Editora: Alfa-Omega
ISBN: 978-85-2950-042-3
Tradução: Leda Rita Cintra Ferraz
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 360
“Como propriedade da matéria altamente
organizada, a consciência é, ao mesmo tempo, o produto do trabalho humano e o
resultado do desenvolvimento social. Um sistema nervoso altamente desenvolvido
cria apenas a possibilidade real do aparecimento da consciência; mas, a
transformação dessa possibilidade em realidade está ligada ao trabalho. Foi
precisamente sob a ação do trabalho que a forma psíquica do reflexo, própria
aos ancestrais animais do homem, transformou-se progressivamente em consciência,
em reflexo consciente da realidade. O ponto de partida desse processo foi o
momento no qual uma espécie superior de macacos começou a utilizar objetos da
natureza para obter um resultado ligado à satisfação de uma ou outra
necessidade do organismo. No começo, essas ações constituíam apenas casos
isolados, mas, pelo fato de que elas davam, em geral, resultados positivos, e
de que elas contribuíam para a satisfação de uma ou outra necessidade, um
reflexo condicionado elaborou-se a partir delas e, com esse reflexo, apareceu o
hábito de utilizar, em certas condições, os objetos da natureza como “ferramentas”.
Esse hábito conduziu a mudanças fundamentais no comportamento desses animais.
Sua ligação com a realidade ambiente foi, desde então, mediatizada pelos
objetos da natureza.
Uma tal complicação da ligação do organismo com
o meio ambiente influenciou de maneira positiva o desenvolvimento do sistema
nervoso e, em particular, o desenvolvimento do cérebro que, obrigado a criar
novos laços e a cumprir novas funções cada vez mais complexas, desenvolveu-se e
aperfeiçoou-se, o que, em compensação, exerceu uma influência benéfica sobre a “utilização
das ferramentas” pelos macacos superiores. Essa atividade complicou-se e
desenvolveu-se. A um determinado estágio de seu desenvolvimento, os macacos
superiores, quando da ausência da “ferramenta” necessária para a execução de um
determinado ato, procuravam adaptar o objeto não adequado, modelando-o segundo
a necessidade. Surge, então, a tendência de criar as ferramentas necessárias a
partir de objetos da natureza. Pode-se observar tentativas de transformar um
objeto que não é conveniente para uma função dada e de criar uma ferramenta
necessária, mesmo entre os macacos atuais26.
O desenvolvimento dessa tendência entre os
ancestrais animais do homem condicionou a transformação progressiva dos
reflexos em atividade consciente, visando a modificação da realidade ambiente
com a ajuda de ferramentas criadas para esse fim. Essa atividade tornou-se uma
forma necessária de ligação entre os seres que se distinguem do estado animal,
entre eles próprios, de um lado, e com a realidade ambiente, de outro. Essa
atividade os coloca em relações determinadas independentes de sua vontade, e
assim os reúne em um todo único, organicamente ligado. Para que tudo isso possa
surgir, funcionar normalmente e desenvolver-se, uma certa coordenação das ações
dos indivíduos que a formam é necessária. Mas isso suporia tomar consciência
dos objetivos e das tarefas, repartir as funções no processo de sua realização.
Tudo isso tornaria necessária uma troca de pensamentos entre indivíduos que
agem em comum. “Logo, os homens em formação chegariam a um ponto em que eles
teriam reciprocamente alguma coisa para
se dizer”27. Cada nova necessidade condiciona também o
aparecimento de meios para satisfazê-la. Um desses meios é a linguagem. Com a
linguagem, a consciência recebeu uma forma material de existência
correspondente a sua natureza social. Por meio dela, os pensamentos de um homem
tornaram-se acessíveis a outros homens, a um grupo de homens. Sublinhando o
laço orgânico da consciência com a linguagem, Marx e Engels escreveram: “A
linguagem é tão velha quanto a consciência; a linguagem é a consciência real,
prática, existindo também, para outros homens, existindo, portanto, somente
para eu mesmo também...”28. Por intermédio da linguagem, os homens
trocaram ideias e chegaram a uma coordenação de sua atividade necessária para o
trabalho coletivo e para a vida social.
