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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Grego Instrumental – José de Godoi Filho

Editora: InterSaberes
ISBN: 978-85-5972-912-2
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 226
Sinopse: Saber de fato uma língua exige não somente o domínio de seus elementos linguísticos, mas também o conhecimento de sua história e dos processos que influenciaram seu desenvolvimento. Nesta obra, apresentamos o grego antigo desde seu surgimento, indicando os eventos históricos mais relevantes em seu processo de construção e de desenvolvimento, a fim de contextualizar a explicação sobre sua estrutura linguística. Nosso objetivo principal é fornecer os conhecimentos básicos de grego antigo para que você consiga consultar textos filosóficos escritos originalmente nessa língua.

“Enquanto eu puder respirar e exercer minhas faculdades físicas e mentais, jamais deixarei de praticar a filosofia, de elucidar a verdade e de exortar todos que cruzarem meu caminho a buscá-la. […] Portanto, senhores […] seja eu absolvido ou não, saibam que não alterarei minha conduta, mesmo que tenha de morrer cem vezes.” (Sócrates)


“Infelizmente, há casos em que terceiros se apropriam de traduções diretas do grego, modificando-as e dando a elas outros significados que descaracterizam o texto original. Um exemplo disso é a frase de Sócrates “só sei que nada sei”, que, conforme elucida Avrella (2007, p. 3) em seu livro A defesa de Sócrates — diretamente do grego, seria “eu, quando de fato não sei, também não fico pensando que sei”.”


“De acordo com Nicola e Infante (Gramática contemporânea da língua portuguesa, 1995), a língua compreende um código de comunicação utilizado em determinado país. Os dialetos, por sua vez, são “falares regionais que apresentam entre si coincidência de traços linguísticos fundamentais” (Camara Júnior, Dicionário de linguística e gramática, 2009, p. 115). Tratam-se das variedades linguísticas de uma língua (maneira de falar, de escrever, variação de significados) dentro de um território ou país. Geralmente, falantes de dialetos distintos não têm problemas no processo de comunicação. Um país pode ter muitos dialetos. No Brasil, por exemplo, temos os dialetos mineiro, nordestino, gaúcho, caipira, entre outros. O conjunto de todos esses dialetos forma o português do Brasil, que é nossa língua oficial.
Os dialetos também se influenciam mutuamente e pode haver, por diversos fatores, a preponderância de um sobre os demais. Assim, um dialeto pode ganhar status de língua, algo que percebemos, por exemplo, ao avaliar o dialeto comumente falado nos telejornais. Convém salientar que um dialeto não é menos do que uma língua.”


“De acordo com a linguística, ciência que estuda a linguagem humana, a língua grega, assim como outras grandes línguas, como o latim, o armênio e o germânico, provém da grande família de línguas indo-europeias, cujas ramificações se estendem por toda a Europa e parte da Ásia (Wallace, Greek Grammar beyond the basics, 1995)
Sem entrar em detalhes de como se identifica o parentesco entre essas línguas, Rega e Bergmann (Noções do grego bíblico, 2004) exemplificam suas similaridades ao comparar determinadas palavras. Por exemplo, a palavra pai, no grego, é πατέρας (patér); no latim, pater; no sânscrito, Pita; no antigo persa, pitan no gótico, fadar; no inglês, father; e no alemão, vater. Já a palavra mãe, no grego, é (méter); no latim, mater no sânscrito, matar; no báltico, mate; no inglês, mother; e no alemão, mutter. Wallace (1995) também apresenta esse tipo de exemplo, como ao comparar três (latim), τρeïς (treis — grego) e tryas (sânscrito).
De acordo com a linguística, todas essas línguas vieram de uma mesma fonte: uma língua falada por um povo primitivo que habitava a Ásia Ocidental. Esse povo era formado por grandes famílias (tribos) organizadas pelo modelo patriarcal, que exerciam atividades agropecuárias como forma de subsistência. Esse povo, por volta do terceiro milênio, começou a se dispersar, o que teria originado vários dialetos e línguas afins. No segundo milênio, uma dessas tribos se direcionou para a Península Balcânica, dando origem aos primeiros dialetos gregos (Rega; Bergmann, 2004).”


