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domingo, 23 de outubro de 2022

Maigret e o ladrão preguiçoso, de Georges Simenon

Editora: L&PM

ISBN: 978-85-254-1879-1

Tradução: Paulo Neves

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 176

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Sinopse: São quatro horas da manhã e Jules Maigret acorda com um telefonema. É Aristide Fumel, antigo colega do inspetor do 16º arrondissement, que lhe pede ajuda: o corpo de um homem não identificado foi encontrado no Bois de Boulogne.

De acordo com as novas regras da polícia francesa, o caso está oficialmente fora da jurisdição do comissário. Ignorando o regulamento, Maigret vai até o local e reconhece a vítima. Afinal, ninguém o impediria de se ocupar da morte do ladrão Honoré Cuendet, um homem que ele conhecia havia trinta anos e que era quase um amigo.


Maigret não era o único na Polícia Judiciária a sentir-se desanimado, e o diretor já falara duas vezes de sua possível demissão. Não seria preciso falar uma terceira, pois sabia que cogitavam substituí-lo.

Estavam reorganizando, como diziam. Jovens instruídos, bem-educados, oriundos das melhores famílias da República, estudavam todas as questões no silêncio de seus escritórios, em busca de eficiência. De suas sábias cogitações saíam planos miríficos que se traduziam, toda semana, em novos regulamentos.

E o primeiro ponto é que a polícia devia ser um instrumento a serviço da justiça. Um instrumento. Ora, um instrumento não tem cabeça.

Era o juiz, de seu gabinete, o procurador, de seu prestigioso escritório, que conduziam a investigação e davam ordens.

E, para executar essas ordens, não queriam mais policiais à moda antiga, os velhos “sapatos ferrados” que, como Aristide Fumel, continuavam sem saber a ortografia.

O que fazer, sobretudo quando se tratava de preencher papelada, com essa gente que aprendera o ofício na rua, passando da via pública aos grandes magazines e às estações ferroviárias, conhecendo cada bistrô de seu bairro, cada delinquente, cada prostituta, e eventualmente capaz de discutir com o inimigo usando a linguagem dele?

Agora eram necessários diplomas, exames a cada etapa da carreira, e, quando precisava pôr alguém a espionar, Maigret só podia contar com alguns veteranos da sua equipe.

Por enquanto não se desfaziam dele. Esperavam com paciência, sabendo que só lhe faltavam dois anos para a aposentadoria.”

 

 

“Era raro que Maigret falasse de sua profissão, mais raro ainda que emitisse uma opinião sobre os homens e suas instituições. Ele desconfiava das ideias, sempre precisas demais para se aplicar à realidade que, como sabia por experiência, é muito fluida.

Apenas com seu amigo Pardon, o médico da Rue Popincourt, acontecia-lhe murmurar, depois da janta, o que a rigor podiam se chamar de confidências.

Algumas semanas antes, justamente, ele se pusera a falar com um certo amargor.

— As pessoas imaginam, Pardon, que existimos para prender os criminosos e obter suas confissões. É mais uma das tantas ideias falsas que circulam por aí e às quais as pessoas se habituam de tal modo que ninguém pensar em verificar. Em realidade, nossa principal função é proteger o Estado, em primeiro lugar o governo, seja ele qual for, as instituições, depois a moeda e os bens públicos, dos particulares, e só então, por último, a vida dos indivíduos...”

 

 

“Lida, a modelo com quem o jovem Wilton casou, era uma moça excepcionalmente bonita, de origem húngara, se não me engano... Stuart Wilton se opôs ao casamento. Mas o filho casou assim mesmo e, um belo dia, teria descoberto que sua mulher era amante do pai.

“Não houve escândalo. Nesse meio, os escândalos são raros, e entre gente fina há sempre conciliação.””

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