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sábado, 25 de junho de 2022

Introdução ao fascismo (Parte III), de Leandro Konder

Editora: Expressão Popular

ISBN: 978-85-7743-118-2

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 184

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Sinopse: Ver Parte I


 

“Wilhelm Reich foi, nos anos de 1920, um pioneiro dos estudos voltados para uma síntese do marxismo e da psicanálise. Como militante político, participou das lutas que precederam a ascensão de Hitler ao poder e viu na derrota dos comunistas a confirmação de algumas das suas mais dolorosas apreensões: os marxistas tinham uma visão simplista do processo de estruturação da consciência e subestimavam a significação das influências dos fatores irracionais na conduta dos homens. Reich buscou em Freud os elementos de que precisava para corrigir as “insuficiências” de Marx. Marx, disse Reich, era sociólogo, e não psicólogo.103 Isso é compreensível, pois no tempo de Marx a psicologia ainda não havia alcançado um status de ciência, coisa que só viria a ocorrer com Freud, graças ao qual ela se transformou numa ciência natural.104 A psicologia de Freud, como ciência natural, com sua teoria do inconsciente, com sua concepção da libido, com sua interpretação do complexo de Édipo e com suas teses sobre as inibições, serviu a Reich para elaborar sua economia sexual, cujos fundamentos “sociológicos” viriam de Marx e cujos fundamentos “psicológicos” viriam de Freud.105

Insurgindo-se contra versões “economicistas”, empobrecedoras do marxismo, Reich teve o mérito de chamar a atenção para aspectos socioculturais importantes que os marxistas deixavam muitas vezes de lado quando se dispunham a analisar a difusão do fascismo. Reich fez observações interessantes, por exemplo, sobre as tradições educacionais fortemente repressivas da sociedade burguesa e sobre o papel que essa educação desempenhava na formação de indivíduos dóceis, recalcados, sem espírito crítico, fáceis de recrutar para as fileiras das organizações fascistas, onde lhes era proporcionada a chance compensadora de se “identificarem” com a personalidade enérgica do “chefe”. O sentido “antiautoritário” do pensamento de Reich assegurou-lhe grande interesse aos olhos dos estudantes rebelados de maio de 1968, na França.

Reich foi vítima de um equívoco de tipo neopositivista: ele buscou em Freud uma psicologia que, para poder ser “científica”, estava concebida como uma “ciência natural”. A visão do ser humano proporcionada por uma “ciência natural” limita-se necessariamente aos aspectos naturais e orgânicos da vida dos indivíduos, estorvando a compreensão daquilo que neles é essencialmente social. Ao contrário do que supunha Reich, Marx não era um mero sociólogo: era um filósofo que, por força de sua concepção peculiar da essência do ser humano, teorizava sobre a economia, sobre a história, sobre a sociedade, sobre a política. A concepção marxista do homem não pode ignorar o alcance dos fenômenos irracionais, provenientes da esfera biológica, nas elaborações da consciência, nos movimentos da ideologia; mas ela exige, também, que não percamos de vista a lógica que o social apresenta em sua manifestação política. Reich tinha uma compreensão deficiente do político. Fixando sua atenção na “patologia” das massas pequeno-burguesas alemãs e exagerando os efeitos que sobre elas produzia o símbolo da cruz gamada, Reich foi levado a desconhecer a extensão do papel desempenhado pelo capital financeiro. Sentindo-se isolado no interior do movimento socialista, Reich foi para os Estados Unidos e praticamente renunciou a toda e qualquer atividade política (especificamente política) significativa.106

103 Massenpsychologie des Faschismus, ed. Junius, Frankfurt, 1972, reprodução da edição Verlag für Sexual-politik, Copenhague, 1933, p. 43.