“Diferentemente de outras formas de escrita, como os hieróglifos e os ideogramas (mandarim), a escrita alfabética deu ao povo grego a capacidade de abstração e de generalização (Chaui, Convite à filosofia, 2012).
De acordo com Chaui (2012), a escrita é um dos acontecimentos históricos que motivou o aparecimento da filosofia, visto que permitiu a expressão formal de qualquer tipo de manifestação abstrata. Por isso, costuma-se considerar o surgimento do alfabeto e o período oral e escrito (poesia e prosa) da cultura grega como peças-chave na transição da visão mítica para o pensamento filosófico — embora esses dois tipos de pensamento sempre estivessem, de certa forma, relacionados.
A literatura grega começou a se desenvolver com o aparecimento das obras de Homem (ca. século VIII a.C.), que introduziram o alfabeto grego.
No início, a escrita era utilizada por poucos em razão do analfabetismo generalizado. Seu uso era restrito aos sacerdotes, reis e escribas e às poucas pessoas que tinham acesso à educação. Contudo, o crescimento gradual da alfabetização fez surgir uma nova consciência, uma nova época mental, que prezava a busca da verdade por intermédio da abstração, da reflexão, da argumentação, da lógica e da razão, descartando-se a imposição inquestionada do mito. Isso não significa, porém, que a escrita tenha deixado de veicular conteúdo mítico.”


“Com a evolução do processo escrito, passou-se a registrar, além da prosa, a narração de fatos e pensamentos. Nesse sentido, ideias passaram a ser questionadas, tornando-se objeto de críticas, de discussão e de revisões cada vez mais depurativas, o que ajudou no desenvolvimento do pensamento crítico — conforme demonstraremos a seguir.
Conforme esclarece Alexandre Júnior (Gramática de grego 2003), a língua grega é bastante rica, motivo pelo qual influenciou decisivamente as línguas modernas, especialmente as europeias, tanto como modelo inspirador quanto como permanente veículo de cultura. Dela deriva a maior parte dos vocabulários científicos, técnicos, artísticos e intelectuais construídos ao longo da história. As obras de Platão (ca. 427 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), por exemplo, ajudaram a fundamentar boa parte da civilização ocidental contemporânea.
Além disso, a língua grega contribuiu para o registro e difusão das religiões judaico-cristãs a partir do Período Helenístico (338 a.C.-146 a.C.), tento em vista que a primeira tradução do Antigo Testamento, a Septuaginta, foi realizada para o grego koinê. Além disso, parte do Novo Testamento foi composta em grego, não em hebraico.”