Sendo ligada ao trabalho e à sociedade que a
engendrou, a consciência é dotada de uma natureza social, é um aspecto necessário
da forma social do movimento da matéria, embora exista na consciência dos
indivíduos que formam a sociedade. Com efeito, cada indivíduo, por intermédio
da linguagem, dos meios de trabalho, dos modos de atividade, assimila a
experiência acumulada pela sociedade e transmite sua experiência individual,
encarnando-a em valores culturais e materiais criados — as formas da vida e da
ação.
O fato de que a consciência seja um aspecto
da forma social do movimento da matéria, um “produto social”29, é
frequentemente deixado de lado pelos autores que estudam o problema da
consciência. A afirmação, segundo a qual a consciência representa o produto ou
o resultado da atividade fisiológica do cérebro, é muito difundida. Não há
dúvida de que a consciência está ligada a certos processos que se desenvolvem
no cérebro, mas esses processos não têm condições para engendrar a consciência.
Para que ela apareça, o ser possuidor de um cérebro deve necessariamente estar
incluído em um sistema de relações sociais e agir em comum com outros homens;
ou, em outros termos, deve viver uma vida humana, social. Logo, os processos
fisiológicos do cérebro fazem nascer a consciência apenas em sua união ou, mais
exatamente, em sua ligação orgânica com as atividades sociais determinadas que
são executadas pelo sujeito, e não pela ligação com o exercício dessa ou
daquela função social. Ainda mais, as ligações neurodinâmicas do cérebro, ou
seja, as estruturas a partir das quais surge e funciona a consciência,
estabelecem-se sob a ação de fatores sociais, da atividade prática. “O
psiquismo do homem, escreve sobre isso o psicólogo soviético A. Léontiev, é uma
função das estruturas cerebrais superiores, que se formam de maneira ontogênica
no processo de assimilação das formas historicamente constituídas da atividade
em relação ao mundo ambiente”30. É por isso que não podemos admitir
a afirmação de que a consciência é uma função, um produto, uma manifestação ou
uma propriedade de interações fisiológicas, isto é, uma forma biológica do
movimento da matéria. Ela é uma propriedade, um produto, um resultado de
interações sociais, uma forma social do movimento da matéria, que encerra em
si, sob uma forma anulada, todas as outras formas anteriores do movimento,
notadamente as formas física, química e biológica. Levando tudo isso em conta,
parece-nos mais correto falar dos laços da consciência, não com os processos
fisiológicos do cérebro, mas com o próprio cérebro e não simplesmente com o
cérebro, mas com o cérebro humano, porque é aqui que se exprimirá em uma certa
medida a ideia do cérebro, órgão do pensamento, e este com a consciência,
enquanto sua função, representam uma forma mais elevada do movimento da matéria
do que a forma biológica.”
26 N. N. Ladiguina-Kots, Desenvolvimento das
formas de reflexo no processo da evolução dos organismos, in Problemas de filosofia, 1956, v. 4, p.
101. Original em russo.
27 F. Engels, op. cit., p. 174
28 K. Marx e F. Engels, L’idéologie allemande, Paris, Editions Sociales, 1968, p. 59.
29 K. Marx e F. Engels, L’idéologie cit., p. 59.
“Mais acima falamos dos caminhos da
compreensão do que se passa com o sujeito, por um lado, e com a realidade que o
rodeia, por outro. Mas qual o papel que a compreensão do que se produz
desempenha na vida dos homens? Ela é a condição necessária da orientação do
homem na realidade. Apoiando-se sobre uma compreensão justa da realidade, sobre
o conhecimento de certos aspectos e ligações necessários, o homem, como se
previsse o futuro, reproduz sob a forma de imagens o que ainda não existe, mas
que deve se produzir em decorrência dessa ou daquela modificação da realidade
que o rodeia, dessas ou daquelas ações exercidas sobre ele. A partir desse
reflexo antecipado da realidade, o homem fixa objetivos correspondentes e a
eles submete seu comportamento e suas ações. A antecipação do futuro, baseada
no conhecimento dos aspectos e ligações necessários dos fenômenos do mundo
exterior e sobre a compreensão do que se passa na realidade ambiente, e a
fixação, em consequência disso, constituem a função essencial da consciência. A
execução dessa função é que distingue o comportamento do homem do comportamento
do animal, a atividade racional do homem, das ações instintivas dos animais. “Uma
aranha, escreve Marx, realiza operações semelhantes às do tecelão, e a abelha,
pela estrutura de suas células de cera, confunde a habilidade de mais de um
arquiteto. Mas o que distingue, antes de tudo, o pior dos arquitetos, da mais
esperta das abelhas, é que ele constrói a célula em sua cabeça antes de
construí-la na colmeia. O resultado ao qual se chega com o trabalho preexiste
idealmente, na imaginação do trabalhador”50.
