Editora: Todavia
Opinião: ★★☆☆☆
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ISBN: 978-85-8880-836-2
Páginas: 432
Sinopse: Ver Parte
I
“Um funcionário sênior da Casa Branca
que falou na época com pessoas que participaram da reunião registrou o seguinte
resumo: “O presidente deu uma bronca e insultou o grupo inteiro falando que não
sabiam nada sobre segurança nacional. Parece claro que muitos dos assessores
seniores do presidente, especialmente os da área de segurança nacional, estão
extremamente preocupados com a natureza errática dele, com sua ignorância
relativa, com sua incapacidade de aprender e com os pontos de vista dele, que
consideram perigosos”.5”
5. Revisão do autor de anotações feitas na ocasião
por um participante.
“Depois da reunião no Tanque, Tillerson, que tem a mais alta patente de
escoteiro dos Estados Unidos, foi participar de um jamboree na Virgínia
Ocidental e assistir ao casamento do filho no Texas. Ele pensava em renunciar.
“Escute”, Priebus disse mais
tarde num telefonema, “você não pode renunciar agora. Isso é ridículo. Venha falar comigo no meu
gabinete.”
Tillerson foi. “Não gosto do modo como o
presidente fala com esses generais. Eles não merecem isso. Não posso ficar sentado ouvindo. O presidente não passa de um
idiota.”
A hostilidade aberta surpreendeu
Priebus. A verdadeira mágoa de Tillerson, Priebus
percebeu, também tinha a ver com o modo como ele era tratado pelo presidente. Em várias reuniões na Sala da
Situação, Tillerson quase literalmente bufava, dando mostras visíveis de estar
mais do que apenas incomodado, mal mascarando aquela fala na reunião sobre o
presidente ser um idiota.
Priebus sugeriu que Tillerson
baixasse o tom. “Você não pode faltar com o respeito. Não pode falar assim com o
presidente. Precisa achar um jeito de se comunicar, dizendo
as mesmas coisas sem ser ofensivo.”
Priebus admirava a abordagem de
Mattis — evitar o confronto, demonstrar respeito e deferência, agir de modo
inteligente no trabalho, viajar o máximo possível, dar um jeito de sair de
Washington sempre que podia.
Tillerson voltou ao assunto dos
generais. “Não posso ficar aqui sentado ouvindo o
presidente desancar esses generais. Simplesmente não tolero isso. Não é certo”.”
“McMaster disse que às 6h03 Trump havia tuitado: “Tentativas ucranianas
de sabotar a campanha de Trump — ‘trabalhando em silêncio para ajudar Clinton’.
E onde está a investigação do P.G. [procurador-geral]?”.1
Evidentemente aquilo era
propaganda dos russos, McMaster disse. Ele e os especialistas do
Conselho de Segurança Nacional tinham chegado àquela conclusão. Mas o presidente resolvera botar
a boca no trombone.”
1. Ver o tuíte de Trump em: <twitter.com/realdonaldtrump/status/889788202172780544>.
“Antes de o presidente subir para a residência oficial ao fim de cada
dia, Porter entregava a ele um livro com informações relevantes, documentos,
memorandos e a agenda do dia seguinte.
Pela manhã, ele descia para o
Salão Oval às 10h, 11h ou até 11h30.
“Qual é a agenda do dia?”,
perguntava, tendo dado uma olhada no livro ou nem isso. Ele dizia acreditar que o
improviso era seu ponto forte. Sabia ler as situações. Sabia ler o que estava
acontecendo numa sala. Ou sabia ler o momento, como durante a campanha
presidencial.
Trump gostava de fazer as coisas
por impulso, Porter concluiu, seguir seu instinto. Ele agia como se uma preparação
excessiva fosse diminuir suas habilidades de improvisador. Não queria que pensamentos
prévios o desviassem do caminho. Como se a existência de um
planejamento acabasse com seu poder, seu sexto sentido.
Os assuntos de que o presidente
trataria de manhã normalmente tinham a ver com o que vira na televisão,
especialmente na Fox News, ou com alguma coisa publicada nos jornais, que lia
com mais atenção do que o público em geral imaginava.
Ao longo do dia Trump pedia
opiniões para qualquer um que estivesse por perto — de membros do ministério
até funcionários da segurança. Era sua forma de saber o que as
pessoas pensavam.”