“O debate também estimulou o desenvolvimento reflexivo em outras áreas, como a política, a poesia, a escultura, a arquitetura, a história, a geografia e a pintura. Por isso, muitos pensadores acabaram desempenhando mais de um papel. Por exemplo, Pitágoras era filósofo e matemático; Heródoto, geógrafo e historiador; Péricles, político, orador e estrategista; e Cleofonte, político e demagogo. Isso revela a riqueza intelectual do período, que estimulou bastante a capacidade criativa.
Dean-Jones (História ilustrada da Grécia Antiga, 2002) atribui essa revolução de pensamento, em um primeiro momento, a dois fatores: lazer e riqueza. Essas duas condições teriam permitido, para alguns jônios, tempo para pensar e refletir, algo que ficou conhecido como ócio criativo. De acordo com esse conceito, quem não precisa trabalhar duro para sobreviver, pode utilizar essa oportunidade para refletir e criar. Poetas, escritores e filósofos precisam desse tempo para conseguir produzir.
Além do ócio criativo, a sabedoria era concebida como um bem democrático, que poderia pertencer a qualquer um, não somente aos sacerdotes, como ocorria na Babilônia. A construção do saber, portanto, ocorria por meio do intercâmbio de informações com outros povos (fator comercial) e do debate aberto e público (fator político), que serviam para legitimar teorias. A isso Dean-Jones (2002) chama de quintessência do espírito grego.
Como mencionado na seção anterior, outro fator muito importante no desenvolvimento da filosofia foi o surgimento da escrita. Aranha e Martins (Filosofando, 2009) somam a esse fator o surgimento da moeda e da lei grega escrita e a fundação das pólis (cidades-estado).
A utilização da escrita democratizou ainda mais o conhecimento, pois permitiu uma abstração maior do pensamento e intensificou mais formalmente o confronto de ideias. Já o surgimento da moeda (século VII a.C.), nascida originariamente na Lídia, trouxe uma nova forma de comercialização, de noção de valor abstrato e de pensamento racional crítico. A lei escrita, por sua vez, inserida por Drácon (século VII a.C.) e, posteriormente, por Sólon e Clístenes (século VI a.C.), originou a noção de justiça para todos, derrubando o cadilho subjetivo de interpretações baseadas na suposta vontade divina e na arbitrariedade dos reis. Por fim, o surgimento das pólis fez a base da organização grega deixar de ser tribal para se tornar pública, democrática e mais justa para seus cidadãos.
Chaui (2012) acrescenta às condições históricas que promoveram o surgimento da filosofia as viagens marítimas, a invenção do calendário e o surgimento da vida urbana e da política.
Antes de a filosofia surgir entre os gregos, havia a predominância do que se chamava de consciência mítica. Tratava-se de um modo de pensar proveniente das sociedades tribais, o qual acabou sendo herdado por muitas civilizações antigas, como a mesopotâmica, a egípcia, a indiana e, claro, a grega.
De acordo com Chaui (2012), o pensamento questionador surgiu quando alguns gregos, não satisfeitos com as explicações de suas tradições, começaram a se perguntar sobre o mundo e as pessoas. Isso motivou a busca por respostas e, consequentemente, a construção do pensamento racional. É válido ressaltar que o mito não desapareceu com o surgimento da filosofia nem deve ser encarado como um mal. Conforme elucidam Aranha e Martins (2009), o pensamento mítico existe até hoje e tem um papel fundamental em várias áreas, como na arte e na religião. Trata-se de uma maneira de explicar a realidade por meio do desejo, do medo e do mistério quando ainda não se tem uma explicação racional dos fatos. As autoras ainda alertam para o perigo de se preterir o mito em favor de um posicionamento exclusivamente positivista, que vê a ciência como a única maneira válida de interpretação da realidade. Essa visão contribui para a construção do mito do cientificismo, um reducionismo que desconsidera as limitações da ciência. Além disso, Francis McDonald (citado por Aranha; Martins, 2009) elucida que a filosofia nascente, a jônica, apresentava vínculos com o mito.
Antes do surgimento da escrita, os antigos mitos gregos eram veiculados oralmente pelos poetas ambulantes. Homero é um ícone dessa época, pois além do registro escrito de suas epopeias Ilíada e Odisseia, acredita-se que ele também tenha sido um poeta oral. Também acredita-se que o poeta Hesíodo (ca. 750 a.C.-650 a.C.) tenha misturado em suas poesias a teogonia* e cosmologia**.
O rompimento dos pensamentos mítico e filosófico ocorreu gradativamente, até surgir, de fato, uma mentalidade com:
• tendência à racionalidade [...];
• tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas, isto é, colocado um problema, sua solução é submetida à análise, à crítica, à discussão e à demonstração [...];
• exigência de que o pensamento apresente suas regras de funcionamento [lei universal do pensamento];
• recusa de explicações preestabelecidas [...];
• tendência à generalização [...]. (Chaui, 2012, p. 33)
Nas sociedades gregas, esse rompimento ocorreu mais rapidamente do que em outras civilizações, embora o mito nunca tenha, de fato, desaparecido. Na mesma época da hegemonia da cultura grega, outros povos tinham grandes e famosos sábios (como Confúcio e Buda), mas seus ensinamentos estavam mais ligados à religião do que à reflexão filosófica. Provavelmente essa realidade motivou a concepção da filosofia como milagre grego, não como um processo longo de transição, conforme elucida Aranha e Martins (2009).
Chaui (2012) destaca sete ideias básicas para definir o legado filosófico dos gregos para o mundo ocidental:
• leis e princípios universais;
• ordem necessária à natureza;
• conhecimento das leis;
• operação do pensamento obedecendo princípios, leis, regras e normas universais;
• vontade livre nas práticas humanas;
• necessidade de acontecimentos naturais e humanos;
• aspiração humana pelo conhecimento verdadeiro.
Todo esse legado coincide com os grandes temas com que a filosofia tem se ocupado até a atualidade. Kleinman (2014, Tudo que você precisa saber sobre filosofia, p. 7, grifo do original) resume da seguinte maneira esses temas:
metafísica (o estudo do universo e da realidade), lógica (como criar um argumento válido), epistemologia (estudo do conhecimento e de como o adquirimos), estética (o estudo da arte e da beleza), política (o estudo dos direitos políticos, do governo e o papel dos cidadãos) e ética (o estudo da moralidade e de como cada um deve viver).”
* Explicação mitológica sobre a origem dos deuses.
** Teoria racional sobre a origem do cosmos.


