Editora: L&PM
ISBN: 978-85-254-1194-5
Tradução: José Octavio
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 376
Sinopse: Considerado
como a primeira grande reportagem moderna, este livro é uma minuciosa e
vibrante descrição da revolução comunista de 1917 na Rússia. Ler 10 dias que
abalaram o mundo é como assistir pessoalmente aos dramáticos acontecimentos
que culminaram com a instauração de um regime que durou mais de cinquenta anos
e esteve no centro dos principais acontecimentos do século XX.
John Reed nasceu no Oregon, nos Estados Unidos, em 1887 e
morreu em Moscou em 1920. Deslocado para a Europa em 1914 pela Metropolitan
Magazine para a cobertura da Primeira Grande Guerra, recém-iniciada, Reed e sua
esposa, Louise Bryant (1885-1936), percorreram os Bálcãs e chegaram em Moscou
no auge do movimento revolucionário. Egresso da Universidade de Harvard, Reed
sempre foi sensível às causas sociais e apaixonado pelo jornalismo. Ficou
conhecido por acompanhar a revolução mexicana de Emiliano Zapata e Pancho Villa
em 1914, cujo relato resultou no também célebre livro México rebelde.
Em Moscou, aproximou-se de Lênin e outros líderes comunistas,
identificando-se integralmente com os ideais comunistas da Revolução. Morreu em
Moscou ao contrair tifo e recebeu da Revolução – que acompanhou e ajudou a
divulgar no mundo inteiro – a maior homenagem: foi o único ocidental a ser
enterrado nas muralhas do Kremlin, próximo do mausoléu de Lênin, ao lado de
Stalin, Gagarin e outros heróis da então União Soviética.
“Após a revolução, o termo “soviete” foi empregado
para designar um tipo de assembleia eleita pelas organizações econômicas da classe
operária: os sovietes dos deputados operários, camponeses e soldados.”
“Atravessei o rio para ir ao Circo Moderno, onde
ia ter lugar um dos grandes comícios populares, comícios esses que se realizavam
todas as noites, por toda a cidade, em número cada vez maior. No interior do anfiteatro,
simples e triste, iluminado por cinco pequenas lâmpadas pendentes de um fio, apinhavam-se
até o teto soldados, marinheiros, trabalhadores e mulheres, ouvindo atentamente
os oradores, como se estivessem em jogo suas próprias vidas. Falava um soldado da
548ª Divisão. Tinha uma verdadeira angústia na fisionomia macilenta e nos gestos
desesperados: – Camaradas – gritou ele –, os que estão no poder exigem de nós sacrifícios
sobre sacrifícios. Mas os que tudo têm nada sofrem. Estamos em guerra com a Alemanha.
Podemos consentir que generais alemães entrem para o nosso Estado-Maior? Pois bem,
companheiros: estamos também em guerra com os capitalistas. Entretanto, consentimos
que eles ingressem no nosso governo. O soldado quer saber por quem combate. Por
Constantinopla, ou pela liberdade da Rússia? Pela democracia, ou pelo banditismo
capitalista? Se me provarem que estamos lutando pela revolução, marcharei para a
frente, sem que seja preciso me ameaçarem com a pena de morte. Quando a terra pertencer
aos camponeses, as fábricas aos operários, e o poder aos sovietes, então teremos
o que defender, então teremos por que lutar.”
“Não há nada de comum entre a classe trabalhadora
e a classe exploradora.”
“– A insurreição é um direito de todos os revolucionários!
Quando as massas oprimidas se rebelam, elas estão fazendo uso de um direito seu.”
(Trótsky)
“Mas, de repente, ouviu-se uma nova voz, mais
profunda, dominando o tumulto da assembleia. Era a voz surda do canhão! Todos os
olhares voltaram-se ansiosamente para as janelas. Uma espécie de febre ardente dominou
a assembleia.
Martov pediu a palavra. E, com voz rouca, disse:
– Camaradas! A guerra civil já começou. É necessário
discutir em primeiro lugar a solução pacífica da crise. Tanto por questões de princípios,
como por motivos políticos, devemos começar a sessão de hoje discutindo com a maior
urgência os meios de fazer cessar a guerra civil. Nossos irmãos estão morrendo nas
ruas... neste momento em que se procura resolver a questão do poder, antes da abertura
do Congresso dos Sovietes, por meio de uma conspiração militar organizada por um
único dos partidos revolucionários – (Durante alguns instantes o trovejar da
artilharia abafou-lhe as palavras.) –... Todos os partidos devem encarar este
problema. A primeira questão que o Congresso vai discutir é a do poder. Mas ela
já está sendo resolvida nas ruas, pela força das armas... Temos a missão de criar
um poder que toda democracia possa reconhecer. Se este congresso quer ser o porta-voz
da democracia revolucionária, não deve ficar de braços cruzados ante a guerra civil
que ameaça fazer explodir uma perigosa contrarrevolução. Só há uma solução pacífica
para a crise atual: a formação de um poder com a participação de todas as organizações
democráticas num bloco unido... Proponho que se eleja uma delegação para negociar
com todos os partidos e organizações socialistas.