104 Idem, p. 44.

105 Idem, p. 47.

106 Freud, ao contrário de Reich, nunca teve experiência alguma no campo da atividade política. Sua ingenuidade política chegou ao ponto de ele ter dedicado um exemplar de um livro seu a Mussolini, no começo dos anos de 1930, homenageando os “serviços prestados à cultura” pelo ditador italiano (patrocinando escavações arqueológicas). A falta de experiência política explica que Freud tenha se interessado tão pouco pelo marxismo e tenha escrito tolices a respeito do pensamento de Marx e Engels. No final de sua vida, porém, o extraordinário cientista que era Freud parece ter se dado conta do seu equívoco. Ernst Jones, em sua documentada biografia do criador da psicanálise, transcreve uma carta de Freud (de 1937) na qual este diz: “Sei que os meus comentários sobre o marxismo não mostram nem um conhecimento profundo nem uma compreensão exata dos escritos de Marx e de Engels. Soube, mais tarde, com certa satisfação que nenhum dos dois negou a influência dos fatores do Ego e do Superego. Isso desfaz o principal contraste que eu julgava existir entre o marxismo e a psicanálise” (Vita e Opere di Freud, ed. Il Saggiatore, Milano, 1966, vol. 3, p. 408).

 

 

“Mais decisivamente ainda do que por Wilhelm Reich, os aspectos socioculturais importantes que os marxistas haviam subestimado na análise do fascismo em ascensão foram abordados pelos pensadores da chamada “Escola de Frankfurt”, especialmente por Max Horkheimer e por Theodor W. Adorno. Reich havia investido contra a educação burguesa, autoritária, repressiva; Adorno e Horkheimer dispuseram-se a examinar criticamente a estrutura familiar burguesa, patriarcal, elucidando a função que ela tinha tido na preparação de uma aceitação do fascismo por parte de muita gente.107

Mas os filósofos da “Escola de Frankfurt” não se limitaram à análise crítica do papel desempenhado pela estrutura familiar burguesa na formação dos quadros fascistas: promoveram, também, uma ampla discussão sobre os mecanismos de deformação ideológica acionados pela sociedade capitalista. Para desenvolverem suas interpretações dos fenômenos ligados a tais mecanismos, Adorno e Horkheimer (e, em certa medida, também Herbert Marcuse, Erich Fromm e outros) aproveitaram algumas ideias de Marx e alguns conceitos de um livro publicado por Lukács em 1923: História e consciência de classe.

Na economia política de Marx, esses filósofos se interessaram menos pela análise do processo de produção do que pelas observações relativas à esfera da circulação das mercadorias. Do primeiro volume de O capital, quase que só conservaram e aproveitaram o capítulo do “fetichismo da mercadoria”; História e consciência de classe, de Lukács, por outro lado, levou-os a um esforço apaixonado no sentido de elaborarem um pensamento radicalmente historicista, capaz de superar a aparência de coisa que a ideologia burguesa atribui às relações essencialmente dinâmicas dos seres humanos entre si (a reificação).108

Na época em que escreveu História e consciência de classe, Lukács vinha de algumas experiências políticas intensamente vividas, mas insuficientemente amplas, e além disso mal sedimentadas. Seus horizontes de comunista neófito estavam marcados por certo voluntarismo, que o levava a subestimar a força material dos obstáculos sociais com que a ação revolucionária precisava se defrontar. Seu pensamento carecia de um nervo materialista mais robusto e tendia a exagerar o papel do sujeito humano, atribuindo-lhe poderes quase miraculosos na transformação da sociedade e minimizando os recursos de que dispunham as classes empenhadas na resistência contra o socialismo. Uma assimilação precipitada da reabilitação da subjetividade e da iniciativa revolucionária, realizada por Lenin, na prática (desmoralizando os esquemas social-democratas, que levavam a uma atitude de espera passiva do amadurecimento das contradições sociais), levou Lukács a acolher ilusões idealistas (que Lenin soubera evitar).

