Editora: Lua de papel
ISBN: 978-85-6306-609-1
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 588
Sinopse: Parte I
1978 – Local: Argentina – Campeã: Argentina
– O craque holandês Johan Cruyff e o alemão Paul Bratner (ambos
eleitos na seleção ideal da Copa de 74) recusaram-se a ir ao mundial, devido à sangrenta
ditadura que reinava no país sede.
– O grupo insurgente “Movimento Peronista Montonero” determinou
aos seus membros que não realizassem ações armadas durante o mundial. Os argentinos
são politizados, porém, mais do que politizados, são apaixonados por futebol. E
os Montoneros também queriam ver a seleção campeã.
– A ditadura não ocorria só na Argentina, mas era comum na
América Latina da época. O Paraguai teve no comando o general Alfredo Stroessner,
que deu um golpe em 1954 e só saiu com outro golpe militar trinta e cinco anos depois.
No Brasil o golpe foi em 1964 e somente em 1989 houve novamente eleições diretas.
No Chile, em 1973 Salvador Allende foi “suicidado” com uma rajada de metralhadora
nas costas, e o general Augusto Pinochet governou até 1988, quando foi massacrado
em um plebiscito popular. Também em 1973, no Uruguai, Juan Maria Bordaberry fechou
o congresso e instaurou a ditadura, permanecendo no poder até 1984. A Bolívia viveu
uma sucessão de golpes militares entre 1969 e 1982, ano em que o presidente Siles
Zuazo pôde, finalmente, assumir o cargo para o qual fora eleito em 1980. Isto só
para citar os vizinhos da Argentina. Em todos os casos as mesmas características:
censura, repressão popular, violência e atraso econômico. A CIA (central de inteligência
norte americana) é acusada de estar por trás destas ditaduras.
– João Havelange foi eleito presidente da Fifa pouco antes
da Copa de 1974 e sequer retornou ao Brasil depois do mundial. O novo presidente
da CBD veio a ser Heleno Nunes, que era almirante (mais elevado posto hierárquico
da marinha) e presidente da Arena (partido do governo militar da época). Por causa
disto, muitos times irrelevantes passaram a fazer parte do campeonato nacional,
devido a motivos eleitorais. Criou-se até um par de versos sobre a situação: “Onde
a Arena vai mal, mais um time no Nacional. Onde a Arena vai bem, mais um time também”.
Em 1974 quarenta times disputavam o Brasileirão. Em 1979, noventa e quatro equipes
o fizeram – isto porque Corinthians, São Paulo e Santos se recusaram a disputar
essa edição.
– Na Copa de 1978 o treinador da seleção brasileira era o
capitão do exército Cláudio Coutinho. Inventor de conceitos como “overlapping” –
jogada em que o lateral toca a bola para o ponta antes de recebê-la em profundidade
– e “ponto futuro” – espaço vazio para onde um atacante deveria se deslocar para
receber a bola – que causavam certa confusão e viraram motivo de chacotas na época.
O técnico não convocou nenhum lateral esquerdo de ofício (deixando de levar Marinho
Chagas e Júnior), improvisando o zagueiro de área Edinho na posição. Também não
convocou Paulo César Caju e Falcão para a Copa. Além disto, o técnico não conseguia
inserir os jogadores em seu turbulento esquema tático. Um exemplo era o craque Zico.
Brilhante como meia do flamengo, na seleção era escalado quase como um ponta, e
obviamente não tinha o mesmo rendimento.
– Algum gênio sugeriu irrigar a grama do estádio Monumental
de Nuñez com água do mar, o que, obviamente, destruiu o gramado e prejudicou o jogo
Alemanha 0 X 0 Polônia.
– O goleiro reserva holandês Jongbloed entrou no meio da partida
contra a Itália. Foi o último goleiro em Copas a agarrar sem a utilização de luvas.
– Apenas 4 jogadores brasileiros jogaram os 4 jogos da Copa
completos, sendo que um deles foi o goleiro Leão. Os outros foram os zagueiros Oscar
e Amaral, e o meia Batista. Dos 22 convocados, 17 jogaram. Dos cinco que não jogaram,
dois eram goleiros reservas.
