Editora: Paulus
ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém
(BJ) – 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) – 978-85-349-0228-1
Tradução,
introdução e notas (BPa):
Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin
Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini
Notas (BPe): Luís Alonso Schökel
Opinião: N/A
Páginas: BPe – 698 / BJ – 492 / BPa – 376
Sinopse: Ver aqui
Livros históricos: Josué / Juízes / Rute / 1 Samuel / 2
Samuel / 1 Reis / 2 Reis / 1 Crônicas / 2 Crônicas / Esdras / Neemias / Tobias
/ Judite / Ester / 1 Macabeus / 2 Macabeus
“O
compromisso decisivo1 – Josué reuniu as tribos de Israel em
Siquém2. Convocou todos os anciãos de Israel, os chefes, juízes e
oficiais. E todos se apresentaram diante de Deus. Então Josué falou a todo o
povo: “Assim diz Javé, o Deus de Israel: Outrora, os seus antepassados, Taré,
pai de Abraão e de Nacor, habitavam do outro lado do rio Eufrates e serviam a
outros deuses. Eu, porém, tomei Abraão, antepassado de vocês, e o fiz sair do
outro lado do Eufrates para percorrer toda a terra de Canaã. Multipliquei a
descendência dele e lhe dei Isaac. Para Isaac, dei Jacó e Esaú. Para Esaú, dei
como herança a serra de Seir, enquanto Jacó e seus filhos desceram para o
Egito. Então enviei Moisés e Aarão para castigar o Egito com os prodígios que
realizei e fiz vocês saírem de lá. Tirei do Egito seus antepassados que
chegaram até o mar. Os egípcios perseguiram os antepassados de vocês com carros
e cavaleiros, até o mar Vermelho. Vocês clamaram a Javé, e ele colocou uma
densa nuvem entre vocês e os egípcios; e fez o mar voltar-se contra eles,
afogando-os. Vocês viram com seus próprios olhos o que eu fiz no Egito. Depois,
vocês habitaram no deserto por muito tempo. Do deserto, eu fiz vocês entrarem
na terra dos amorreus que habitavam na Transjordânia. Eles fizeram guerra
contra vocês, mas eu os entreguei em suas mãos, e vocês tomaram posse da terra
deles, depois que eu os destruí diante de vocês. Depois veio Balac, filho de
Sefor, rei de Moab, e guerreou contra Israel. Ele mandou chamar Balaão, filho
de Beor, para amaldiçoar vocês. Mas eu não quis ouvir Balaão: ele teve de
abençoar vocês, e eu livrei vocês das mãos dele. A seguir, vocês atravessaram o
rio Jordão para chegar a Jericó. Mas os chefes de Jericó guerrearam contra
vocês. E todos eles, amorreus, ferezeus, cananeus, heteus, gergeseus, heveus e
jebuseus, eu os entreguei em suas mãos. Mandei vespas na frente de vocês para
expulsarem os dois reis amorreus. Isso não foi feito nem com a espada nem com o
arco de vocês. Eu dei a vocês uma terra que não lhes custou nada, cidades que
vocês não construíram e onde agora vivem, plantações de uvas e azeitonas que
vocês não plantaram, e das quais vocês se alimentam.
Agora, portanto, temam a Javé, servindo-o com
integridade e fidelidade. Tirem do meio de vocês os deuses, a quem seus
antepassados serviram no outro lado do rio Eufrates e no Egito. Sirvam a Javé.
Contudo, se vocês acham que não é bom servir a Javé, escolham hoje a quem vocês
querem servir: aos deuses que seus antepassados serviram no outro lado do rio
Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, na terra dos quais agora vocês habitam.
Eu e minha família serviremos a Javé”.
Então o povo respondeu: “Longe de nós
abandonar Javé para servir a outros deuses! Foi Javé nosso Deus quem nos tirou,
a nós e a nossos antepassados, da terra do Egito, da casa da escravidão. Foi
ele quem fez esses grandes sinais diante de nossos olhos, e nos protegeu por
todo o caminho que percorremos e entre todos os povos no meio dos quais
atravessamos. Foi Javé quem expulsou de diante de nós todos os povos e os
amorreus que habitavam a terra. Portanto, nós também serviremos a Javé, pois
ele é o nosso Deus”.