Posteriormente, Lukács evoluiu. Ao longo dos anos de 1920, em estreita colaboração com Josef Landler, inteirou-se mais concretamente das condições reais da luta política revolucionária. No final dos anos de 1920, após uma visita clandestina à Hungria (sob o regime fascistizante do almirante Horthy), Lukács soube avaliar a situação do país com tal realismo que foi levado a propor uma linha de ação política que antecipava a linha do front populaire, mas sua proposta (consubstanciada nas chamadas “Teses de Blum”) foi derrotada. Até o final de sua vida, Lukács se manteve empenhado na luta política, embora muitas vezes se tenha visto marginalizado no interior do processo revolucionário.

No pós-guerra, quando já se iniciara a “guerra fria”, Lukács publicou um livro – A destruição da razão (1954) – no qual fazia um balanço implacável, por vezes excessivamente rude, mas a nosso ver substancialmente justo, do uso da filosofia irracionalista na preparação do terreno para o fascismo. Nessa época, Adorno e Horkheimer desenvolviam as teses que haviam exposto em A dialética do esclarecimento*, obra conjunta que haviam lançado em 1947. Para os dois pensadores da “Escola de Frankfurt”, as matrizes ideológicas do fascismo na consciência burguesa se encontravam não no irracionalismo e sim no neopositivismo, com sua capitulação diante do real, com seu pseudorracionalismo manipulatório. Na vida cultural de nossa época, Adorno e Horkheimer enxergavam quase que apenas os efeitos devastadores da manipulação dos indivíduos por parte da indústria cultural. As raízes dessa manipulação se acham tão profundamente cravadas no nosso tempo que afeta a própria classe operária e se estende inclusive à política das forças socialistas “tradicionais”, cujo “otimismo oficial” Adorno condena em Lukács.109

A retomada da lógica dialética hegeliana, em lugar de ajudar os marxistas “oficiais” a superarem as ilusões da consciência reificada, fortalece-as. Adorno inverte a tese hegeliana de que a verdade é o todo e sustenta que o todo é o falso.110 Lukács acusa-o, em 1963, de defender um “conformismo disfarçado de não conformismo”.111 Mas Adorno tinha, na época, bons argumentos para não se sentir atingido pela crítica: suas ideias, ao longo dos anos de 1960, vinham encontrando notável receptividade entre os estudantes rebeldes. Quando, em 1968, a contestação estudantil alcançou seu clímax em diversos países da Europa, o “marxismo ocidental” da “Escola de Frankfurt” parecia demonstrar a eficácia de seu não conformismo. Em breve, contudo, os acontecimentos desautorizavam semelhante interpretação: o teórico das potencialidades revolucionárias das explosões irracionais escandaliza-se com o comportamento politicamente irracional de alguns estudantes revoltados. Como reitor da Universidade de Frankfurt, o filósofo chega a pedir que a polícia intervenha, para pôr fim à “irracionalidade”, que se tornara insuportável. Lukács tripudiou: numa entrevista à revista Spiegel, observou que muitos estudantes tinham aprendido com Adorno a avaliar a extensão dos males da sociedade atual e, quando tais estudantes saíram às ruas para tentar derrubar a estrutura da sociedade, Adorno deixou de ter alguma coisa para lhes dizer.112

De fato, independentemente de muitas observações notavelmente argutas sobre as mazelas da “sociedade contemporânea” e sobre as tendências fascistas que ela necessariamente encerra, Adorno e Horkheimer – estorvados por um ceticismo elitista, de consequências políticas negativas – chegavam em suas análises a um determinado ponto a partir do qual não conseguiam mais ir adiante: o ponto onde a compreensão dos problemas passava a depender do reconhecimento da direção de sua possível solução.

107 Além dos artigos publicados sob a responsabilidade de Horkheimer em Autorität und Familie (ed. Alcan, Paris, 1936), há uma grande quantidade de material sobre o tema nas edições da Zeitschrift für Sozialforschung, ao longo dos anos de 1930.

108 No artigo que publicou em 1930 na revista Die Gesellschaft (Zum Problem der Dialektik), Herbert Marcuse defende História e consciência de classe contra as críticas que o filósofo social-democrata Siegfried Marck fizera ao livro (considerando-o “metafísico”); mas – sintomaticamente – admite que num ponto Marck tinha razão: ao afirmar a existência de uma “consciência de classe correta”, por oposição a uma “falsa”, Lukács teria deixado de ser um historicista radical coerente.