– A Argentina precisava golear por 4 ou mais gols a forte
seleção peruana para seguir na Copa e o fez: ganhou de seis. Houve severas acusações
de que os peruanos haviam recebido dinheiro dos ditadores argentinos para entregarem
o jogo – polêmica que permanece até hoje. O próprio goleiro peruano Quiroga acusou
posteriormente três jogadores de seu país de terem se vendido. Este resultado desclassificou
o Brasil – que foi a única seleção a terminar a Copa sem ser derrotada. Por causa
deste imbróglio, o técnico brasileiro Cláudio Coutinho afirmou que o Brasil era
o campeão moral do torneio. O técnico argentino César Luiz Menotti, depois da final,
provocou: “Eu felicito meu colega Coutinho por seu campeonato moral e desejaria,
também, que ele me felicitasse por meu campeonato real”.
– O Ente Autárquico Mundial (EAM) aproveitou a confusão gerada
pela goleada da Argentina sobre o Peru, e substituiu o árbitro israelense Abraham
Klei – que havia apitado na primeira fase a vitória da Itália sobre os anfitriões
(não influindo no resultado, entretanto) pelo italiano Sergio Gonella. Na final
Argentina X Holanda (que, frise-se, jogava sem o craque Johan Cruyff por causa da
sanguinária ditadura argentina), o árbitro Gonella invertia as faltas cometidas
pelos anfitriões e só coibia o time visitante – marcou 50 faltas só no tempo regulamentar
a favor da Argentina. A Holanda jogava melhor, porém, a seleção argentina foi crescendo,
na base da catimba e da provocação, contando com a complacência do juiz e conseguiu
abrir o placar com Kempes. Mas a Holanda seguiu pressionando e aos 37 minutos da
etapa final empatou; no minuto final ainda mandou uma bola no travessão. O jogo
foi para a prorrogação e seguiu no mesmo ritmo, com a Holanda buscando mais o jogo
e sendo prejudicada pelo árbitro. A mistura de raça e catimba sobressaíram, e a
Argentina marcou outros dois gols (um deles irregular – que o juiz não invalidou)
e sagrou-se campeã. Suspeitas de favorecimento à parte, a Argentina conseguia finalmente
ser campeã do mundo depois de quase 50 anos de espera.
– O árbitro italiano Sergio Gonella, desmoralizado depois
da péssima arbitragem na final, abandonou o apito – porém, o estrago contra a Holanda
já estava feito.
– O venezuelano Carlos Roman apostou que o Peru iria à final.
Se perdesse, comeria uma garrafa de vidro, moída. O Peru perdeu e ele pagou a promessa.
Foi internado em estado grave, mas sobreviveu.
– A numeração dos jogadores da Argentina se dava pelos nomes,
independia das posições. Assim, o volante Alonso jogava com a 1 e o goleiro titular
Fillol, com a 5.
1982 – Local: Espanha – Campeã: Itália
– A Copa de 1982 teve 24 seleções participantes, 50% a mais
do que na Copa anterior – João Havelange cumpria sua promessa eleitoral para seguir
se elegendo presidente da Fifa.
– Telê deixou de fora os goleiros Leão e Raul, e o atacante
Reinaldo por motivos “disciplinares” – o técnico não tolerava contestadores. Ele
também não permitia que seus jogadores fossem desleais com os adversários. Porém,
levou o atacante Serginho Chulapa, protagonista do mais desleal lance visto no futebol
nacional, ao chutar o rosto do goleiro Leão que estava no chão em plena final do
campeonato brasileiro. Careca se lesionou a três dias do mundial e Telê levou Roberto
Dinamite – que não possuía bom relacionamento com o técnico – em seu lugar. A consequência
da saída de Careca foi que o forte, porém pouco habilidoso Serginho seria o titular.
Ao não levar Leão, titular das duas últimas Copas e absoluto na defesa gremista,
o treinador escolheu o frangueiro Valdir Peres para o gol.
– A vitória alemã por 1 a 0 sobre a vizinha Áustria classificava
as duas seleções. A Alemanha logo abriu o placar, e os dois times ficaram tocando
a bola no meio-campo, até terminar a partida, sobre sonoras vaias da torcida. O
juiz chegou a paralisar a partida e pedir aos capitães que mandassem seus times
jogar futebol – no que não foi correspondido.
– Depois da classificação da Argentina – em 2º no grupo –
Maradona passou a cobrar 5 mil dólares por cada entrevista coletiva.
– Os jogadores do Kuwait, islâmicos, praticavam o jejum do
Ramadã durante a Copa.
