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domingo, 13 de novembro de 2022

O que os donos do poder não querem que você saiba, de Eduardo Moreira

Editora: Civilização Brasileira

ISBN: 978-85-200-1407-3

Opinião: ★★☆☆☆

Páginas: 128

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Sinopse: Com linguagem acessível, Eduardo Moreira, que vem sendo citado por ícones das esquerdas brasileiras – como Luiza Erundina, Fernando Haddad, Guilherme Boulos e Ciro Gomes –, oferece, em O que os donos do poder não querem que você saiba, meios para que os leitores descubram por si mesmos por que ser bem informado é algo valioso – um valor real, palpável e até financeiro.

O autor oferece ferramentas para que todos possam entender como funcionam o capitalismo – “um modelo que depende intrinsicamente da desinformação em massa” – e o lucrativo mundo das finanças. Discute como o sistema manipula sentimentos ancestrais, comuns a todas as pessoas, para vender mais produtos e serviços. E também analisa o que o sistema capitalista e o socialista têm de melhor.

Sem cair em dogmatismos e fórmulas prontas, Eduardo Moreira apresenta as duras verdades que os ricos e poderosos buscam esconder com gastos astronômicos em propaganda e com a compra de influência a favor de seus próprios interesses. Desejando contribuir com a formação de um pensamento crítico, genuíno e emancipado, o autor compartilha com leitores e leitoras suas descobertas ao longo de sua vida profissional e pessoal sobre o sistema político, econômico e financeiro em que estamos inseridos.



Infelizmente vivemos em um mundo onde conhecemos muito pouco sobre aquilo que usamos, defendemos ou criticamos. Um mundo de aparências, preconceitos, propagandas e enganos. Sabemos pouco sobre o que comemos, sobre nossos investimentos, sobre as estruturas políticas e de poder, e também sobre o que queremos. E é desse universo de desconhecimento, de comportamento míope e de manada que alguns poucos se aproveitam para ter cada vez mais poder, dinheiro e meios.”

 

 

“Vamos focar agora nas pessoas que precisam de dinheiro. (...) Vamos pensar, por exemplo, em alguém que queira abrir um novo negócio. Imaginemos que essa pessoa tenha apenas metade do dinheiro de que precisará para empreender seu sonho. Só existem duas maneiras de ela conseguir a outra metade: ou pegará emprestado ou chamará alguém para ser seu sócio. No primeiro caso, precisará emitir um comprovante (um título) para que o credor (aquele que lhe emprestou o dinheiro) possa cobrar a devolução da quantia numa data futura. No caso de chamar um sócio, precisará também emitir um certificado para essa pessoa poder provar que é agora também dona do negócio – e, portanto, tem direito a uma parcela de seus resultados. O comprovante que a pessoa emite para o credor que lhe emprestou dinheiro é um título de dívida, ou título de renda fixa. E o comprovante emitido para o sócio é uma ação. Agora a notícia bombástica: TODO o mercado financeiro resume-se a somente esses dois títulos, os de dívida e as ações!

Bancos (não falei que voltaríamos a eles?) e corretoras de valores têm a função de intermediar o dinheiro que é utilizado por pessoas e empresas, e fazem isso através da emissão de dívidas (títulos de renda fixa) e da troca ou emissão de participações em sociedades (as ações). Tudo o que você faz num banco resume-se a isso. Do dinheiro parado em conta corrente até os fundos de investimentos, CDBs, negociações no Tesouro Direto e mais aquela centena de produtos aparentemente complicados – todos são ou uma dívida ou uma participação societária!”