O reflexo antecipado da realidade pela
consciência está não apenas na base da fixação do objetivo, na orientação
racional do sujeito na realidade ambiente, mas igualmente na base da atividade
criadora e transformadora, aspecto necessário do trabalho. Surgindo sob a ação
imediata do trabalho que supõe a transformação da realidade segundo as
necessidades da sociedade, com a ajuda das ferramentas criadas para esse fim, a
consciência não apenas torna possível a compreensão dos atos executados, e cria
uma imagem ideal do que deve resultar dessas ações, mas também coloca em
correlação, reúne todas essas ações ao resultado final, isto é, a partir do
conhecimento da situação efetiva das coisas e das possibilidades reais que ela
condiciona, a consciência cria qualquer coisa de novo, que não existe na
realidade e que, sendo expresso no sistema de imagens ideais, torna-se um plano
real da atividade material transformando uma possibilidade dada da matéria em
realidade. Sem esse plano preciso indicando os caminhos da transformação da
realidade, segundo as necessidades do homem, a atividade prática, laboriosa, é
impossível. Isso confirma o fato de que a consciência, aspecto necessário da
atividade produtiva, forma-se e desenvolve-se ao mesmo tempo que esta última.
Embora sendo esse aspecto prático que
transforma a realidade objetiva da atividade em interesses da sociedade, a
consciência não se confunde com essa atividade. Essa atividade é um processo
material. “O trabalho, escreve Marx, é antes de tudo um ato que se passa entre
o homem e a natureza. O próprio homem desempenha, nesse caso, frente a frente
com a natureza, um papel de potência natural (...). As forças das quais seu
corpo é dotado, braços e pernas, cabeça e mãos, são colocadas em movimento, por
ele, a fim de assimilar as matérias dando-lhes uma forma útil para sua vida”51.
Quanto à consciência, é, por natureza, ideal; ela é o reflexo, a fotografia, a
cópia da realidade existente e a representação, repousando sobre esse reflexo
(sob a forma de um sistema de imagens ideais e de relações), da realidade
futura, que atualmente ainda não existe. Ela não é o processo real da criação
de novas formações materiais, mas sim o modelo ideal do processo de criação e
seu resultado, assim como o fator que controla o desenrolar da criação,
confrontando constantemente a esse modelo os atos do sujeito e seus resultados.
Assim, a consciência representa um reflexo
consciente ideal por sua natureza, associado à compreensão, pelo sujeito, do
que é refletido, reflexo que antecipa a realidade, representa de forma
subjetiva o resultado de sua transformação e de seu desenvolvimento, e, a
partir disso, torna possível a fixação do objetivo e a criação. Em uma palavra,
a “consciência humana não reflete apenas o mundo objetivo, mas também o criado”52.
São somente todos esses momentos, em sua totalidade, em sua correlação e
interdependência orgânicas, que constituem a essência da consciência, sua
natureza específica.”
50 K. Marx, op.
cit., p. 136.
51 K. Marx, op.
cit., p. 136.
52 V. Lenin, op.
cit., t. 38, p. 201.
“Com o surgimento da consciência, o reflexo
da realidade, pelo sujeito, adquire um caráter consciente e manifesta-se, antes
tudo, sob a forma de conhecimento, chamado para assegurar à sociedade os
conhecimentos necessários para a organização e o desenvolvimento da produção,
assim como a transformação do meio ambiente no interesse do homem.
