Editora: Agir
ISBN: 978-85-2200-706-6
Tradução: Edmundo Barreiros
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 296
Sinopse: Abalado
com a morte inesperada de seu avô, Beltrán Soler – um chileno de trinta e
poucos anos – decide recordar cinquenta filmes assistidos na juventude. Os
filmes, cujos títulos dão nome aos capítulos do livro, suscitam lembranças que
levarão Soler a revistar as causas e efeitos que o transformaram no adulto que
se tornou.
“Os terremotos são a maneira que a terra tem
de se livrar de seus fantasmas. É preciso temê-los, respeitá-los, saber o que
são. Devemos lembrar que é a massa quem morre esmagada, não os cientistas. É
fundamental que as pessoas saibam que os terremotos matam e destroem. Só o medo
é capaz de nos proteger. Meu objetivo é que milhares de crianças no mundo
inteiro cresçam para se transformarem em sismólogos. Em uma ordem lógica,
deveria haver mais estudantes de geofísica que de astronomia. Sabemos muito
sobre as estrelas, mas não temos nem idéia sobre o solo em que pisamos.”
“O melhor de Paris era, sem dúvida, o
instituto de Geofísica. Eu gostava de estar cercado de gente que era incapaz de
se relacionar entre si ou consigo mesmo. Não há lugar mais paradisíaco que o
microcosmo da ciência, e agora o da informática, para aqueles que não se
atrevem a morrer, mas tampouco são capazes de viver com os demais. Em Santiago,
a faculdade em Beaucheff era um templo que acolhia os chamado nerds, os
tradicionais CDFs e pessoas estranham, e lhes mostrava que eles não estavam
sós, que eram uma comunidade. Com o tempo, e junto com os avanços tecnológicos
que a sociedade deve ao cientistas, ocorreu uma mudança sutil, mas nem por isto
irrelevante.
– Aos poucos – disse-me uma vez Ricardo
Mujica, que fazia cálculos estruturais – o resto das pessoas está se
comportando como nós. A diferença é que não tem nada por dentro e não estão
interessados em saber mais. Veja só: imagine ser como nós e não ter esta
obsessão que nos toma?”
“Dominique, quando ficou sem apartamento, achou
que era lógico, já que éramos meio-amigos, meio-namorados, que
compartilhássemos o apartamento, a cozinha e, cada vez menos, a cama. Não foi
algo prazeroso. Acho que ela já não aguentava minhas limitações, carências e
manhas. Eu, ao lado dela, era uma pessoa pior. Ela, junto a mim, beirava o
insuportável. Juntos nos transformamos nestes casais que os solteiros usam como
exemplo para não se comprometer. O que nos unia não era amor nem paixão, mas
algo talvez mais afrodisíaco: a pena, a culpa, o consolo, a incapacidade de
ficarmos sozinhos. Ela, além disso, tinha uma obsessão para recolher chilenos
refugiados (da ditadura de Pinochet); quando soube que eu nunca havia sido
torturado, acho que nunca me perdoou.”
“Meu avô paterno era um ser amargo, alquebrado,
pouco social, cheio de medos e falências. Nisto, por desgraça, somos parecidos.
Mas meu avô sempre sentiu que fazia menos do que podia fazer.”
“Nunca mais vi meu avô; nunca me escreveu,
nunca mais soube dele até que me avisaram que morreu e tive de controlar minha
vontade de sair para comemorar.”
“Também acho que foram eles que me fecharam
as portas e me fizeram descobrir que era hora de crescer, que no mundo dos
adultos os que tinham muita sorte podiam sobreviver; aqueles realmente
afortunados podiam até mesmo esquecer.”
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