– O jogo França X Kuwait estava fácil para os franceses, que
ganhavam por 3 a 1 e converteram o quarto. Porém, logo depois do lance, o xeque
Fahid Al-Ahmad Sabah, chefe da delegação do Kuwait, deixou a tribuna de honra e
entrou em campo para protestar contra a arbitragem, alegando ter ouvido um apito
indicando que o francês estava em impedimento. O xeque ordenou que o time saísse
dos gramados caso o gol não fosse anulado. Por excesso de diplomacia ou falta de
pulso, o árbitro soviético Miroslav Stupar acatou a reclamação do xeque e depois
de oito minutos de reclamação, anulou o gol. Porém, a França veio a fazer o quarto
novamente. Stupar foi suspenso pela Fifa e o xeque condenado a pagar uma multa de
11 mil dólares – irrelevante para um magnata do petróleo.
– A Espanha só se classificou para a segunda fase da Copa
devido a um generoso auxílio do juiz. A Iugoslávia jogava melhor e já vencia por
1 a 0 quando o árbitro dinamarquês Henning Sorensen apitou um pênalti de uma infração
cometida fora da área. O goleiro iugoslavo Pantelic defendeu-o, porém, o árbitro
mandou voltar porque ele teria se adiantado – era a primeira vez que um árbitro
marcava tal infração numa Copa. A Espanha converteu, se animou em campo com o gol
e acabou virando a partida.
– A Irlanda precisava ganhar da anfitriã Espanha para passar
de fase, porém, não acreditava que isto fosse possível, tanto que reservou o voo
de volta para o dia seguinte a partida. Calhou que a Irlanda venceu e se classificou
para a segunda fase da Copa, e os dirigentes irlandeses tiveram que correr ao aeroporto
para remarcar os bilhetes.
– O Brasil precisava somente de um empate contra a Itália,
mas Telê manteve a formação ofensiva. Quando o jogo estava 1 a 1, o Brasil poderia
ter passado a frente quando Zico foi agarrado escandalosamente pela camisa dentro
da área, mas o árbitro ignorou a penalidade – a blusa do jogador brasileiro chegou
a ser rasgada. Ainda no primeiro tempo Zico deixou Serginho na cara do gol, porém,
este isolou a bola. O Brasil deu 27 finalizações a gol, a Itália 9. Em lances fortuitos
a Itália fez outros dois gols – um numa falha individual de Toninho Cerezo. Os italianos
acabaram vencendo a partida com três gols do até então contestado Paolo Rossi, uma
derrota que marcou o Brasil pela beleza do futebol que a seleção apresentava.
– “Quando a Itália fez o segundo gol, olhei para o Cerezo
e ele estava chorando. Fiquei louco de raiva. Fui até ele e disse: ‘se você não
parar de chorar agora, meto-lhe a mão na cara. Este é um jogo para homens, Toninho.
Se você está com medo, saia logo’.” – disse o lateral Júnior, depois da falha do
volante brasileiro que resultou no segundo gol italiano.
– O goleiro Schumacher foi eleito o grande vilão da Copa,
devido a uma entrada criminosa que deu no francês Battiston, uma voadora quando
o adversário entrava na área sem marcação – o goleiro sequer foi advertido. Enquanto
isto, o francês desmaiou, teve uma concussão e perdeu dois dentes. Até a mãe do
agressor veio a público condenar a atitude do filho. Mas Battiston perdoou Schumacher,
e até convidou-o para o seu casamento.
– O técnico brasileiro Tim, que comandava a seleção peruana,
passou aperto com uma CPI aberta para investigar as causas do mau resultado da seleção
na Copa. A CPI foi aberta pelos mesmos congressistas que concederam a Tim uma homenagem
pela classificação para a Copa, ao deixar para trás o tradicional Uruguai.
– O árbitro brasileiro Arnaldo Cezar Coelho apitou a final
Itália 3 X 1 Alemanha. Foi a primeira vez que um brasileiro apitou a final de uma
Copa.
1986 – Local: México – Campeã: Argentina
– A Copa deveria ser realizada na Colômbia, porém, devido
a problemas econômicos e sociais (cartéis de drogas instalados em Bogotá, Cali e
Meddellín, além das FARC), o país desistiu de ser a sede e a Fifa deliberou que
o torneio deveria ser realizado em outro país americano, pregando o revezamento
de continentes. O país escolhido foi o México, que havia sido sede 4 Copas atrás
– e também sofreu um grande terremoto poucos meses antes do torneio, assim como
o Chile em 1962.
– Entre as desistências de participar das eliminatórias estão
a da Jamaica, que foi excluída por dar calote nas taxas exigidas pela Fifa e a do
Irã, que se recusou a jogar somente fora de casa.