O surdo ribombar do canhão continuava a fazer
estremecer os vidros das janelas, com intermitências regulares, enquanto os deputados
discutiam e se insultavam.
Foi assim, sob o troar da artilharia, na obscuridade,
no meio de ódios, de medo e da mais temerária das audácias, que nasceu a nova Rússia.”
“Exatamente às oito horas e quarenta minutos,
uma tempestade de aplausos anunciou a chegada da presidência, com Lênin, o grande
Lênin, à frente.
Uma silhueta baixa. Cabeça redonda e calva, mergulhada
entre os ombros. Olhos pequenos, nariz rombudo, boca larga e generosa. Mandíbula
pesada. Estava completamente barbeado. Mas a sua barba, dantes tão conhecida e que
daquele momento em diante iria ser eterna, já começava a despontar novamente. O
casaco estava puído; as calças eram compridas demais. Sua aparência física não indicava
que ele poderia ser um ídolo das multidões. Mas foi querido e venerado como poucos
chefes em toda a história. Um estranho chefe popular. Chefe só pelo poder do espírito.
Sem brilho, sem ditos chistosos, intransigente e sempre em destaque, sem a menor
particularidade interessante, mas possuindo, em alto grau, a capacidade de explicar
ideias profundas em termos simples e de analisar concretamente as situações. Senhor
de prodigiosa audácia intelectual. Assim era Lênin.”
“Os soldados de um povo livre não se entregam
nem se rendem.”
“Trótsky ergueu-se, de novo, ardente, infatigável,
dando ordens, respondendo às perguntas:
– A pequena burguesia, para aniquilar o proletariado,
os soldados e os camponeses, é capaz de se aliar até com o Diabo.”
“No pavimento térreo, encontramos Kamenev, que
acabava de chegar. Embora extenuado pela sessão noturna da Conferência para a Formação
de um Novo Governo, estava satisfeito.
– Já os socialistas revolucionários inclinam-se
a favor da nossa admissão ao novo governo – disse-me. – Os grupos da direita estão
aterrorizados com tribunais revolucionários e pedem, espantados, que, antes de tudo,
e sobretudo, os dissolvamos. Aceitamos a proposta do Vikjel referente à formação
de um governo socialista homogêneo; tratamos, atualmente, dessa questão. É o fruto
da nossa vitória. Quando éramos os mais fracos, nada queriam conosco; agora, todo
mundo é partidário de um acordo com os sovietes. Entretanto, o que necessitamos
é de uma vitória verdadeiramente decisiva. Kerenski quer armistício, mas será preciso
que capitule.
Tal era o estado de espírito dos chefes bolcheviques.
A um jornalista estrangeiro, que solicitava uma declaração, Trótsky disse:
– A única declaração possível, neste momento,
é a que fazemos pela boca dos nossos canhões!”
“Melnitchanski contou-me também algumas passagens
interessantes dos últimos acontecimentos. Num dia frio e escuro, estava ele na esquina
da Nikítskaia. As descargas das metralhadoras varriam as ruas. Ao seu lado, estava
reunido um bando de crianças, essas pobres criaturas que vendem jornais. Não pareciam
impressionar-se com o tiroteio. Davam gritos agudos, como se estivessem brincando.
Quando a fuzilaria diminuiu, procuraram atravessar a rua correndo... Muitos deles,
atingidos pelos projéteis, caíram mortos. Mas os outros continuaram correndo pela
rua de um lado para outro, rindo, brincando, numa absoluta inconsciência do perigo!”
“Ao longo da praça, elevava-se a massa escura
das torres e das muralhas do Kremlin. No alto das muralhas resplandecia um débil
clarão de fogos invisíveis e, através da praça, chegavam até meus ouvidos ruídos
de vozes, de picaretas e pás. Atravessei a praça.
Ao lado da muralha, erguia-se uma montanha de
pedras e de terra. Subi ao alto e vi enormes fossas de uns dez ou quinze pés de
profundidade e cerca de cinquenta metros de largura, que centenas de operários e
soldados estavam cavando, à luz de grandes archotes.
