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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Em busca do tempo perdido: O Caminho de Guermantes, de Marcel Proust

Editora: Ediouro

ISBN: 978-85-0002-554-9

Tradução: Fernando Py

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 494

Sinopse: Ver primeiro livro


“Pois a essa época eu pensava ainda que era por meio das palavras que a gente revela aos outros a verdade.”

 

 

“Ah, os aristocratas, o Terror foi bastante culpado de não ter degolado a todos. São todos crápulas sinistros, quando não simplesmente sombrios idiotas.”

 

 

“– O amor? – dissera uma vez a sra. Villeparisis em resposta a uma dama que a interrogara:

– Que pensa do amor?

– O amor? Faço-o muitas vezes, mas nunca falo sobre ele.”

 

 

“Que me importa o frasco, desde que eu me embriague?” (Augier)

 

 

“Cada um vê mais bonito o que vê a distância, o que vê nos outros.”

 

 

“Não devemos passar por alto as agitações provocadas pelos elementos de direita que, em vez de servir à ideia patriótica, sonham em servir-se dela.”

 

 

“O príncipe – em suas embaixadas e como ministro das Relações Exteriores – mantivera, por seu país, em vez de agora para proveito próprio, dessas conversações em que se sabe, por antecipação, até onde se deseja ir e o que não nos farão dizer. Não ignorava que, na linguagem diplomática, conversar significa oferecer.”

 

 

“Há males cuja cura não se deve procurar porque eles nos protegem contra outros mais graves.”

 

 

“Este Argencourt, bem-nascido mas mal-educado, diplomata mais que medíocre, marido detestável e mulherengo, velhaco feito nas comédias, é um desses homens incapazes de compreender, mas bem capazes de destruir as coisas verdadeiramente grandes. (...) Infelizmente, é por esse molde que é feita a maioria das pessoas deste mundo.”

 

 

“Subi e achei minha avó bem pior. Desde algum tempo, sem bem saber do que sofria, ela se queixava da saúde. Na enfermidade é que percebemos que não vivemos sós, mas acorrentados a uma criatura de outro reino, cujos abismos nos separam, que não nos conhece e pelo qual nos é impossível fazer-nos compreender: nosso corpo. Qualquer assaltante que encontrássemos no caminho, talvez pudéssemos sensibilizá-lo em seu interesse pessoal, senão pela nossa desgraça. Mas rogar piedade ao nosso corpo é discursar diante de um polvo, para quem nossas palavras não podem ter mais sentido que o rumor das águas, e com o qual nos aterrorizaríamos de ser condenados a conviver.”

 

 

“Sendo a medicina um compêndio de erros sucessivos e contraditórios dos médicos, recorrendo-se aos melhores dentre estes corre-se o risco de solicitar uma verdade que será reconhecida como falsa alguns anos depois. De modo que acreditar na medicina seria a maior loucura, caso não acreditar em absoluto nela não fosse uma outra ainda maior, pois desse amontoado de erros se desprenderam, ao longo dos anos, algumas verdades.”

 

 

“Tudo o que sabemos de grandioso nos vem dos nervosos. Foram eles e não os outros que fundaram as religiões e compuseram as obras-primas. O mundo jamais saberá tudo o que lhes deve, e principalmente o que eles sofreram para lhe dar o que deram. Desfrutamos das finas músicas, dos belos quadros, mil delicadezas, mas não sabemos o que essas obras custaram aos que as inventaram, em insônias, choros, risos espasmódicos, urticárias, asmas, epilepsias, numa angústia de morrer que é pior que tudo isso (...).”

 

 

“Bem dizemos que a hora da morte é incerta, mas, quando dizemos isto, afiguramo-nos essa hora como situada num espaço vago e longínquo, não imaginamos que ela tenha uma relação qualquer com o dia já começado, e possa significar que a morte – ou sua primeira posse parcial de nós, após a qual não nos larga mais – poderá ocorrer nessa mesma tarde, tão pouco incerta, essa tarde em que o emprego de todas as horas está previamente agendado.”

 

 

“A guerra é o mais insensato dos crimes, o que importa é viver.”

 

 

“Não há nada como o desejo para impedir as coisas que dizemos de terem alguma semelhança com o que nos vai pelo pensamento.”

 

 

“O que me dava pena era saber que quase todas as casas eram habitadas por gente infeliz. Aqui, a mulher chorava sem parar porque o marido a enganava. Ali, dava-se o contrário. Além, uma mãe trabalhadora, moída de pancadas por um filho bêbado, procurava ocultar seus sofrimentos aos olhos dos vizinhos. Uma metade inteira da humanidade chorava.”

 

 

“Os dias que precederam meu jantar com a Sra. de Stermaria não foram deliciosos, mas insuportáveis. É que, em geral, quanto mais curto o tempo que nos separa daquilo a que nos propusemos, mais longo parece, pois a ele aplicamos medidas mais breves ou simplesmente porque imaginamos medi-lo. O papado, dizem, conta por séculos, e talvez mesmo nem pense em contar, pois seu objetivo está no infinito. Estando o meu apenas à distância de três dias, eu contava por segundos, entregava-me a essas fantasias que são começos de carícias, carícias que nos enraivece não poder fazer com que as termine a própria mulher (precisamente essas carícias, à exclusão de todas as outras). E em suma, se é certo que em geral a dificuldade de atingir o objeto de um desejo contribui para aumentá-lo – a dificuldade, não a impossibilidade, pois esta última o suprime –, no entanto, para um desejo puramente físico, a certeza de que será realizado num momento próximo e determinado não é menos estimulante que a incerteza; quase tanto como a dúvida ansiosa, a ausência de dúvida torna intolerável a espera do prazer infalível porque faz dessa espera uma realização inumerável e, devido à frequência das representações antecipadas, divide o tempo em fatias tão miúdas que provocam angústia.”

 

 

“É verdade que, a exemplo de certas afecções nervosas cujas manifestações se atenuam na idade madura, tal esnobismo em geral devia deixar de se traduzir de um modo tão hostil entre os que tinham sido jovens tão insuportáveis. Uma vez passada a juventude, é raro que permaneçamos confinados à insolência. Havíamos achado que só ela existia, e de súbito descobrimos, por mais príncipe que sejamos, que há também a música, a literatura, e até mesmo a deputação.”

 

 

“Um artista não tem necessidade de exprimir diretamente seu pensamento em sua obra para que esta lhe reflita a qualidade; pode-se dizer até que o louvor mais alto de Deus está na negação do ateu, que acha a criação perfeita o bastante para prescindir de um criador.”

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