Josué replicou: “Vocês não poderão servir a
Javé, porque ele é um Deus santo, um Deus ciumento. Ele não perdoará suas
transgressões e pecados. Se vocês abandonarem Javé para servir aos deuses
estrangeiros, ele se voltará de novo contra vocês, e os maltratará e destruirá,
apesar de lhes ter feito o bem”.
O povo respondeu a Josué: “Não! Nós
serviremos a Javé”. Então Josué disse ao povo: “Vocês são testemunhas contra
vocês mesmos de que escolheram servir a Javé”. O povo respondeu: “Nós somos
testemunhas”. Josué disse: “Pois bem! Joguem fora os deuses estrangeiros que
vocês têm, e inclinem o coração para Javé, o Deus de Israel”. O povo disse a
Josué: “Nós serviremos a Javé nosso Deus e a ele obedeceremos”.
Nesse dia, Josué fez uma aliança com o povo
e, em Siquém, estabeleceu para eles um estatuto e um direito. Josué escreveu
essas palavras no livro da Lei de Deus. Depois, pegou uma grande pedra e a
ergueu aí, debaixo do carvalho que está no santuário de Javé. Em seguida, disse
ao povo: “Esta pedra será um testemunho contra nós, porque ela ouviu todas as
palavras que Javé nos disse. Será um testemunho contra vocês, para que não
reneguem o seu Deus”. Em seguida, Josué despediu o povo, e cada um voltou para
a sua herança.”
(Js 24,1-28 – BPa)
1) Três partes: 1º Josué apresenta à fé dos
assistentes as intervenções de Iaweh em favor de Israel (vv.2-13; cf. as
confissões de fé de Dt 6,21-24 e 26,5-9); 2º a assembleia se pronuncia por
Iaweh contra os deuses estrangeiros (vv.14-24); 3º conclui-se a aliança e a sua
lei é escrita (vv.25-28). – Este cap. Foi acrescentado durante ou depois do
Exílio, mas a tradição que ele representa é antiga. A fé em Iaweh, trazida pelo
grupo que Josué conduziu, é proposta por ele a outros grupos que ainda não tinham
ouvido falar dela. Estes não estiveram no Egito e não se beneficiaram com as
maravilhas do Êxodo e da revelação do Sinai; contudo, não são cananeus e têm
origem comum com o grupo de Josué: trata-se de tribos do Norte que, por este
pacto, aceitam a fé em Iaweh e se tornam assim parte do povo de Deus. (BJ)
2) O final da conquista é marcado por um
grande compromisso, no qual entram grupos novos desejosos de aderir ao projeto
de Javé (cf. nota em 2,1-24). O movimento do êxodo culminou com a aliança no Sinai;
assim também o movimento de conquista da terra se encerra com a aliança em
Siquém. Após breve histórico sobre a liderança de Javé no movimento pela
liberdade e pela vida, o povo é posto diante de uma escolha e de um
compromisso: ou ser fiel a esse Deus e ao projeto dele, deixando a idolatria
dos sistemas sociais injustos; ou voltar atrás. Não há meio-termo: ou se cria
uma sociedade justa e fraterna, onde todos possam gozar a vida e a liberdade,
ou se volta a repetir um sistema social onde o povo é reduzido à escravidão e à
morte.
É provável que este texto reproduza uma
cerimônia feita periodicamente, para alimentar a consciência histórica e
sustentar a luta do povo. É importante celebrar a luta e as vitórias, a fim de
manter viva a aspiração popular, na qual se manifesta o projeto de Deus. (BPa)
“Se um homem comete uma falta contra outro
homem, Deus o julgará; mas se pecar contra Iahweh, quem intercederá por ele?”
(1Sm 2,25 – BJ)
“O esplendor de Israel não mente, nem se
arrepende, porque não é homem para se arrepender.”
(1Sm 15,29 – BPa)
“Deus não vê como os homens, que veem a
aparência. O Senhor vê o coração.”
(1Sm 17,7b – Bpe)
“O rei
justo liberta o povo dos inimigos1 – 1 Davi dedicou a Javé este
cântico, quando Javé o libertou de todos os seus inimigos e da mão de Saul. Ele
disse:
Javé é minha rocha e minha fortaleza, o meu
libertador.
Ele é o meu Deus. Nele, meu rochedo, eu me
abrigo,
meu escudo e minha força salvadora,
minha torre forte, meu refúgio,
meu salvador que me salva da violência.
Seja louvado! Eu invoquei a Javé,
e fui salvo dos meus inimigos.
