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domingo, 23 de outubro de 2022

Economia do desejo: a farsa da tese neoliberal, de Eduardo Moreira

Editora: Civilização Brasileira

ISBN: 978-85-2001-393-9

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 96

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Sinopse: Depois dos best-sellers Desigualdade e O que os donos do poder não querem que você saiba, em Economia do desejo, Eduardo Moreira revela por que é insustentável economicamente a ideia de que o Estado deve se preocupar mais com a economia do que com o atendimento das necessidades básicas dos cidadãos. Para isso, ele conceitua o que é a economia do desejo: aquela que trabalha com a falta incessante, que inclusive é responsável pelo alto consumo de supérfluos por determinada parcela da sociedade, enquanto outra parcela ainda está em situação de pobreza ou na linha abaixo da pobreza. Segundo o autor, para que o Brasil se torne um país sem pobreza, é necessário haver um passo em direção à economia da necessidade. Assim, as necessidades básicas de todos serão atendidas e a economia se tornará mais forte.



Infelizmente, existe uma enorme distância entre o discurso esperançoso dos economistas neoliberais e a realidade vivida pela maior parte da população mundial. Apesar de, realmente, ter havido uma diminuição relevante do número de pessoas que vivem na extrema pobreza (as que recebem menos de US$ 1,90 por dia) ao longo das últimas décadas — fato celebrado também por instituições como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e outros notórios defensores das políticas de livre mercado e Estado mínimo —, a parcela da população mundial que vive em situação de pobreza (a que recebe menos de US$ 5,50 por dia) é ainda assustadora,2 pois representa quase 50% da população mundial, ou quase 4 bilhões de pessoas.

Mesmo os avanços registrados no caso da diminuição das taxas de extrema pobreza não deveriam ser comemorados ou associados ao “sucesso” do modelo capitalista. E são vários os motivos que levam a essa conclusão. Primeiro porque aconteceram em um ritmo absolutamente desproporcional ao aumento da produção da riqueza mundial (e em muitos casos sem correlação com ele). Um simples cálculo pode demonstrar que o mundo não suportaria a geração de riqueza necessária para, com o modelo capitalista de distribuição de riqueza, acabar com a pobreza. Basta observar que da década de 1960 à década de 2010 a quantidade de riqueza gerada no mundo (PIB Global), já descontada a inflação do período, multiplicou-se por mais de 8 vezes (800%). Se, mesmo multiplicando a quantidade de riqueza gerada no mundo por tantas vezes (o que levou a vários recursos naturais darem sinais claros de esgotamento), temos ainda metade da população vivendo em situação de pobreza, como imaginar um mundo capaz de oferecer os recursos naturais necessários para tirar toda a população dessa situação?

 

Fonte: https://www.worldometers.info/gdp/

 

Fonte: www.researchgate.net/figure/Global-poverty-pyramid-Prahalad-2009_fig3_325704218

 

Pirâmide global de riqueza

Uma visão geral de distribuição de renda (US$)

 

Fonte: www.statista.com/chart/11857/the-global-pyramid-of-wealth/

Em segundo lugar, é importante destacar que boa parte das pessoas que têm saído da situação de extrema pobreza ao longo das últimas décadas é de chineses; são de um país com um modelo econômico diferente do defendido pelos economistas neoliberais, que creditam ao sucesso do capitalismo a diminuição dessas estatísticas.”

2. www.worldbank.org/en/topic/poverty/overview

 

 

O que é maximizado no sistema capitalista não é “utilidade”, esse conceito abstrato, difícil de ser definido, mas relacionado sempre a algo positivo. Aliás, essa correlação justifica o uso do termo e sua capacidade de convencimento de que, quanto maior a utilidade, melhor para todos, chancelando assim toda a lógica do sistema. O que é maximizado no sistema capitalista é o desejo! Não a necessidade! E existe um motivo claro para que assim seja. Tão claro que vem há milhares de anos sendo repetido por todos aqueles que se aventuraram na caminhada espiritual. Mas que parece ter passado despercebido por Marshall, dado que em seu texto comete um deslize enorme bem no final do parágrafo, quando diz “para preencher ou satisfazer seu desejo”. Isso porque, por definição, desejos não podem ser satisfeitos. Necessidades podem. E como o preço será sempre função da vontade de ter mais de alguma coisa para poder adquirir a tal “utilidade marginal”, uma economia que incentiva lucros focará exclusivamente em desejos, esse pote sem fundo, impossível de ser preenchido, ao passo que, se focasse nas necessidades, jamais maximizaria seus lucros.”