* Muito antenado ao que se produzia em outros países, Leandro Konder eventualmente traduz expressões e termos em suas obras que os tradutores viriam a popularizar academicamente no Brasil de outra forma. Em seu livro Hegel: a razão quase enlouquecida, Konder utiliza a expressão “ardil da razão” – que posteriormente veio a ser conhecida como “astúcia da razão”. No livro desta postagem, Konder traduz “Dialética do iluminismo” – o que de fato seria a tradução comum, mas o tradutor brasileiro preferiu “Dialética do esclarecimento”. A categoria “indústria cultural” é traduzida por Konder como “indústria da cultura”. Deixamos aqui as expressões na forma como normalmente são referidas academicamente, e não como Konder as escreveu na já longínqua década de 1970.

109 “Erpresste Versöhnung”, Der Monat, nov. 1958.

110 “Das Ganze ist das Unwahre”, escreve Adorno em Minima moralia, Frankfurt, 1962, p. 57.

111 No prefácio à nova edição de Die Theorie des Romans, Neuwied, 1963, p. 17.

112 Der Spiegel nº 17, de 1970.

 

 

“A ideia de procurar definir os traços de uma hipotética personalidade fascista pode servir de estímulo a úteis discussões sobre problemas educacionais do sistema capitalista, mas dificilmente nos levará a uma melhor compreensão da natureza do fascismo como movimento político.

O que caracterizaria, afinal, essa personalidade fascista? A íntima insegurança? O espírito aventureiro? O fascínio pela violência? O ódio?113

Na realidade, como expressão política de determinadas tendências sociais, o fascismo tem se expressado através da ação de personalidades individuais muito variadas. (...)

Se levarmos demasiadamente a sério o que esses personagens pensavam de si mesmos e procurarmos, a partir do que diziam, concluir algo sobre o sentido específico dos movimentos que cada um deles liderava, estaremos nos servindo de um método inadequado. O fascismo tem se servido de tipos humanos bastante diversos, desde tarados sexuais como Julius Streicher até zelosos funcionários que se limitavam a cumprir disciplinadamente os seus deveres (mesmo quando esses “deveres” consistiam na liquidação de três milhões de pessoas, como se viu no caso de Rudolf Hoess, comandante do campo de concentração de Auschwitz, executado em abril de 1947, que fez questão de deixar bem claro em seu testamento que nunca tinha sido “um homem de mau coração”).

As contradições e a complexidade psicológica dos indivíduos apresentam interesse secundário, quando se trata de avaliar a exata significação da política que punham em prática. Precisamente por ter chegado a se tornar um movimento de massas, o fascismo não pode deixar de ter mobilizado (e não pode deixar de continuar a mobilizar) gente de toda espécie. Fixar unilateralmente a atenção nos indivíduos é um modo de perder de vista o social. Um daqueles casos em que, como dizia Hegel, as árvores impedem de enxergar a floresta.

113 O psicanalista Bruno Bettelheim, recordando o período em que esteve internado como judeu num campo de concentração nazista e tentando explicar o fundamento da conduta dos SS, rejeita a interpretação que se baseia essencialmente no sadismo deles, com o argumento de que nunca vira um funcionário nazista “perder” seu tempo livre maltratando prisioneiros quando não estava de serviço (Cf. The informed heart).

 

 

“Na origem das apreensões com que são registradas as pressões políticas empenhadas em uma radicalização dos deslocamentos para a direita, acha-se a consciência de que a amplitude com que tais pressões se manifestam não é casual: corresponde à profundidade das exigências dos setores mais reacionários do capital financeiro, aqueles mesmos setores que em última análise promoveram o fascismo “clássico” e que, nas condições atuais do sistema imperialista, continuam a necessitar de uma política tendencialmente fascista para defender o capitalismo monopolista de Estado.