Um jovem estudante disse-me em alemão:
– É o Túmulo Fraternal. Amanhã, enterraremos aqui
os quinhentos proletários que tombaram combatendo pela revolução*.
Desci à fossa. Ninguém falava. As picaretas e
as pás trabalhavam febrilmente. A montanha de terra crescia. Por cima de nossas
cabeças, miríades de estrelas brilhavam na noite. E o antigo Kremlin dos czares
levantava para os céus suas formidáveis muralhas.
– Neste lugar sagrado – disse o estudante –, o
lugar mais sagrado de toda a Rússia, vamos enterrar aquilo que para nós é mais sagrado.
Aqui, onde dormem os czares, descansará agora o nosso czar: o povo!
Tinha um braço na tipoia. Recebera uma bala no
combate. Olhando para seu braço ferido, continuou:
– Vocês, estrangeiros, desprezam-nos porque suportamos
durante muito tempo uma monarquia medieval. Mas hoje já se sabe que o czar não era
o único tirano do mundo... Hoje, já se sabe que o capitalismo europeu é também uma
tirania talvez pior que o czarismo, porque em todos os países do mundo o capitalismo
é imperador! A tática da Revolução Russa mostra ao mundo inteiro o caminho, o verdadeiro
caminho da libertação.
Quando me retirava, os trabalhadores, esgotados,
e, apesar do frio, inteiramente empapados de suor, começavam a saltar com dificuldade
para fora da fossa. Chegava outra turma, caminhando através da praça. Sem dizer
uma só palavra, ela desceu, apanhou as ferramentas deixadas pelos companheiros e
continuou o trabalho que estes haviam começado. Durante a noite inteira, os voluntários
do povo revezaram-se sem cessar. Quando a fria luz da manhã se estendeu sobre a
grande praça coberta por alvo lençol de neve, as fossas da Tumba Fraternal já estavam
terminadas.”
*: Este cemitério ainda é conservado. Viça entre o túmulo
de Lênin e as muralhas do Kremlin. Na própria base das muralhas do Kremlin, foram
enterrados muitos revolucionários. As cinzas de John Reed também repousam aí. (N.
do E.)
“Vagarosamente, os homens que levavam os féretros
chegaram às bordas do túmulo. Transportando suas cargas, escalaram os montões de
terra e desceram ao fundo das fossas. Havia entre eles muitas mulheres, dessas mulheres
do povo, corpulentas e robustas. Acompanhando os mortos, outras mulheres ainda jovens,
mas aniquiladas pelos sofrimentos; mulheres velhas, com as faces enrugadas, lançando
gritos agudos de animais feridos querendo atirar-se na fossa atrás de seus filhos
ou maridos, debatendo-se, quando mãos piedosas procuravam contê-las. É assim que
os pobres amam.”
“Trótsky defendeu com ardor a resolução bolchevique,
procurando mostrar a diferença entre a situação da imprensa durante a guerra civil
e depois da vitória:
– Durante a guerra civil, só os oprimidos têm
o direito de empregar a violência... – (Gritos: “Onde estão os oprimidos?”)
– O adversário ainda não está vencido completamente. Os jornais são armas. Eis por
que é necessário proibir a circulação de jornais burgueses. É uma medida de legítima
defesa!
Em seguida, abordou a situação da imprensa após
a vitória:
– Precisaremos, é claro, de uma lei de imprensa.
Já estamos cuidando disso. Muito antes da vitória da revolução, já afirmávamos que
não podíamos encarar a liberdade de imprensa do ponto de vista dos proprietários
dos grandes jornais. As medidas aplicadas contra a propriedade privada são também
aplicáveis à imprensa. É necessário confiscar, em benefício do povo, todos os grandes
jornais, todas as oficinas, todos os depósitos de papel. – (Aparte: “Confisquem
as oficinas do Pravda!”) – A burguesia sempre monopolizou a imprensa. Sem
a abolição desse monopólio, a conquista do poder não tem o menor significado. Todos
os cidadãos da Rússia precisam ter à sua disposição jornais, tipografias e papel.
O direito de propriedade das tipografias e oficinas dos jornais cabe, em primeiro
lugar, aos camponeses e operários, que representam a maioria da população. A burguesia
está em segundo plano, porque é minoria insignificante. A tomada do poder pelos
sovietes irá modificar radicalmente todas as condições de existência social. A imprensa
também tem que ser atingida, também tem que ser modificada. Não nacionalizamos os
bancos? Como poderemos respeitar jornais que são propriedade de bancos? O antigo
regime deve perecer. Todos precisam compreender isso, de uma vez para sempre.”