Tales de Mileto, além de ter sido o primeiro filósofo, também é considerado um dos sete sábios da Grécia — visto que também foi matemático e astrônomo. Foi ele que teorizou pela primeira vez a água como elemento que tudo une; que formulou o teorema de que dois triângulos são iguais quando apresentam um lado igual entre dois ângulos iguais, que ficou conhecido como Teorema de Tales; que calculou a altura de uma pirâmide tendo por base a própria sombra; e que previu um eclipse solar.
Pitágoras (ca. 570 a.C.-500 a.C.) também era filósofo e matemático. Em razão de suas contribuições para as ciências exatas, como o Teorema de Pitágoras, o desenvolvimento da tábua de multiplicação, o sistema decimal e de proporções aritméticas e a geometria, é considerado o pai da matemática.
Heródoto (985 a.C.-425 a.C.) foi o historiador que narrou a invasão persa na Grécia (Guerras Médicas — 499 a.C.-449 a.C.), registrada na obra As histórias de Heródoto. Essa obra foi reconhecida como uma nova forma de literatura, diferente das crônicas e obras épicas. Em razão de suas contribuições, é considerado o pai da história.
Hipócrates (460 a.C.-370 a.C.) foi um médico proveniente de uma família que trabalhou por várias gerações na área da saúde. Apesar de ter praticado a medicina muito tempo depois do egípcio Imhopet, o modo como lidava com a medicina era considerado inovador, visto que se desvinculava da influência do sobrenatural. É considerado o pai da medicina por ter sido o primeiro médico a encarar as doenças de um ponto de vista puramente clínico e cientifico.
Eratóstenes (276 a.C.-194 a.C.) foi um estudioso assíduo, pois dedicou-se à geografia, à matemática, à gramática, à poesia e à astronomia. Exerceu a função de bibliotecário em Alexandria. Seu apelido era Beta (segunda letra do alfabeto grego), pois era considerado o segundo melhor em várias áreas do conhecimento. Ele ficou conhecido por calcular a circunferência da Terra em 39.690 km, incrivelmente perto dos 40.075 km do cálculo atual. É considerado o pai da geografia.
Galeno de Pérgamo (ca. 129-217) foi um filósofo e médico romano, embora de origem grega. É considerado o pai da farmá-cia por seus feitos na área da saúde. Várias de suas teorias sobre o funcionamento do corpo humano (fisiologia) permaneceram até 1543-1628, quando foram superadas por descobertas novas e complementares de outros médicos.”


“Embora outros povos1 da Antiguidade, bem antes dos gregos, já tivessem estabelecido suas ideias sobre a natureza – seus fenômenos e processos naturais – por meio de áreas como a matemática, a astronomia e a medicina, os gregos foram os pioneiros no desenvolvimento do pensamento científico (Marcondes, Iniciação à história da filosofia, 2004).
Assim, podemos afirmar que a grande contribuição dos gregos para a ciência começou a ser delineada quando se passou do pensamento mítico para o pensamento racional. Um exemplo é a própria medicina de Hipócrates, cujo diferencial, conforme mencionado, era exatamente o tratamento de doenças sem levar em consideração o sobrenatural2. Antes de Hipócrates, usava-se na cura de doenças elementos mágicos (encantamentos, amuletos, orações etc.) e procedimentos naturais, como ervas, dietas e regimes. Nessa época, não havia muito interesse em se investigar o corpo humano, a doença em si e por que alguns procedimentos não funcionavam.
De acordo com Dean-Jones (2002), a medicina e a astronomia, ancoradas na filosofia natural de alguns filósofos, foram as primeiras ciências a surgirem no contexto grega De acordo com o autor, foi na medicina grega que o método científico deu seus primeiros passos em direção à observação não passiva do mundo.
A medicina se tornou ciência à medida que foi acumulando conhecimentos sobre cura, procedimentos, funcionamento do corpo e doenças. A filosofia natural, embora tenha contribuído para seu desenvolvimento, era especulativa – não havia como comprovai; naquela época, muitas das hipóteses levantadas por seus filósofos. No entanto, a medicina lidava com o corpo concreto e podia fazer experimentos e observações a respeito do que dava certo ou não. Além disso, a área já contava com alguns elementos para conduzir seus experimentos, visto que já havia dados empíricos na área da cura3. Evidentemente, muitas teorias sobre o funcionamento do corpo humano acabaram se mostrando equivocadas posteriormente, mas isso não invalida o fato de que teorias e experiências estavam sendo colocadas à prova.
A segunda ciência a se desenvolver no contexto grego, conforme mencionado anteriormente, foi a astronomia, que teria surgido no final do século IV a.C., também fundamentada na filosofia natural. Quem se destacou nessa área foi Eudoxo de Cnido (ca. 408 a.C.-355 a.C.), que explicou vários fenômenos astronômicos, como o movimento das estrelas, dos planetas, do Sol e da Lua em volta da Terra. Para chegar a essa conclusão, ele utilizou cálculos matemáticos e geométricos.
Como mencionado anteriormente, outros povos já haviam se aventurado na astronomia. Os babilônicos, por exemplo, já estudavam os fenômenos astronômicos há séculos. Ainda assim, mais uma vez, foram os gregos os primeiros a tentar explicar tais fenômenos por meio da ciência. Os babilônicos tinham interesse na astronomia apenas para efeito de previsões, dentro de um caráter místico-religioso, e não para saber como e por que esses fenômenos aconteciam. Um exemplo desse interesse é a história do nascimento de Jesus (Mateus, 1: 1-12), em que os reis magos (que possivelmente eram babilônicos) vão visitá-lo guiados por uma estrela4
1 É válido ressaltar que os gregos reaproveitaram muitos conhecimentos provenientes de outras civilizações, como a babilônica e a egípcia, tendo em vista o intercâmbio estabelecido entre elas e a civilização grega. No entanto, como destacado, essas civilizações não apresentavam uma abordagem científica, mas mística.
2 Havia uma convicção filosófica de que os deuses só podiam curar por meio das leis naturais e, portanto, as doenças podiam ser compreendidas racionalmente (Dean-Jones, 2002).
3 Com relação ao uso de métodos empíricos para se estudar um objeto de estudo, a medicina grega é a primeira das ciências a despontar.
4 Nesse sentido, é válido ressaltar que, após as diásporas judaicas, na Babilônia se estabeleceu uma das maiores comunidades judaicas do mundo antigo.