Quando John Maynard Keynes se insurgiu contra a ideologia do “capitalismo liberal”, em 1926, e preconizou uma “nova mentalidade” que levasse os capitalistas a encarar os problemas de uma “ação social” em lugar de se encastelarem no otimismo ingênuo do “laissez-faire”, ele ainda encontrou pouco eco, embora a guerra de 1914-1918 já tivesse mostrado na prática que – para usar palavras do próprio Keynes – havia uma mudança no ar.122 E quando numerosos defensores do sistema capitalista se sentiram perplexos e angustiados ante a crise de 1929, o conservadorismo inteligente de Keynes levou-o a sustentar que se tratava apenas de uma crise de transição, da passagem de um período a outro na evolução natural do capitalismo. Ele escreveu: “Não estamos sofrendo de reumatismo decorrente da velhice e sim das dores-de-crescimento de mudanças demasiado rápidas, do reajustamento doloroso entre um período econômico e o outro”.123

Keynes se abstinha explicitamente de atribuir qualidade moral ao sistema capitalista. O comunismo, que ele encarava como uma religião nova e que causava acentuada repugnância à sua sensibilidade de lorde,124 parecia-lhe ter sobre o capitalismo certas vantagens morais inegáveis, levando os cidadãos a encararem mais seriamente os problemas da comunidade. Para compensar as desvantagens morais, o capitalismo precisava mostrar uma esmagadora superioridade no terreno da eficiência econômica: “O capitalismo moderno é absolutamente irreligioso, sem união interna, sem muito espírito público (...) Tal sistema precisa ser imensamente – e não apenas moderadamente – bem sucedido para sobreviver.”125 Keynes dedicou-se a fundo ao esforço de esclarecer as direções que o capitalismo precisaria seguir, em sua autorrenovação, para alcançar a indispensável eficiência econômica. Os problemas colocados por semelhante autorrenovação eram reconhecidamente delicados; sua solução dependeria de uma direção política forte e razoável, cujo discernimento e cabeça fria precisavam ser protegidos contra as pressões democráticas dos eleitores “ignorantes”: “Acredito que a solução correta envolverá elementos intelectuais e científicos que precisam achar-se acima das cabeças da vasta massa de eleitores mais ou menos analfabetos” (“I believe that the right solution will involve intellectual and scientific elements which must be above the heads of the vast mass of more or less illiterate voters”).126

Keynes enxergou claramente a ligação profunda entre a necessária intervenção crescente do Estado capitalista na economia e a política necessariamente antidemocrática que deveria preservar a ação estatal contra “interferências” populares. E essa ligação ainda aparece mais nitidamente descrita no estudo que Hobson publicou em 1938 sobre o imperialismo: “Uma democracia política na qual os interesses e a vontade de todo o povo controlassem os poderes do conjunto do Estado se oporia ativamente ao processo global do imperialismo. Semelhante democracia aprendeu agora a lição de que a igualdade econômica substancial na renda e na propriedade é essencial para ela funcionar. Por isso, a defesa do capitalismo está ligada, em cada país, à destruição ou ao enfraquecimento das liberdades públicas e do governo representativo” (“A political democracy in which the interests and will of the whole people wield the powers of the whole state will actively oppose the whole process of imperialism. Such a democracy has now learned the lesson that substantial economic equality in income and ownership of property is essential to its operation. The defense of capitalism is, therefore, bound up in every country with the destruction or enfeeblement of the public franchise and representative government”).127

122 The end of Laissez-Faire, ed. Hogarth, London, 1926: “Sugerir ação social para o bem público à City de Londres é como discutir a Origem das espécies com um bispo há 60 anos atrás. A primeira reação não é intelectual e sim moral. Uma ortodoxia está em questão: e quanto mais convincentes são os argumentos tanto maior é a ofensa” (p. 38). Cf. também p. 5: “a change is in the air”.