“Toda presidência age pensando na
plateia, mas a plateia central de Trump muitas vezes era ele mesmo. Ele vivia avaliando a si mesmo. Na maioria das vezes as
avaliações eram apaixonadamente positivas. Estava sempre com a cabeça nos
jornais.
O trabalho na Casa Branca
frequentemente tinha menos a ver com a arte da negociação e mais a ver com
estragá-la. O estrago muitas vezes estava bem diante de seus
olhos, um comício de Trump em loop contínuo. Não havia como não olhar.
Na política externa, o ponto eram
as relações pessoais, Trump explicava àqueles que passavam mais tempo com ele
no Salão Oval. “Tenho muito boas relações com Xi”, ele disse
sobre o presidente chinês. “Temos uma química bem boa. Xi gosta de mim. Estendeu um tapete vermelho
quando visitei Beijing.” Em novembro de 2017, ele tinha
dito publicamente: “Considero Xi um amigo. Ele também me considera um”.2
H. R. McMaster tentou explicar que Xi
estava usando o presidente. A China estava numa ofensiva econômica,
planejando se tornar a primeira potência mundial.
Trump disse que entendia aquilo,
mas todos os problemas eram suplantados por seu bom relacionamento com Xi.
Nos últimos quatro meses de 2017,
o Conselho de Segurança da ONU votou por três vezes a imposição
de sanções econômicas mais duras à Coreia do Norte. Em 22 de dezembro, o resultado da
votação foi quinze a zero, incluindo a China.3 As sanções implicavam a
redução da quantidade de petróleo que a Coreia do Norte podia importar em 89%. Trump ficou bastante satisfeito.
“Isso aconteceu porque desenvolvi
uma relação realmente boa com o presidente Xi”, ele disse. “E porque ele me respeita e eu o
respeito. Não é ótimo que eu seja amigo dele quando todos
vocês dizem que eu devia me opor ao cara? Se eu não tivesse esse bom
relacionamento com o presidente Xi, eles jamais teriam feito isso.” Era a química, a confiança. “Eu consigo que eles façam coisas
que, se não fosse por isso, não fariam.”
Em temas nos quais mantinha as mesmas
opiniões havia décadas, argumentar era inútil. Um dos frequentadores com mais
experiência na Casa Branca em 2017 e 2018 disse: “Em alguns pontos ele já
chegou a uma conclusão e nada que você diga vai ter a menor importância. Tanto faz os argumentos que use. Ele não vai nem ouvir”.”
2. Donald J. Trump, “The President’s News Conference with
Prime Minister Shinzo Abe of Japan in Tokyo, Japan”, 6 nov. 2017. Postado por Gerhard Peters e John
T. Woolley, The American Presidency Project. Disponível em: <www.presidency.ucsb.edu/ws/?pid=128510>.
“A discussão sobre comércio
internacional se repetia. Mesmos
argumentos, mesmos pontos, mesmas certezas — dos dois lados. Depois de mais uma semana, ou mais um
mês, teriam a mesma discussão.
Trump dizia repetidas vezes que
ia romper acordos comerciais e impor tarifas. Várias vezes falava “Vamos
fazer”, e pedia um documento para assinar.
“Temos que fazer com que ele pare
de pensar no Korus”, Porter disse a Cohn.
“Temos que fazer com que ele pare
de pensar no Nafta”, Cohn concordou.
Pelo menos duas vezes, Porter
escreveu esboços seguindo ordens do presidente. E pelo menos duas vezes Cohn ou
Porter tiraram o documento da mesa dele. Em outras vezes, simplesmente
protelaram.
Trump parecia não se lembrar da
própria decisão, já que não fazia perguntas. Ele não tinha nenhuma lista — na
cabeça ou em outro lugar — de tarefas.”
“Naquele dia, Trump voou para Long
Island para fazer um discurso. Priebus foi
com ele. Os dois tiveram uma
conversa na cabine privativa na parte da frente do Força Aérea Um.
Priebus havia oferecido sua
renúncia na noite anterior. Ele já não aguentava mais e sabia
que tinha perdido sua utilidade para Trump.
O presidente estava imaginando
quem seria um bom substituto e disse que tinha falado com John Kelly,
secretário de Defesa Nacional e general de quatro estrelas reformado da
Marinha. O que acha do Kelly?, Trump perguntou.
O general Kelly seria ótimo,
Priebus disse.
Trump concordou e disse achar que
Kelly seria a pessoa certa, mas que não tinha oferecido o cargo a ele.