 

 

“Títulos de capitalização são simplesmente sorteios, como as loterias, só que com prêmios ridiculamente menores. Títulos de capitalização deveriam ser proibidos por lei de serem vendidos. Pelo menos de serem vendidos como o são, apresentados como uma forma de investimento. “Compre este título de capitalização, receba seu dinheiro corrigido pela inflação e ainda concorra a 10 carros novos (ou a uma casa, um prêmio da loteria federal etc.)!” Quanta maldade fazer isso com as pessoas. Aprenda como funcionam esses títulos nas linhas a seguir e nunca mais você os comprará (ou deixará um amigo comprá-los). A mecânica é simples e funciona assim: a taxa de juros da maioria dos países é maior do que a inflação, e a diferença entre as duas taxas é o que chamamos de juro real, ou seja, quanto você ganha de verdade em poder de compra, caso invista nos títulos de renda fixa do governo. Por exemplo, imagine que a taxa básica de juros da economia brasileira seja de 12% e a inflação seja de 7% – a taxa de juro real é de 5%. Quando você investe em um título de capitalização de um banco, ele lhe paga os 7% desse nosso exemplo, referentes à inflação. E, com os 5% que sobram, compra alguns poucos carros ou bilhetes de loteria para sortear entre os desinformados compradores dos títulos. E todo o resto do dinheiro embolsa como lucro. Títulos de capitalização não são investimentos, são sorteios da pior qualidade! Se, em vez de comprar títulos de capitalização, você investir o dinheiro em títulos do governo e fizer suas apostas toda semana diretamente na loteria federal, por exemplo, seu dinheiro renderá muito mais, e, caso você ganhe o sorteio, o prêmio será muito melhor do que as migalhas que o banco vai lhe dar. Não gaste sua sorte por tão pouco.”

 

 

“Quando você coloca seu dinheiro em um banco, imagina que o risco de perdê-lo é igual ao risco de o banco quebrar, mas, na maioria das vezes, esse raciocínio é absolutamente equivocado. Bancos são apenas grandes cofres. Se o dinheiro está parado na sua conta corrente sem estar aplicado em lugar algum, esse raciocínio é verdadeiro; ou seja, se o banco quebrar, você perde seu dinheiro e, portanto, deveria sempre buscar o banco de maior solidez (que não necessariamente é aquele que faz mais propaganda). No entanto, na maior parte do tempo, seu dinheiro não está parado na conta corrente, mas aplicado em algum investimento. E, em boa parte desses casos, pouca diferença faz o banco em que você está: importa mesmo o investimento em si!

Vamos a um exemplo prático, os fundos de investimento. Poucas pessoas sabem, mas fundos de investimento são pessoas jurídicas, com CNPJ próprio, diferente dos bancos que os vendem. O que isso quer dizer? Que, quando você investe em um fundo, seu dinheiro deixa aquele banco e vai para outro lugar! E, a partir desse momento, seu risco passa a ser equivalente aos investimentos que estão sendo feitos dentro do fundo.

Supondo que você esteja no banco mais sólido do país e, segundo a sugestão de seu gerente, investiu no fundo que tem títulos de empresas ruins à beira da falência, você pode perder todo o seu dinheiro e o banco não terá responsabilidade alguma de ressarci-lo. Aconteceu isso há pouco tempo no Brasil com muitos fundos de ações distribuídos por grandes bancos, que tinham participações em empresas que tiveram seu valor dizimado a quase zero. Os fundos sofreram e seus investidores perceberam que pouco adiantou terem escolhido com tanto cuidado o banco em que depositaram seu dinheiro. Da mesma forma, se você está em um banco ou empresa financeira menor, mas investe em um fundo com bons ativos, essa empresa pode ter problemas, mas você estará protegido porque seu dinheiro não está mais lá, está no fundo.

Pensem o que isso significa. Se bancos têm fundos de investimento que rendem menos do que as empresas menores, e o risco dos dois é o mesmo (ou bem semelhante), qual seria a reação imediata e sensata de todos? Tirar todos seus investimentos dos bancos grandes e transferi-los para os que são focados em investimentos. O que seria um desastre para os grandes bancos. A solução? Vender a falsa impressão de que é tudo uma coisa só, e que você só está “seguro” de verdade ali. E tome de bicicleta nas ruas. É por isso que em países desenvolvidos, onde a população tem uma melhor educação financeira, 95% das pessoas chegam a ter seus investimentos fora dos grandes bancos. No Brasil, só 5% conseguiu escapar de suas armadilhas.”