“Quando se faz uma revolução, é necessário não
contemporizar.” (Lênin)
“A 27 de novembro, apareceu no Smólni uma delegação
de cossacos, que desejava falar com Lênin e Trótsky. Recebidos, perguntaram se era
verdade que o governo soviético tinha a intenção de dar as terras dos cossacos aos
camponeses da Grande Rússia.
– Não – respondeu Trótsky. Os cossacos discutiram
entre si.
– Está bem – disseram. – Mas o governo tem a intenção
de confiscar as terras dos grandes proprietários cossacos para entregá-las aos trabalhadores
cossacos?
Foi Lênin quem respondeu:
– Isso depende de vocês. Cabe-lhes fazer isso.
Nós apoiaremos tudo que os trabalhadores cossacos fizerem nesse sentido. Para começar,
vocês devem desde já organizar seus próprios sovietes cossacos. Deste modo, poderão
indicar seus representantes para o Comitê Central Executivo e o governo soviético
será o governo de vocês mesmos...
Os cossacos se retiraram, mas não se esqueceram
dessas palavras. Duas semanas depois, o General Kaledin foi procurado por uma delegação
de suas tropas:
– É capaz de prometer-nos – perguntaram os delegados
– repartir as terras dos senhores cossacos entre os trabalhadores cossacos?
– Nunca! Prefiro morrer! – respondeu Kaledin.
Passado um mês, o exército de Kaledin dissolvia-se, como por encanto. Desesperado,
Kaledin estourou os miolos com um tiro. O movimento cossaco terminou assim.”
“Com o decreto sobre a nacionalização dos bancos;
com a criação do Conselho Superior da Economia Nacional; com a aplicação efetiva
do decreto sobre a terra; com a reorganização democrática do Exército, através das
transformações radicais realizadas em todos os domínios do Estado e da vida social,
medidas que só puderam ser postas em prática porque eram a expressão da vontade
dos operários, soldados e camponeses, começou a surgir, lentamente, por entre erros
e dificuldades, a nova Rússia proletária.
Os bolcheviques conquistaram o poder. Mas conquistaram-no
sem acordos com as classes dominantes ou com os diversos chefes de partidos políticos,
destruindo o antigo mecanismo governamental. Não chegaram tampouco ao poder por
meio de um golpe de força organizado por um pequeno grupo. A revolução teria fracassado,
se as massas não tivessem sido preparadas em toda a Rússia para a insurreição. Por
que os bolcheviques venceram? Porque sabiam lutar pelas pequenas e pelas grandes
aspirações e reivindicações das grandes camadas populares, organizando-as e dirigindo-as
para a destruição do passado e lutando com elas para edificar, sobre as ruínas fumegantes
do sistema social destruído, uma nova sociedade, um novo mundo.”
“Lênin pediu a palavra, sendo ouvido, desta vez,
com a maior atenção:
– Neste momento, está em jogo não só a questão
da terra, mas o problema da revolução social. E esse problema não se limita à Rússia:
é um problema de importância mundial. A questão da terra não pode ser separada das
demais questões da revolução social. Para confiscarmos a terra, teremos de vencer
não só a resistência dos proprietários russos, como a resistência do capital estrangeiro,
porque os proprietários estão ligados a ele, através dos bancos. O regime da propriedade
territorial na Rússia baseava-se na mais terrível exploração dos camponeses. Confiscando
as terras dos grandes proprietários feudais, os camponeses realizaram o mais importante
ato da nossa revolução. Para provarmos isto basta examinar as etapas percorridas
pela revolução. Na primeira etapa, a autocracia, o poder da indústria capitalista
e dos grandes proprietários, cujos interesses estão intimamente ligados, foi derrubada.
Na segunda, os sovietes consolidam-se. É nesta etapa que se firma um compromisso
político com a burguesia. Os socialistas revolucionários da esquerda erraram porque
não se opuseram a esse acordo. E, para justificar sua atitude, disseram que, nesse
momento, a consciência revolucionária das massas era ainda muito débil. Ora, se
fôssemos esperar que todos os homens atingissem o mesmo grau de consciência para
só depois disso lutar pelo socialismo, teríamos de esperar uns quinhentos anos para
começar a luta!... O partido político do proletariado é a vanguarda da classe operária
e, como vanguarda das massas, deve, ao contrário, lutar para arrastar essas massas
atrás de si. Para tanto, os sovietes devem ser utilizados como instrumentos de iniciativa
revolucionária. Mas, para dirigir os vacilantes, para arrastá-los, é preciso que
os socialistas revolucionários da esquerda deixem de vacilar. De julho para cá,
as massas populares começaram a romper com os “conciliadores”. Apesar disso, a esquerda
revolucionária ainda estende a mão a Avksentiev... Conservar os compromissos é matar
a revolução. Firmar acordos com a burguesia é trair a revolução. Não precisamos
de entendimentos ou de compromissos com a burguesia. Precisamos, sim, esmagar completamente
o poder burguês! O Partido Bolchevique não repudiou seu programa quando aceitou
os regulamentos elaborados pelos comitês agrários, porque esses regulamentos não
implicam a conservação da propriedade privada. Queremos encarnar, na prática, a
vontade popular. Queremos ser os executores da vontade do povo, porque, de outro
modo, não poderemos fundir, num só bloco, todos os elementos da revolução social.”