Priebus estava preocupado com a
imagem que sua saída passaria. Podemos fazer isso este fim de
semana, ele disse, ou podemos mandar um release para a imprensa. Ou fazer na segunda. Como o senhor quiser. “Estou pronto para fazer como o
senhor quiser.”
“Talvez a gente faça no fim de
semana”, Trump disse. O que você vai fazer?
Priebus queria voltar para seu
antigo escritório de advocacia.
Trump deu um abraço forte nele. “A gente vai resolver”, ele
disse. “Você é o cara.”
O Força Aérea Um pousou. Priebus desceu a rampa. Havia pingos de chuva na sua SUV preta, onde Stephen Miller e Dan
Scavino esperavam por ele. Estava levando a situação da
melhor forma possível.
Priebus recebeu um alerta de um
tuíte presidencial. Procurou as últimas postagens de
@realdonaldtrump: “Fico feliz de anunciar que acabo de nomear o
general/secretário John F. Kelly como chefe de gabinete. Ele é um grande americano…”.5
“Inacreditável!”, pensou Priebus.
“Isso é sério?”
Ele tinha acabado de falar com
Trump sobre aguardar.
Ninguém esperava o tuíte de
Trump. Quando o viram, Miller e Scavino desceram da SUV de Priebus e entraram em outro
carro, deixando o ex-chefe de gabinete sozinho.
Enquanto fechava a porta do carro,
Priebus pensou se Trump podia ter rascunhado um tuíte e enviado por acidente. Não, não foi o que aconteceu. A conversa na cabine foi só mais
uma mentira.
Naquela noite o general Kelly foi
se encontrar com Priebus. Eles tinham estado juntos nas trincheiras, mas
privadamente Kelly criticava a desordem e o caos da Casa Branca de Trump. Kelly disse ao presidente que
acreditava ser capaz de colocar o lugar em ordem.
“Reince”, Kelly disse, “eu jamais
faria isso com você. Só me ofereceram o cargo depois do tuíte
publicado. Eu teria te dito.”
Não fazia sentido, Priebus
percebeu, a menos que você entendesse o modo como Trump tomava decisões. “O presidente tem zero habilidade
psicológica para qualquer tipo de empatia ou piedade.”
Pego de surpresa, Kelly ficou em
silêncio por várias horas. Precisou telefonar para a esposa e explicar que
não tivera escolha senão aceitar depois de receber uma oferta para um dos
trabalhos mais importantes do planeta via Twitter. (...)
Em certo sentido, Priebus jamais
superou o modo como sua saída aconteceu. Caso você não sinta empatia nem
piedade por nada nem ninguém, esse episódio não parece anormal, foi sua
conclusão. Por isso Trump pôde ligar para ele dois dias
depois e dizer: Reince, meu caro, como estão as coisas? Como você está? O presidente não achava que
existisse um problema entre eles, de modo que o telefonema não lhe parecia
estranho.
Como regra geral, nas relações
com Trump, quanto maior a proximidade, maior a queda. Você começava com cem pontos. Era impossível subir daí. Priebus começara com isso, mas
eles foram sumindo. Estar perto de Trump, especialmente no papel de
chefe de gabinete, significava perder pontos. Significava pagar um preço.
A parte mais importante do mundo
de Trump era o círculo logo a seguir ao centro do alvo — as pessoas que Trump
pensava que talvez devesse ter contratado, ou aqueles que tinham trabalhado
para ele e que mandara embora e que agora pensava: Talvez eu não devesse ter
feito isso. Eram pessoas que tinham estado lá ou que
deveriam ter estado lá, ou parceiros ou conhecidos que não deviam nada para ele
e que estavam por perto mas nunca levavam a culpa por nada. Era aquele círculo um pouco mais
externo que tinha o maior poder, e não as pessoas que estavam do lado de
dentro. Não era Kelly nem Priebus nem Bannon.
Meses depois de sua saída da Casa
Branca, Priebus fez uma avaliação final: ele achava que tinha estado cercado na
Casa Branca de assassinos por natureza de alta patente que não eram obrigados a
entregar nenhum produto de seu trabalho regularmente — um plano, um discurso, o
esboço de uma estratégia, um orçamento, um cronograma diário e semanal. Eram intrusos que ficavam
perambulando pela Casa Branca, um bando de criadores do caos.
Havia Ivanka, uma charmosa
caçadora que entrava e saía de reuniões, se envolvia e deixava de se envolver
com os assuntos do presidente. Jared tinha os mesmos direitos. O portfólio deles não trazia
qualquer experiência.