 

 

“Bancos (a maioria deles) cobram inúmeras tarifas de seus clientes e quase todas fora dos fundos. E, curiosamente, as pessoas não descontam esses gastos daquilo que ganharam nos investimentos. Deveriam! Quando o fizerem, vão perceber que provavelmente estariam mais bem servidos guardando dinheiro no colchão do que deixando nos bancos. Parece um exagero, uma loucura falar isso, mas até um determinado valor é a mais pura verdade.

Há pouco tempo fiz essa conta para uma das colunas que escrevo num dos grandes sites de economia e negócios do país, e o valor era acima de 100 mil reais. Ou seja, para qualquer valor menor do que esse, você estaria mais bem servido deixando o dinheiro parado no cofre de casa do que aplicado no fundo do banco – dado que as tarifas corroeriam mais do que você ganharia de juros reais. Como num truque de mágica, os bancos conseguem fazer seus clientes não prestarem atenção nos mecanismos que criam para ganhar o seu dinheiro.

Recentemente o país parou em protestos porque os transportes públicos iriam ter suas tarifas aumentadas em alguns centavos. Não entendo como não param o país para protestar contra o fato de que os cinco maiores bancos do país cobram mais de 100 bilhões de reais anualmente em tarifas! Talvez o maior imposto que a maioria da população pobre do país pague hoje seja esse, para os bancos. Claro, um imposto mascarado, não oficial, mas um tributo real e avassalador.

A caderneta de poupança mereceria uma nota, também, descrevendo por que está sempre, em qualquer condição econômica, como um dos piores investimentos disponíveis (e um dos mais lucrativos para os bancos). Em vez de escrever, porém, deixo uma pergunta ao leitor: se a caderneta de poupança fosse realmente um bom investimento para as pessoas, precisaria de tanta propaganda e haveria tanto interesse em ser vendida pelos bancos? Façam seu dever de casa e descubram.”

 

 

“O capitalismo sobrevive somente em função da propaganda que faz dele o que não é. Mais propriamente dito: da propaganda de um sistema que oferece a todos (os que se dedicarem bastante) a oportunidade de um dia se tornarem ricos e felizes. E é eficiente como ninguém mais vendendo essa ideia. (...)

Partindo de uma análise simplista (depois pretendo sofisticá-la um pouco), não me parece razoável imaginar que o sistema que torna os oito indivíduos mais ricos do mundo detentores da metade da riqueza de toda a população mundial (quase 4 bilhões de pessoas) tenha qualquer chance de ser justo. “Mas o mundo não é todo capitalista e essa comparação mistura alhos com bugalhos ao colocar todos países e sistemas num bolo só” – diriam alguns, já partindo para a defesa. É verdade, mas os oito mais ricos e a maior parte dos 4 bilhões mais pobres estão em países capitalistas.

Imaginar como um sistema assim pode ser estável é, antes de tudo, filosoficamente intrigante. Costumo comparar o capitalismo com aqueles sabonetes que trazem no rótulo a mensagem de que matam 99% das bactérias e germes. Imagine todas as bactérias defendendo o uso desse sabonete! É exatamente assim que funciona o capitalismo. Incrível!

E a comparação com o sabonete é ótima para mostrar a primeira grande artimanha publicitária desse sistema. O capitalismo usa o 1% das bactérias que sobrevivem como seus garotos-propaganda! Pronto, se elas sobrevivem é porque o sistema dá chances. Assim, ele tira a responsabilidade da desigualdade e concentração de renda do sistema... e a joga para as pessoas.

