Editora: Escrituras
ISBN: 978-85-7531-254-4
Tradução: Maurício Santana Dias
Texto: Luciano Garibaldi
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 274
Sinopse: O selo Escrituras apresenta a primeira fotobiografia de um dos mais importantes e
controversos personagens da História, Fidel Castro Ruiz, reunindo mais de 300
fotos de sua trajetória pessoal e política.
Fidel Castro –
história e imagem do líder máximo mostra sua vida, da infância até os anos mais recentes, revelando os
fatos que o influenciaram e de que forma esses eventos conduziram sua longa e
polêmica carreira política.
Trata-se de uma longa lista de
arquivos históricos oficiais e privados, fotos conduzidas por texto conciso que
recorda as múltiplas voltas de Castro: estudante de Direito na Universidade de
Havana e fervoroso apaixonado pela vida política acadêmica; jovem ativista do
Partido Ortodoxo, fundado por seu mentor, Eduardo Chibas, primeiro-ministro de
Cuba que subiu ao poder em 1959, após ter conduzido com sucesso a revolução que
levou à queda de Fulgencio Batista.
Por meio da imagem, o leitor
se torna testemunha do enorme poder de um líder que levou seu próprio país a
passar por anos difíceis na crise militante cubana da Baía dos Porcos e,
sucessivamente, pela troca de cultura, devida ao acordo com a União Soviética.
As fotografias mostram Castro, enquanto abraça o primeiro-ministro soviético,
Nikita Kruschev, ou lendo um jornal que traz na primeira página o título
“Atentado contra Castro”, fornecendo ao leitor uma nova imagem do fascínio que
este líder mundial exerce. Retratado brandindo um taco de beisebol, conversando
com seu amigo Ernesto Che Guevara ou durante uma pausa com seu inseparável
charuto, durante um comício ou enquanto discute política com um chefe de Estado,
as imagens procuram captar o carisma, a paixão e a intensidade que permitiram a
Castro reinar por quase cinquenta anos.
“[Fidel Castro] tem a
convicção quase mística de que a maior conquista do ser humano é a boa formação
de sua consciência, e que os estímulos morais, mais que os materiais, são
capazes de mudar o mundo e impulsionar a História. Creio que ele é um dos
grandes idealistas do nosso tempo, e que talvez esta seja sua maior virtude,
ainda que, para ele, tenha sido o maior perigo.” – Gabriel García Márquez
“Nascidos em uma
família marcadamente católica, os jovens Castro receberam educação católica dos
jesuítas, primeiramente no colégio La Salle e Dolores em
Santiago, e depois no célebre Colégio de Belén, escola
administrada pelos jesuítas de Havana. Impossível reconstituir onde, quando e
como se formaram na mente do garoto Fidel as ideias contestadoras e
revolucionárias que mais tarde germinariam e perdurariam durante toda sua vida.
Talvez com a ajuda de algum instrutor de túnica, decididamente inclinado às classes
favorecidas – não são casos incomuns. O fato é que, já aos treze anos de idade,
no início de 1940, Fidel tentou organizar uma greve de plantadores de
cana-de-açúcar contra o próprio pai*. O motivo? Recebiam muito pouco – coisa
que, na imaginação do adolescente Fidel, devia-se menos ao pai infeliz do que
aos exploradores americanos da United Fruit Company, a sociedade
comercial norte-americana a quem Angel Castro vendia o produto de suas terras.
No garoto Fidel já
havia, em embrião, aquela personalidade que muitos anos mais tarde Gabriel
García Márquez retrataria com as seguintes palavras: “O Fidel Castro que
acredito conhecer é um homem de costumes austeros e de ilusões insaciáveis, com
uma educação formal ao estilo antigo, de palavras ponderadas e modos delicados,
incapaz de conceber uma ideia que não seja extraordinária. (...) Tem a
convicção quase mística de que a maior conquista do ser humano é a boa formação
de sua consciência, e que os estímulos morais, mais que os materiais, são
capazes de mudar o mundo e impulsionar a História. Creio que ele é um dos
grandes idealistas do nosso tempo e que talvez esta seja sua maior virtude,
ainda que para ele tenha sido o maior perigo”.”
*: Angel Castro tornara-se um homem rico:
possuía 1.800 hectares de plantações de cana-de-açúcar e de frutas em Birán,
criava gado, ovelhas, porcos e patos, construía casas que depois alugava e dava
emprego a 600 trabalhadores e camponeses.