 

 

“O papel do Estado como realocador reside em escolher de quem irá tirar riquezas, para quem irá entregar e qual legado deixará como resultado. E, em cada um desses passos, existe a possibilidade de promover a economia da necessidade, ou de abdicar a ela, e de frear ou estimular a economia do desejo. Vejamos um exemplo bem simples.

Imaginemos que um Estado resolva recolher compulsoriamente R$ 1 bilhão das pessoas que vivem sob sua tutela, através de impostos (que tem esse nome exatamente por não serem uma opção, serem uma imposição). Começa aí o processo de escolha: atender as necessidades ou estimular o desejo das pessoas? Isso porque o Estado pode, por exemplo, tirar essa riqueza das pessoas que têm riqueza acumulada em quantidade muito acima daquilo que teriam a necessidade de ter (ricos) e redistribuí-la àqueles que estão com as necessidades mais básicas não atendidas (pobres), ou pode, mesmo parecendo cruel e desumano, tirar daqueles que sequer têm essas necessidades atendidas, para entregar essas riquezas manchadas com sangue e sofrimento aos que não farão qualquer uso dela, senão acumular ainda mais poder e saciar momentaneamente ainda mais desejos supérfluos.”

 

 

“Infelizmente os governantes têm dificuldade de entender que as ações e os investimentos do governo são um enorme instrumento de redistribuição de renda. Talvez porque seja muito mais fácil propagandear o legado de um governo do que o seu “gasto”, este visto pela população, a mesma que personifica o Estado, como desperdício de dinheiro, recursos que somem em algum ralo rumo ao desconhecido.

Uma medida prática, e que teria um impacto gigantesco na capacidade do governo atender com maior velocidade e eficiência as necessidades da população pobre, seria criar regras para somente contratar empresas que seguissem condições mínimas de redistribuição de renda. Por exemplo, empresas em que os donos tivessem de distribuir um percentual grande de seus lucros entre seus empregados, talvez 50% ou mais. Ou empresas em que a diferença entre os maiores e menores salários não ultrapassassem um valor determinado, por exemplo 30x. Empresas que tivessem políticas de remuneração e de contratação auditadas e que garantissem diversidade e iguais oportunidades para todos os grupos da sociedade. Imediatamente, contratando somente as empresas que cumprissem esses pré-requisitos, centenas de bilhões de reais “gastos” pelo governo, passariam a ser distribuídos de maneira muito mais eficiente para maximizar o acesso às necessidades básicas de uma parcela muito maior da população. E o legado continuaria existindo. A população mais pobre ganharia dos dois lados.

O que acontece hoje, infelizmente, é que fica o legado, mas o dinheiro que sai do Estado para contratar os serviços e comprar os produtos que serão utilizados vai quase todo para os donos das empresas que os fornecem. Construir uma escola pode fazer com que R$ 1 milhão vá parar nas mãos de um dono de construtora e R$ 500 mil nas mãos de cinquenta funcionários, ou pode fazer com que R$ 1 milhão vá parar nas mãos de cinquenta funcionários e R$ 500 mil nas mãos de um dono. O legado é o mesmo, a escola. A distribuição de renda e o impacto social, completamente diferente. É assim que o Estado pode exercer a economia da necessidade, focando no legado e no direcionamento (e distribuição final) de seus gastos.”