Funciona assim: “Seu Zé era ajudante de pedreiro quando pequeno. Morava com os pais num casebre de uma favela na cidade e fazia somente uma refeição por dia. Mas Seu Zé nunca deixou de ser otimista. Trabalhava de dia e estudava de noite, porque sonhava um dia ser alguém na vida. Aos 16 anos, abriu seu primeiro negócio. Trabalhava nos fins de semana e sempre investiu o dinheiro que ganhava no seu negócio, acreditando que um dia seria grande. Hoje, ele é dono de uma empresa com 3 mil funcionários e fatura 100 milhões de reais por ano”. Pronto: se o Seu Zé, um representante do 1% das bactérias sobreviventes, conseguiu é porque o sistema é meritocrático e justo! Quanta ingenuidade acreditar que é assim que funcionam os sistemas quando a realidade é tão diferente.

Em primeiro lugar, as pessoas esquecem que existem milhares, talvez milhões de pessoas, que, assim como Seu Zé, também estudaram e trabalharam de maneira correta e incansável, mas simplesmente não chegaram lá. Seu Zé é somente uma excrescência incrivelmente útil ao sistema capitalista. Matematicamente falando, é como se as pessoas estivessem confundindo causa e efeito, imaginando que todos que fazem como Seu Zé têm sucesso, quando a verdade é que os pouquíssimos que tiveram sucesso talvez tenham feito o mesmo que Seu Zé. Este é um erro comum, que numericamente pode ser descrito e compreendido na matemática pelo Teorema de Bayes.

Em segundo lugar, ninguém compara o que todos os outros que já eram ricos fizeram com o que foi preciso Seu Zé fazer para se tornar rico, para ver se realmente existiu qualquer traço de justiça no processo. Afinal, não basta que Seu Zé tenha se esforçado muito para se tornar rico e bem-sucedido. Para que o sistema fosse justo, esta deveria ser a realidade da maior parte dos que são ricos. Nada passa mais longe disso do que a realidade no capitalismo. As horas de trabalho, de estudo e de esforço dos mais pobres é infinitamente maior, na média, do que aqueles que ocupam o topo do sistema. Por isso a análise dita meritocrática é realizada sempre e somente com os que “chegaram lá” e nunca com os que estão lá.

A dura realidade é que a maioria das pessoas que estão nas camadas de cima da pirâmide social têm conhecimento, habilidade e esforço “médios”: são medíocres. Se, num passe de mágica, todos virassem pobres e tivessem de começar a vida do zero, a avassaladora maioria permaneceria pobre até o resto de seus dias, sem conseguir escapar das camadas mais baixas do cruel funil do capitalismo. Não tentem me convencer, portanto, de que esse sistema é meritocrático. A não ser que nascer rico seja um grande mérito.

Mas o fenômeno de Seu Zé não para por aí, e é por isso que personagens como ele são a essência da estabilidade política do capitalismo. Ele faz com que toda a base da pirâmide, os milhões de pobres e miseráveis, defenda seu maior algoz. Vendo de fora, é uma das coisas mais esdrúxulas e difíceis de entender – pessoas exploradas, massacradas, esmagadas por um sistema que, mesmo assim, são capazes de defender. Insisto: isso acontece porque Seu Zé faz com que todos os outros acreditem que também será possível para eles chegar lá um dia.

Falar para as pessoas que estão na base da pirâmide sobre um sistema com uma distribuição de renda mais justa e equilibrada – algo que talvez signifique menos indivíduos com iates de 100 pés, casas de 2 mil metros quadrados e aviões particulares – soa como se estivessem tirando dessas pessoas a chance de um dia conquistar tudo isso. Como se um dia fossem fazê-lo! As estatísticas são tão desfavoráveis que se pode afirmar que nunca irão!

A (falsa) esperança é portanto a base política do capitalismo. Difícil não concordar com Nietzsche que a esperança, olhada sob esse prisma, seja um dos maiores males do homem, por prolongar seu sofrimento. Percebam como a indústria que vende esperança é forte, reparem quantas coisas baseiam-se exclusivamente nela. As religiões, as loterias, os jogos de azar, os investimentos de risco e tantos outros exemplos estão à nossa frente.”