– Todos os campeões mundiais (Alemanha, Argentina, Brasil,
Inglaterra, Itália e Uruguai) participaram do torneio, o que nunca havia acontecido.
– Oito jogadores saíram numa noite de folga da concentração
brasileira na Toca da Raposa. Seis pularam o muro, mas Leandro, trôpego, não conseguiu
fazê-lo e Renato Gaúcho carregou-o pela porta da frente. Telê cortou somente Renato
Gaúcho. Em solidariedade a Renato, Leandro não apareceu no aeroporto. Telê também
cortou Éder, que havia agredido um jogador adversário num jogo – coisa que não fez
com Serginho em 1982.
– Diversos jogadores brasileiros foram à Copa em mau estado
físico. Júnior, Falcão, Sócrates e Cerezo não estavam em suas melhores condições.
Zico, machucado, chegou a pedir para ser cortado, mas como era o referencial da
equipe, foi mantido.
– Quatro grandes jogadores uruguaios atuavam no Brasil: o
goleiro Rodolfo Rodríguez, o meia Rubem Paz e os zagueiros Dario Pereira e De Leon.
Este último sequer foi convocado. Os outros três amargaram o banco – obra do técnico
Omar Borrás.
– A base da União Soviética era o dínamo de Kiev, cidade próxima
a Chernobyl, onde ocorrera o acidente na usina nuclear. Como a URSS goleou a Hungria
por 6 a 0 na estreia, correu a piada que os jogadores soviéticos usavam doping radioativo.
– No jogo contra a Escócia, o zagueiro uruguaio José Batista
fez uma falta violenta aos 55s de jogo, ocasionando a mais rápida expulsão em Copas
do mundo.
– O craque inglês Bryan Robson foi alvo de polêmica. O gerente
de futebol do Manchester United e ex-jogador Bobby Charlton, disse que Robson não
deveria ser utilizado até estar completamente curado de uma lesão que o atormentava
desde antes de a Copa. O técnico Bobby Robson não deu ouvidos, e além de comprar
briga com o ex-craque, perdeu Bryan Robson para o resto da Copa.
– Nas oitavas de final a Bélgica, com uma atuação fenomenal
do goleiro Pfaff e uma bela ajuda do árbitro sueco Erik Fredriksson – que validou
dois gols irregulares dos diabos vermelhos – conseguiu superar a URSS, e chegaria
até as semifinais, melhor colocação da história do time.
– Nas quartas-de-final em que a Argentina derrotou os ingleses
com um gol de mão do craque Diego Maradona, o meia saiu-se com a famosa frase em
uma das entrevistas: “O gol foi marcado com a minha cabeça e a mão de Deus”. Só
dezenove anos depois admitiu o óbvio – que o gol foi irregular.
– A Alemanha conseguiu derrotar em finais de Copas dois times
superiores e que entraram para a história, a Hungria em 1954 e a Holanda em 1974.
Porém, na final de 1986 prevaleceu o melhor time e a Argentina foi a campeã.
– O esquema tático mais adotado era o 4-3-3, com atacantes
que não guardavam posição – os pontas haviam entrado em desuso.
– O árbitro brasileiro Romualdo Arppi Filho apitou a final
Argentina 3 X 2 Alemanha. Contestado no Brasil, onde era alcunhado de “Roubualdo”,
apitou bem e não se intimidou com Maradona.
1990 – Local: Itália – Campeã: Alemanha
– O técnico chileno Orlando Avarena instigou um clima de guerra
nos jogos entre Brasil e Chile pelas eliminatórias. No último jogo, em casa, o Brasil
precisava do empate e ganhava por 1 a 0, quando aos 24m do segundo tempo o goleiro
chileno Rojas fingiu que se machucou com um foguete sinalizador que estourou a um
metro dele e se cortou com uma lâmina que trazia na luva. Os chilenos abandonaram
o campo alegando falta de segurança. Os brasileiros temeram uma punição e a exclusão
da Copa, porém, a Fifa detectou a fraude, e o Chile foi suspenso da Copa seguinte,
1994. O goleiro Rojas foi banido do futebol, enquanto o técnico chileno Orlando
Avarena e o zagueiro Astengo tomaram cinco anos de suspensão.
– O técnico brasileiro Sebastião Lazaroni não levou meio-campistas
criativos, como os meias Neto e Raí, além do veterano Zico.
– No jogo Brasil X Escócia, o lateral Branco acertou uma de
suas bombas em cheio na cabeça do escocês MacLeod. O jogador desmaiou em campo e
foi substituído – ele passou anos sentindo dores de cabeça por causa da bolada.