Estando ligado organicamente à atividade
laboriosa dos homens e à prática, o conhecimento, como já fizemos observar,
funciona a partir da prática e desenvolve-se da intuição viva ao pensamento
abstrato, e do pensamento abstrato à prática, como critério de verdade.
Repetindo um número infinito de vezes o ciclo: intuição viva - pensamento
abstrato - prática, o conhecimento desenvolve-se, descobre novos aspectos e ligações
e, em um certo estágio de seu desenvolvimento, começa a captar e a distinguir
as propriedades e as ligações universais e a tomar consciência das leis
universais da realidade e das formas universais do ser.”
“1. A RELAÇÃO ENTRE AS CATEGORIAS DA DIALÉTICA
ENQUANTO GRAUS DO DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO
Sabemos que a forma primeira, a mais simples
do aparecimento da consciência, é a tomada de consciência, pelo homem, de sua
existência, a separação de si com relação à natureza e a compreensão de sua
relação com ela. O animal não se distingue da realidade que o rodeia, ele não
sabe que existe. “O animal, escrevem a esse respeito Marx e Engels, ‘não está
em relação’ com nada, não conhece, somando tudo, nenhuma relação. Para o
animal, suas relações com os outros não existem enquanto relações”1.
É o homem que, tendo já adquirido a consciência, nota pela primeira vez sua
existência e toma consciência de seu relacionamento com o mundo exterior.
Desligando-se da natureza pelo trabalho, o
homem toma consciência de sua autonomia e de seu relacionamento com o mundo
exterior por meio da ação ativa que ele exerce sobre este último,
transformando-o, segundo seu projeto, no interesse da sociedade. Isso
condiciona o fato de que a relação do homem com o mundo exterior manifeste-se,
antes de tudo, como uma interação com o mundo, cujo resultado é a transformação
deste último. Esses momentos do relacionamento do homem com a realidade ambiente
são captados por meio dos conceitos de correlação e de movimento.
A separação em si, com relação à natureza,
supõe a tomada de consciência pelo homem da espacialidade, da existência dos
objetos fora dele e, ao mesmo tempo, do aparecimento da representação, depois
do conceito de espaço, das características espaciais. O conhecimento das
particularidades das transformações intervindo na realidade ambiente, em
decorrência da atividade laboriosa, conduz à formação do conceito de tempo, como medida de toda modificação e de todo movimento concretos.
Confrontando-se no processo do trabalho e na
vida quotidiana com o particular,
isto é, com os objetos, fenômenos, processos particulares, o homem distingue
aqueles dentre eles que, estando de uma maneira ou de outra ligados à sua
atividade vital, poderiam ser utilizados para a satisfação dessa ou daquela
necessidade da sociedade e os concebia, no começo, como alguma coisa singular, inédita, jamais encontrada.
Mas, à medida que foi descobrindo outros
objetos, capazes de satisfazer a essa mesma necessidade, o homem os reuniu em
um mesmo grupo e fez deles uma representação geral, depois um conceito, e assim
executou a passagem, na consciência, no pensamento, do singular ao geral e, no curso do desenvolvimento
ulterior da prática, ao universal.
Tomando consciência do particular (objeto,
processo, fenômeno) como singular, o homem julgava-o sob o ângulo de sua qualidade e esforçava-se para elucidar o
que representava esse objeto. Nesse grau do desenvolvimento do conhecimento do
objeto, as características quantitativas eram indiferenciadas e manifestavam-se
como qualitativas. Mas, à medida que o homem passava de um objeto para vários,
e comparando-os na prática e na consciência, ressaltava sua semelhança, isto é,
o geral e o diferente (particular), ele começava a tomar consciência das
características quantitativas. Cada
aspecto da qualidade, cada uma de suas propriedades pareciam desdobrar-se; ao
lado da manifestação do que ela representava, revelava também sua grandeza.
As características qualitativas e
quantitativas distinguidas nesse grau do desenvolvimento do conhecimento são
consideradas pelo homem como coexistentes, independentes umas das outras. O
desenvolvimento ulterior do conhecimento do objeto conduz à descoberta da
correlação e da interdependência orgânicas das características qualitativas e
quantitativas, de sua interpenetração e de sua passagem de uma a outra.