“Além das ciências, os gregos também foram pioneiros em outras áreas e atividades, como as Olimpíadas, as artes, o teatro, a arquitetura e a política.
As Olimpíadas nasceram como uma forma de trégua entre as cidades-estado. Foram realizadas de 776 a.C. até 393 d.C., quando foram proibidas pelo imperador romano Teodósio (346-395), em razão de ser um evento politeísta em homenagem a Zeus.
Tratava-se de um evento de competição esportiva realizado de quatro em quatro anos, na cidade de Olímpia. Algumas das modalidades de competição da época foram preservadas, como o arremesso de discos, a corrida, a natação, o boxe, a luta e o salto a distância. Os vencedores eram homenageados e tornavam-se heróis em suas terras natais.
Na política, guardadas as devidas diferenças ideológicas, a grande contribuição dos gregos foi a invenção da democracia (governo do povo), que contemplava os conceitos de cidadania (direitos e deveres do cidadão e do Estado) e de propriedade privada e pública (Batchelor, Os gregos antigos para leigos, 2012).”


“Não há como negar a presença do legado da cultura grega nas civilizações ocidentais. No entanto, por mais significativas que tenham sido as contribuições dos antigos gregos, no que se refere à democracia, Cartledge (História ilustrada da Grécia Antiga, 2002) adverte para o perigo da idealização. Não se pode conceber a antiga sociedade grega como um modelo ideal, em que todos desfrutavam da liberdade e da justiça.
Embora a democracia ateniense fosse fundamentada na isonomia, apenas homens atenienses, filhos de atenienses, com mais de 18 anos eram considerados cidadãos. Em outras palavras, mulheres, escravos e estrangeiros não eram considerados cidadãos e, portanto, eram desprovidos de direitos. Essa questão constitui o porão da glória dos gregos.”


“Antigamente, como mencionado, as palavras gregas eram escritas em letras maiúsculas. Além disso, as palavras eram escritas todas juntas, sem pontuação alguma.
Isso dificultava e ainda dificulta muito o trabalho de tradutores e intérpretes de textos antigos. Vários trechos do Novo Testamento apresentam esse tipo de dificuldade.
Para ilustrar essa questão, Cenatti (O alfabeto grego clássico, 2014, p. 54) apresenta uma frase do século VII a.C. inscrita no Oráculo de Delfos, lugar onde se faziam previsões. Observe a seguir como a frase ficaria sem pontuação e com as palavras todas juntas:
IDESVOLTARASNAOMORRERASNAGUERRA
Viu como a sentença fica confusa? Para facilitar a leitura no português, a frase poderia ser interpretada da seguinte maneira: “Ides, voltarás, não morrerás na guerra”. No entanto, a sentença parece não conter entonação adequada. Por isso, de acordo com os linguistas, a tradução correta é: “Ides! Voltarás? Não, morrerás na guerra”.
A pontuação veio mais tarde, a partir do século IV, com o propósito de facilitar a leitura e o entendimento das frases.”

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