Correram insistentes boatos de que ele teria morrido, o que não é verdade. MacLeod
jogou até os 37 anos e encerrou a carreira em 1996, como jogador e técnico (concomitantemente)
do Patrick Thistle, da Escócia.
– A despeito de ter dominado o jogo (três bolas na trave e
outros gols desperdiçados), o Brasil perdeu para a Argentina por 1 a 0 nas oitavas-de-final.
Depois da derrota, muitos reservas cobraram de Lazaroni um lugar no time, chegando
a chamar o técnico de desonesto, dentre outros termos menos elegantes, e atacaram
indiretamente os próprios colegas. “Vim disputar a Copa e o máximo que consegui
foram promessas”, reclamou o zagueiro Aldair. “Lazaroni foi desonesto comigo”, chorou
Bebeto. “O Brasil não perdeu a Copa de 90 fora do campo. Perdeu dentro, por incompetência
de alguns jogadores”, alfinetou Romário. “Iríamos mais longe com onze Renatos. Falta
tesão para muito jogador. Eu não sou um acomodado. O dia em que eu encostar o corpo,
eu me aposento”, criticou Renato Gaúcho. Já o meia Maradona disse após a partida:
“O Brasil merecia ganhar, mas o futebol é assim mesmo”.
– Branco reclamou na época que se sentiu tonto após tomar
uma água oferecida pelos argentinos. Aqui mesmo no Brasil disseram que era desculpa
de perdedor. 15 anos depois, bêbado, em um jantar, Maradona confessou que a água
tinha anestésicos e que ele mesmo a teria oferecido para Branco. Quando um argentino
foi beber, o Pibe falou “dessa aí, não! Da outra”. O fato ganhou os jornais em 2005.
Já o técnico Carlos Bilardo deu a entender que a prática era comum. Em seu programa
de entrevistas, Maradona confessou o pecado a Pelé, mas negou que fosse ele o autor
do feito.
– A Iugoslávia apresentava uma talentosíssima geração de jogadores
– os defensores Mihajlovic e Jarni, os meias Boban, Mijatovic e Boksic, os atacantes
Suker, Prosinecki e Savicevic. Com essa equipe conquistaram o Mundial de Juniores
em 1987, e, no ano seguinte ajudariam o Estrela Vermelha de Belgrado a se tornar
campeão europeu e mundial. Mal sabiam eles que este seria o último mundial da Iugoslávia.
O país se desintegrou numa sangrenta guerra civil nos anos 90, e acabou se dividindo
em seis países independentes: Sérvia, Montenegro, Croácia, Eslovênia, Bósnia e Macedônia.
– Nas quartas de final entre Camarões e Inglaterra o árbitro
mexicano Edegardo Codesal foi bastante elogiado pela imprensa por ter a coragem
de marcar três pênaltis – todos existentes. Acabou sendo escalado para apitar a
final pelo desempenho.
– Esperava-se que, dentro de casa, a Itália tivesse toda a
torcida a seu favor. Porém, em Nápoles, na semifinal entre os anfitriões e a Argentina
não foi o que se viu. Historicamente, a cidade localizada no sul da Itália se sentiu
marginalizada. Além disso, muitos apreciavam Maradona, craque do Napoli. Calhou
que os dois fatores somados fizeram com que a torcida se dividisse no estádio San
Paolo.
– O pegador de pênaltis Goycochea levou a Argentina a frente
em decisões de pênaltis tanto nas quartas-de-final contra a Iugoslávia quanto na
semifinal contra a Itália. Na final, a Alemanha jogou melhor, mas perdeu inúmeras
chances de gol. O juiz mexicano Edgard Codesal não deu um pênalti claro do próprio
Goycochea quando este derrubou Augenthaler na área, e depois, marcou um pênalti
controverso, quando Völler levou um encontrão de Sensini. Brehme bateu bem e conseguiu
vencer o goleiro argentino. A Alemanha era tricampeã.
– O meia alemão Lothar Matthäus foi eleito o craque da Copa
– disputava seu terceiro torneio, era o capitão e a peça-chave da equipe. Naquele
mesmo ano foi eleito o melhor futebolista do planeta pela revista inglesa World
Soccer e, em 1991, tornou-se o primeiro “melhor do mundo” eleito pela Fifa.
Nos anos seguintes Matthäus teve problemas físicos que o levaram a jogar como líbero.
Ele ainda disputaria as Copas de 1994 e 1998, e se tornaria o jogador com mais partidas
em mundiais, 25.