As ondas da Morte me envolviam,
as torrentes de Belial me aterravam,
os laços do Xeol2 me cercavam,
as ciladas da Morte me atingiam.
Na minha angústia invoquei a Javé,
ao meu Deus lancei o meu grito.
Do seu Templo ele ouviu minha voz,
e meu grito chegou aos seus ouvidos.
A terra balançou e tremeu,
as bases do céu se abalaram,
por causa do seu furor estremeceram.
De suas narinas subiu fumaça,
e de sua boca um fogo devorador.
Dela brotavam brasas ardentes.
Ele inclinou o céu e desceu,
tendo aos pés uma nuvem escura;
cavalgou um querubim e voou,
planando sobre as asas do vento.
Envolveu-se de trevas como tenda,
de águas escuras e nuvens espessas.
À sua frente, um clarão inflamava
granizo e brasas de fogo.
Javé trovejou no céu.
O Altíssimo fez ouvir a sua voz;
atirou suas flechas e dispersou-os,
e os expulsou, lançando seus raios.
Então apareceu o leito do mar,
as bases do mundo se descobriram,
por causa da ameaça de Javé,
pelo vento soprando de suas narinas.
Lá do alto, ele manda tomar-se,
tirando-me das águas torrenciais;
e me livra de um inimigo poderoso,
de adversários mais fortes do que eu.”
(1Sm 22,1-18 – BPa)
1) 22,1-51: Com poucas diferenças, este
cântico está reproduzido no Sl 18. Trata-se de uma celebração para agradecer a
proteção de Javé e comemorar a vitória sobre os inimigos. Nesse contexto,
aparece a primeira função da autoridade: libertar o povo de seus inimigos.
(BPa)
2) Xeol é uma palavra de origem desconhecida,
que designa as profundezas da terra (Dt 32,22; Is 14,9 etc.), onde os mortos
“descem” (Gn 37,35; 1Sm 2,6 etc.), bons e maus se confundem (1Sm 28,19; Sl
89,49; Ez 32,17-32) e têm sobrevivência apagada (Ecl 9,10) e onde Deus não é
louvado (Sl 6,6; 88,6.12-13; 115,19; Is 38,18). Contudo, o poder do Deus vivo
(cf. Dt 5, 26+) se exerce mesmo nesta habitação desolada (1Sm 2,6; Sb 16,13; Am
9,2). A doutrina das recompensas e das penas de além-túmulo e a da
ressurreição, preparadas pela esperança dos salmistas (Sl 16,10-11; 49,16), só
aparecem claramente no fim do Antigo
Testamento (Sb 3,5 em ligação com a crença na imortalidade, ver Sb 3,4+; 2Mc
12,38+). (BJ)
Eventualmente a palavra Xeol é traduzida por
BPa e BPe como “Abismo”.
“Bendito sejas tu, Iahweh,
nosso Deus, de eternidade em eternidade!
E que se bendiga teu Nome glorioso
que excede toda bênção e louvor!
És tu, Iahweh, que és o único!
Fizeste os céus, os céus dos céus e todo o
seu exército,
a terra e tudo o que ela contém,
os mares e tudo o que eles encerram.
A tudo isso és tu que dás vida, e o exército
dos céus diante de ti se prostra.
Tu és Iahweh, ó Deus,
tu escolheste Abraão,
o tiraste de Ur na Caldéia
e lhe deste o nome de Abrão,
Achando seu coração fiel diante de ti,
fizeste aliança com ele,
para dar-lhe a terra do cananeu,
do heteu e do amorreu,
do ferezeu, do jebuseu e do gergeseu,
a ele e a sua posteridade.
E cumpriste as tuas promessas,
pois tu és justo.
Viste a aflição de nossos pais no Egito,
ouviste seu clamor junto ao mar dos Juncos,
Realizaste sinais e prodígios contra o Faraó,
contra todos os seus servos e todo o povo da
sua terra;
pois sabias quão arrogantes tinham sido
contra eles.
Adquiriste um renome que dura ainda hoje.
Abriste o mar diante deles:
passaram pelo meio do mar a pé enxuto.
Precipitaste nos abismos seus perseguidores,
como uma pedra em águas impetuosas.
Tu os guiaste de dia com uma coluna de nuvem,
de noite com uma coluna de fogo,
para iluminar diante deles o caminho
pelo qual andassem.