Kellyanne Conway tinha permissão,
ou se dava, para falar praticamente à vontade na TV ou em entrevistas, muitas vezes
sem combinar nada com os departamentos de comunicação e de imprensa que Priebus
supostamente coordenava.
E havia Bannon, que pegara uma
sala estratégica na Casa Branca, perto do Salão Oval, e que enchera as paredes
com lousas que listavam as promessas de campanha de Trump. Ele era um estrategista numa
operação que não tinha qualquer estratégia. Entrava em discussões com seu
modo incendiário sempre que a agenda nacionalista-populista estivesse ameaçada,
ou de modo aleatório, ou quando precisava de algo para fazer.
Trump não passou no teste de
Lincoln. Não reuniu à mesa uma equipe de rivais ou
concorrentes políticos, foi a conclusão de Priebus. “Ele coloca predadores naturais à
mesa”, afirmou mais tarde. “Não apenas rivais — predadores.”
Havia gente sem qualquer
experiência em governo, uma característica surpreendentemente comum. Gente que passara a vida imersa
em opiniões políticas e em debates sobre políticas públicas, ou que era jovem
demais.
Em alguns aspectos, aqueles
quatro — Ivanka, Jared, Conway e Bannon — tinham o mesmo modus operandi. “Eles entram na Casa Branca. Você não abaixa sua arma”,
Priebus disse. “Eu não abaixo a minha.” As discussões deles não tinham
como objetivo convencer; assim como no caso do presidente, o objetivo era
vencer — arrasar, destruir e humilhar.
“Se você põe predadores naturais
à mesa”, Priebus disse, “as coisas não andam.” Assim a Casa Branca não estava no
controle de questões fundamentais como planos de saúde e reforma tributária. A política externa não era
coerente e muitas vezes se contradizia.
“Por quê?”, perguntou Priebus. “Porque quando você põe uma
cobra, um rato, um falcão, um coelho, um tubarão e uma foca num zoológico sem
paredes, as coisas começam a ficar vis e sangrentas. É isso o que acontece.””
5. Ver o tuíte de Trump em: <twitter.com/realdonaldtrump/status/891038014314598400>.
““Estou cansado de ouvir isso”, disse
Trump, “porque vocês poderiam dizer a mesma coisa sobre qualquer país do mundo.
Vocês ficam falando o tempo todo
que o Estado Islâmico está por toda parte. Eles podem estar se organizando para nos
atacar. Não temos como estar em
todos os lugares.”
Trump explodiu, especialmente
para cima dos seus generais. Vocês criaram essa situação. É um desastre. Vocês foram os arquitetos dessa
bagunça no Afeganistão. Criaram esses problemas. Vocês são inteligentes, mas eu
preciso dizer que são parte do problema. Não foram capazes de resolvê-lo,
e o estão tornando ainda pior.
E agora, ele acrescentou, fazendo
eco a Sessions, querem mandar ainda mais soldados para um negócio no qual não
acredito. Fui contra desde o início.
Ele cruzou os braços. “Quero sair de lá”, disse o
presidente. “E vocês estão me dizendo que a resposta é
entrar ainda mais fundo.”
Mattis, com seu estilo discreto,
teve um impacto imenso na decisão. Ele não costumava bater de
frente. Como costumava fazer, adotou a abordagem de que
menos era mais.
Acho que você está certo no que
você diz, ele falou a Trump, e sua intuição é muito afiada. Mas uma nova abordagem poderia
dar certo, acabando com os cronogramas artificiais de Obama e revogando as
restrições dos comandantes no campo de batalha. Uma retirada poderia acelerar o
colapso do Estado afegão. A retirada das tropas americanas
do país criou o vácuo para a Al Qaeda criar um santuário terrorista que levou
aos ataques de Onze de Setembro. O problema é que um novo atentado
terrorista, especialmente de grandes proporções, originado no Afeganistão seria
uma catástrofe.
Ele argumentou que, caso se
retirassem, criariam uma convulsão social similar ao Estado Islâmico, que já
tinha presença no Afeganistão.
O que aconteceu no Iraque durante
o governo Obama, com o surgimento do Estado Islâmico, vai acontecer no seu
governo, Mattis disse a Trump, numa de suas declarações mais incisivas. Foi uma alfinetada da qual muitos
presentes se lembrariam.
