Editora: Antofágica
Opinião: ★★★★☆
ISBN: 978-65-8649-008-4
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Páginas: 464
Sinopse: Prometido para o seminário desde o
nascimento, o jovem carioca Bentinho precisa encontrar um jeito de fugir da
vida na Igreja e realizar seu verdadeiro sonho: casar-se com a vizinha Capitu.
Uma história de paixão, obsessão e ciúme se desenrola, em uma narrativa cheia
de reviravoltas, que aos poucos constrói um retrato da sociedade brasileira.
Com este romance publicado em 1899, o maior nome da literatura nacional,
Machado de Assis, torna-se também parte do cânone mundial. “Dom Casmurro” traz
contundentes reflexões sobre o Brasil de sua época, ainda muito relevantes para
os dias atuais, e faz isso com a narrativa repleta de ironia que é uma marca do
autor. A nova edição da Antofágica traz o texto integral de Machado com notas e
posfácio do especialista Rogério Fernandes dos Santos, além de ilustrações de
Paula Siebra, apresentação da produtora de conteúdo Camilla Dias e posfácios da
atriz e escritora Maria Ribeiro do escritor Geovani Martins.
“Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se
mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.”
“Um dia, quando todos
os livros forem queimados por inúteis, há de haver alguém, pode ser que tenor,
e talvez italiano, que ensine esta verdade aos homens. Tudo é música, meu
amigo. No princípio era o dó, e o dó fez-se ré etc.”
“Os sonhos do
acordado são como os outros sonhos, tecem-se pelo desenho das nossas
inclinações e das nossas recordações.”
“Meses depois fui
para o seminário de São José. Se eu pudesse contar as lágrimas que chorei na
véspera e na manhã, somaria mais que todas as vertidas desde Adão e Eva. Há
nisto alguma exageração; mas é bom ser enfático, uma ou outra vez, para
compensar este escrúpulo de exatidão que me aflige. Entretanto, se eu me ativer
só à lembrança da sensação, não fico longe da verdade; aos quinze anos, tudo é
infinito.”
“Há pessoas a quem as
lágrimas não acodem logo nem nunca; diz-se que padecem mais que as outras.”
“A vaidade é um
princípio de corrupção.”
“Às vezes, eu contava
a Capitu a história da cidade, outras dava-lhe notícias de astronomia; notícias
de amador que ela escutava atenta e curiosa, nem sempre tanto que não
cochilasse um pouco.”
“Os apóstolos não
levam a boa doutrina senão depois de a terem toda no coração.”
“Tal não faria
Ezequiel. Não comporia bolas envenenadas, suponho, mas não as recusaria também.
O que faria com certeza era ir atrás dos cães, a pedrada, até onde lhe dessem
as pernas. E se tivesse um pau, iria a pau. Capitu morria por aquele batalhador
futuro.
— Não sai a nós, que
gostamos da paz, disse-me ela um dia, mas papai em moço era assim também; mamãe
é que contava.
— Sim, não sairá
maricas, repliquei; eu só lhe descubro um defeitozinho, gosta de imitar os
outros.
— Imitar como?
— Imitar os gestos,
os modos, as atitudes; imita prima Justina, imita José Dias; já lhe achei até
um jeito dos pés de Escobar e dos olhos…
Capitu deixou-se
estar pensando e olhando para mim, e disse afinal que era preciso emendá-lo.”
“José Dias pediu para
ver o nosso “profetazinho” (assim chamava a Ezequiel) e fez-lhe as festas do
costume. Desta vez falou ao modo bíblico (estivera na véspera a folhear o livro
de Ezequiel, como soube depois), e perguntava-lhe: “Como vai isso, filho do
homem?”. “Dize-me, filho do homem, onde estão os teus brinquedos?” “Queres
comer doce, filho do homem?”
— Que filho do homem
é esse, perguntou-lhe Capitu agastada.
— São os modos de
dizer da Bíblia.
— Pois eu não gosto
deles, replicou ela com aspereza.”
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