 

 

“O capitalismo sempre será o sistema no qual pobres trabalham para ver o resultado de seu esforço refletido na melhoria da vida alheia, nesse caso a dos ricos. Não se trata de uma afirmação genérica, estudantil ou midiática. Trata-se de um fato concreto, mensurável e passível de prova. Somos iludidos pelo famoso conceito criado por Adam Smith em seu livro A riqueza das nações de que existe, no capitalismo, uma mão invisível que orienta e distribui os recursos de uma forma ótima.

Sorte para o sistema que essa mão é invisível, pois, na hora em que as pessoas forem capazes de vê-la, o sistema tenderá à ruína.”

 

 

“Por fim, é curioso ver como funciona, na prática, a ideologia pregada pelos participantes do sistema financeiro, aquela que defende a livre competição e a meritocracia como pilares fundamentais de um modelo justo – ideologia, aliás, que é representativa de toda a elite capitalista. Em todas as últimas grandes crises do setor financeiro mundial, os grandes bancos, prestes a quebrar, foram pedir socorro adivinhem a quem? Ao Estado! Aquele mesmo, que é taxado como pesado, ineficaz, desnecessário e corrupto. Mas que, no final das contas, é quem os salva. E de onde vem o dinheiro? Bem, fica como lição de casa deste capítulo para o leitor. (Se tiverem dificuldade em descobrir, revejam o caso dos planos de saúde.)

O fato é que os integrantes do topo da pirâmide são capitalistas quando se trata dos ganhos, mas socialistas para suas perdas!

Existe uma frase famosa, utilizada por banqueiros ao redor do mundo em referência aos grandes bancos. Dizem que são “too big to fail”, ou seja, muito grandes para ir à falência. Sabem – com a certeza de estarem olhando um dado, e não uma variável do sistema – que, se esses bancos passarem por qualquer dificuldade séria que implique o risco de quebrar, o Estado os salvará. E vêm com a velha explicação de que é melhor para todos que assim seja feito, pois a quebra de um grande banco seria ainda mais prejudicial para toda a população do que os custos estatais para ajudá-lo.

Pode ser que o motivo seja legítimo e verdadeiro. Mas isso não tira em nada a força do ponto. Bancos, assim como a elite capitalista, insisto, são capitalistas no sucesso e socialistas na derrota. A crise de 2008 foi incrivelmente didática nesse sentido. Bancos fizeram operações de empréstimos imobiliário muito acima do que seus balanços permitiriam dentro de um limite seguro e razoável. Ganharam muito dinheiro das pessoas durante um bom tempo. Como todo dinheiro ganho, deveriam entender que havia também riscos associados.

Num certo momento, o mercado virou, e muitas pessoas passaram a não pagar suas dívidas aos bancos. Quando eles se viram em dificuldade e com prejuízos enormes, a quem foram pedir ajuda? Aos governos! E os empréstimos “podres” que tinham em seus balanços foram transferidos para os balanços de seus governos – o que aumentou muito o nível de endividamento e consequentemente o custo do Estado para pagar suas dívidas. Além de o governo ter uma dívida que aumentou, as novas emissões de títulos (necessárias para honrar as que iam vencendo) eram feitas a taxas cada vez maiores, dado que sua qualidade de crédito havia se deteriorado com a piora das contas públicas desses países.

Qual foi a solução para estes governos? Implementar políticas fiscais que aumentaram a arrecadação (impostos), cortaram gastos sociais (benefícios para todos) e diminuíram o crescimento. Quem pagou a conta? Todos, mas, como nas sociedades capitalistas, “todos” são na maioria os pobres e a classe média, então foram os dois últimos grupos que pagaram a maior parte. Esse é o socialismo das perdas!