“Você está me dizendo que tenho
que fazer isso”, falou Trump, contrariado, “e eu acho que tudo bem, nós vamos
fazer, mas ainda acho que está errado. Não sei para que vai servir. Não nos levou a lugar algum. Já gastamos trilhões”, ele
exagerou. “Perdemos muitas vidas.” Mesmo assim, ele reconheceu que
provavelmente não poderiam simplesmente sair às pressas e deixar um vácuo para
a Al Qaeda, o Irã e outros grupos terroristas.”
“Um discurso sobre a estratégia para o
Afeganistão transmitido em rede nacional foi preparado para a noite da
segunda-feira, 21 de agosto, no Fort Myer, na Virgínia.7 Era um evento muito
importante — um dos primeiros pronunciamentos oficiais de Trump a respeito de
uma decisão política na frente de uma grande audiência.
“A princípio, minha intuição estava
me dizendo para sair de lá — e, historicamente, gosto de seguir meus
instintos”, disse Trump. Ele falou três vezes que o objetivo era “vencer”
e declarou: “Não vamos falar em números de soldados ou dos nossos planos para
ampliar a presença militar na região”.
Com aquilo, Trump escapou de algo
que havia sido o calcanhar de aquiles de Bush e Obama. Sua estratégia teve o efeito de
tirar o debate sobre a Guerra do Afeganistão de cena, removendo-o da capa dos
jornais a menos que houvesse um grande ato de violência. (...)
Bannon conversou com Stephen Miller. “Mas que porra foi esse discurso?
Em primeiro lugar, ele só ficou andando em
círculos.”
Aquilo não era verdade. O discurso era novo ao mesmo
tempo que seguia a velha estratégia de Obama. A principal crítica de Bannon foi
em relação à falta de realismo. “Você não pode deixar o cara ali
sentado falando sobre vitória. Não vai ter vitória nenhuma.”
Trump se agarrou à retórica da
vitória. Ele tinha feito o suficiente pelos militares,
por Mattis e McMaster. Os militares haviam sido poupados do
constrangimento e não precisariam admitir a derrota.
No dia seguinte ao discurso do
presidente, Tillerson encontrou outra maneira de afirmar que uma vitória era
inatingível. Ele se dirigiu ao Talibã num comunicado à
imprensa: “Vocês não triunfarão no campo de batalha. Talvez não consigamos vencer, mas
vocês também não”.10
Xeque.”
7. Donald J. Trump, “Address to the Nation on United States
Strategy in Afghanistan and South Asia from Joint Base
Myer-Henderson Hall, Virginia”, 21 ago. 2017. Postado por Gerhard Peters e John T. Woolley, The American Presidency Project. Disponível em: <www.presidency.ucsb.edu/ws/?pid=126842>.
10. Aaron Blake, “Rex Tillerson
Totally Undercut Trump ‘We Will Win’ Rhetoric on Afghanistan”, The Washington Post, 22 ago. 2017.
“Kelly e Porter passaram várias semanas em Bedminster com o presidente
durante o recesso do Congresso em agosto. O novo chefe de gabinete era da
opinião de que a Casa Branca estava uma bagunça. Priebus e Bannon tinham agido
como amadores. Ele pretendia implantar um pouco de ordem e
disciplina por lá.
“Meio que tentamos fazer isso”,
disse Porter. Ele contou a Kelly como Priebus havia tentado
estabelecer a ordem na Casa Branca. Vários meses antes, Priebus
convocara o alto escalão do governo — McMaster, Cohn, Bannon, Kellyanne Conway
e Porter — para uma reunião numa das salas do edifício do gabinete executivo.
“Precisamos de uma estratégia”,
disse Priebus. “Quais são as prioridades? Como vamos elencá-las?” Ele foi escrevendo as ideias nos
quadros brancos que cobriam as paredes da sala de reuniões. Parecia com um Centro de
Informações Sigilosas Compartimentadas para discussões altamente confidenciais.
Estava cheia de computadores e equipamentos de
teleconferência.