Desceste sobre o monte Sinai,
e do céu lhes falaste;
e lhes deste
normas justas,
leis verdadeiras,
estatutos e mandamentos excelentes;
deste-lhes a conhecer teu santo sábado;
prescreveste-lhes mandamentos, estatutos e
uma Lei
por intermédio de Moisés, teu servo.
Do céu lhes deste o pão para sua fome,
do rochedo fizeste brotar água para sua sede.
Ordenaste-lhes que fossem
tomar posse da terra
que havias jurado dar-lhes.
Mas nossos pais se orgulharam,
endureceram a cerviz, não obedeceram
aos teus mandamentos.
Recusaram-se a obedecer, esquecidos das
maravilhas
que havias feito por eles;
endureceram a cerviz, conceberam o plano
de voltar para o Egito, para sua escravidão.
Mas tu és o Deus do perdão,
cheio de piedade e compaixão,
lento para a cólera e cheio de amor:
não os abandonaste!
Mesmo quando fizeram para si
um bezerro de metal fundido,
e disseram: “Eis o teu Deus
que te fez sair do Egito!”
e cometeram grandes impiedades,
na tua imensa compaixão,
não os abandonaste no deserto;
a coluna de nuvem não se apartou deles,
para guiá-los de dia pela estrada
nem a coluna de fogo durante a noite,
para iluminar diante deles a estrada
pela qual andassem.
Deste-lhes teu bom espírito
para torná-los prudentes;
não recusaste o maná à sua boca
e lhes deste água para sua sede.
Por quarenta anos cuidaste deles no deserto:
de nada sentiram falta,
suas vestes não se estragaram,
seus pés não se incharam.
E tu lhes entregaste reinos e povos
cujas terras repartiste entre eles:
tomaram posse da terra de Seon,
rei de Hesebon,
e da terra de Og, rei de Basã.
Multiplicaste seus filhos
como as estrelas do céu
e os introduziste na terra aonde ordenaste a
seus pais
que entrassem para dela tomarem posse.
Seus filhos invadiram e conquistaram esta
terra
e tu humilhaste diante deles
os habitantes da terra, os cananeus,
que entregaste nas mãos deles
— seus reis e os povos da terra —
para os tratarem como quisessem;
apoderaram-se de cidades fortificadas
e de uma terra fértil;
apossaram-se de casas
repletas de toda sorte de bens,
de cisternas já cavadas, de vinhedos,
olivais,
de árvores frutíferas em abundância;
comeram, saciaram-se, engordaram,
fizeram de teus imensos bens as suas
delícias.
Mas eis que indóceis, revoltados contra ti,
desprezaram tua Lei,
mataram os profetas que os admoestavam
para reconduzi-los a ti
e cometeram grandes impiedades.
Abandonaste-os então nas mãos de seus
inimigos,
que os oprimiram.
No tempo de sua miséria, clamavam a ti,
e tu, do céu, os ouvias
e em tua grande compaixão lhes enviavas
salvadores que os libertavam das mãos de seus
opressores.
Mas logo que recuperavam a paz
ei-los de novo fazendo o mal diante de ti,
e tu os abandonavas nas mãos de seus
inimigos que os tiranizavam.
De novo, eles clamavam a ti,
e tu, do céu, os ouvias:
quantas vezes em tua compaixão os libertaste!
Advertiste-os para reconduzi-los à tua Lei:
mas se orgulharam, não obedeceram a teus
mandamentos,
pecaram contra tuas normas, mesmo aquelas
em que acha a vida quem as observa,
mostraram um ombro rebelde,
endureceram a cerviz e não obedeceram.
Foste paciente com eles
por muitos anos;
advertiste-os pelo Espírito,
por intermédio dos profetas,
eles, porém, não atenderam.
Então os entregaste ao poder
dos povos de outras terras.
Em tua grande compaixão,
não os exterminaste,
nem os abandonaste,
pois és um Deus cheio de piedade e compaixão.
E agora, ó nosso Deus,
tu que és o Deus grande, poderoso e temível,
que manténs a aliança e o amor,
não olhes com indiferença toda esta
tribulação
que se abateu sobre nós, nossos reis, nossos
chefes,
nossos sacerdotes, nossos profetas e todo o
teu povo,
desde o tempo dos reis da Assíria
até o dia de hoje.
Tens sido justo em tudo o que nos sucedeu,
pois mostraste tua fidelidade,
enquanto nós agíamos mal.