– No grupo alemão a amizade não era o forte. O meia Matthäus
e o atacante Klinsmann, por exemplo, eram desafetos declarados.
– Franz Beckenbauer tornou-se o segundo na história a ser
campeão como técnico (1990) e jogador (1974). O primeiro foi Zagallo, campeão como
jogador em 1958 e 1962 e como técnico em 1970.
– A vice-campeã Argentina registrou o pior desempenho de todos
os finalistas em Copas do mundo da história: apenas duas vitórias e cinco gols marcados
em sete jogos – também foi a primeira seleção a não marcar gol na final.
– Até a final Alemanha X Argentina, as finais registraram
pelo menos 3 gols. Esta final, com apenas um, foi a menos efetiva em gols da história
até então. O mundial também registrou a menor média de gols por partida de todos:
2,21 por jogo.
– Titulares absolutos do Brasil em 1994, Bebeto e Romário
amargaram o banco em 1990. “Pode anotar, foi a minha primeira e última Copa”, disse
Romário quando chegou ao Brasil depois da eliminação. Mas Bebeto já pensava diferente:
“Estaremos juntos na Copa do Mundo de 94”.
– João Saldanha, ex-treinador da seleção brasileira e que
deixou um time pronto para Zagallo em 1970 (saiu, como destacado, devido a problemas
políticos com a ditadura), estava na Itália como comentarista de uma emissora de
TV, porém, teve problemas de saúde nas vésperas da final e foi internado. Acabou
falecendo na Itália, no dia 12 de julho.
– A seleção estadunidense temia um ataque terrorista durante
a Copa. Por via das dúvidas ficou concentrada em Tirrenia, cidade a 70 km de Florença
e a 350 km de Roma, locais dos jogos. Se era longe de onde jogavam, ficava ao lado
da base naval de Camp Darby.
– Para abranger o maior número possível de turistas em Roma,
o Vaticano rezava missas em cinco idiomas durante a Copa.
– Os jogadores mais faltosos do mundial foram o alemão Buchwald
e o argentino Maradona: fizeram 21 faltas. Se este último bateu bem, também foi
o que mais apanhou: sofreu 53.
1994 – Local: Estados Unidos – Campeão: Brasil
– Apesar de apoiar a Copa, o governo dos EUA não deu um centavo
de dinheiro público para a realização do torneio. Como praticamente tudo já estava
pronto (rede hoteleira, infraestrutura, grandes estádios de outros esportes – que
só teriam de ser adaptados), apenas algumas melhorias tiveram de ser feitas – ainda
assim ao custo de 200 milhões de dólares em valores da época.
– O baixo nível da Copa de 1990, tanto técnico quanto em gols,
fez com que até mesmo os conservadores integrantes da International Board
se mexessem e diversas regras do futebol fossem alteradas: o jogador que estivesse
na mesma linha do penúltimo defensor não estaria mais impedido; tornou-se obrigatório
o uso de caneleiras (com receio de contágio do vírus da Aids); os árbitros foram
instruídos a punir com cartão vermelho o jogador que usasse a mão para impedir uma
chance clara de gol; criou-se a área técnica, um espaço fora de campo onde os técnicos
podem passar instruções aos seus comandados; cada vitória passou a valer três pontos
(até então só valiam dois); autorizaram a terceira substituição, desde que um substituído
fosse o goleiro (em 1995 liberariam as três substituições para todas as posições);
as camisas dos jogadores passariam a ter seus nomes estampados nas costas, e os
números também seriam estampados na frente dos uniformes; e a mais substancial de
todas – o goleiro não poderia mais pegar com as mãos uma bola recuada por seu companheiro,
sob pena de ter contra si um tiro em dois lances, o que atrapalhava em muito a catimba
nas defesas.
– O primeiro registro do futebol americano é de 1867, num
duelo entre as universidades de Harward e Yale. Os de Harward
jogavam algo parecido com o futebol, já os de Yale seguiam as regras do rugby.
Sem a existência de regras universais, era normal que cada time vencesse quando
jogasse com as suas regras. Mas os jogadores de Harward gostaram da ideia
de jogar com as mãos e foi este jogo que se desenvolveu naquele país. As regras
foram redesenhadas entre 1890 e 1910, para evitar a comum morte de jogadores em
campo, e aí se formou o futebol americano como hoje o conhecemos.
– Países com tradição em Copas, como França, Inglaterra e
Uruguai não conseguiram se classificar para a de 94.
