Editora: Ediouro
ISBN: 978-85-0002-332-3
Tradução: Marcos Malvezzi Leal
Opinião: ★☆☆☆☆
Páginas: 384
Sinopse: Anna
Heath, uma australiana especialista em livros raros, acaba de ser convocada
para a missão de sua vida: restaurar e analisar a história por trás da famosa
Hagadá de sarajevo, resgatada após um bombardeio sérvio durante a guerra da
Bósnia. Uma obra de beleza e valor imensuráveis, o livro é um dos primeiros
volumes judaicos a conter ilustrações. Quando Hanna descobre uma série de
minúsculos elementos no interior do livro – o fragmento da asa de um inseto,
manchas de vinho, cristais de sal e um cabelo branco –, começa a desvendar os
mistérios por trás daquelas páginas desde sua criação até os dias atuais,
revelando um passado de exílio, coragem, sofrimento e redenção. ao mesmo tempo
em que Hanna desvenda as histórias por trás da Hagadá, ela reúne a coragem que
tanto necessitava para revisitar os fantasmas de seu passado e perceber que
suas paixões também podem estar muito além das páginas dos velhos e fascinantes
volumes aos quais dedicou toda sua vida até então.
Inspirado em uma história real, As Memórias do Livro
é um romance composto por duas tramas paralelas: uma rica e emocionante
recriação histórica que vai desde o século XV até a segunda Guerra Mundial, e
uma cativante trama contemporânea, que combina as artimanhas e a ambição dos
bastidores do mundo acadêmico com uma história emocionante sobre família, afeto
e a eterna busca pelo amor.
As Memórias do Livro é uma narrativa vívida e poderosa sobre a paixão pelos livros e a
infindável luta por sobrevivência e liberdade.
“No lugar onde se queimam livros, no fim se
queimam homens.” (Heinrich Heine)
“Anos atrás, testemunhamos o Líbano se
despedaçar e dizíamos: “Assim é o Oriente Médio, essa gente é primitiva”.
Depois vimos Drubrovnik em chamas e dissemos: “Nós somos diferentes em
Sarajevo”. Era o que todos pensávamos. Como poderíamos ter uma guerra étnica
aqui, nesta cidade, onde cada pessoa é produto de um casamento misto? Como ter
uma guerra religiosa numa cidade onde ninguém frequenta a igreja? Para mim, a
mesquita é como um museu, um local curioso para você visitar com seus avós.
Pitoresco, entende? Uma vez por ano, talvez, íamos ver o zikr, onde
os dervixes dançam, e era como um teatro. Como vocês dizem? Uma pantomina. Meu
melhor amigo, Danilo, é judeu, e nunca sequer foi circuncidado. Não há nenhum mohel aqui;
era preciso ir ao barbeiro para fazer a circuncisão. (...) Nós não
acreditávamos na guerra. Nosso líder dizia: ”São necessários dois lados para
haver uma guerra, e nós não vamos lutar.” Não aqui, não em nossa preciosa
Sarajevo, nossa idealística cidade olímpica. Éramos inteligentes demais,
cínicos demais para uma guerra. Claro que você não precisa ser estúpido e
primitivo para ter uma morte estúpida e primitiva. Agora, nós sabemos disso.
Mas naquela época, naqueles primeiros dias, todos fazíamos coisas um pouco
loucas. Garotos, adolescentes, saíam em demonstrações contra a guerra, com
cartazes e música, como se estivessem indo a um piquenique. Mesmo depois de uma
dúzia de tiros neles, nós ainda não acreditávamos. Esperávamos que a comunidade
internacional pusesse um fim naquilo. Eu acreditava nisso. Preocupava-me que
pudesse durar alguns dias, e nada mais, enquanto o mundo – como se diz? –
tomaria uma providência.”
“Ele saiu da cama, deu um passo em minha
direção, segurou meu rosto entre as mãos e se aproximou tanto de mim, que seus
traços de zanga pareciam até fora de foco.
– Você – ele disse; e a voz mais parecia um
sussurro contido. – Você é que é consumida por baboseiras.
Aquela súbita ferocidade me assustou. Eu me
afastei.
– Você – ele prosseguiu, agarrando meu punho.
– Todos vocês, do mundo seguro, com seus air bags, e suas embalagens
hermeticamente fechadas e suas dietas livres de gordura. Vocês é que são os
supersticiosos. Vocês se convencem de que podem tapear a morte, e se sentem
absolutamente ofendidos quando descobrem que não podem. Vocês ficam sentados em
seus apartamentos confortáveis e assistem à guerra, e nos veem sangrando, pela
televisão. E pensam: “Que horror!”, e depois se levantam e tomam outra xícara
de café expresso. (...) Coisas ruins acontecem. Algumas coisas muito ruins
aconteceram comigo. E eu não sou diferente de mil outros pais nesta cidade
cujos filhos sofrem. Eu convivo com isso. Nem toda história tem um final
feliz. Cresça, Hanna, e aceite isso.”
“Quanto à minha assim chamada família
disfuncional, é verdade que eu herdei uma crença básica, para ficar alerta: Não
confie em ninguém para sustento emocional. Encontre alguma coisa para fazer que
a absorva – que a absorva a ponto de você não ter tempo para entrar no esquema
de “Oh, pobre de mim”. Minha mãe ama o trabalho dela, e eu amo o meu. Portanto,
o fato de nós não amarmos uma à outra... bem, eu quase nunca penso nisso.”
“Se uma pergunta tem uma resposta, eu não
suporto não sabê-la.”
Esse livro é incrível, incrível demais!
ResponderExcluirUma história maravilhosa!
Fiquei com vontade de ler novamente! rs
Abraços