 

 

“Em uma de minhas viagens para morar nas comunidades pobres do país, pude presenciar um exemplo incrivelmente didático de como muitas vezes contratar um serviço mais barato para o governo pode representar uma economia numa planilha de Excel e um desastre em termo de condições de vida para a população.

Era um quilombo no interior de país. Uma pequena comunidade, com quase 400 anos de história de resistência, onde a principal atividade econômica era o plantio de bananas. Durante vários anos consecutivos, na segunda metade da década de 2000, a comunidade viveu uma melhora constante na condição de vida de seus moradores. Tudo resultado de novos programas de governo que haviam sido implementados para a aquisição e distribuição, em todo o país, de alimentos da agricultura familiar e de pequenas comunidades que vivem dessa atividade. Através dos programas, o governo garantia que compraria desses pequenos agricultores uma quantidade definida de sua produção, a um preço também definido. Os alimentos eram distribuídos para pessoas em situação de miserabilidade, para merenda escolar, para hospitais e outros usos condizentes com a lógica da economia da necessidade.

Como tinham previsibilidade sobre os recursos que receberiam ao longo do ano, essas comunidades passaram a planejar seu desenvolvimento, construindo por conta própria creches, escolas, postos de saúde e melhorando gradativamente sua infraestrutura. Sabendo que poderiam contar com os recursos das vendas garantidas pelo governo, as comunidades vizinhas passaram a se reunir em feiras para trocas de sementes e passaram a fazer intercâmbio de seus moradores com o de outros grupos para aprender as técnicas de produção que mais deram certo. Passaram também a não precisar mais caçar animais nem degradar o meio ambiente para dele extrair recursos para sua sobrevivência.

Até que assumiram novos governantes, adeptos da tese neoliberal. Aqueles que acreditam que a competição e o lucro são os maximizadores da utilidade de um grupo. Os mesmos que olhavam para uma planilha e viam milhões de reais sendo gastos com alimentos! Veja bem, com os alimentos não era gasto nada. Nenhum pé de alface, cacho de banana ou folha de couve recebeu um real sequer. Parece piada, mas não é, é assim mesmo que as pessoas imaginam os gastos do Estado. Quem recebia o dinheiro todo “gasto” pelo Estado eram as pessoas dessas pequenas comunidades, todas elas pobres e com carências em suas necessidades básicas. E eis que os novos governantes tiveram uma ideia “brilhante”. Para que garantir um preço de compra para esses agricultores, isso é estúpido!, provavelmente pensaram. Podemos gastar muito menos em alimentos se colocarmos esse pessoal para competir! Vamos passar a comprar esses alimentos por um processo competitivo de licitação.

Pronto! Com essa ideia estúpida foram capazes de destruir tudo o que foi construído ao longo de quase uma década. Imediatamente após a medida, todas as comunidades vizinhas, que eram parceiras e amigas, passaram a ser adversárias, disputando os mesmos contratos. As feiras de trocas de sementes acabaram. Os intercâmbios entre os moradores também. Os fazendeiros da região, com maior patrimônio, acesso a linhas de financiamento muito mais baratas, mais terras (e consequente possibilidade de escalar a produção) e maquinário mais avançado, passaram a ganhar os contratos. Os moradores das pequenas comunidades passaram a deixar a comunidade — onde trabalhavam e podiam estar próximos de seus filhos e da família — para trabalhar em regimes muitas vezes de semiescravidão para esses fazendeiros. Em situação de miséria, os moradores voltaram a ter de caçar os animais e a degradar o meio ambiente para conseguir sobreviver. O caos voltou a reinar nas comunidades. Mas as planilhas de Excel mostravam que milhões de reais haviam sido economizados com os alimentos! Um desastre total, e um prejuízo incalculável para a sociedade.

Esse exemplo real mostra perfeitamente a dificuldade de as pessoas de verem os gastos do Estado como uma redistribuição de recursos. Provavelmente os governos justificarão que conseguem agora comprar mais alface e couve com as verbas públicas. Só não sabem que existem milhares de pessoas que agora não podem mais comer alface e couve porque o dinheiro passou a ir todo parar nas mãos de fazendeiros que já tinham todas as suas necessidades básicas atendidas.”