– Possivelmente o time mais forte que iria à Copa, a Iugoslávia
foi eliminada pela Fifa devido a terrível guerra civil que ocorria no país.
– Num amistoso entre Brasil e Alemanha (3 X 1, respectivamente),
Romário reclamou por ter viajado 12 horas da Holanda ao Rio Grande do Sul para jogar
apenas 20 minutos e discutiu asperamente com Zagallo: “Problema seu” – respondeu
o coordenador técnico. “Na seleção as coisas agora são assim”. Irritado, Zagallo
mandou Parreira colocá-lo no limbo. Correu a eliminatória e no último jogo o Brasil
precisava do empate contra o Uruguai, no Maracanã. Isso já havia acontecido uma
vez, quase 50 anos antes, no famoso Maracanazo e Romário foi convocado, depois
de muita pressão da imprensa e da torcida. Em seu retorno, o Baixinho marcou dois
gols e o Brasil foi classificado. Anos depois, numa entrevista, Romário afirmou
que sua convocação foi uma imposição do presidente da CBF Ricardo Teixeira.
– O Brasil possuía uma forte seleção, porém, a parte ofensiva
do meio de campo iria muito mal, pois Raí e Zinho chegaram à Copa em má condição
técnica. Para levá-los, Parreira deixou de fora da convocação Edmundo, Evair, Rivaldo,
Edílson, Giovanni e Neto.
– A seleção jogava num criticado esquema 4-4-2. Numa conta
que não fazia nenhum sentido, Parreira convocou cinco jogadores para o meio de campo
onde jogavam quatro – havia apenas um reserva. Já para o ataque, chamou seis onde
jogavam apenas dois – havia quatro reservas, justamente para a fenomenal dupla Romário-Bebeto.
Sem um meio de campo com qualidade técnica na parte ofensiva, o Brasil viria a depender
muito da genialidade dos dois atacantes.
– Os Estados Unidos dominaram a partida e ganharam por 2 a
1 da Colômbia num jogo em que o zagueiro Escobar fez um gol contra. De volta à Colômbia,
o zagueiro foi assassinado num bar por supostos torcedores descontentes: “Se soubéssemos
que o gol contra provocaria isso, preferíamos ter perdido aquele jogo”. Palavras
do volante norte-americano Dooley, sobre o assassinato do jogador colombiano.
– Os jogadores camaroneses achavam que não tinham mais chances
de se classificar – mas tinham, desde que vencessem a Rússia que estava praticamente
eliminada. Acabaram saindo para uma noitada e na hora do jogo se arrastavam em campo.
A Rússia se aproveitou e goleou por 6 a 1, com incríveis 5 gols do atacante Salenko
– o maior número de gols já feito por um jogador numa partida de Copa do mundo.
Também houve outro recorde neste jogo, do camaronês Roger Milla, que aos 42 anos
fez o de honra da seleção africana – o mais velho jogador a fazer gol numa Copa.
O russo foi contratado pelo Valencia da Espanha logo depois da Copa, entretanto
sofreu uma fratura séria na perna direita e nunca mais conseguiu jogar em alto nível
– tanto que não voltou a ser convocado pela seleção de seu país.
– O jogo Bulgária 1 X 1 México estava empatado quando o mexicano
Bernal, depois de cortar uma bola pelo alto, apoiou-se na rede, o que fez desabar
a barra que a sustenta. Não seria possível prosseguir o jogo sem uma trave, obviamente.
Porém, os precavidos estadunidenses possuíam uma trave reserva e trocaram a baliza
em rápidos oito minutos.
– Debaixo de um calor de 46ºC a Alemanha abriu 3 a 0 no primeiro
tempo do jogo contra a Coreia do Sul. O goleiro sul-coreano Choi In-Young, que falhou
em dois gols, pediu demissão no intervalo e foi substituído. A temperatura extenuante
cansou os alemães, que sofreram dois gols e só conseguiram uma apertada vitória.
– Maradona foi pego no exame antidoping pelo uso de
cinco substâncias proibidas: efedrina, nor-efedrina, pseudoefedrina, nor-pseudoefedrina
e meta-efedrina. Todas elas estimulam os batimentos cardíacos, dão fôlego e lucidez,
além de causar perda de peso. O meia argentino foi excluído pelo resto da Copa.
– Na Copa de 1990 o jogador Prosinecki fez um gol pela seleção
da Iugoslávia contra a seleção dos Emirados Árabes. Em 1994 fez um gol pela Croácia,
sendo o primeiro jogador a marcar gols em Copas por dois países diferentes.