Sim, nossos reis, chefes, sacerdotes
e nossos pais não seguiram tua Lei,
nem prestaram atenção aos teus mandamentos
e às obrigações que lhes impunhas.
Logo que chegaram a seu reino,
entre os grandes bens que lhes concedias,
e na terra vasta e fértil
que puseste diante deles, não te serviram
nem se apartaram das suas ações más.
Eis que estamos hoje escravizados
e eis que na terra que havias dado a nossos
pais
para gozarem de seus frutos e de seus bens,
nós estamos na escravidão.
Seus produtos enriquecem os reis,
que nos impuseste, pelos nossos pecados,
e que dispõem a seu arbítrio de nossas
pessoas e de nosso gado.
Achamo-nos em grande aflição.”1
(Ne 9,5b-37 – BJ)
1: (...) Os vv. 5-37 são um dos textos
penitenciais mais completos e belos do Antigo Testamento. Temos aí uma revisão
de toda a história do povo, estruturada segundo a visão dialética que aparece
na história, desde a conquista da terra até o exílio na Babilônia: pecado e
castigo, conversão e graça. O centro da celebração penitencial é o
reconhecimento da verdade, e isso implica em declarar que Deus é inocente e em
reconhecer que a desgraça provém da infidelidade do povo. Toda celebração
penitencial, portanto, é momento de conversão e de volta ao projeto de Deus,
porque só em Deus é possível encontrar liberdade e vida. Se o povo de Deus não
confessa publicamente seus pecados, absolvendo Deus como único inocente, ele
acaba declarando que Deus é cúmplice de seus pecados. (BPa)
“(Tobit) Então chamou o filho Tobias, e lhe disse:
“Quando eu morrer me dê uma sepultura digna. Honre sua mãe, e não a abandone
nunca, enquanto ela viver. Faça sempre o que for do agrado dela, e por nada lhe
cause tristeza. Lembre-se, meu filho, de que ela passou muitos perigos por sua
causa, quando você estava no ventre dela. Quando ela morrer, sepulte-a junto de
mim, no mesmo túmulo.
Meu filho, lembre-se do Senhor todos os dias.
Não peque, nem transgrida seus mandamentos. Pratique a justiça todos os dias da
vida, e jamais ande pelos caminhos da injustiça. Se você agir conforme a
verdade, será bem-sucedido em tudo o que fizer, como todos os que praticam a
justiça.
Dê esmolas daquilo que você possui, e não
seja mesquinho. Se você vê um pobre, não desvie o rosto, e Deus não afastará
seu rosto de você. Que sua esmola seja proporcional aos bens que você possui:
se você tem muito, dê muito; se você tem pouco, não tenha receio de dar
conforme esse pouco. Assim você estará guardando um tesouro para o dia da
necessidade, pois a esmola livra da morte e não deixa cair nas trevas. Quem dá
esmola, apresenta uma boa oferta ao Altíssimo.
Meu filho, ame seus parentes, não se mostre
orgulhoso diante de seus irmãos, os filhos e filhas do seu povo, e escolha
entre elas a sua mulher. De fato, o orgulho é causa de ruína e muita
inquietação. A preguiça traz pobreza e miséria, porque a preguiça é mãe da
fome.
Deus o recompensará. Meu filho, seja
reservado em tudo o que fizer, e bem-educado em todo o seu comportamento. Não
faça para ninguém aquilo que você não gosta que façam para você. Não beba vinho
até se embriagar, e não deixe que a embriaguez seja sua companheira de caminho.
Reparta seu pão com quem tem fome e suas roupas com quem está nu. Dê como
esmola tudo o que você tem de supérfluo, e não seja mesquinho. Ofereça seu pão
e vinho sobre o túmulo dos justos, ao invés de dá-los aos infiéis.1
Procure aconselhar-se com pessoas sensatas, e nunca despreze um conselho útil.
Bendiga ao Senhor Deus em todas as
circunstâncias. Peça que ele guie você em todos os caminhos, e que ele faça
você ter sucesso em todas as iniciativas e projetos, pois nenhum povo possui a
sabedoria. Somente o Senhor é quem dá seus bens. Segundo o projeto dele, o
Senhor exalta ou rebaixa até o fundo da mansão dos mortos. Portanto, meu filho,
lembre-se dessas normas, e não permita que elas desapareçam de sua memória.”
(Tb 4,3-11.13b-14 – BPa)
1: Este preceito vem de Aicar (cf. 1,21+).