 

 

“Infelizmente o que vemos, porém, é um Estado que estimula a guerra. Um Estado com enorme comprometimento com a economia do desejo e seu impulsionador, que joga lenha para alimentar a fogueira dessa guerra. É isso que faz um Estado cuja função, como defendem os pensadores neoliberais, é estimular a iniciativa privada. Sua função deveria ser a de regular e controlar a iniciativa privada. Na verdade, e muitos me crucificarão por dizer isso, sua função deveria ser também a de frear a iniciativa privada.

Isso porque a iniciativa privada não precisa jamais ser estimulada. Sua natureza já é a de querer crescer sem limites. Se nada for feito pelo Estado, será em rumo ao maior crescimento e competição possíveis que ela marchará. E é exatamente direcionando, colocando limites e, quando necessário, freando, que o Estado deve atuar.

E o Estado pode exercer essa função de duas maneiras. A primeira delas, com um contrato social, um conjunto de leis, que cumpra essas funções. Algo bem distinto do que vemos hoje em boa parte dos países capitalistas, incluindo o Brasil, onde o Estado define leis para estimular a guerra e beneficiar aqueles que mais lucram com a economia dos desejos. Um resultado previsível ao observar que aqueles que foram eleitos para definir as regras dessa guerra são, em boa parte (normalmente em maioria), financiados e ligados aos grandes grupos econômicos. A importância de ter o comando dessas regras que moldarão a guerra (controlando-a ou estimulando-a) é tão grande, que hoje os grandes empresários passaram a financiar escolas de formação de políticos. Uma fábrica de representantes que cumpram o papel desejado de estimular a guerra que tanto lhes traz lucro.

A segunda maneira que o Estado tem para diminuir os efeitos da guerra é estimular a paz. E isso não pode ser feito através das leis. As leis servem somente para controlar a guerra. A paz só pode ser alcançada através da função de redistribuidor de riquezas e gerador de legados que o Estado tem o dever de cumprir. E é cumprindo essa função, 100% focado em suprir as necessidades daqueles que não as tem atendidas, que pode dar sua maior contribuição para uma sociedade mais justa, humana, forte e saudável. Costumo dizer que um governo que tem como foco de suas políticas os ricos (estimulando a iniciativa privada e a economia do desejo) acaba com uma nação. Um governo que tenta governar para todos (estimulando a iniciativa privada, mas também com alguma vocação social) governa para os ricos. E um governo que governa para os pobres (permitindo a iniciativa privada, controlando seus impulsos e focando suas atividades e políticas na economia da necessidade) governa para todos.

Os exemplos no mundo são fartos. Países que têm o Estado cumprindo a função de redistribuir riqueza dos indivíduos mais ricos para os mais pobres e têm seus “gastos” focados em programas sociais, criados para atender as necessidades da população, vivem uma guerra muito mais amena. Nesses países, todos os efeitos da guerra são menores. Edward Glaeser, autor já citado neste livro, nos mostra, em seu trabalho, como países que estimulam a economia do ódio são mais corruptos e têm pior qualidade de governo.