“Aos 19 anos Fidel
inscreveu-se na Faculdade de Direito da Universidade de Havana (viria a se
formar em 1950). Ele realmente queria ser advogado? A propósito de sua escolha,
dirá em entrevista: “Pergunto-me por que escolhi estudar Direito. Não sei. Em
parte, atribuo a opção ao hábito de discutir e polemizar. Foi assim que me
convenci pela advocacia”. De fato, a palavra nunca lhe faltou e ele sempre foi
um extraordinário orador.”
“Fulgêncio Batista
retornou a Cuba e derrotou o governo legítimo, instaurando na prática uma nova
ditadura militar. Fidel reagiu com força, denunciando Batista à magistratura
por violação da Constituição, mas sua denúncia foi rejeitada.
Uma decisão fatal.
O jovem revolucionário não digeriu a derrota e reagiu à mão armada, organizando
com seus companheiros o ataque ao quartel de Moncada, em Santiago, buscando
apropriar-se do arsenal e dar uma demonstração de força ao ditador que voltara
ao poder. O dia 26 de julho de 1953 foi a data fatídica. Fidel e seus
companheiros partiram ao alvorecer. Do interior do quartel, no entanto, partiu
peremptoriamente um fogo cerrado contra os invasores. Talvez algum infiltrado
tivesse denunciado a operação. Foi uma carnificina. Os sobreviventes, setenta
rapazes, na maioria estudantes, foram feitos prisioneiros, torturados e quase
todos fuzilados no local. Mas Fidel foi poupado. Ferido e também torturado, foi
encarcerado na penitenciária da ilha dos Pinheiros e lá permaneceu à espera do
processo que, segundo as previsões mais razoáveis, deveria culminar com a pena capital.
Mas as coisas não tomaram este rumo.
As audiências
começaram em dezembro. Fidel teve o direito de autodefesa e pronunciou um
discurso que se tornaria célebre. Talvez intuísse que não o condenariam à
morte. Talvez tivesse sido avisado de que o arcebispo de Havana estaria
articulando para salvar da forca um ex-aluno dos jesuítas, filho de pais muito
ligados à Igreja. Ao término de um duríssimo ataque – que durou horas – contra
o capitalismo, a exploração do trabalho, as tendências bélicas do Ocidente, concluiu
com as seguintes palavras: “Sei bem que a prisão para mim será dura como sempre
o foi para qualquer outro, cheia de ameaças vis e de horríveis torturas. Mas eu
não temo a prisão, assim como não temo a fúria do miserável tirano que tirou a
vida de setenta irmãos meus. Condenem-me, não me importa. A História me
absolverá”. Seus companheiros de cárcere olhavam-no perplexos e arrasados. Foi
condenado a 15 anos de reclusão e libertado em maio de 1955, após uma anistia
geral, depois exilou-se no México.”
“Dois meses depois
de os revolucionários terem tomado o poder em Cuba, Fidel fez uma visita a Nova
York, onde foi acolhido com triunfo. A multidão o aplaudiu como sempre se
aplaude a um herói. Um grupo de italianos, acreditando que lhe prestava uma
homenagem, fez a saudação romana. Fidel respondeu de pronto: “Meu modelo é
Garibaldi, não Mussolini”.”
“Foi nas aulas
universitárias em Havana que o jovem Fidel começou a respirar o perfume da
rebelião. Ali ocorriam frequentes assembleias estudantis, e aquela jovem e
intrépida turma de Direito logo pôs à prova sua excepcional habilidade
oratória. Ele sabia entusiasmar quem o escutava, utilizava a modulação e as
palavras certas para inflamar a plateia. É, sem dúvida, um orador nato. O
espírito de solidariedade cristã com os mais pobres, que ele respirou nos
muitos anos passados com os jesuítas, deixou uma marca. Fidel quer igualdade,
odeia os privilégios, despreza os capitalistas que – em seu juízo – são capazes
apenas de explorar o trabalho dos humildes. Rapidamente, chegará à condenação
da propriedade privada em nome da coletivização.”
Comentário
Destaco desta biografia fotográfica as fotos
das páginas 6, 40, 69, 71, 72, 73, 74, 75, 79, 80, 90-91, 92, 94, 98, 100,
114-115, 125, 147, 152, 154-155, 163, 178, 180, 191, 212, 262.
Um comentário:
Livro interessante.
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