Tobit, entretanto, parece aconselhar a seu filho, que não faça oferta aos
mortos, costume reprovado pela Lei, mas que dê esmolas em honra deles. (BJ)
“Oferece”: em grego “derrama”, como se fosse
uma libação sobre o túmulo. A prática não é judaica e até se opõe à lei (Dt
26,14; cf. Eclo 30,18). Para salvar a frase, alguns tomam taphos como metonímia de funeral (cf. Jr 16,7). (BPe)
BJ e BPe traduzem “pecador” ao invés de
“infiel”.
“Então Rafael chamou os dois à parte e lhes
disse:
– Bendizei a Deus e proclamai diante de todos
os viventes os benefícios que vos fez, para que todos cantem hinos em sua
honra. Manifestai a todos as obras do Senhor, conforme ele merece, e não sejais
negligentes em dar-lhe graças. Se o segredo do rei deve ser guardado, as obras
de Deus devem ser publicadas e proclamadas como merecem. Praticai o bem, e
nenhuma desgraça vos atingirá. É melhor a oração sincera e a esmola generosa do
que a riqueza adquiria com injustamente. É melhor dar esmolas do que entesourar
dinheiro. A esmola livra da morte e expia o pecado. Os que dão esmola se
saciarão de vida. Os pecadores e os malfeitores são inimigos de si mesmos. Eu
vos descobrirei toda a verdade, sem nada vos ocultar. Já vos disse que, se o
segredo do rei deve ser guardado, as obras de Deus devem ser publicadas como
merecem. Pois bem, quando Sara e tu estáveis rezando, eu apresentava ao senhor
da glória o memorial de tua oração. Da mesma forma quando enterravas os mortos.
E quando levantaste da mesa sem duvidar, e deixaste a refeição para ir enterrar
aquele morto, Deus enviou-me para provar-te; mas enviou-me de novo para curar a
ti e a tua nora Sara. Eu sou Rafael1, um dos sete2 anjos
que estão a serviço de Deus e têm acesso3 junto ao Senhor da
glória.”
(Tb 12,6-15 – BPe)
1: Quando se pensa pagar alguma coisa a Deus,
ele revela que tudo foi dom gratuito. A grande mensagem do livro de Tobias está
no nome de Rafael, que significa “Deus cura”. Os conselhos finais do anjo
(oração, jejum e esmola) resumem os deveres da pessoa para com Deus, para
consigo mesma e para com o próximo. Tais conselhos serão retomados pelo
Evangelho. (BPa)
2: Os livros santos só mencionam três nomes
de anjos: Gabriel (Dn 8,16; 9,21; Lc 1,19), Miguel (Dn 10,13.21; 12,1; Jd9) e
Rafael (aqui e 3,17). Os apócrifos complementam a lista dos sete de modo
fantasista. Encontra-se um eco de Tb nos sete anjos do Apocalipse (Ap 8,2).
(BJ)
3: O céu é como uma corte de um soberano com
seus cortesãos. Destaca-se um conselho de sete ministros que têm acesso ao
soberano e estão à sua disposição para tarefas especiais. Outrora esses
ministros eram benê ‘elim ou benê ‘elohim (Sl 29;82). Mais tarde
tomam formas diversas: 1Rs 22,19; Jó 1,6; 2,1; 4,18; 15,15; Zc 3,1-3. (BPe)
“– Escutai-me, chefes dos habitantes de
Betúlia. Foi um erro isso que dissestes hoje ao povo, obrigando-os diante de
Deus, com juramento, a entregar a cidade ao inimigo, se o Senhor não vos mandar
ajuda dentro desse prazo. Vejamos: quem sois vós para hoje tentar Deus e vos
por publicamente acima dele? Pusestes à prova o Senhor Todo-poderoso, vós, que
nunca entendereis nada! Se sois incapazes de sondar a profundidade do coração
humano e de rastrear seus pensamentos, como ireis perscrutar Deus, criador de
tudo, conhecer sua mente, entender seu pensamento? Não, irmãos, não irriteis o
Senhor, nosso Deus. Porque, ainda que não pense socorrer-nos nestes cinco dias,
ele tem poder para nos proteger no dia que quiser, assim como para nos
aniquilar diante do inimigo. Não exijais garantias dos planos do Senhor nosso
Deus, pois ninguém intimida Deus como a um homem, nem se regateia com ele como
com um ser humano. Portanto, enquanto aguardamos sua salvação, imploremos sua
ajuda, e se lhe parecer bem, escutará nossas vozes.”