Com o conhecimento da correlação entre os
diferentes aspectos da qualidade, entre as características quantitativas e as
passagens recíprocas da quantidade e da qualidade, o homem consegue tomar
consciência de que a transformação de um aspecto, de uma propriedade, de um
fenômeno é condicionada por uma certa modificação de um outro aspecto, uma
outra propriedade, um outro fenômeno. O que engendra o outro e condiciona seu
aparecimento reflete-se no conceito de causa;
o que é engendrado e condicionado reflete-se no conceito de efeito.
O estudo da ligação de causa e efeito, mostra
que, em certas condições, a causa engendra o efeito correspondente, que a
ligação da causa e do efeito possui um caráter necessário. Surge, então, o
conceito de necessidade. A
necessidade é, antes de tudo, concebida como propriedade da ligação de causa e
efeito. Entretanto, no decorrer do desenvolvimento do conhecimento, o conteúdo
do conceito de necessidade vai precisando-se. Começa-se a considerar como
necessários não somente os laços causais, mas também todas as ligações que se
manifestam necessariamente em certas condições, e não apenas as ligações, mas
também as propriedades e os aspectos, próprios ao objeto por sua natureza. As
ligações necessárias estáveis, repetindo-se, começam a ser consideradas como
leis, a ser concebidas mediante o conceito de lei especialmente criada pelo seu reflexo.
À medida que vão-se acumulando conhecimentos
sobre as propriedades e ligações (leis) necessárias no domínio estudado da
realidade, surge a necessidade de reunir todos esses conhecimentos em um todo
único e de considerar todos os aspectos (propriedades) e ligações (leis)
necessárias do objeto em sua interdependência
natural. A reprodução, na consciência e no sistema, de imagens ideais
(conceitos) do conjunto dos aspectos e ligações necessários próprios ao objeto
representa o conhecimento de sua essência.
O movimento em direção da essência começa com
a definição do fundamento — do aspecto determinante, da relação — que
desempenha o papel de célula original na tomada de consciência teórica da
essência do todo estudado. A dedução (explicação), desde o princípio de
partida, de todos os aspectos que constituem a essência do objeto supõe a
análise do fundamento (do aspecto determinante, da relação) em seu movimento,
seu aparecimento e seu desenvolvimento, porque é precisamente no curso de seu
desenvolvimento que o fundamento faz nascer e transforma outros aspectos e
relações do todo (do fundamentado) e assim forma sua essência. A representação
da célula original (do fundamento) do todo estudado em movimento e em
desenvolvimento presume a descoberta de tendências contraditórias que lhe são
próprias, da luta dos contrários que condiciona sua passagem de um estado
qualitativo a outro. Assim, o conhecimento, desenvolvendo-se, chega finalmente
à necessidade da formação das categorias de “contradição”, de “unidade”
e de “luta dos contrários”.
Colocando em evidência a contradição própria do fundamento e seguindo seu desenvolvimento e
sua resolução, assim como a transformação do objeto, o sujeito descobre que a
passagem do objeto de um estado qualitativo a outro, efetua-se mediante a negação dialética de certas formas do ser por outros, a manutenção do que é
positivo no negativo e a repetição do que já passou sobre uma nova base
superior. Os conceitos de negação
dialética e de negação da negação
surgiram para refletir essa lei.
O conhecimento do objeto não termina com a
reprodução da essência na consciência. Ele vai ainda mais longe: por um lado,
da essência ao fenômeno (as propriedades e as ligações contingentes exteriores
explicam-se a partir dos aspectos e das ligações interiores), por outro lado,
da essência da ordem primeira à essência da ordem segunda e assim
sucessivamente até o infinito (à medida que descobrimos novas propriedades e
ligações necessárias do objeto, são produzidas a elucidação teórica de sua
essência e a elaboração de um sistema de conceitos por seu reflexo, que é
sempre mais preciso e completo).”
1 K. Marx, F.
Engels, L’idéologie alemande, p. 59.
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