A fórmula de governar para os pobres e permitir, de maneira controlada e com limites, as atividades dos ricos, para maximizar a paz presente em uma sociedade, não é nova. Podemos olhar todos os outros rankings que trazem indicadores de “paz” de uma sociedade e verificar os países que as lideram. São sempre aqueles que conseguem atender às necessidades básicas de seus habitantes através de um processo impositivo (através de impostos que redistribuem a riqueza, e não da competição) e que tem regras claras para a iniciativa privada atuar. São os líderes nos rankings de educação, alfabetização, saúde, saneamento, menor corrupção, menores índices de violência e qualquer outro indicativo que traga informações sobre necessidades básicas atendidas e convívio pacífico dos cidadãos. Não são os mais ricos ou os que têm maior crescimento de seu PIB. Mas esses, os que focam na economia do desejo e no crescimento máximo de sua economia, raramente ocupam os primeiros lugares nesses rankings. Os Estados Unidos são um ótimo exemplo, já citado em meus dois últimos livros. Apesar de gerar mais riqueza do que qualquer outro país no mundo, apresenta péssimos indicadores de saúde, educação, corrupção e violência, quando comparado, por exemplo, à maior parte dos países europeus. Lá nos Estados Unidos, reina a economia do desejo. O Estado é um fomentador de guerras, sejam elas entre as empresas de sua economia, sejam elas contra outros países. Os recursos, apesar de absurdamente altos, são consumidos pelo pote sem fundo dos desejos e faltam em quantidades assustadoras para as necessidades de boa parte da população. Muitos se assustam ao saber que os EUA são o país com maior taxa de pobreza entre todos os 35 membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).15 No país da guerra, não é surpresa não haver paz.”

15. https://www.oecd-ilibrary.org/sites/8483c82f-en/index.html?itemId=/content/component/8483c82f-en

 

 

“Respondendo a uma pergunta outro dia, em uma de minhas palestras, disse que não acreditava que morreria num mundo melhor do que este em que vivo hoje. Provavelmente será ainda mais cruel e injusto do que é. Com mais desigualdade, sofrimento e dor. E me perguntaram então por que eu não desistia. Contei a eles então a história do peregrino que todos os anos passava por uma pequena cidade, famosa por seus governantes e empresários corruptos, e via um homem em pé no banco da praça, discursando sobre aquelas injustiças para quase ninguém. Numa dessas viagens, o peregrino não aguentou a curiosidade e foi falar com o homem. Perguntou-lhe: “Eu passo aqui todos os anos e vejo você discursando contra os corruptos e cruéis governantes da cidade. Será que não percebeu que jamais irá mudá-los?” Eis que o homem então lhe responde: “Eu sei disso. Mas no dia em que eu parar de falar é sinal de que eles terão me mudado.” Abandonar a luta é deixar-se dominar pela guerra. Não desistir é fazer a derrota impossível.

A vida é caminho, passagem, páscoa. Todas as religiões parecem concordar nisso. Dela, levamos somente (se é que levamos algo) a transformação pessoal que pudemos experimentar. É esse o motivo de jamais abandonar a luta. Mesmo sabendo que, estando em uma guerra, e contra o lado que tem as armas mais fortes, esta é uma opção pelo sofrimento. São João Crisóstomo, há pouco citado, dizia que, quando resolvemos lutar por uma vida mais justa, causamos três possíveis reações nos outros. A alguns inspiramos com nosso brilho dos olhos e entrega à jornada. Esses passarão também a lutar conosco. Essa é a reação que mais buscamos causar. Por outros, não seremos sequer notados, tamanho seu envolvimento em seu mundo egoico e egoísta. Existe um terceiro grupo, ainda, que irá nos atacar violentamente. É o grupo que lucra e se beneficia com as injustiças do mundo. Essa última reação, a que menos queremos ter. São João Crisóstomo, porém, nos diz que apesar de não desejada, é exatamente ao sofrer esse tipo de reação que podemos ter a certeza de estarmos acertando o alvo. E a vida é feita para acertarmos o alvo. A palavra “pecar” significa errar o alvo.

Por fim, podemos estar errados em tudo aquilo que acreditamos e defendemos. Todo este livro pode ser falho, com teses que não resistirão nem ao tempo e nem às críticas. Talvez seja até este seu destino mais provável. Foi o destino de quase tudo que foi produzido pelo homem até hoje. Mas, com o amigo Frei Betto, que muito me ajudou com uma conversa num momento de muito sofrimento nesta jornada que escolhi trilhar, aprendi algo que passei a sempre lembrar nos momentos difíceis. Disse-me ele: “Querido Eduardo. Espero que Deus lhe conceda na vida a graça que me concedeu. E que você perceba que é melhor estar errado ao lado dos oprimidos do que ter a pretensão de estar certo ao lado dos opressores.””

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