(Jt 8,11b-17 – BPe)
“Deus, ó meu Deus,
ouve-me, que sou uma pobre viúva.
Tu é que fizeste o passado,
o que acontece agora e o que acontecerá
depois.
O presente e o futuro foram concebidos por
ti,
e o que tinhas em mente aconteceu.
Teus desígnios se apresentaram
e disseram: ‘Aqui estamos!’
Porque todos os teus caminhos estão
preparados,
e teus juízos previstos de antemão.
Eis os assírios: eles se prevalecem do seu
exército,
gloriam-se de seus cavalos e de seus
cavaleiros,
orgulham-se da força de seus infantes.
Confiam no escudo e na lança,
no arco e na funda,
e não sabem que tu és o Senhor
que põe fim às guerras.1
A ti pertence o nome de Senhor!
Quebra sua força com teu poder,
despedaça seu ímpeto com tua cólera!
Porque deliberaram profanar teu santuário,
manchar a tenda onde repousa teu Nome
glorioso
e derrubar a ferro os chifres de teu altar.
Olha sua altivez,
envia tua ira sobre suas cabeças,
dá à minha mão de viúva
a valentia almejada.
Pela astúcia de meus lábios,
fere o escravo com o chefe
e o chefe com seu servo.
Quebra sua arrogância
pelas mão de uma mulher.
Tua força não está no número,
nem tua autoridade nos violentos,
mas tu és o Deus dos humildes,
o socorro dos oprimidos,
o protetor dos fracos,
o abrigo dos abandonados,
o salvador dos desesperados.2
Sim, sim, Deus de meu Pai,
Deus da herança de Israel,
Senhor do céu e da terra,
Criador das águas,
Rei de toda tua criação,
ouve tu a minha prece.”
(Jt 9,4b-12 – BJ)
1: A presunção dos pagãos, arrogantes por
causa de sua força militar, foi sempre escândalo para Israel e razão para
esperar com confiança a ajuda de Deus (cf. Hab 1,12-17; Is 30,15; 31,1-3 etc).
(BJ)
2: Reconhece aqui a religião dos “pobres”,
característica da piedade do AT (cf. Sf 2,3+). (BJ)
“Ao ver a multidão que vinha se aproximando
para enfrentá-los, os homens de Judas (Macabeu) lhe disseram: “Somos poucos.
Como é que podemos enfrentar essa multidão forte e armada? Além disso, estamos
cansados. Hoje ainda não comemos nada”. Judas respondeu: “Não é difícil que
muitos caiam na mão de poucos. Não faz diferença para Deus salvar com poucos ou
salvar com muitos. A vitória na guerra não depende da multidão de soldados, mas
da força que vem do céu. Eles vêm contra nós cheios de insolência e injustiça,
para eliminar a nós, nossas mulheres e nossos filhos, e levar tudo o que temos.
Nós, porém, lutamos por nossa vida e nossas leis. Por isso, Deus vai esmagá-los
diante de nós! Não tenham medo”. Judas terminou de falar e os atacou de
surpresa. E Seron com seu exército foram esmagados diante de Judas.”
(1Mc 3,17-23 – BPa)
1: A luta desigual entre um exército armado e
um pequeno grupo relembra as antigas lutas do tempo dos juízes e de Davi. O que
dá eficácia à luta é o esforço para defender a vida e o projeto que é dirigido
para a conquista da liberdade. E quem lidera essa luta é o próprio Deus. (BPa)
“Mas o Senhor não escolheu o povo para o
lugar santo, e sim o lugar santo para o povo.”1
(2Mc 5,19)
1: Deus não é escravo das instituições
judaicas (cf. Jr 7,14; Mc 2,27). Essa afirmação da primazia do povo eleito
sobre as instituições, nas quais ele se estrutura, é prenúncio do Evangelho.
(BJ)
“Agora, aos que tiverem entre as mãos este
livro, gostaria de exortar que não se desconcertem diante de tais calamidades,
mas pensem antes que esses castigos não sucederam para a ruína, mas para a
correção da nossa gente. De fato, não deixar impunes por longo tempo os que
cometem impiedade, mas imediatamente atingi-los com castigos, é sinal de grande
benevolência. Pois não é como para com as outras nações, que o longânime
Soberano espera, até puni-las, que elas cheguem ao cúmulo dos seus pecados: não
é assim que ele decidiu proceder com relação a nós, a fim de não ter de nos
punir mais tarde, quando nossos pecados tivessem atingido sua plena medida. Por
isso, jamais retira de nós a sua misericórdia: ainda quando corrige com a
desventura, ele não abandona o seu povo. Estas coisas tenham sido ditas por nós
só para advertência.”