– McGrath, zagueiro da Irlanda, nunca treinava com a equipe,
somente jogava. Ele foi operado oito vezes no joelho devido a uma artrite. Para
manter a forma, pedalava ferozmente numa bicicleta ergométrica.
– O goleiro Preud’homme, estrela do time belga, foi à área
da Alemanha tentar fazer um gol num cruzamento – algo inédito até então. Até hoje,
nenhum goleiro conseguiu fazer gol em Copas do mundo.
– O goleiro italiano Gianluca Pagliuca foi o primeiro goleiro
– e até hoje o único – a tomar um cartão vermelho em Copas do mundo, no jogo contra
a Noruega.
– Irritado com a avalanche de críticas depois de quatro partidas
de péssimo desempenho na Copa, o meia Zinho retrucou dizendo que estava jogando
fora de posição. E foi ainda mais criticado por dizê-lo. O craque Zico, por exemplo,
disse que jogar fora de posição é diferente de não mostrar personalidade em campo.
As estatísticas corroboravam a opinião pública sobre Zinho: ele era o jogador que
mais errava passes na seleção, além de reter vários contra-ataques ao dominar a
bola e fazer um círculo conduzindo-a – motivo pelo qual foi apelidado de “enceradeira”.
– No lugar do suspenso Leonardo – autor de uma cotovelada
que fraturou o malar do jogador estadunidense Tab Ramos – foi escalado o contestado
lateral Branco contra a Holanda. O meio de campo brasileiro marcava muito bem com
Dunga, Mauro Silva e Mazinho, mas nada criava com Zinho. Deste modo, em lançamentos
da defesa, Romário e Bebeto abriram dois a zero no placar – este último na comemoração
do gol fez gestos de quem nina uma criança, acompanhado de Romário e Mazinho, em
cena que se tornaria histórica. Porém, em duas falhas da defesa a Holanda empatou.
No decorrer do jogo Branco cavou uma falta e a bateu com perfeição – Romário desviou
milimetricamente da bola –, calando os críticos. O Brasil ganhava por 3 a 2, em
sua melhor apresentação na Copa.
– Romário prometeu que levaria o Brasil ao título e cumpriu:
fez 5 gols, deu assistências para outros dois e participou da jogada de outros três.
Seu único erro, que poderia ter custado muito caro, foi ter desperdiçado um gol
feito na prorrogação contra a Itália – errou a bola quase em cima da risca depois
de um cruzamento rasteiro. A partida terminou empatada e nos pênaltis Dunga, Branco
e o próprio Romário converteram, e o Brasil sagrou-se campeão depois que Roberto
Baggio chutou por cima. O jogador italiano, também crucial na campanha da azzurra
e que também fez 5 gols, disputava com Romário quem seria o craque da Copa. Acabou
com esse lance decidindo tudo: o Baixinho foi eleito o craque e o Brasil se tornou
o primeiro tetracampeão da história.
– Ninguém supunha que a Copa fosse fazer sucesso nos Estados
Unidos, já que os esportes favoritos daquele país são outros, porém, a Copa
nesse país teve a maior média de público da história: 68.413 pessoas por jogo.
–O avião que trouxe a delegação brasileira de volta dos Estados
Unidos veio “recheado” com 17 toneladas de bagagem – grande parte formada por compras
que deveriam – como ocorre com qualquer cidadão – ser taxadas na alfândega. Porém,
em situação no mínimo vexatória, o presidente da CBF Ricardo Teixeira ameaçou cancelar
o desfile da seleção caso a carga fosse vistoriada pela Receita Federal e tudo ficou
por isso mesmo.
– Após a vitória brasileira na final, os jogadores estenderam
uma faixa: “Senna, aceleramos juntos. O tetra é nosso”. O piloto brasileiro, um
dos maiores heróis do esporte nacional, havia falecido num acidente durante uma
corrida dois meses antes, em maio de 94 – quando também buscava o tetracampeonato.
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Outras partes desta publicação:
Parte I:
https://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2010/10/o-mundo-das-copas-lycio-velloso-ribas.html
Parte II: https://listadelivros-doney.blogspot.com/2021/01/o-mundo-das-copas-parte-ii-de-lycio.html
- Diferentemente de outras obras, nesta faço uma compilação das melhores histórias sem citação direta.
ResponderExcluir- A postagem original deste livro, feita em outubro de 2010, tinha um tamanho excessivo. Na época eu não tinha tido a ideia de dividi-la. Fazendo uma correção das postagens do Blog, agora a dividi em 4 partes.