123 “Economic possibilities for our grandchildren”, 1930. In: Collected Writings of John Maynard Keynes, vol. IX (Essays in Persuasion), ed. Macmillan, London, 1972, p. 321.

124 Depois de ter visitado a União Soviética, Keynes escreveu, em 1925: “Como posso adotar um credo que prefere a lama ao peixe, que exalta o proletariado grosseiro, colocando-o acima do burguês e da intelligentsia, os quais, quaisquer que sejam seus erros, são a qualidade na vida e representam seguramente as sementes de todo e qualquer avanço humano?” (Collected Writings... vol. IX, op. cit., p. 258).

125 Collected Writings... vol. IX, op. cit., p. 267, Keynes ainda continua, na página seguinte, a discorrer sobre o capitalismo, dizendo: “Como um meio, ele é tolerável; como fim, não é tão satisfatório assim. Começa-se a se perguntar se as vantagens materiais de manter a atividade dos negócios e a religião em compartimentos diferentes são vantagens suficientes para compensar as desvantagens morais”.

126 “Am I a liberal?” (1925), em Collected Writings... vol. IX, op. cit., p. 295.

127 Imperialism, J. A. Hobson, London, 1938, p. 21 (introdução).

 

 

“Togliatti, em 1935, já advertia: “É preciso não considerar o fascismo como qualquer coisa de definitivamente caracterizado, é preciso considerá-lo no seu desenvolvimento, nunca como algo fixo, nunca como um esquema ou como um modelo” (“Non bisogna considerare il fascismo come qualche cosa di definitivamente caratterizzado, [...] bisogna considerarlo nel suo sviluppo, mai fisso, mai come uno schema, come modello”).130

130 Lezioni sul fascismo, ed. Riuniti, Roma, 1974, p. 37.

 

 

“Privado de grandes respiradouros bélicos, o fascismo evolui contrafeito, caminha com dificuldade. Mas o sistema se recusa a deixá-lo morrer, porque precisa dele: dá-lhe injeções, reanima-o, sugere-lhe sucedâneos para os alimentos que lhe faltam, guerras “localizadas”, guerras “intestinas”, “agressões internas” etc. Se não é possível vendê-lo por atacado, tenta-se vendê-lo no varejo, a prestações.

Os mitos racistas e o antissemitismo estão desgastados, mas a “demonização” do socialismo continua a funcionar com excepcional eficácia. Políticos que nunca leram Hitler nem Mussolini falam do socialismo como uma força essencialmente antinacional, que deve ser implacavelmente combatida e aniquilada em nome da grandeza da nação, servindo-se quase que textualmente de expressões caras aos dois ditadores.

As condições atuais da luta não animam o capital financeiro a correr o risco de apoiar partidos de massa, capazes de empunhar bandeiras com cruzes suásticas nas ruas: é preferível tentar manipular a “maioria silenciosa”, que fica discretamente em casa, entregue ao consumo da Coca-Cola e da televisão. Novos padrões de conduta política passam a ser inculcados sob a capa de atitudes “não políticas”.

As circunstâncias exigem dos fascistas que eles sejam mais prudentes e mais discretos do que desejariam. Pragmaticamente, adaptam-se às exigências dos novos tempos. Mas continuam a trabalhar, infatigavelmente, preparando-se para tempos “melhores”, que lhes permitam maior desenvoltura.

Tal como no conto A colônia penal, de Franz Kafka. O comandante da colônia, que tinha instalado nela um regime de tipo fascista, morrera e fora enterrado nos fundos de uma taverna, embaixo de uma mesa. Com sua morte, o fascismo tinha sofrido uma grave derrota, na penitenciária. Mas sobre o seu túmulo foi colocada uma lápide com a seguinte inscrição:

Aqui jaz o antigo comandante. Seus adeptos, cujos nomes por ora devem permanecer secretos, dedicaram-lhe esta pedra tumular. Dentro de alguns anos, quando seus adeptos forem mais numerosos, ele voltará a se erguer e reconquistará a colônia. Tende fé e esperai.

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