Subtítulo: Um guia para entender (um pouco) e explicar (um pouquinho) o mundo
Editora: Planeta
Opinião: ★★☆☆☆
ISBN: 978-65-5535-823-0
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Páginas: 176
Sinopse: ACREDITO que as palavras, quando usadas
para machucar, podem ser como bombas, mas, quando generosas, podem ser como
pedaços de um caminho que aproxima. Afinal, como ensinou Saramago, “somos as
palavras que usamos”, e eu quero, com este pequeno livro, te ajudar a encontrar
as palavras certas para que determinados assuntos, tão importantes, deixem de
ser o motivo de briga ou de silêncio na noite de Natal (não, eu não estava
espiando a tua ceia de natal, eu simplesmente sei que isso aconteceu em quase
todas as famílias) e passem a ser uma das razões para aquelas conversas que
duram até tarde e que, dentro de nós, guardamos para sempre.
Nada do que você vai ler tem o sentido de
ponto-final. Ao contrário, são reticências. Estou abrindo o papo para que tu
sigas falando por aí. Para que as palavras que somos (porque usamos) sejam
pontos para luz. E, nunca mais, para sombras.
“Não ter consciência
de tudo não é um problema.
O problema é não ter
acesso ao que te permite ter consciência.”
“É importante
entender sobre liberdade de expressão justamente porque o discurso de ódio se
situa num equilíbrio delicado entre direitos e princípios fundamentais,
incluindo a liberdade de expressão e a defesa da dignidade humana, como afirma
a SaferNet Brasil, organização referência no enfrentamento aos crimes e
violações aos direitos humanos na internet. Mesmo que a definição de discurso
de ódio seja aplicada a partir de cada caso concreto, levando em conta leis
nacionais, tratados internacionais e termos de uso das plataformas, podemos
defini-lo como manifestações que fomentam o ódio contra determinados grupos
sociais baseadas em raça, etnia, gênero, orientação sexual, religião ou origem
nacional.
O discurso de ódio,
exposto de maneira mais nítida ou mais sutil, aprofunda preconceitos contra
grupos específicos e, hoje em dia, é impossível dissociá-lo da fábrica de
desinformação, explorando preconceitos e construindo uma reação moral que
naturaliza a raiva contra quem é, na verdade, vítima.”
“Estima-se que, dos
aproximadamente 12 milhões de africanos levados como escravizados, 5 milhões
chegaram ao Brasil. Talvez você não saiba, mas esse número é mais de dez vezes
superior ao norte-americano. Talvez você também não saiba que nosso país foi o
último país das Américas a acabar com a escravização, que durou quase
quatrocentos anos.
Nos longínquos anos
1990, quando eu fiz o Ensino Fundamental, 13 de maio marcava a data de
assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel. Pouco se estudava sobre a luta do
povo negro que culminou na abolição e muito se dizia da virtual “benevolência”
de Isabel. Praticamente nada se dizia sobre a assinatura da lei não ter
garantido direitos para a população negra. É por isso que, nos últimos
cinquenta anos, o movimento negro reivindica o 20 de novembro como data de suas
lutas. (...)
Mas, agora que tu já
sabes a dimensão da escravização no Brasil e as razões pelas quais o movimento
negro refuta o 13 de maio como data da liberdade, qual o resultado desse
processo para o nosso país? Poderia o mais longevo e numericamente expressivo
processo de escravização resultar numa população que vive harmoniosamente,
independentemente da raça? Quantas vezes você leu na internet que esse debate
sobre raça divide o povo brasileiro, que é miscigenado?
No livro Racismo estrutural, Silvio Almeida afirma que é
impossível compreender a sociedade contemporânea sem os conceitos de raça e
racismo e que o conceito de raça, mesmo que de maneira velada, sempre dialoga
com a filosofia, a ciência política, a teoria econômica etc. Ou seja, o
conceito de raça precisa ser compreendido dentro dos marcos das circunstâncias
históricas em que é utilizado. Entre os séculos XVII e XVIII, a classificação
de seres humanos (raça) emergiu para justificar — diante de uma Europa que
vivia o apogeu do Iluminismo e de suas revoluções liberais — a destruição das
populações das Américas, da África, da Ásia e da Oceania pelo colonialismo
europeu. Depois, no final do século XIX, com a primeira grande crise do
capitalismo de 1873, as grandes nações pactuaram a ocupação da África
(neocolonialismo) com base na ideia de inferioridade racial.
O racismo é a
discriminação sistêmica baseada em raça, podendo ser consciente ou
inconsciente. Por que usar discriminação em vez de preconceito? Essa é uma
questão que pode parecer irrelevante, mas não é. E está relacionada a outras
questões que surgem por aí.
Vamos lá: o
preconceito é o juízo a partir de estereótipos raciais, por exemplo, judeus são
bons em lidar com dinheiro, quenianos nascem para a corrida. Isso pode ou não
se transformar em discriminação. Já o racismo pressupõe o tratamento diferente
em função do pertencimento a um grupo racializado e, para tanto, exige o
exercício do poder.”
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