A suspeita que ela sentira nos últimos meses se confirmou. Estava apaixonado
por ela. Ninguém jamais a amara a não ser seus pais, mas era um amor tão complicado
e corrupto que não se parecia nada com aquilo.”
“O fato de não conseguir imaginar seu destino
não evitaria que ele se precipitasse em sua direção.”
“Como tutor, David teria direito apenas ao necessário
para manter a casa funcionando no estilo modesto da irmã. No entanto, havia a promessa
de uma grande recompensa no futuro, desde que ele não fosse embora. Além disso,
se David não cuidasse de Ian, o menino iria parar num lar adotivo, medida que costumava
produzir drogados, criminosos e cristãos evangélicos. Ele não podia deixar isso
acontecer com o sangue do seu sangue.”
“– Como assim? Você roubou a lasanha?
– A propriedade privada é roubo – disse ele, levantando
da cama. – Massa para as massas.”
“– Muito bem, Jamie. Você está prestes a se tornar
um total babaca. Só falta se filiar ao Partido Republicano para completar o pacote.”
“Seu pai sempre dizia que o problema dos atalhos
é que costumavam acabar em despenhadeiros. O velho tinha razão, como sempre.”
“Agora só lhe restava tomar outro longo banho
e torcer para que houvesse água bastante no reservatório para lavar todos os vestígios
daquele dia sórdido.”
“Bebeu a coca de Ian e amassou a lata com a mão.
Outra coisa que era diferente. Quando tinha a idade de Ian, esmagar uma lata vazia
exigia um esforço hercúleo. Agora era como fazer uma bola de papel. Por que tudo
estava ficando tão frágil? Não era para o mundo ficar cada vez melhor e mais forte?
Mas tudo funcionava ao contrário. A inflação, por exemplo. Os preços não deveriam
baixar agora que havia máquinas e computadores e tudo era feito em países onde se
ganhava 10 centavos por dia? Até parece. Se você amassar o carro de alguém, lá se
vão mil dólares. Toda vez que levava o Chevette na oficina – o que vinha acontecendo
com frequência –, gastava uma semana de seu salário. E aquela casa ordinária, que
não tinha nem vinte anos e já estava caindo aos pedaços? Qual era o sentido de todos
trabalharem tanto se tudo só se tornava mais difícil? Uma geração depois da outra,
enterrando-se em túmulos precoces. Dez bilhões de horas desperdiçadas em empregos
maçantes e sem sentido, só para o mundo ficar cada vez mais caro e perigoso. E Ginny?
Trabalhara tanto para pagar as contas, e o que lhe acontecera? Um veneno maligno
cresceu dentro dela, tirando-lhe a única alegria que esperava ter na vida: ver o
filho crescer. E o próprio Ian – depois de lutar tanto para se reerguer, fez um
favor para um ricaço e agora corria o risco de perder tudo. A própria decisão de
David de viver com decência só lhe trouxera problemas. Quem poderia afirmar, sinceramente,
que sua vida ficara mais fácil depois que parara de vender drogas e embebedar universitários?
Era aquilo que os terapeutas e a polícia não entendiam. A vida era moleza para quem
não ligava para nada. Era só alugar um quarto em algum lugar, apoiar o governo.
Beber, trepar e viver de pequenos golpes. E, quando aparecia algum obstáculo, era
só se desviar. David conhecia muita gente que vivia exatamente assim e era mil vezes
mais feliz do que ele nos últimos anos. Fora aquele momento, que agora parecia tão
distante, quando ele, diante da mesa de um artista, contemplara o belo pântano através
dos olhos do sobrinho. Era só começar a desejar algo real e sólido na vida para
os problemas começarem.”
“– Vou lhe dizer uma coisa. Este meu emprego seria
muito mais fácil se eu não tivesse que lidar com adolescentes.”
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