É muito duro, depois, ouvir banqueiros e empresários falarem com tanta pompa sobre privatizações e ineficiência do Estado. Matam, assim que chegam ao hospital, aquele que trouxe de volta seu corpo baleado de dentro das linhas inimigas. Verdadeiros traidores, hipócritas e covardes.”

 

 

“A única mão que existe na hora de distribuir recursos e renda no sistema capitalista é a dos donos dos bancos e dos meios de produção. É um sistema baseado no lucro, e o objetivo é sempre maximizá-lo. A melhor definição da filosofia capitalista é a dada pelo personagem Gordon Gekko, interpretado por Michael Douglas no filme Wall Street – O dinheiro nunca dorme, 2010. Quando outro personagem descobre a fortuna de Gekko e pergunta-lhe quanto ele deseja ter como objetivo, sua resposta é: “Mais!”.”

 

 

“O argumento de que a riqueza gerada será tão grande que beneficiará também os empregados, refletindo em salários mais altos e maiores benefícios, é, no mínimo, moralmente discutível. Uma boa metáfora seria a de um rapaz saindo de um supermercado em uma região muito pobre cheio de sacolas com compras. Propõe-se, então, que a solução para a pobreza da região seja dar ainda mais sacolas para aquele rapaz porque aí, inevitavelmente, ele não conseguirá carregá-las e, assim, algumas compras cairão no chão, beneficiando os outros. Conferir aos pobres, como política, a sobra e o resto me parece de uma maldade ou insensibilidade tremendas.

Erram os que criticam o capitalismo citando os conflitos de interesse que ele gera. Como os que dizem que a mídia tem como conflito informar e ao mesmo tempo dar lucro para seus acionistas. Ou que os médicos têm de cuidar com atenção, mas ao mesmo tempo atender muitos pacientes para ganhar salários maiores. Ou, ainda, que as escolas privadas têm de buscar atividades extracurriculares que sejam importantes para a formação pessoal e cívica dos alunos, mas, ao mesmo tempo, devem buscar aquilo que tenha apelo de venda. Não existe conflito de interesse nenhum. O interesse é sempre um só: o lucro.

A afirmação anterior não é radical, acredite. Pode ser muito dolorida, mas não é radical. Analise as decisões de empresas, profissionais liberais e mesmo de pessoas que estão ao seu redor e perceba como é sempre assim. Quando parece não ser, é pela limitação imposta por leis, ou para não denegrir a imagem e, consequentemente, não prejudicar futuros lucros.

É tola e ingênua, por exemplo, a ideia de que um canal de televisão privado vá montar sua grade e pautar seu noticiário em cima do que é educativo, construtivo e informativo – sem viés comercial ou interesses. Além de existirem contas a serem pagas no final do mês, esses canais são empresas que têm donos, que por sua vez querem “mais”.”

 

 

A verdade é que o ser humano se tornou definitivamente um bicho esquisito. Entre todas as espécies do reino animal, somos a única que passa a vida inteira com um único objetivo: mudar sua vida. Todos os outros animais passam seu tempo buscando viver a vida. Nossa cruzada é aparentemente sem fim, similar a uma caçada em direção ao horizonte, numa corrida na qual cada vez estamos mais velozes, mas o destino final parece simplesmente não se aproximar.”

 

 

“Vale a pena frisar que os vestibulandos admitidos pelo regime de cotas ocupam as vagas dos últimos colocados na competição normal. E esses vestibulandos serão os primeiros colocados do regime de cotas. Ou seja, negar aos que conseguiram se destacar como melhores de uma parcela da população injustiçada vagas que seriam ocupadas pelos últimos colocados (entre os aprovados) da parcela da população que tem melhores condições é negar o mínimo de mobilidade social assistida aos que merecem uma chance. Por fim, vale lembrarmos que “cotas” para quem tem dinheiro também existem, representadas por milhares de faculdades privadas nas quais quem tiver condições de pagar será automaticamente aprovado e pode assim continuar sua busca por conhecimento.”

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