(2Mc 6,12-17 – BJ)
“Deus criou tudo do nada e a mesma origem tem
o homem.”1
(2Mc 7,29b – Bpe)
1: Quer dizer, Deus os criou do nada,
primeira afirmação explícita da criação ex
nihilo, já entrevista em Is 44,24 (ver também Jo 1,3; Cl 1,15s). (BJ)
“Por essa ocasião, Antíoco teve de se retirar
em desordem do território persa, porque ao chegar à capital Persépolis, começou
a saquear o templo e a ocupar a cidade; com isso a multidão recorreu às armas,
e Antíoco, derrotado e posto em fuga pelos habitantes, teve de empreender o
regresso vergonhosamente.
Quando estava perto de Ecbátana, chegou-lhe a
notícia do acontecido a Nicanor e aos homens de Timóteo e fora de si pela ira,
pensava cobrar dos judeus a injúria dos que o haviam posto em fuga. Por isso,
ordenou ao cocheiro avançar sem parar até o fim da viagem. Mas viajava com ele
a sentença do céu! De fato, assim havia ele falado, na sua soberba:
– Quando chegar lá, transformarei Jerusalém
num cemitério de judeus
Mas o Senhor, que vê tudo, o Deus de Israel,
o castigou com uma doença invisível e incurável: apenas havia pronunciado essa
frase, sobreveio-lhe uma dor insuportável nas entranhas e tormentos atrozes no
ventre (isso era plenamente justo em quem havia atormentado as entranhas dos
outros com numerosas e rebuscadas torturas). 7Mesmo assim, não desistia em nada
da sua arrogância. Antes, regurgitando de soberba e exalando contra os judeus o
fogo de sua cólera, mandou ainda acelerar a marcha. Mas caiu do carro quando
corria a toda velocidade e, sofrendo queda tão violenta, todos os membros de
seu corpo se deslocaram.
Aquele que pouco antes, na sua arrogância
sobre-humana, pensava poder dar ordens às ondas do mar; que imaginava poder
pesar na balança os cumes das montanhas, estava estendido por terra, e tinha de
ser levado numa liteira, mostrando a todos o poder de Deus. Tanto mais que, do
corpo desse ímpio, começaram a ferver de vermes. E, estando ele ainda vivo, as
carnes se lhe caíam aos pedaços entre espasmos1 lancinantes;
enquanto o exército inteiro, por causa do odor fétido, mal suportava essa
podridão. Por causa de seu cheiro insuportável, ninguém podia transportar
aquele que pouco antes parecia capaz de tocar as estrelas.
Nessas circunstâncias, prostrado pela doença,
começou a ceder em sua arrogância2. Ao aumentar as dores a cada
momento, chegou a reconhecer o castigo divino, e, não podendo, nem mesmo ele,
suportar o próprio fedor, assim falou:
– É justo que um mortal se submeta a Deus e
não queira igualar-se à divindade.”
(2Mc 9,1-12 – BJ e BPe)
1: Ignora-se a natureza do mal que acometeu
Antíoco. A descrição se atém ao gênero literário característico da morte dos
tiranos (cf. Jt 16,17; Is 14,11; At 12,23). De modo semelhante se descreve a
morte de Herodes Magno nas Antiguidades
Judaicas de Josefo. O paralelo de 1Mc 6,9 é bastante mais sóbrio. (BJ)
2: O autor de 2Mc procura mostrar a dimensão
religiosa do acontecimento, transformando o fato em narrativa lendária. Antíoco
personifica a ambição que leva o homem a se considerar igual ao próprio Deus,
atraindo uma punição terrível. Seu arrependimento chega tarde demais e, agora,
é inútil querer se converter: o orgulho humano produz a destruição da própria
pessoa. O texto garante que todo o mal feito a outros acaba se voltando contra
a própria pessoa que o planejou. (BPa)
Conforme apontado, o trecho de Nm 9,5b-37 aqui destacado foi o da BJ, com o qual a BPa se assemelha. Já para BPe há uma diferença significativa na tradução – com destaque para o último vv. Chega a alterar o entendimento.
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