As ideias surgidas naquela
reunião nunca foram levadas a sério. Com muita frequência o presidente
tomava decisões envolvendo apenas duas ou três pessoas. Não havia um processo para a
coordenação e a tomada de decisões. Caos e desordem não seriam o
bastante para descrever a situação. Era um vale-tudo. O presidente tinha uma ideia e
dizia: “Quero assinar alguma coisa”. E então Porter tinha de explicar
que, embora Trump tivesse toda a autoridade para emitir ordens executivas, por
exemplo, os poderes do presidente eram geralmente restritos por lei. Trump não tinha o menor
conhecimento de como funcionava o governo. Às vezes ele simplesmente
começava a redigir ordens ou as ditava a alguém. A tática que Porter usava desde a
época de Priebus envolvia protelar e enrolar, mencionar barreiras legais e,
ocasionalmente, remover rascunhos da mesa do presidente. (...)
No fim das contas, Porter
desenvolveu uma rotina de levar de dois a dez decretos para que ele assinasse
todos os dias. Trump gostava de assinar. Aquilo significava que estava
fazendo coisas, e ele tinha um estilo particular de escrever com um pincel
atômico preto que dava à sua assinatura um ar autoritário.”
“Trump estava determinado a impor tarifas de importação sobre o aço. “Olha”, disse Trump, “vamos
tentar. Se não der certo, a gente volta atrás.”
“Sr. presidente”, disse Cohn, “não é assim que se faz
com a economia americana.” Como era uma aposta muito
arriscada, ser conservador era crucial. “Você só faz alguma coisa quando
tem 100% de chance de dar certo, e aí você reza feito um louco para dar certo. Você não faz nada com 50% de
certeza na economia americana.”
“Se a gente não estiver certo”,
Trump repetiu, “a gente volta atrás.”
O Nafta era outro alvo de longa
data de Trump. Ele tinha passado meses dizendo que queria sair
do acordo e renegociá-lo. “A única maneira de fazer um bom
acordo é acabar com o antigo. Não vai dar seis meses e todo
mundo vai vir correndo querer renegociar.” A teoria dele sobre negociações
era que para receber um sim você precisava dizer um não.
“Quando você acabar com ele”, Cohn
respondeu, “pode ser que simplesmente acabe. É a estratégia de maior risco. Ou ela funciona, ou você vai à
falência.”
Cohn se deu conta de que Trump
tinha ido à falência seis vezes e parecia não se importar muito com aquilo. Falência era só mais uma estratégia
de negócios. Saia do acordo, ameace acabar com ele. O verdadeiro poder é o medo.
Durante décadas, a Goldman Sachs
nunca fez negócios com a Organização Trump ou com Trump em pessoa, sabendo que
ele poderia roubar tudo e todo mundo. Ele simplesmente não pagaria, ou
processaria.”
“Cohn produziu um dossiê contendo
gráficos e tabelas elaborados no estilo da Goldman Sachs para informar o
presidente sobre impostos. Trump
não estava interessado naquilo, e não leu.
Numa reunião no Salão Oval, o
presidente queria saber quais seriam as novas faixas de alíquota do imposto de
renda para pessoa física.
“Gosto de números redondos”, ele
disse. “Dez
por cento, 20%, 25%.” Números fortes assim seriam mais fáceis de
vender.
Mnuchin, Cohn e o diretor do
Departamento de Administração e Orçamento, Mick Mulvaney, disseram que
análises, estudos e discussões precisariam ser conduzidos para avaliar os
impactos disso na receita, no déficit e na sua relação com a projeção das
despesas federais.
“Quero saber quais vão ser os números”,
disse Trump, trazendo o assunto de volta à mesa. “Acho que eles têm que ser dez,
vinte e 25.”
Ele refutou todas as tentativas
de fazer os cálculos necessários para chegar a uma resposta. Para o presidente, uma pequena
mudança nas alíquotas teria um impacto surpreendente nos impostos arrecadados
pelo Tesouro.
“Nada disso me interessa”, disse
Trump. Números fortes e redondos eram o xis da questão.
“É isso que as pessoas entendem”, ele disse. “É assim que vou vender essa
ideia.””
“Trump culpava duas pessoas em
particular. Primeiro, tinha um
desprezo especial pelo ex-presidente George W. Bush, que havia dado início à Guerra do
Afeganistão em 2001 e, depois, à Guerra do Iraque, em 2003. “Um presidente terrível”, ele disse a
Porter. “O negócio dele era fazer
guerra. Queria exercer a
influência norte-americana e espalhar a democracia por todo o mundo, mas, como
queria ser a polícia do mundo, começou todas essas guerras.” Para Trump, aquilo era imprudente, além
de errado. Muito embora tenha
tomado a decisão de mandar milhares de soldados adicionais, ele disse que não
daria continuidade ao status quo.”
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