“Já convidamos os socialistas revolucionários
a ingressar no novo governo. Novamente lhes fazemos o mesmo convite. Só estabelecemos
uma condição. Exigimos que os socialistas revolucionários da esquerda rompam, definitivamente,
com os elementos vacilantes do seu partido. Os socialistas revolucionários precisam
romper com seu passado e olhar para frente...”
“O orador que me precedeu disse que as decisões
da Assembleia Constituinte serão determinadas pela pressão revolucionária das massas.
Concordamos. Mas achamos que é preciso apresentar a questão da seguinte maneira:
“Camponeses! Confiem na pressão revolucionária, mas não esqueçam nunca que em suas
mãos há um fuzil!”.
Em seguida, Lênin leu o seguinte projeto, elaborado
pelos bolcheviques:
“O Congresso Camponês aprova, por unanimidade,
e sem qualquer restrição, o decreto sobre a terra que foi promulgado a 8 de novembro
último pelo Conselho dos Comissários do Povo, na qualidade de Governo Provisório
Operário e Camponês da República Russa, reconhecido pelo Congresso Pan-Russo dos
Deputados Operários e Camponeses. O Congresso Camponês declara que está disposto
a lutar sem a menor vacilação e com todas as suas forças para fazer aplicar na prática
o decreto sobre a terra. Ao mesmo tempo, aconselha todos os camponeses não só a
apoiá-lo, como a aplicá-lo na prática, por si mesmos, sem perda de um minuto. Aconselha
também todos os camponeses a eleger para os cargos importantes unicamente pessoas
que já tenham demonstrado, não por palavras, mas através de atos, sua capacidade
de lutar com a maior abnegação pelos interesses dos camponeses contra toda resistência
dos grandes proprietários, dos capitalistas e de todos os seus lacaios e defensores.
O Congresso Camponês declara também estar convencido de que as decisões do decreto
sobre a terra só poderão ser definitivamente asseguradas com a vitória da revolução
proletária socialista iniciada a 7 de novembro. Só a vitória dessa revolução poderá
assegurar a divisão de terras entre os camponeses, o confisco das máquinas agrícolas
e a defesa dos interesses de todos os assalariados agrícolas, através da abolição
imediata e definitiva do sistema de escravidão capitalista, com a distribuição racional
e regular dos produtos da agricultura e da indústria por todas as diferentes regiões
do país, entre seus habitantes, através da nacionalização dos bancos (condição indispensável
para que a terra se transforme, efetivamente, em propriedade coletiva) e da ajuda
sistemática à agricultura, aos trabalhadores, aos explorados, etc., por parte do
Estado”.
“Por todos esses motivos, o Congresso Camponês,
ao mesmo tempo que se declara inteiramente solidário com a Revolução Socialista
de 7 de novembro, afirma sua vontade de lutar, com a maior energia e sem vacilações,
em prol da aplicação das medidas necessárias à transformação socialista da Rússia.”
“Sem a mais estreita união dos trabalhadores explorados
do campo com a classe operária e com o proletariado de todos os países, a revolução
socialista não poderá vencer, nem o decreto sobre a terra poderá ser aplicado integralmente.
De agora em diante, toda a organização do Estado, na Rússia, será erguida na base
desta estreita união. Essa união das massas exploradas do campo com a classe operária
e o proletariado de todos os países garante a vitória do socialismo no mundo inteiro,
desde que se exclua toda tentativa, direta ou indireta, clara ou disfarçada, de
colaboração com a burguesia ou com seus políticos influentes.”
Gostei dos trechos: Quando a terra pertencer aos camponeses, as fábricas aos operários, e o poder aos sovietes, então teremos o que defender, então teremos por que lutar.
ResponderExcluire
Sem a mais estreita união dos trabalhadores explorados do campo com a classe operária e com o proletariado de todos os países, a revolução socialista não poderá vencer, nem o decreto sobre a terra poderá ser aplicado integralmente.