sábado, 6 de fevereiro de 2016

Mestres-de-Armas: seis histórias sobre duelos – Cláudio Figueiredo (org.)

Editora: Companhia das Letras
ISBN: 978-85-359-1006-3
Organização e introdução: Cláudio Figueiredo
Tradução: Cláudio Figueiredo, Rubens Figueiredo e Samuel Titan Jr.
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 296
Sinopse: Poucas experiências humanas são tão fascinantes quanto o duelo, em que dois homens arriscam a vida para defender valores como honra e coragem. Ao mesmo tempo em que falam sobre os códigos éticos da época em que se realizam, esses rituais iluminam os abismos da alma de seus praticantes. Um prato cheio para inspirar grandes histórias. As visões dos escritores aqui reunidos não poderiam ser mais diversas. Kleist, por exemplo, reconstitui a intrincada trama que leva a um duelo de espadas realizado no final do século XIV. Já Nabokov mostra a preparação de um duelo entre dois russos exilados em Berlim como uma espécie de paródia ridícula. Conrad narra as várias etapas de um duelo que se arrastou por duas décadas. Maupassant descreve a atitude paradoxal de um homem que temia portar-se de modo indigno diante do rival. Turguêniev estuda as personalidades contrastantes de dois militares que amam a mesma mulher. Schnitzler, por sua vez, traz ao primeiro plano a testemunha de um duelo, explorando os desvãos de seu inconsciente. Estas seis narrativas compõem um mosaico das inúmeras possibilidades literárias suscitadas por essa extrema situação em que dois homens veem sua vida ganhar outra dimensão.


As histórias: O duelo – Joseph Conrad / A Testemunha – Arthur Schnitzler / Um covarde – Guy de Maupassant / O duelo – Heinrich von Kleist / O duelista – Ivan Turguêniev / Uma questão de honra – Vladimir Nabokov


“Às vezes as brigas dispensavam a elegância do ritual encenado nos duelos. Sobretudo quando mulheres estavam envolvidas, estando ela excluídas das suas formalidades. Em 1840, a escritora Louise Colet, a amante temperamental do escritor Gustave Flaubert e do filósofo Victor Cousin, sentiu-se difamada ao servir de inspiração a um dos personagens do romance Guêpes, de Alphonse Karr. Louise foi até o apartamento do escritor. Quando este, ao recebê-la, deu meia-volta para lhe mostrar o caminho, ela lhe enfiou uma faca de cozinha nas costas. Cousin, o amante de Louise, era na época ministro da Educação e estava disposto a abafar o escândalo. Para acalmar o romancista ferido, recorreu aos dotes diplomáticos do crítico Sainte-Beuve. Karr acabou assentindo. Demonstrando comiseração e algum humor, contentou-se em exibir em casa a faca numa caixa de vidro com a inscrição: “Presenteada por Louise Colet – nas costas”.”
(Cláudio Figueiredo)


“Com um porte imponente e marcial, ele fazia retinir as esporas ao caminhar pelas ruas. Ter de ir no encalço de um companheiro numa sala de recepção na qual era desconhecido não o perturbava nem um pouco. Um uniforme é um passaporte.”
(Joseph Conrad)


“Nenhum homem tem sucesso em tudo aquilo que tenta realizar. Sob esse aspecto, somos todos fracassados. A grande questão é não ser um fracasso quando se trata de determinar e sustentar o esforço de nossa vida. Quanto a isso, a vaidade é o que nos põe a perder. Ela nos empurra para situações das quais saímos feridos; enquanto o orgulho é nossa salvaguarda, tanto devido à reserva que impõe à escolha do objetivo de nosso esforço como pela virtude da força com a qual nos apoia.”
(Joseph Conrad)


“Naquele tempo a vida era mais bela ou pelo menos tinha um aspecto mais nobre – entre outras razões, tenho certeza, também às vezes porque era preciso arriscá-la por alguma coisa que talvez, num sentido mais alto ou preciso, nem existisse, por alguma coisa que talvez, pelo câmbio de hoje, nem valesse a aposta, pela honra, por exemplo, pela virtude da mulher amada, pelo bom nome de uma irmã ou por qualquer outra dessas ninharias.”
(Arthur Schnitzler)


“Por que a sabedoria divina estaria obrigada a indicar e pronunciar a verdade no exato instante em que é invocada?”
(Heinrich von Kleist)


“Macha soltou um suspiro do fundo da alma, mas, em seguida, se assustou com a partida de Kister. O que a atormentava? O amor ou a curiosidade? Só Deus sabe; mas, vamos repetir, a curiosidade foi o bastante para pôr Eva a perder.”
(Ivan Turguêniev)